Os olhos violetas escrita por Flávia Monte


Capítulo 8
Capítulo 8 - A aposta


Notas iniciais do capítulo

“A verdade, afinal, é que você nunca sabe quando chegará sua vez”



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Continuamos nos olhando nos segundos que se passaram. Rob sabia de que clã era. Logan sabia, minha tia sabia. E todos sabíamos de Sofia, e seus olhos vermelhos. Ela é do clã dos olhos de fogo, pensei, mas ela não tinha noção disso até agora a pouco. Isso não faz sentido.

Sofia demonstrava tristeza em seu rosto. Logan mostrava raiva. Robert não demonstrou arrependimento, mas estava com os olhos cravados nela.

– Eu confio em você. Sei que você é gentil e amável. Que é boa. Sofi, você é da nossa família. – Ele sussurrou no ouvido de Sofia. – Sra. Rosa não nos deixaria perto de você se achasse que você é do mal, ou algo assim. – Ela estava triste, mas mesmo assim se emocionou e o abraçou. Ainda dava para notar que ela não acreditou nele.

– Você pode nos dizer que poderes, que características e onde está cada clã? - Logan perguntou ao Pergaminho.

– Posso. – Ele assentiu

– E você vai? – Perguntei mesmo sabendo da resposta. – Contar tudo?

– Não – O homem sorriu. – Cada clã é diferente. E cada pessoa de cada clã também é diferente. Porem, todos seres tem seus dons.

– Qual é o seu? – Perguntei e o homem, de mais de um metro e noventa, chegou muito perto de mim.

– Tenho agilidade. – Ele falou com a boca em meu ouvido – E sei das coisas. – Senti seus lábios levantando na lateral em um sorriso.

A mão forte de Logan me puxou para perto de si e longe do Pergaminho. Um encarou o outro. O braço de Logan era tão forte quanto o do homem na nossa frente.

– Você não se comporta como um irmão – Disse ele. – Vocês tem os mesmos olhos. Normais. – Pergaminho foi para o lado de Nature e cruzou os braços – Mas vocês não são. São até de clãs diferentes, consigo captar isso. É fácil perceber isso.

Logan o fuzilava com o olhar.

– Tenho olhos dourados – Deu de ombros.

– Tenho olhos violetas – Sai do abraço de Logan. – Nós somos leigos no assunto. Só percebemos agora de que clã somos.

– Então você sabe qual é o seu? – Perguntou-me Pergaminho. – Pois eu não conheço ninguém de olhos violetas, lilás, roxo, nem nada assim.

– Sou do clã dos olhos de águia – Afirmei - Eu tenho uma águia!

– Qualquer um pode ter uma águia. – Falou Nature. – Neste caderno tem tudo sobre o clã dos olhos de fogo. Até suas táticas. Peguem – Ela jogou para Logan. – E cuidado, agora vão.

Saindo pela porta pergaminho me deu um papel. Escrito para que eu esperasse uma ligação dele. Pois ele havia pegado meu numero com Zackary. Guardei no bolso e segui meus amigos.

Robert foi na frente com Logan enquanto Sofi dormia em mim e eu dormir na janela. Por um tempo apenas olhei Remendo voando nos acompanhando.

Ainda era cedo. Faltava duas horas para eu realmente ter que acordar. Arrumei rápido meu material e coloquei um bilhete na geladeira dizendo que eu ia mais cedo para o colégio. Peguei a bicicleta e fui no caminho mais longo, por onde passava pela praia.

Eu estava onde havia visto Bernardo pela última vez. Consequentemente naquela manhã houve essa coincidência. Vi seus cabelos lisos molhados ao longe na água. Ele também me olhou.

Ver seu cabelo bater em seu pescoço estava sendo um pouco frustrante, pensei. Porque ele estava vindo em minha direção? Coloquei o pé no pedal e quando fui começar a andar ele gritou meu nome.

– Você acorda muito cedo para vir nadar. – Eu disse me virando para ele.

– Você acorda cedo para ir andar de bicicleta. – Bernardo sorriu vindo em minha direção. – Cadê sua guarda costa?

