Wings escrita por Virginia Salles
Notas iniciais do capítulo
Primeiramente, perdão pela demora. Nessa semana eu prestei vestibular o que foram três dias de prova e fiquei atoladíssima com um trabalho do meu curso. E pra ajudar, perdi a folha onde eu havia escrito o capítulo. Isso explica o porquê de ele estar tão ruim e pequeno. De qualquer forma, não me abandonem e boa leitura ! (:
A casa de Gustavo tinha dois andares, o que me deixou envergonhada ao saber que ele me levou no colo até o segundo andar. Afinal, além de minha mãe eu nunca tive muito contato com ninguém e de repente sou levada no colo por um homem que mal conheço?
Eu e Gustavo? A gente se dava bem. Ele não era alguém de fazer muitas perguntas e eu gostava disso. Eu não o incomodava e ele gostava disso. Sentimentos recíprocos. A cozinha dele era enorme e isso era perfeito para mim, porque eu adorava cozinhar. Não que eu estivesse cozinhando muito ultimamente, o médico pediu que eu ficasse mais alguns dias com aquele gesso e como eu iria de um lado a outro da cozinha de muletas ?
Descobri que ele tinha uma banda. Eles ensaiavam em um cômodo na parte de trás da casa. Ouvindo através da porta eu descobri que eles eram realmente bons e que tocavam vários tipos de música. De vez em quando ouvia Gustavo praticando sozinho, guitarra ou violão e eu sentava atrás da porta. O som que ele fazia era bom e me dava certa paz.
Já havia uma semana que eu estava lá e descobri que ele vivia à base de comida de restaurante e industrializados. A renda dele vinha dos shows da banda.
Nessa semana, poucos foram os nossos diálogos.
" - Comprou minha porção ?
–Comprei. Tá na bancada."
" - Onde você colocou minha camiseta azul ?
– No seu quarto, Gustavo."
Quando eu morava no sítio, tinha dias que a saudade de minha mãe era tão forte, que a única coisa que me ajudava era cozinhar as comidas prediletas dela. Ela me ensinou a cozinhar bem nova. Era um passatempo somente nosso e eu amava aquilo. Certo dia, na casa de Gustavo, acordei com saudade dela e farta de comida de restaurante. Decidi cozinhar algo, mas para isso eu precisaria da ajuda de certo alguém.
– Que foi? - foi o que Gustavo disse abrindo a porta do quarto com cara de sono. E, caramba. Ele ficava muito bonito com moletom e cabelo despenteado. Ele realmente era bonito. Tinha os cabelos pretos, lisos e seus olhos castanhos eram de tirar o fôlego. Não que eu tenha reparado nisso. Claro que não.
– Deixa de ser mal-humorado Gustavo. Quero cozinhar algo hoje.
– Droga Julieta, então cozinhe. Me deixa dormir.
– Eu preciso da sua ajuda. Não tem alimento nenhum na cozinha e eu não consigo cozinhar sozinha com esse gesso. Além disso, é bom que você aprende um pouco.
Ele suspirou e saiu do quarto, parando na minha frente me forçando a levantar a cabeça para encará-lo. Ele era um palmo mais alto do que eu.
– E então? Me dá licença para que eu possa me arrumar e ir no supermercado comprar suas comidas.
– Isso !
A primeira coisa que notei antes de entrar no carro foi que ele já tinha tirado o amassado do acidente. E lá estávamos nós, indo para o supermercado fazer compras para um almoço diferente e tudo que reinava era o mais absoluto silêncio. Bufei e liguei o rádio para sintonizar na primeira estação que aparecesse. De repente começou a tocar Coldplay, uma das bandas preferidas da minha mãe.
Virada para a janela comecei a cantar baixinho até reparar em Gustavo me encarando.
– Que foi?
– Você gosta de Coldplay ruiva ?
– Ruiva ? - perguntei rindo. - Sim eu gosto. Algum problema ?
Ele riu. A risada dele era linda. Sem esforço, e o nariz dele tremia um pouquinho ao tentar parar de rir.
– Ué. Tu não é ruiva ? Nenhum problema com isso. É que.. bom.. eu gosto muito de Coldplay também. Acho o som deles legal, apesar de não conseguir tirar nada deles com a guitarra que fique bom.
– Uau. Devo assumir que já ouvi você tocando e você não é ruim.
– Sua voz cantando também é boa.
Depois disso fomos até o supermercado conversando sobre bandas e músicas de todo os tipos. Gustavo era divertido. E ele tinha um gosto musical compatível com o meu.
