Os olhos violetas escrita por Flávia Monte


Capítulo 2
Capítulo 2 - Novas amigas


Notas iniciais do capítulo

Prometi para mim mesma que assim que tivesse um comentário eu postaria um novo capítulo, e a menos de uma hora Karoline me enviou um. Fico feliz e agradecida por já ter gente interresada em minha história. Obrigada Karoline!!
Sem mais delongas....



“ Curiosidade gera mais curiosidade. ”



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Kevin se sentou ao meu lado, mas não prestei atenção ao seu desenho a principio. Já que eu estava desenhando uma pessoa, que tinha muitos detalhes e sombreados. Um garoto, que aparentava ser um pouco mais velho do que eu. Em cima de uma colina, com uma roupa estranha, antiga, quase medieval. Ele usava uma armadura básica, nada muito incrementada, seus cabelos tinham poucos cachos e eram castanhos com os meus. Depois desisti de tentar faze-lo e peguei outra folha.

— Me diz alguma inspiração para eu desenhar. – Eu murmurei, concentrada em meu rascunho.

— Se vire para mim? – Ele disse sorrindo, mas não entendi muito bem o porquê.

— O que você está pintando? - Dei ênfase na palavra "você". – Não me diga que é daquele tipo de garoto que desenha apenas carros ou monstros?

— Seus olhos. – Kevin piscou, com um sorriso lindo e bem branquinho. – Mas, também gosto de desenhar esses tipos ai...

— Ah, fala sério, né? – Eu sorri, mexendo em meus cachos e tentei ver a tela a óleo dele. Depois de uma semana pensando, finalmente deixei o mundo ver meus olhos de novo. Portanto tirei o óculos de sol, assim como recomendou Logan. E realmente esse garoto estava pintando meus olhos, mesmo minha cor sendo exótica demais, estava muito parecido. Como se fosse uma foto. – Caraca! – eu disse abrindo a boca abismada, quase soltando um palavrão.

— Gostou? – Kevin sorriu mais ainda

— Você... Você é simplesmente muito bom! – Eu afirmei ainda olhando para os olhos que ele fez, tão perfeitos. – Mas não são meus olhos.

— São sim, lindos, é como eu vejo seus olhos. – Sorriu e como isso não pareceu que vinha com um mas depois, eu senti certo alívio. – Então, pelo visto, já que você gostou, não pode recusar sair comigo.

— Ok – Eu simplesmente disse. O que o fez aumentar o sorriso – Mas só se eu escolher o filme e você pagar a pipoca.

Não faz o menor sentido ele achar que sairia com ele apenas por isso, pelo menos  assim não fico sem graça ao aceitar. Esticou a mão até minha mesa, e pegou o papel amassado da minha tentativa de desenho com carvão. Admito ter ficado bom, mas não conhecia ninguém nem parecido. Apesar de amar desenhar, fico mais satisfeita quando desenho algo que realmente conheço, para poder comparar e saber se está realmente bom. Ou se é apenas abstrato.

— Nossa, e eu que pinto bem? – Sibilando um meio sorriso, continuou. – Espero apenas que esse não seja meu rival. – Ele sorriu de novo, mas parecendo falar serio. Seus cabelos estavam em um topete castanho claro baixo e sua mão tinha um tic de penteá-lo a cada cinco minutos. No minimo.

— Não sei quem é no desenho. – Admito, não dizendo mais nada. E assim que bateu o sinal, sai da sala a procura de Logan, meu único outro amigo até agora.

Confesso que não deu para entender o que se passou na aula de Artes, e é até melhor esquecer. Logan estava no seu armário, dessa vez, com duas garotas, vestidas de rosa. Cheguei perto, por trás delas. Logan me cumprimentou e apresentou as garotas. A ruiva era a Isabella, e a loira era a Camilla. As duas, bem simpáticas, me cumprimentaram como um sorriso sincero. Bem normais.