Neste momento Remendo apareceu voando baixo, perto de nós. Como se ele a tivesse chamado. Eu sorri.

– Sempre por perto. - Amei como aquelas palavras me reconfortaram – Vai matar aula de novo, Hestings?

– Não, só estou indo por um caminho alternativo – Fingi um sorriso. – Não aguentava mais ficar na cama. Precisava andar por aí – Isso era verdade.

– Garota alternativa – Falou ele, pensando alto. – Hum, realmente diferente. – Colocou a prancha na Picape.

– Você não vai a aula hoje? – Perguntei.

– Vou sim – Bernardo tinha um sorriso intrigante, assim como ele. - Sempre venho nadar primeiro, nada melhor que isso, certo? – Ele apontou para o mar. – Tenho que dar uma passada em casa para trocar de roupa, e ainda está cedo...

Porque Bernardo anda tão estranho comigo? Pensei, ele devia me odiar, ou pelo menos não entender algumas coisas. Tipo, como uma águia o atacou. Meus pensamentos sobre ele eram perturbadores.

– Então? – Prosseguiu. – Quer carona para escola? Ou até mesmo você vai lá em casa e me espera enquanto eu me arrumo. Depois vamos direto para a escola. – Este garoto tocou na minha bicicleta como se pretendesse coloca-la no carro.

– Quem sabe outro dia? – Tentei ter coragem para passar por seu pé, que estava na frente do pneu, não me deixando andar.

– Por que não hoje ? – Ele foi insistente, e isso me incomodou. – Que tal, apenas a carona então?.

– Realmente, queria apenas andar de bicicleta. Pode tirar o pé daí e dar-me espaço para passar? – Percebi que fui grossa.

Ele fez o movimento devagar, mas me deixou passar.

– Até a aula. – Ouvi-o murmurando, enquanto me distanciava.

Passei por vários caminhos que nunca tinha passado, mas achava que iria até o colégio. Dando varias voltas em algumas quadras. Acho que eu só queria me afastar das coisas ruins. E por poucos momentos eu havia esquecido da tia Rosa. Olhei para o céu por alguns segundos procurando minha “protetora”. Eu não consegui vê-la, mas foi estes poucos segundos que me fez cair da bicicleta, contra um muro.

Um muro não. Uma pessoa.

– Ai meu deus, desculpa. – Me levantei, mantendo a cabeça voltada para o chão, até conseguir levantar a bicicleta. – Tenho que aprender a não ficar olhando muito para o céu. – Olhei para o “muro” que eu quase atropelei. A verdade é que eu devia ter feito ele cair no chão, pensei. Porque isso não aconteceu?

Isso não aconteceu porque está pessoa tem um corpo incrível. Incrivelmente forte.

– Relaxa, Vilu. – Disse. – Tem vezes que me distraio também. Tipo agora. – Seu sorriso mostrava-se mais charmoso. Seus olhos examinaram meu corpo. – Se machucou?

– Não.

– Sua bicicleta sim – Kevin olhou para ela. – Está destruída.

Observei enquanto ele olhava para a catástrofe que ocorreu com minha bicicleta, quer dizer, a bicicleta do Logan. O pneu estava basicamente acabado. Não dava mais para andar nela.

– Deve ser praga do Bernardo – Digo baixo e olho para Kevin.

– Está bem longe de casa – Sua observação foi inútil e idiota, mas concordei. – Quer deixar lá em casa?

– Não. – Eu sorri – Porque os garotos sempre querem levar as garotas para a casa deles? – Ri da minha própria piada, sem graça.

– Por que não? – Ele deu de ombros e sorriu. – Vai desistir dessa bike? – Concordei com a cabeça. – Então vem comigo, te dou a carona. – Kevin puxou meu braço e colocou no dele.

Sorri ao pensar que esta vida poderia ser real. Poderia, certo? Quando entrei no carro de Kevin lembrei do dia que saímos e ele me levou para casa. Ele queria um beijo. Eu queria este beijo. Olhar para este menino me deixava aflita um pouco e me sentindo uma adolescente normal.

