Era da Selva escrita por Griwnle Maravia


Capítulo 1
Capitulo Único - Era da Selva


Notas iniciais do capítulo

Primeiro:Porco = Policial / Uma palavra comum na minha região para policial corrupto. Segundo: Essa história que conta os feitos mirabolantes da vilã Hera Venenosa e ao mesmo tempo é tida como uma sátira do sistema politico e judicial do Brasil.



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E então, se você fosse a mãe natureza em pleno século XXI, o que faria? Um mundo cheio de arranha-céus e asfalto, políticos, corrupção, pobreza… O que diabos a mãe natureza faria? Criaria harmonia entre todas essas invenções loucas e seres medíocres? Hera tem planos diferentes. Há muito se refugiara no Brasil, a imensidão de sua natureza era tentadora e mal explorada por quem ali morava. Queria fazer seu paraíso particular e usar dos atrativos do país para iniciá-lo. Sua ideia não seria apenas o Brasil, mas constrói seus objetivos a passos pequenos, se é que é possível chamar o Brasil de passo pequeno.

Há alguns dias enfurnada em sua humilde casa cuja localização ninguém tinha conhecimento – o que, em uma era de tantos obstáculos montados sem controle pelo homem, se torna fácil: é só pagar os porco* –, Hera já tinha seus planos fundamentados. Seu emprego meia boca, ou melhor: "seu bico", não estava rendendo o dinheiro que precisava. Ela comercializava orgãos no mercado negro – sim, clichê, mas é o que temos para hoje – porém, por mais que isso lhe rendesse – se é que me entende – não era suficiente. A ideia era concluir uma pesquisa que há muito tinha iniciado, introduzir células de plantas no DNA de um ser humano de forma que este pudesse ser manipulado por ela. Simples? Pois bem, para fazê-lo necessitaria de um bom cachê. A tecnologia era cara demais para se comprar online e específica demais para que fosse enviada por sedex sem ser barrada na alfândega, sem contar na quantidade de burocracia que seria necessária, pedir autorização do governo, por exemplo. Mas nem preciso dizer que não faz o estilo da nossa protagonista, pois é, a vida é cruel.

O desenvolver desse espasmo, como prefiro chamar, foi simplório, obviamente.

Ela foi ao banco, como de costume, jogou algumas sementes em alguns vasos, nada demais, e sem tardar este fechou – ninguém saberia se eu não contasse aqui, que demorou cerca de dois meses para modificar o DNA da pequena plantinha deixando-a apta a concluir sua função, mas isso não vem ao caso –. Do lado de fora, nossa protagonista fez com que brotassem suas “bichinhas” antes abandonadas no interior da agência. Ramos se estenderam pelo local e com força bruta o cofre foi aberto de maneira singular. As plantas, antes invocadas, se infiltraram nas dobradiças e a porta despencou. O alarme soou, o detector de movimento disparou e a corrida contra o tempo tornou-se necessária. O dinheiro fora agarrado rapidamente pelos cipós criados e levado de encontro à porta que fora derrubada com brutalidade. Como fazia falta contatos na câmara dos deputados! Quando Hera deixou o local – pouco antes de os policiais estacionarem os carros bem equipados em frente ao banco e fazerem toda aquela comoção, alto-falantes, armas em posição e blá blá blá – levava consigo uma mala com muito dinheiro e deixava para trás apenas uma planta bem desenvolvida. E quem entraria na selva em pleno século XXI? O mundo está dominado por pessoas frescas, Deus me livre encontrar algum inseto, eca.

Sua façanha foi notícia em diversos jornais, “Hera Venenosa está de volta?”, “Plantas atacam o Citibank na Barra da Tijuca”, “A selva gananciosa”, “O gigante acordou?” e dessas manchetes, o nível só descia. Passaram-se algumas semanas até as coisas acalmarem, contou lentamente todas as notas ali disponíveis e percebeu ter dinheiro de sobra para seu financiamento. Depois de um longo – mentira, nem tão longo – período de espera, entrou em contato com os fornecedores do submundo e gastou cada centavo em sua tão nobre causa. O modo de entrega era perspicaz e a mercadoria, após vir de jatinho até metade do caminho, era transportada por túneis subterrâneos.

Bom… O primeiro mês Hera passou pondo no papel seus cálculos e hipóteses, o segundo passou analisando tudo o que fez, procurando erros e motivos para novamente passar os olhos pelas anotações. Não tinha jeito, sem o equipamento, nada feito. Demorou 4 meses, – 4 longos meses! Dá para acreditar? Estava demorando mais do que se viesse de carroça n’água – para chegar. Quando enfim, chegou, demorou mais 3 dias e meio para organizar em seu saguão, o espaço que reservara para aquele momento. E então… Foco na pesquisa.