Andei um pouco para trás e me abaixei para amarrar meu sapato. Meu tênis branco já estava com as pontas todas surradas, então demorei um pouco para fazer com que essas ficassem bem presas. E quando me levantei, notei que Mark, um dos garotos do grupo de Logan estava com elas, dando em cima da Camilla, óbvio. Estava até mexendo no cabelo dela. Fui para perto de Logan.

— Como foi a aula de Artes, Su? – Ele perguntou com os olhos cheios de insinuação, como se soubesse de algo que eu não.

— Normal... E a sua aula? – perguntei olhando para meus tênis.

— Normal. – Sorriu. – Conheço Isa e Cam desde quando entrei para essa escola. – Contou-me. – Ao andar com elas, uns sete caras já olharam para mim daquele jeito sabe? Perguntando como eu consigo ter sorte. E isso foi apenas no primeiro tempo de aula. – Logan deu de ombros e sorriu. - Só respondo que sou sortudo de nascença.

— Ei. – Disse Kevin vindo atrás de mim. – Você esqueceu o seu desenho lá na sala. – Ele disse oi para as meninas e olhou para Logan que ainda continuou com os olhos fixos em mim. Kevin sabia que eu não queria esse desenho, eu até havia amassado e deixado no canto da mesa!

— Normal é, Suzanna? – Logan não sorriu. – Mark não vai cumprimentar o amiguinho da Su?

— Coe, Lançador? - Disse Mark

— Fala ai. – Disse Kevin sorrindo. – Mas, Linda, quinta depois da aula? – Ele me viu corar por usar um adjetivo como apelido e saiu de perto, considerando o meu silêncio um sim.

Percebi que os quatro estavam pasmos e olhando para mim. Como o momento foi constrangedor comecei a dar voltas com o dedo nos meus cachos.

— O que tem quinta? – Perguntou Logan. – Posso ir?

— Não sei o que tem quinta – Eu disse olhando para baixo, um pouco envergonhada com a situação, mas todos continuaram a me encarar. Como se tivessem certeza que eu não estava falando toda verdade. – Kevin só me chamou para sair, ok?

— Nem acredito que o Kevin falou com você. – Disse Isa, meio enciumada e com uma pintada de inveja, um pouco depois dele entrar em uma sala. – Kevin só anda com os primos dele, aqueles que me dão medo... Nunca mostrou interesse por nenhuma garota da escola. – Ela fez um circulo mostrando ela e a Camilla. Duas garotas incrivelmente bonitas e se ele as deixou para trás, realmente não faz sentido Kevin querer sair comigo.

— Só nas que são de fora. – Falou a Camilla bem baixinho e depois se arrependeu por isso. – E os primos estudam em outra escola, sendo assim, os únicos que andam por aqui com eles são o pessoal do time. Até achei que ele era gay.

Pela reação da Camilla preferi não perguntar o que elas viam nele. Apesar de eu saber muito bem o que eu vejo.

— Eu sou nova aqui, ele só quis ser simpático – Eu disse torcendo para que eu estivesse certa, era o pior que poderia acontecer. Um garoto como Kevin, interessado em mim. Pior? Bem, acho que não tanto assim, contudo, escola nova, amigos novos. E só.

— Quando concordei com a Sra. Rosa em você continuar aqui eu não quis dizer para se relacionar com as pessoas daqui. - Logan disse com um tom de aviso, porém, apenas eu notei isso. - Não vá quinta.

O sinal tocou outra vez, eu e Cam fomos para a mesma aula de Álgebra. Sentamos lado a lado, e a cada momento ela me apresentava outra pessoa.

— “Amor é uma fumaça que se eleva com o vapor dos suspiros; purgado, é o fogo que cintila nos olhos dos amantes; frustrado, é o oceano nutrido das lágrimas desses amantes. O que mais é o amor? A mais discreta das loucuras, fel que sufoca, doçura que preserva.” – Minha recente amiga disse assim que se sentou.

— Nossa citando Romeu. – Um sorriso surgiu em meus lábios. - O que significa, Cam? Não me diga que já está apaixonada por Kevin? - Ela riu do meu comentário.

— Lembre-se que é você a novata. Eu já o conheço faz tempo então não seria nada recente. E aquele não tem olhos para mim não, Suzanna. – Ela fez uma careta, nada discreta.