Você não é normal. É especial, a voz do Logan pareceu em minha mente.

– Em que está pensando, Vilu?

– Na quinta a noite. – Olhei pela janela. Vi que sorria. – E você?

– Em que você precisa de uma bicicleta nova. - Olhei para ele. Kevin continuava sorrindo. – E que precisamos sair de novo.

Meus olhos estavam presos no horizonte e finalmente vi Remendo perto das árvores. Ela parecia estar vindo em minha direção. Com algo preso em suas garras. Tia Rosa! Exclamei em minha mente.

– Preciso sair do carro. – Falei depressa e olhei para o motorista. – Kevin, pode me deixar aqui. Depois me viro.

– De novo? – Ele me perguntou decepcionado, de novo. – Vai sair assim, do nada?

– Eu te encontro na sala – Prometi. – E quero sim sair com você. – Dei um beijo em sua bochecha. – É só me ligar.

Ele deu a partida no carro e foi a caminho da escola. Olhei para minha águia de novo, ela chegou mais perto e esperou em meu ombro. Peguei o papel e li.

Querida,

Sinto muito que eu ainda não esteja em casa, mas estou tentando resolver as coisas aqui. Encaminhar tudo para o lado certo.

Você encontrou Zack? Oque ele disse? Faz tempo que não falo com ele. Espero que tenha tratado vocês bem. Ele entregou o livro?

Este livro é bem importante, acredite. Leia – o todo. Para cada um que ler aparece uma coisa diferente. Se for um simples mortal, é apenas umas folhas em branco.

E a escola, bem, fique nela. Acho que foi o lugar mais seguro até agora. Cuidado com seus poderes e com o dos outros. Quem mais sabe controlar é o garotinho, para vocês verem o perigo em que estão.

Espero que as coisas tenham melhorado com você e o Logan, vocês ... Tem que ficar junto dele, ok?

Ps: Sobrenatural só dá certo com sobrenatural.

PsPs: Cuidado com seus sentimentos. O coração podem te enganar.

Beijos, R.

Será que tia Rosa está certa? Porque meu mundo está tão louco assim? Eu era basicamente normal até alguns dias atrás. Até vir para cá. É melhor ir para a escola e esquecer por alguns momentos que esse mundo já virou sobrenatural para mim?

Pelo que entendi este mundo já existe faz tempo. Os sobrenaturais sempre ao lado dos normais, escondidos. Meu pai era um sobrenatural? Minha mãe não... E qual é o papo de sempre se relacionar com a mesma espécie? Não poder ficar com um humano sendo um sobrenatural?

Então sou mestiça? E qual o problema da mestiçagem. Se todos que estão aqui não sabiam o que eram antes significa que um dos pais não era sobrenatural. É tão óbvio. Porque com toda essa descoberta a tia Rosa ainda tem que nos mandar para a escola?

Olhei para os lados e vi que teria que andar muito. Porque desperdicei carona? Perguntei a mim mesma. Eu podia já estar na escola... Espera. Para que eu quero ir para escola? Não importa... Neste momento desejei ser tão veloz quanto o Rob. Comecei a correr e notei que não deu certo o desejo.

Não cheguei a suar mas quando entrei pelo portão eu já estava detonada. As portas do colégio já estavam abertas mas todos estavam em seu carro ou no do amigo conversando e rindo alto. Avistei seu cabelo loiro de longe. Porque tenho que encontrar com ele tantas vezes no mesmo dia? Me perguntei.

Achei-me com sorte por ele não me ver, mas ao olhar mais uma vez, vi esse garoto vindo até mim. De novo.

– E a bicicleta? – Ele sorriu e chegou alguns passos mais para perto.

– Eu atropelei um cara e ela quebrou. – Sorri. – Irônico, né?

– Sim, bem irônico. – Ele olhou para o meu corpo, sem parar em nenhum lugar até chegar nas minhas pernas. Se ajoelhou e continuou mais alto que meu joelho, que estava aparentemente rasgado, machucado. Mas sem sangue nenhum escorrendo. Nem senti a dor, pensei. – Pelo visto já foi ao médico e ele limpou o machucado. – Ele disse ajoelhado.