Entramos no supermercado e fizemos as compras. Ele me deixou escolher o que quiser, desde que não tivesse muitas verduras e legumes e eu concordei totalmente. Nunca gostei disso mesmo. Foi divertido fazer compras com ele, e apesar de as pessoas olharem para mim de vez em quando eu não me senti mal.
Fomos para casa, e ele guardou as compras.
– Vai cozinhar o quê, ruiva ?
– Nós vamos cozinhar lasanha.
– Eu não sei cozinhar.
– É por isso que e estou aqui, né? Vamos logo. Daqui a pouco eu começo a ficar com fome.
Fomos cozinhando devagar. Eu ficava parada no mesmo lugar enquanto ele trazia as coisas que eu ia pedindo. Tinha algumas coisas que eu pedia e ele não sabia o que era. Uma hora fui tentar andar sem a muleta e acabei caindo. Enfim, depois de muito trabalho e risadas conseguimos acabar. Coloquei o cronômetro de tempo para assar e fomos para a sala.
– Não te conheço muito bem Gustavo. - eu disse depois de sentamos cada um em um sofá. - Conte-me um pouco sobre você.
Ele suspirou e perguntou : - O que quer saber ?
– Sei lá. De onde você vem, sobre sua família, de onde surgiu a ideia da banda. Coisas assim.
– A história é um pouco longa, e como eu posso ter certeza se você não vai colocar minha história numa revista ou jornal ?
Nós rimos. - Temos tempo. E eu prometo.
– Ok. Eu vivia com minha mãe e meu pai numa casa no condomínio perto do parque. Sou filho único e meus pais são médicos. Eles queriam que eu seguisse a profissão da família, mas eu sempre quis viver da música. Minha mãe que me apoiava mais que meu pai, me deu meu primeiro violão aos 10 anos.
Quando chegou a época de fazer a prova da faculdade, eu tinha 17 anos e eu recusei e meu pai ficou furioso. Disse que era bom eu fazer a prova e virar medico, que eu não sabia o que estava fazendo estragando meu futuro. - Ele disse rindo amargurado - Joguei algumas coisas minhas na mochila e fui para a casa do meu melhor amigo Jonas, e ele me acolheu na casa dele, me incentivando a morar sozinho como ele já fazia. Falei com minha mãe, ela me apoiou e disse que convenceria meu pai a me apoiar. Ela deu essa casa para mim, a casa que ela morou aqui quando criança e eu vivo aqui desde os meus 17 anos, vivendo de música.
– Quantos anos você tem Gustavo ?
– 22, por que ?
– Curiosidade só. Prossiga.
– Certo. Jonas sempre tocou bateria, e a namorada dele Rebeca, que você já conhece, tem um vocal bom, então a gente começou a fazer showzinhos juntos em bares e restaurantes, ganhando uma grana para a gente. Conhecemos Lucas, que é o baixista e hoje a gente toca no restaurante do Rafael de quarta a domingo. Rafael é um amigão e nos ajuda muito. Nas segundas e terças a gente toca em outros lugares à medida que a gente consegue lugar pra tocar.
– Ah, é por isso que você sai toda noite.
– Sim, exatamente por isso. Agora é sua vez. Conte-me sobre você.
Comecei a suar frio, tentando inventar uma mentira. Pois se tem uma coisa que meu ex-pai me ensinou certo a fazer é proteger o segredo sobre as asas o máximo que eu posso. E quando eu ficava nervosa, minhas asas formigavam e lutavam para abrir, e eu não podia perder o controle. Não novamente.
– Então...
De repente o cronômetro apita o horário me salvando. "Salva pelo gongo".
– Opa, a lasanha. Deixa que eu tiro.
Levantei meio desajeitada, e fui para a cozinha tirar a lasanha do forno. E fui chamar Gustavo que demorava para ir comer. Será que ele esperava que eu levasse um prato para ele ?
Quando eu cheguei na sala ele falava no telefone.
– O quê ? - pausa - Mas que droga, Jonas. - pausa - E agora ? Pode deixar que eu me viro. - pausa - Eu sei que não é culpa dela mano. De boa. - pausa - Até. Tchau.
– Problemas no paraíso ?
Ele suspirou frustado passando a mão pelo cabelo.
– Mais ou menos. Rebeca tá rouca e a gente tá sem vocalista pra hoje a noite no Rafael.
– Puxa, que droga.
– A não ser que..
Ele levantou com os olhos brilhando, e me olhando com uma fixação que dava medo.
– A não ser que o quê, Gustavo?
– Você, Julieta. Você vai cantar conosco essa noite.
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Desculpa novamente a demora. Comentem por favor.