— Claro que tem. – Peguei o material e abri numa pagina limpa. – Não viu o jeito que ele te olhou quando veio falar comigo?

— E você viu o jeito que ele olhou para você? Não tenho chance alguma. Tenho mais chance com Mark do que com Kevin, e acredite, Mark é bem cobiçado por aqui. – Será?

— Não apostaria nisso, somos grandes amigos já. – Sorri pensando em Kevin e fingindo entusiasmo. – Vamos semana que vem ao shopping e Isa me ajuda a fazer você ficar impecável para o Kevin, o que você acha? - Ela riu da minha proposta.

— Não o quero, quero o Dylan. – Ela falou bem baixo, como se não fosse para mim que ela queria dizer isso.

— Quem é Dylan? – Eu disse na mesma altura que seu sussurro. – É aquele sentado lá atrás, olhando para você? – A cutuquei, entendendo tudo. – Que isso, hein, Cam. Arrasando corações.

Ela sorriu timidamente. Não pensei que alguém vestindo um tom de rosa tão forte assim poderia ficar envergonhado com algum momento.

— Ele não está olhando para mim. Dylan está tentando ver os seus olhos, tenho certeza! - Ela disse com um pouco de amargura. – O garoto não tem atitude, de qualquer forma. Nem sei se quero que ele tenha... – A professora nos chamou atenção e Cam falou mais baixo. – Vamos estudar, depois pensamos nisso, tá?

Concordei com a cabeça, apenas para olhar para trás e ver quando o Dylan virou o rosto para a janela com as bochechas rosadas. Realmente, ele devia estar prestando atenção na nossa conversa.

Eu tinha começado bem nessa escola. Acontecimentos, como o do primeiro dia com Bernardo, não voltaram a acontecer. Às vezes minha águia aparecia na escola, mas apenas procurando a mim ou trazendo mensagens de minha tia. A Dona Rosa começou a usar Remendo como um pombo correio, e acredito que a águia nem ligou. Ah, e Rosários também pediu para eu parar de chamá-la de Dona.

Quando Remendo surgia no meio do corredor ninguém parecia se importar. Uma vez ou outra ela me arranhava quando se apoiava em mim, mas eu já estava começando a me acostumar com a presença dela. Kevin tentou se aproximar de mim em todos os vãos momentos que estivemos a sós. Logan, com seu olhar protetor, me preocupava às vezes. Sempre parecendo que iria me salvar das garras do Lançador.

Um lutador de Jiu-Jitsu contra um jogador de futebol americano. O impressionante é que nenhum deles nota que eu saia de perto sempre que eles começavam a discutir. Camilla havia dito que os garotos sempre discutiam, que isso já era normal para ela, e eu era apenas mais um incentivo para a discórdia deles.

Tia Rosa, resolvi chamá-la assim afinal, tinha algumas regras em que fui quebrando diariamente. Ela não poderia esperar muito diferente disso, principalmente por eu não saber quais eram, até que eu as quebrasse.

Primeira: Nada de garotos no meu quarto com a porta fechada, sem um adulto em casa. Quebrei quando Logan entrou algumas vezes lá. Segundo: Em dia de semana não pode chegar depois das nove da noite. Violei essa quando saí para correr depois da escola. Apesar de ter ficado pelo bairro. E o último por enquanto, terceiro: Em hipótese alguma dizer de onde sou ou quem são meus pais. Qualquer coisa sobre meu passado. Essa ai ainda não quebrei. Ainda não.

Apesar de minha mãe me ligar a cada dois dias, esta manhã ela me disse que ficaria na Noruega um pouco mais de tempo. Não disse quanto ficaria a mais, mas eu já sabia que não iria embora de lá tão cedo.

Já era hora do almoço quando olhei no relógio de novo. Cam se distanciou de mim, e foi para o seu grupo de jogadoras de vôlei. Isa era do grupo das escoteiras. Dylan era do time de futebol do Kevin, Mark era do grupo de natação. Todos tinham um grupo ou um time. Olhando para o outro lado do refeitório noto que Logan estava com a metade do time de luta, e Bernardo com a outra parte em uma mesa mais perto do banheiro. Pelo visto, meu vizinho de quarto tinha vários rivais.