– Na verdade... não. – Olhe e ele notou, se levantou e sorriu. – Eu vim correndo para escola depois do acidente e deve ser por isso que está tão limpo.

– Sem sangue, basicamente. – Ele tocou em meu braço e disse – Bem, você está quente, então ainda é humana e nenhum vampiro maluco te mordeu. – Bernardo sorriu. - Nenhum vampiro tocou em você, certo? – Sorrindo continuou com a mão em meu braço e eu olhei em volta.

– Não, continuo com meu sangue quente e não sou vampira. – Havia algumas garotas nos encarando. Pelo visto ele também era alguém que as garotas babavam. Tendo olhado para o abdome dele... entendo o motivo.

– Ótimo. – Sorriu

O sinal tocou e Bernado se ofereceu para segurar minha mochila. E neste momento notei que não estava com ela. Será que eu trouxe-a?

Andei pelo corredor com Bernardo até avistar Logan com a Sofia. Ele me viu e seu olhar exclamava algo. Me livrei de Bernardo e fui até meu amigo.

– O que aconteceu com você? – Perguntou Logan.

– Ela caiu, é evidente. – Ela olhou para o meu joelho. – O motivo de não estar sangrando deve ser porque limpou o machucado.

– Não limpei, não sei por que não estou sangrando. - Um olhou para o outro e depois para mim. Nem eles sabiam o por que. - Cadê Robert?

– Coloquei-o no quarto dele, disse que se ele não ficasse lá como um bom menininho ou eu o mataria por quase ter te matado ou você faria ele não conseguir correr mais.

– E o que ele disse? – Perguntei

– Disse que se eu fizesse outra ameaça a ele tacaria fogo em mim. – Sorriu. – E eu comentei que não tinha medo de um pirralho ai ele queimou minha roupa.

– E eu logo parei o fogo – Falou Sofi rapidamente, antes que eu brigasse com eles. – E argumentei com o menininho que se não seguisse o que Logan disse... coisas ruim poderiam acontecer.

– Que coisas?

– Eu disse a ele que com minha sabedoria infinita em magia sobrenatural colocaria um feitiço nele e antes que eu houvesse terminado de falar, ele tacou fogo em mim também.

– Mas e agora?

– Olhei para Logan e ele sabia o que dizer. Colocou a tia Rosa nessa e disse que era para o bem dela.

– Ele acreditou e agora está em casa vendo TV. – Logan me olhou e depois para cima – Assim espero.

O alivio veio primeiro e depois a raiva. Não sei quantos socos dei no estomago de Logan. Sei apenas que ele ficou parado me olhando. Admirando. Sorrindo.

No último golpe ele me perguntou se eu já tinha descontado a raiva e se podíamos ir para a classe. Não respondi, apenas puxei Sofi pelo braço e fui para a sala. Foi assim que começou minha segunda-feira.

Já era o final do dia quando finalmente encontrei Kevin. Ele estava com a Grace e as amigas dela. Como posso detestar tanto esta garota e sentir o oposto por seu irmão. Olhei-o e sorri. Kevin não sorriu até estar perto de mim, seu sorriso vou pequeno.

– Desculpe pela bicicleta e pela sua perna. – Ele colocou a mão na cabeça.

– Fui eu quem te atropelou - Falei

– Mas eu não cai como deveria ter feito – Ele sorriu. Um sorriso pequeno e não tão bonito.

– Relaxa, está tudo bem. – Beijei sua bochecha e fui para o almoço. Ou quase fui. Ele me puxou pelo braço.

– Você até agora não me deu um beijo descente. – Ele estavam tão perto. Seu pescoço abaixou até sua boca chegar no meu ouvido.

– Talvez tenha sido você que não me beijou. Já pensou nisso? – Falei baixo em seu ouvido. Senti ele se arrepiar mas não me beijou. Soltou meu braço e me deixou ir almoçar.

