– Bom dia... - eu murmurei, entrando na cozinha enquanto esfregava os olhos.

– Você ficou até tarde assistindo dramas de novo? - minha irmã, Ha Eun, perguntou com um olhar reprovador, desligando a panela de cozinhar arroz.

– Eu precisava saber quem era o pai do bebê! - me defendi enquanto ela me servia.

– Você nunca muda... Como foi a entrevista ontem? - ela se sentou de frente para mim.

– Acho que não vou conseguir o trabalho... - brinquei com o arroz no prato enquanto ela me dava outro olhar reprovador - Mas não se preocupe, eu tenho outra entrevista hoje!

– É melhor você passar nessa. Já faz três meses que você se formou e eu não posso continuar gastando o dinheiro dos nossos pais com você.

– Desculpa. Eu vou dar o meu melhor. E você, foque nos seus estudos, ok? - eu disse, já deixando a mesa.

Alcançando o segundo andar, tomei um banho e me vesti o mais profissionalmente que consegui, então apressei-me para a entrevista. O prédio ficava no centro, então tive que pegar o metrô e quase me atrasei.

“Foco”, eu disse a mim mesma. Apesar de ter brincado com a minha irmã antes, ela tinha razão. Nossos pais não mandavam tanto dinheiro assim para ela e eles não sabiam que estávamos morando juntas, então eu tinha que conseguir um emprego logo e começar a receber meu próprio salário.

Levantei o olhar para o prédio em minha frente. Gumiho Entertainment. Aquele nome trazia tantas lembranças boas... Eu balancei a cabeça, apagando as memórias de um passado que não poderia voltar, e entrei no prédio.

Para minha sorte, a pessoa antes de mim havia levado cinco minutos a mais do que o tempo que ela tinha, então eu não estava atrasada. Depois de esperar por cinco minutos na sala de espera enquanto batia meu pé direito vigorosamente no chão, a porta da sala do diretor se abriu e ele me chamou para dentro.

– Bom dia, Min-ssi. Sente-se, por favor. - disse o diretor. Ele tinha uma boa aparência e devia ter em torno de quarenta anos. - Meu nome é Yoon Chan Hyuk.

– Bom dia, Yoon-ssi. - eu o cumprimentei e sentei em sua frente.

– Então, por que você está procurando pelo trabalho de assistente? - ele pegou um lápis e olhou diretamente para mim. Eu já havia feito isso tantas vezes...

– Bem, eu me formei há alguns meses e não consegui um emprego desde então, apesar de ter tido alguns estágios bons durante a faculdade, como o senhor pode ver no meu currículo.

– E por que você acha que não conseguiu nenhum emprego?

Suspirei. Se soubesse o porquê, já teria dado um jeito.

“Não, Hye Rin, você tem que passar nessa entrevista.", eu disse a mim mesma.

– Acho que nenhum deles se encaixava no que eu estava procurando.

Ele anotou algo em um pedaço de papel.

– E você acha que a Gumiho é o que você está procurando?

– Hum… Sim... Sim, acho que sim.

Ele suspirou, então apoiou os cotovelos na mesa entre nós e se aproximou de mim.

– Olhe, Min-ssi, a garota que acabou de sair desta sala me impressionou muito. Você tem cinco minutos para me impressionar mais que ela, então já estará contratada.

Mordi meu lábio. O que eu deveria dizer? Eu devia desistir logo desse trabalho também... Não, eu tinha que conseguir esse. Pela Ha Eun.

Olhei em volta. Havia várias fotos dos grupos atuais da companhia. E então eu os vi. A foto do Shortcut era bem maior que as outras, já que mesmo com seu atual hiato sem fim, eles ainda eram a banda mais famosa que a Gumiho já havia tido. Mais uma vez, aquilo me trouxe memórias do meu passado esquecido. O que eu estava fazendo? Essa era a Gumiho Entertainment. Não era só outro trabalho qualquer. Alguns anos atrás, eu teria atravessado o universo para trabalhar nela e agora aqui estava eu, jogando fora a oportunidade. Em cinco segundos, eu trouxe de volta a fã obcecada que eu costumava ser - como a Si Won fez quando ela trabalhou com o Tony em "Reply 1997" - e olhei diretamente para o diretor, com lágrimas nos olhos.

– Quando eu era adolescente, Yoon-ssi, eu costumava ser uma Destiy. - e me referia ao nome do fã-clube do Shortcut - Aqueles caras ali - aontei para a foto deles na parede - mudaram minha vida. Eu tinha depressão quando estava no segundo ano e provavelmente teria me matado se eles não tivessem debutado. Mas eu sei que havia pessoas por trás deles. Pessoas que pensavam em cada detalhe, pessoas que os ajudavam, que os criaram. Eu quero ser uma dessas pessoas. Eu quero ajudar adolescentes tanto quanto vocês me ajudaram.

Ele olhou para mim sem expressão alguma. Mordi meu lábio, preocupada. Droga. Eu havia estragado tudo e dessa vez havia sido bem mais vergonhoso do que qualquer outra vez!

Então, o diretor sorriu de repente e disse:

– Seus cinco minutos acabaram. Vou mandar sua primeira tarefa por mensagem pela manhã.

–

– Saúde! – Ha Eun gritou enquanto brindávamos com latas de cerveja – Não acredito que você fez aquele discurso!

– Nem eu. Eu totalmente desenterrei minha fã interior.

– Não acredito que você vai trabalhar na Gumiho. Eu me lembro o quão obcecada você era pelo Shortcut. Você acha que vai trabalhar com eles?

– Claro que não! Eles sumiram há anos... Na verdade, vou aproveitar essa oportunidade para descobrir por que eles despareceram do cenário musical...

– Ah, seria tão legal! Você se lembra de quando mandou aqueles desenhos pro... Qual era o nome dele? K.?

– Mister K. – tomei outro gole.

– Isso, Mr. K.! – ela bateu palmas - Você fingiu ser uma cantora e desenhou as capas dos CDs de vocês! E você mandou aquela carta sobre o quão perfeito ele era e como você o conhecia perfeitamente bem apesar de nunca ter falado com ele! - ela começou a rir.

– Nunca mais fale nisso!

Isso sem que ela soubesse a verdade toda. Aliás, ninguém além de mim sabia. Naquele dia, eu também mandei uma das minhas músicas para ele. Não parecia, mas eu costumava ser uma garota muito tímida, então eu nunca contei a ninguém que escrevia músicas e nunca soube se elas eram boas ou não. Eu mandei-as ao Mr. K esperando que ele responderia minha carta, mas isso não aconteceu.

– Ah, cara... Sua vida vai virar um dos seus dramas.

– Espera... Você tem razão! Eu devia me vestir de menino, então! - Ha Eun ergueu uma sobrancelha - Que foi? Coisas legais sempre acontecem com meninas que se vestem de menino nos dramas!

– Acho que você bebeu demais, vá dormir, Hye Rin. - ela tentou tirar a lata da minha mão.

– Ei, eu ainda sou a unnie aqui! - nós duas rimos e então eu suspirei - Mas você tem razão. O diretor provavelmente vai me acordar de madrugada. Deseje sorte para sua unnie para que eu possa começar a trazer dinheiro pra essa casa!

– Boa sorte, unnie! - ela gritou

– Ótimo, agora vai pra cama, você tem aula amanhã.