Assim que passei pela porta, peguei meu celular, tinha mais uma mensagem de minha mãe. Mudanças de plano e ela foi embora da Noruega mais cedo, porém, estava indo para Paris. Claro que ela está... Kevin me viu. Enquanto ele não chegava perto eu não sabia o que fazer, notei que tanto Cam em uma mesa, e Isa na outra me chamavam para me sentar com elas.

Peguei uma maçã e sai do refeitório. Evitar a todos é melhor do que a um deles só. Tinha uma linda árvore, perfeita para me sentar nas sombras. Um pomar se via perto do horizonte e varias árvores tampavam a linda cachoeira que havia perto dessa escola. Peguei meu caderno em branco, para desenhar. Meu desenho tinha algo haver com o que eu não parava de pensar... O menino com roupa de época. Desenhei, e cada vez que rabiscava mais me lembrava dele. Mas, eu nunca o vi antes.

De repente, Cam e Isa se sentaram ao meu lado nas sombras largas das árvores. Ficamos conversando até uma delas ficar com tanta cede, que a preguiça foi esquecida. O assunto foi sobre as fofocas da escola, e mesmo eu não sabendo quem era a maioria, rimos muito.

Quando levantamos para ir em direção dos armários, Isa quase rolou na grama, e para não cair se segurou na Cam, que me arrastou junto. No final nós três caímos na grama. Depois de uma olhar para a outra, começamos a rir indo em direção ao numero 10137, meu armário. Chegando a ele, eu já tinha até esquecido minha senha, e ao perceber minha dificuldade, Isa riu.

Camilla também riu, e ficamos nós três rindo no meio do corredor. Por motivo nenhum, apenas por sermos adolescentes normais. Até que a garota que me derrubou mais cedo na grama, quando tropecei, passou pelo corredor e parou na nossa frente.

— Parabéns, novata. Entrou para o grupo das esquisitas? – Ela sorriu asperamente. – Meus parabéns, hein.

— Para sua informação, Grace... – Começou Isa mas Cam a interrompeu

— A única que nos acha esquisitas, é você e talvez o seu grupinho de esnobes lideres de torcidas. – Nesse momento notei o quanto a Cam era mais alta que a Grace. Óbvio. Ela é jogadora de vôlei. – E já lhe disse, que se não parar de nos chamar assim eu vou...

— Vai o que? Pedi para a senhorita nerd me bater? – Ela sorriu com amargura olhando da loira para a ruiva. – Vocês não me põem medo, Cherfrod, sabe muito bem disso.

— Mas eu posso por muito fácil. - Eu me pronunciei na minha melhor pose de durona, só pose mesmo. – Já ganhei muitas medalhas por lutas. – Em segundo lugar... - Então afirmo que posso quebrar sua cara em poucos segundos.

O riso da garota sumiu, realmente, desapareceu. Pareceu se intimidar, quando eu disse isso, mas logo se recompôs. E voltou com aquele olhar de superioridade que estampava seu rosto. Tsh, lideres de torcidas.

— Ah, é verdade? – Ela riu. – Não ligo a mínima para medalhas que você já ganhou. De mim, você não ganha.

Cheguei perto da loirinha e segurei a gola da sua blusa, usei o que Logan me ensinou, para deixar Kevin longe de mim caso ele tentasse algo: a levantei colocando-a presa em um dos armários que tinha ganchos do lado de fora. Como isso não quebra?

— Me tira daqui, sua retardada! – Ela disse mexendo os pés desesperadamente.

— Você acha mesmo que me xingando irá te ajudar? Você vai parar de irritar minhas amigas? – Perguntei cruzando os braços, como se bastasse eu mostrar que era forte. Não sou um daqueles garotinhos valentões que colocam um nerd de cabeça para baixo, mas nesse momento me sinto assim.