Sai pelas portas e fui procurar meus amigos. Senti alguém segurando minha mão. Olhei-o.

– Almoço em família. Almoço em família. – Robert repetia quando olhei para ele.

– Já falou com os outros? – Continuei a andar.

– Não – Ele olhou para baixo. – Me ameaçaram de morte! – Rob quase gritou. Depois abaixou a voz. – Já foi ameaçada de morte pelas únicas pessoas que você conhece?

– Não foi por mim. – Eu falei e ele sorriu. – Ainda. – Pensei que ele olharia para baixo mas na verdade o menininho riu.

– Gosto de você. – Ele falou. – Você não sabe nada sobre você igual a mim. Não sei nada sobre você. – Robert começou a me assustar pelo jeito que me olhava.

– Tenho que achar uma amiga para você – Me abaixei. – Assim você nunca ficará sozinho em casa. – Ele balançou a cabeça, não consegui deduzir se era um sim ou um não.

E assim fui almoçar. Com Robert, no parque. Em seu “restaurante” favorito. O cara que vende cachorro quente até já sabia o nome de Rob.

Quando voltei para a aula Grace esperava na porta. Quando me viu, veio em minha direção. Qual o problema das pessoas hoje? Porque todos querem vir falar comigo?

– O que quer comigo ? – Fui direta.

– Kevin. – Ela me olhou. – Você não tem o direito de olha-lo. Ele é meu.

– Sei disso. Seu irmão.

– Não importa. Não terá nada que é meu. Uma vez meu, sempre meu.

– Sabia que você repete muito as palavras? Isso é muito chato.

– Você sabe deixar uma mulher irritada.

– Mulher? – Perguntei – Você está mais para garotinha infantil.

– Cala a boca, garota. – Disse ela dando um passo para frente.

– Posso fazer você se calar. – Eu sorri. – Não é sobre Kevin que você quer falar, certo?

– Logan também é meu.

Ri alto e isso a incomodou.

– Por mim tudo bem. Fique com ele a vontade – Sorri. – Mas lembre-se quem dorme na casa dele sou eu. Eu sempre estarei mais perto. – Só havia dito aqui por saber o que aconteceria, mas também era verdade.

Seu rosto ficou vermelho.

– Relaxa, somos de quartos diferentes. Pode ir se divertir no dele a vontade. – Sorri mostrando coragem que deve ter aumentado ao ouvir em minha mente a voz dele. “Que merda você está fazendo? Odeio essa garota! Ela não sai do meu pé. Se continuar a falar merda vou até ai” – Quer saber. Até acho que ele adoraria se divertir com você. Mas deixe a mim e ao seu irmão em paz.

Vi ela sorrindo depois ficando irritada

– Já disse! Kevin é meu! Você não chegará perto dele! Está entendendo? Principalmente por que ele só quer diversão! Ele sempre foi assim!

– Quem me impedirá de ser mais que amiga dele? – Qual meu problema? Porque tenho que falar a primeira coisa que me vem a mente?

– Eu.

Olhei para o lado e vi Bernardo me abraçando.

– Relaxa, Grace. Ela está comigo, apesar de ser relacionamento aberto. – Ele piscou para mim. – Se alguém for procurar alguém... Será seu irmão a ela.

Grace parecia mais ou menos satisfeita. Olhou para mim depois saiu desfilando. Levando consigo vários olhares.

– Qual é o seu problema?

– Pelo menos por um período de tempo ela vai parar de te irritar e você não pedirá para aquela águia ali... – Ele apontou para trás de nós – ... atacar a garota. – Ele deu de ombros. Foi assim que vi Remendo preste a atacar.

– Certo. – Falei – Mas você não poderia ser mais criativo? Relacionamento aberto?

Bernardo riu

– Estou falando serio, Bernardo.

– Está namorando com alguém aqui na escola? – Perguntou.

Pensei em Kevin, mas sabia que poderia ser invenção da minha cabeça. E ele só devia querer diversão, como disse Grace.

– Não ainda. – Demorei mas disse. – Mas com você muito menos, né?

– Porque não? – Perguntou – Sou feio? Chato?