Por mais que tentasse, o êxito era uma ilusão. Precisava agora de uma cobaia para facilitar suas tentativas. Foi no beco mais escuro que encontrou no Rio de Janeiro, onde morava, e trouxe uma prostituta qualquer para concluir o que estava tentando criar. Não seria chamada de carrasca e nem haveria comoção, afinal, era só uma – algumas – prostituta(s). Sem chamar a atenção, por favor, na moita. Pois bem, fora lá algumas vezes mais… Vejamos, nada é perfeito. Alguns erros ocorreram, claro. A primeira pessoa ficou verde e teve uma planta se desenvolvendo em seu interior até que, sem opção, escapasse pelos orifícios disponíveis e matasse a cobaia 001. A 002 ficou com sequelas estranhas, perdeu o movimento de todo lado esquerdo. A mais engraçada foi a 0012, ela passou a regurgitar uma solução viscosa de cor verde, o corpo inchou em regiões especificas, lábios, coxas, nádegas e ombros. Tinham de ver! A aparência era hilária. Pois bem, o fim foi trágico, ela explodiu. A que dera certo foi a 0037, depois de introduzir com êxito células de planta em seu DNA, ficou mais fácil manipular sua mente. Aumentou também a testosterona, força bruta não faltaria, perfeito.

No dia 31 de dezembro daquele ano, após longos 6 meses de pesquisa, além dos 4 meses de espera, decidiu agir. O Ano Novo seria o inicio de sua nova era. Ainda tinha de esperar algumas semanas e por isso analisara bem tudo que faria naquela data específica. Primeiro iria na festa que reunia pessoas distintas na beira da praia e soltaria no ar a solução que passara tanto tempo elaborando. Essa se espalharia com o vento e ao ser inalada faria a mutação genética. Ao conseguir o comando de tantas pessoas, cresceriam do chão suas companheiras e de uma metrópole faria seu castelo de vida natural, como a princípio já fora.

O dia tão esperado chegou sem tardar, apesar de a espera ter sido sufocante, no dia em questão pegou um botijão comum de gás e uma mangueira do tipo de extintor de incêndio, os quais já havia modificado para se unirem. Terminou com todo o processo de criação e abandonou sua morada para ir de encontro ao seu destino – dramático assim para enfatizar que é um feito incrível –.

As coisas não saíram da forma esperada. A princípio, o que seria uma noite quente e estrelada se tornou chuvosa e fria, mas não quis esperar por uma outra data. Hera soltou a solução no ar, mas as partículas foram arrastadas pro chão com a chuva, maldita previsão do tempo! Não fora com aquelas condições climáticas que fizera os cálculos. Inclusive, Hera demorou um pouco para notar o fracasso, questão de algumas horas, afinal, não era possível ver sua invenção, mas no momento em que não dera certo suas tentativas de comandar um exército humano, algo não estava nos conformes. Frustrada, tomou a decisão de voltar para casa e recomeçar, entretanto não do zero, seu projeto “tudo por um mundo melhor”.

Contudo, no sec XXI estamos cansados de saber que as invenções do homem possuem falhas e às vezes algum político corrupto pode precisar urgentemente apagar suas cagadas, algumas quais não acreditamos que aconteceria em hipótese alguma, na frente de nossos olhos. De uma chuva forte passou a ser uma tempestade e um avião que ninguém entende o porque de cargas d’água estar andando abaixo da altura permitida, caiu. O desastre aconteceu sobre o estabelecimento de nossa vilã, houve uma explosão, pois o chão despencou e alguns resíduos e produtos químicos que havia sob o concreto se juntou com a gasolina em excesso da aeronave e então, KABUM, TIBUM, PUFF, foi "pros ares"… A vida é cruel.

As casualidades da vida acabam destruindo sonhos. Nossa protagonista estava acabada, passou-se um filme de todo trabalho que teve para chegar até onde estava e como tudo desmoronou em questão de algumas horas. Se encolhera um pouco e observara a destruição de seu lar e seus planos. Quem sabe tentasse de novo? Mas naquele momento, queria mesmo era entender o porquê de tudo ser tão… instigantemente sucessível a desastre, sacas? Poxa, era só tudo cheio da sua natureza querida. Lá se foi seu plano tão nobre, muito bem elaborado que saiu todo errado.

Alguns anos depois o mundo continuava o mesmo, sem nenhum sinal de mudança, inclusive a balança ainda estava pesando para o lado de sempre, aquele com mais poder...

Então não tem final feliz ou uma comovente história sobre libertação e coragem. Paradeiro da Hera Venenosa é desconhecido, vai ver foi para outro país, quem sabe? Mas pode ter certeza que a esperança é a última que morre, pelo menos esse é o ditado, vamos ser otimistas! Planos malignos são fichinhas, tem sempre um ai conseguindo alguma coisa, é só esperar a sorte.




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Notas finais do capítulo

Primeiro:Porco = Policial / Uma palavra comum na minha região para policial corrupto. Segundo:Espero que gostem, tentei ser feliz, não sei se fui. kkkkk