— É claro que não, mas se não me tirar, farei da sua vida um pesadelo, que nem faço com as delas. – A ameaça era vazia, mas tinha algo em sua voz que me deu certeza que eram verdades todas as suas palavras.

Nesse instante Kevin chegou e desprendeu Grace, o que me fez ficar bem irritada, já que ele apareceu do nada. Meus ombros se abaixaram um pouco, com um pouco de culpa. Ela se segurou no seu protetor e sorriu. Depois se escondeu atrás do garoto, como se agora eu não pudesse atingi-la.

— Key, obrigada por me salvar dessa... Dessa garota dos infernos. – Disse apertando a manga da camisa dele. - Bem que o Bernardo havia dito que viu um corvo se desprender dela. - Ela sussurrou, contudo, eu continuei escutando. – Devíamos fazer o que aquele garoto anda nos...

Kevin tampou a boca de Grace e me olhou fixamente, tentando entender meus motivos. Minhas amigas ficaram quietas e não me ajudaram com esse conflito, como eu havia as ajudado. Porém, quando finalmente ele ia dizer algo, o Reitor chegou e me mandou a diretoria no mesmo instante. Com isso, a Grace ficou satisfeita e sorriu vitoriosa.

— A Sra. Rosa ficará tão desapontada... – Murmurou o Reitor.

— Esquece isso, por favor, Reitor. É um dos meus primeiros dias de aula! – Eu disse interpretando, ou até fingindo um choro. Uma das poucas coisas que aprendi no teatro, lá do interior.— Ela não precisa se preocupar, nem o senhor, com uma briguinha de garotas.

— Quantos anos são necessários para esquecer um instante? – Resmungou o Reitor, pensativo. – Suzanna, já tive uma discussão com a diretora sobre isso, e ela deixou passar dessa vez. – Sorriu, como se tudo fosse uma grande piada. – Sabe... Eu era muito amigo dos seus pais... Outro motivo para eu deixar isso para lá dessa vez, entende?

— Obrigada, Reitor. Sei que Rachel ficaria muito satisfeita se eu não me encrencasse. – Falei meio envergonha pelos motivos dele. E agora quebrei a terceira regra.

— Me chame de Jonathan, sem tanta formalidade. – Ele sorriu e abriu a porta para me deixar sair da sua sala. - Estou acostumado com a Srta. Grace enchendo as garotas de palavras que não devo repetir, mas não posso fazer nada sobre isso. Então você tem que se cuidar, mas não a prenda no armário, vai acabar com a tintura recente. – Sorriu de novo.

— Sim, senhor. – Eu disse.

— E a diretora não permite brigas na escola. – Ele apontou o dedo para mim, quase severamente. Quase.— Mas até que eu gosto, porém, se ela te ver realmente brigando, não sei qual será o castigo. Fique atenta.

— Ficarei, senhor.

— Agora vá. Já pode ir para casa, te dispensarei da aula. – O Reitor escreveu com uma caneta vermelha em uma folha. – Entregue esse papel ao seu próximo professor, e eu falarei com os demais sobre sua despensa. Isso não ficará no seu histórico, Srta. Hestings. Por enquanto, evite qualquer confusão, ok?

— Obrigada, senhor. – Sorri e sai da sala o mais rápido possível, vai que ele muda de ideia?

Um ótimo jeito de começar em uma nova escola: Ir para a direção. Tia Rosa provavelmente vai me matar... Pelo menos Logan me apoiará, e se orgulhará quando eu mostrar como aprendi bem a sua técnica de autodefesa. Quem sabe, um dia, ainda posso ganhar do Logan na luta? Depois de ganhar nossa aposta sobre o surf.

Quando cheguei a minha próxima aula para dar o papel ao professor, Logan estava me esperando na porta com os braços cruzados, parecendo irritado e até decepcionado. Também notei que seu semblante estava travado, como se quisesse descontar sua raiva em mim. Em mim?

— Qual o seu problema, Suzanna? – Logan olhou para mim parecendo um pai severo. – Você tem que ter algum distúrbio mental, para ir à diretoria na sua segunda semana de aula.

— Relaxa, o Reitor gostou de mim, até me liberou da aula de hoje. – Eu sorri.