– Hum... Não.

– Monótono?

– Porque acha que não gosto de coisas monótonas?

– Porque gosta de coisas diferentes. Eu também. Continuando – Disse o garoto. – Qual seria o problema de acharem que estamos juntos? Machuca alguém?

– Você gosta de mim?

– Você parece uma pessoa legal, Hestings. – Ele piscou e olhou para meu corpo.

– Você é um babaca, dá licença irei explicar para Grace.

– Você não me respondeu. – Segurou meu punho. E me fez olhar para ele. – Teria problema? Pelo seu olhar noto que além de espaço precisa se concentrar em outras coisas. Eu seria sua base. Suas desculpas.

– Não precisa, obrigada. – Tentei ter educação.

– Ela está certa. – Bernado falou – Ouvi seu querido Kevin apostar com os caras do futebol que tiraria sua virgindade. – Bernardo me olhou. – Não sei nem porque ele acha que você é virgem.

Me senti ofendida, profundamente ofendida. Será que Kevin mentiu para mim desde o começo? Será que era o Bernardo que está mentindo?

– Porque quer me ajudar? Porque eu deveria acreditar em você.

– Porque sei que você tem segredos. – Ele olhou de Remendo para mim. – E me compartilhou um, de uma forma dolorosa. – Olhei para seu braço ainda machucado.

– Hum, desculpe. – Falei.

– Relaxa.

– Mas porque ser meu amigo depois dessa? Porque do nada passou a gostar de mim? A me ver diferente.

– Você é diferente, mesmo eu não sabendo como.

– E você é estranho

– Dupla perfeita, né?

– Não entendo porque Kevin faria algo como um aposta. – Falei. – O que ele ganharia com isso?

– Além de fazer amor com a notava? – Ele me perguntou – Não sei. Pergunta para ele. Pergunte se ele mentiu. Faça-o falar a verdade – Bernardo me olhou. – Eu sei que você sabe persuadir alguém.

– Como posso confiar em você? - Olhei Kevin entrar no vestiário com os garotos do time dele

– Venha – Ele falou e me arrastou para a porta escrito “masculino”. Não sei porque eu não tirei a mão dele de mim. Deve ser porque eu queria saber a verdade.

Observamos os garotos conversando. Em algum momento Kevin chegou perto da pilastra que eu estava encostada e Bernardo me puxou pelo braço me fazendo entrar num espaço apertado. Ele desceu a tampa do vaso, sentou-se e me puxou para seu colo.

Olhei-o com raiva e vi o movimento que fez com o dedo. Era para eu ficar calada. Foi assim que ouvi a voz do garoto que supostamente eu estava gostando.

– Está ficando fácil. – Ele falou.

– Não parece – Outro garoto riu.

– É serio! Já a levei em casa e tudo

– Já a beijou?

– Ainda não. Mas com o tempo vai rolar.

– Você nem a beijou! – Os garotos riram – Como espera transar com a Hestings? Quantos anos você tem?

– Vai ser fácil – Ele falou. – E ainda serei o primeiro! Tudo indica ela ser virgem! Estou dizendo! Ela é tão calma e doce, fala exatamente assim. A voz dela é doce.

– NÃO ACREDITO – gritou um dos garotos – O NOSSO CAMPEÃO ESTÁ GAMADO NA GAROTA!

– Assim a aposta não vale. – Um outro garoto disse – Ai vai ser real.

– Relaxem galera. – Ouvi a voz de Kevin de novo - A aposta está de pé! Não estou gamado, nem perto disso.

Senti uma lágrima brotar do meu rosto. Olhei para o Bernardo, ele não sorria, limpou uma das minhas lagrimas e sussurrou no meu ouvido um “sinto muito”.

Ouvimos o barulho do sinal e em seguida da porta se fechando. Estávamos sozinhos no banheiro. Mas não significava que eu queria sair dali. Mesmo com o mau cheiro e as coisas escritas na porta. Ali, com Bernardo, era mais seguro.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!! Leitores fantasmas, estou esperando os seus comentários!
Até a próximaaa!



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