— Isso é quase suspensão! Como serão os próximos dias, então? Se logo no primeiro mês você já se meteu em briga? – Ele disse e chutou a parede, dramaticamente. – Eu achei que você só não gostava de escolas, mas já notei que o seu problema é gostar de brigar.

— Fala como se eu fosse você? – Resmungo, começando a me irritar. - Se eu gostasse de briga, brigaria com alguém que pudesse ganhar de mim, tipo você, mas não faço isso. – Falei com ele com a minha voz normal, sem nenhuma mudança. – A garota zombou das minhas novas amigas, as SUAS amigas, o que queria que eu fizesse? – Eu entrei na sala, entreguei o papel ao professor, e sai o mais rápido possível. Mas, Logan ainda me encarava. – Tenho o costume de defender quem eu acho que precisa. Elas visivelmente precisavam, você não deveria ficar irritado comigo!

— Vou voltar com você pra casa. – Logan falou, como se isso fosse um fato tão óbvio que não fazia sentido nem ele pensar, e pegou minha mochila do ombro.

Irritada, peguei-a de volta, com força o suficiente para mostrar como eu me sentia.

— Não pedi ajuda, da licença – Minha irritação gritava dentro de mim e sai andando pelo corredor, sabia que meu amigo não estava atrás de mim. Afinal, eu sentia seu cheiro de margaridas com canela se distanciando.

Logo que saí pela porta principal lembrei que teria que voltar a pé, então comecei a andar. Principalmente, por ter a certeza que ia demorar e eu não queria esperar nem mais um segundo para sair da área da escola. Lágrimas de raiva lutavam para não sair dos meus olhos. Coloquei os óculos de sol os quais eu nunca devia ter tirado, então comecei a ouvir passos atrás de mim. Ignorei esse fato colocando o fone no ouvido. Pouco tempo depois Kevin apareceu ao meu lado.

— Dá para você parar de correr? Eu não acompanho. – Ele disse com um sorriso, para tentar me dá tranquilidade e conforto. É claro que acompanha, jogador.

— Quem sabe não foi essa minha intensão? – Minha voz não transmitia a insegurança que eu estive sentindo, desejando que ele saísse de perto. Nesse momento Remendo apareceu e voou baixo o suficiente para me mostrar que estava por perto.

— Sei que não foi, linda. Você achava que eu era o idiota do Parafina. – Quando percebeu que não neguei Kevin disse: – Sei também que está um pouco chateada comigo, mas o que você esperava? Você pendurou a Grace no armário, sem mais nem menos!

— O que Grace é sua afinal? Ela é sua namorada por acaso? – Eu perguntei transparecendo a raiva contida em mim, e com um pouco de ciúmes, admito. – Pelo o que entendi, sua adorável Grace trás caos por onde passa.

— Porque você acha isso? – O sorriso metido surgiu em seus lábios. – Só por que ela me abraçou?

— A Grace é ou não? - Eu perguntei ainda andando rápido e com os meus pés quase me fazendo cair no chão.

— Não, não é. É um pouco pior, em minha opinião. – Sua frase prendeu minha atenção, fazendo com que eu olhasse para ele. – Ela é minha irmã. Meia-irmã, na realidade. – Kevin sorriu e olhou para baixo com o olhar de um menino traveso. – Você ficou com ciumes? –Pelo fato de seus lábios serem carnudos, seu riso era um pouco grosso, assim como sua voz. – Meu pai casou com a mãe dela. – Ele deu de ombros.

— Para que lugar você está indo? – Comecei a andar mais devagar, despreocupada com a antiga pressa que eu estava. Fiquei a vontade perto de Kevin, isso é bom. Não é?

— Onde você estiver indo. – Kevin sorriu, e seus dentes eram tão branquinhos. Mexendo no topete castanho claro, ouvi que ele engasgou e isso me fez voltar a encará-lo. – Não posso deixar uma linda garota andar sozinha pelas ruas, certo? Ainda mais uma distância tão longa, como deve ser a sua casa.

— Se você ainda não notou... Nós nos conhecemos faz um pouco menos de 48 horas, se formos somar todos os dias.

Seu olhar parecia encarrar o chão, ainda andando. Isso é o jeito dele de ser tímido? É uma graça.

— Você não tem, às vezes, aquele sentimento que talvez seja mais do que isso. – Ele sorriu. – Sei lá, parece que já te conheço. E que isso faz tempo.

— Hm... Tanto faz. – Eu digo, e começo a andar mais rápido. Lembro-me da terceira regra, e não quero mais contar a ninguém nada sobre meu passado. Nem que seja algo tão sútil assim.

— Então, a que horas eu te busco na sua casa na quinta?

— E se eu disser que não vou?

— Quando se trata de algo importante para sua vida, nunca aceite não como resposta. – Ele sorriu. – É o que me dizem. – E piscou.

Chegamos à porta da minha casa e eu olhei para o garoto alto, forte, com cabelo castanho claro e olhos negros.

— Você é muito estranho. – Eu disse e me virei para segurar a maçaneta. - Quase tanto quanto eu. - E entrei em casa.

Olhei pela janela do meu quarto e o vi olhando para cima, quando me viu sorriu e acenou. E foi embora. Do mesmo jeito que veio. Andando, em silêncio. Mas o que mais me surpreendeu foi o fato que eu estava sorrindo. Olhando pela outra janela do meu quarto vi a luz acesa do quarto de minha tia... Ela deve estar lá. Troquei de roupa.

Desci pela escada com o meu pijama, e entrei na parte de Rosa. Ela não estava na sala, então subi até o quarto de Logan, e tinha um papel um pouco amassado perto do lixo. Pego-o para jogá-lo fora, mas ai eu vejo meu nome, e minha curiosidade cresce. Desamasso o papel, mas não ia deixar a tinha Rosa me ver ali. Então, eu coloco dentro do meu bolso do short e vou ate o quarto dela. Ela estava deitada na cama com um livro na cara.

Já estava bem tarde, porém, não se passava das nove horas. Vindo para casa na companhia de Kevin, além de me divertir, o tempo passou rápido.

— Logan me contou da briga na escola. – Rosa comentou, tirando-me os pensamentos.

— Já sei, já sei. Você vai brigar comigo, que nem ele fez né?! – Eu reclamei, pronta pra discutir. – Nem vai adiantar eu falar? A putinha zombou das minhas novas amigas, o que eu podia fazer, além de fazê-la perceber com quem está lidando. Não sou boa com palavras, você deve saber!

— Su, não brigarei com você. Pode relaxar. Pelo visto, o senhor Hime já fez isso. - Ela sorriu e agora sei até o sobrenome do reitor. Jonathan Hime.— É bom ver que você não anda mais triste e você até fez amigas. Eu teria feito a mesma coisa que você fez... Ou talvez algo pior. – Ela sorriu. - Tenho um comunicado para você: Virá amanhã cedo uma nova garota para está casa, seu nome é Sofia Priece. Ela ficará no quarto ao lado do seu.

— Certo. - Eu disse.

— E irá para sua escola. - Ela se sentou. - Apesar de ela ter treze anos, será da sua classe. Diga a todos que ela tem dezesseis como vocês. Ela fará todas as aulas com você. - Ela notou meu espanto. – Ela é diferente das garotas da sua escola, mas o reitor saberá como lidar com ela caso ela passe mal.

— Por que ela passaria mal? – Questionei.

— Um dia ela te explicará. - Rosa sorriu. - Pode se retirar agora.

Chegando a meu quarto vi uma placa lilás nova na porta, "Suzanna". Entrei, deitei na cama e desamassei o papel que peguei no quarto de Logan.

Suzanna Hestings.

Sofia Priece.

Robert Kajoma.

Harry Wegel.

Havia mais nomes, rasurados e escritos à mão. Era uma lista, mas de que? Questionei-me, contudo, acabei desabando na minha cama.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Essa capítulo era so para daqui a duas semanas sabe... mas sou tão anciosa!!!!!! Por favor, comentem!!! E me deixem sabendo o que acham da história!



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