Sobre Deuses e Escolhas escrita por S Laufeyson


Capítulo 1
Capítulo 1 - Passado Distante


Notas iniciais do capítulo

Holaaaaaaaaaaa pessoas!! Estamos de volta...
Como eu avisei no grupo, minha intenção era ter postado essa fanfic há alguns dias atrás, mas como tive um bloqueio na conta, só estou podendo fazer agora. Enfim, ela contará a interação de Hodr com o grupo (amigos e família) e ao mesmo tempo que veremos um pouquinhos dos personagens que amamos e conhecemos em SHD...
Enfim, espero que gostem de SDE.. o/



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/570691/chapter/1

A respiração já estava quase lhe faltando enquanto ela corria para longe dali. Havia escapado e só os deuses dos deuses sabiam como. Encostou-se em uma árvore tentando acalmar-se, mas era impossível. As lágrimas corriam por seu rosto enquanto ela alisava o enorme ventre. Estava cansada, com fome, com sede e bastante preocupada com seu filho. As dores de parto já começavam.

Aquele grupo era conhecido por todos os Nove Reinos. Saqueavam quem estivesse em sua frente, estupravam as mulheres e matavam as crianças. Quando chegaram, Narea estava dormindo e Okrum ainda não havia chegado em casa. Estivera fora a noite inteira por conta de um serviço extra. Tinham que arranjar dinheiro para as despesas com a criança que estava por vir.

Ela os ouviu e por isso acordou. Já estava nos últimos dias de sua gestação e mal conseguia mover-se. O seu irmão, Ellia, estava cuidando dela naquela noite e foi ele que a ajudou a fugir. Lutou contra vários daqueles saqueadores, mas foi pego pela espada de um deles. Narea não viu a hora, corria desesperada para dentro da mata.

Já havia corrido por quase duas horas e não aguentava mais. Sentou-se no chão enlameado e chorou ainda mais forte. As pernas estavam dormentes e ela mal conseguia manter seus olhos abertos. Fechou-os apenas por alguns minutos, para tentar recuperar um pouco da sua força e voltar a correr. Os cabelos loiros estavam soltos e caiam por sobre os seios. O vestido fino, de alça, não a protegia do frio e por isso começou a sentir a musculatura contraindo-se. Na tentativa frustrada de gerar calor. Estava quase completamente adormecida quando ouviu passadas ali próximo.

Não sabia o que fazer. Não sabia se conseguiria continuar correndo. Não sentia suas pernas e não conseguia mais se mexer.

- Desculpe, meu amor. Mamãe tentou. – falou alisando a barriga. A boca tremia bastante. – Eu queria ser mais forte, mas não consigo mais. – o passo ficou ainda mais próximo. – desculpe. – ela encolheu-se como pode e esperou que a morte chegasse, mas ao invés disso, sentiu um manto cair por cima de seu corpo. Olhou para cima e viu um dos homens de sua aldeia tentar aquecê-la.

- Narea! – seu marido chegou rápido até ela. Ajoelhando-se diante da mulher e segurando seu corpo nos braços. Ela tremia fortemente. O inverno de Vanaheim não era tão percebido durante o dia, mas a noite, era quase insuportável. – Vai ficar tudo bem.

- O bebê não se mexe. – falou ela quase em um sussurro.

- Eu vou colocar você um lugar seguro e vamos ver o que está acontecendo, está bem? Não se preocupe. – comentou ele segurando-a firmemente nos braços. Colocou-a em seu cavalo e correu com ela para a casa de uma das parteiras dali.

A mulher passou a sentir as contrações ainda mais forte e a parteira logo decidiu que era hora de fazer a criança nascer. Colocou-a deitada em uma das suas camas e mandou que o marido esperasse do lado de fora.

Os gritos que se seguiram estavam quase enlouquecendo Okrum e aquilo ficou pior ainda quando a parteira saiu do quarto, pedindo ajuda para duas outras mulheres. Completamente ensanguentada e com a fisionomia de espanto. Ele sabia o que estava acontecendo. Narea parou de gritar.

Depois de duas horas de completo desespero, a mulher saiu do quarto. Estava cansada e soava muito. Limpava as mãos em um pano e o encarou tristemente.

- São dois meninos. – falou encarando o homem.

- Dois? – ele sorriu abertamente, mas então lembrou-se do estado de sua mulher. – mas e Narea?

- Perdeu muito sangue, mas está acordada... – respondeu a parteira. –... vai depender dela, de agora em diante. Sinto muito.

Ele nem bem esperou a mulher terminar de falar e entrou no quarto. Narea estava pálida e abatida, mas mesmo assim segurava os dois pequenos em seus braços.

- Veja, Okrum. São dois. – ela sorriu. – E estão bem.

- Halla me disse. – respondeu aproximando-se e sentando ao seu lado, na cama. Depositando um beijo demorado na testa da loira.

- Os nomes? – perguntou levando os olhos incrivelmente azuis até o seu marido. Estava ficando com sono. Forte demais.

- Não sei, qual você quer? – Okrum devolveu a pergunta.

- Eu tinha apenas um na cabeça, mas acho que já sei o outro. – a mulher fechou os olhos rapidamente, como se tivesse cochilado. Ele percebeu e segurou os bebês, colocando-os em cima da cama. – O que nasceu primeiro é Hodr.

- Hodr. – ele sorriu. – Eu gosto do nome.

- O outro, chame-o de Balder. – respondeu ela quase em um sussurro. – Eles são lindos, não são?

- São sim. – ele falou enquanto a mulher fechava os olhos e deixava a cabeça pender para frente. Okrum finalmente começou a chorar, não queria que essa fosse a última imagem que Narea visse. Tinha que ser forte, por seus dois filhos e principalmente por ela. Segurou em sua mão, encostou a cabeça ali e chorou tanto quanto podia chorar.

Ergueu as vistas alguns minutos depois, voltando-se a seus filhos. Era tudo o que Narea havia lhe deixado. Os olhou atentamente e percebeu que eram idênticos.

Alisou o rosto daquele que dormia tranquilamente, mesmo o irmão berrando ao seu lado. Estava na cara que aquele seria calmo. O outro era mais agitado e jogava as pernas e os braços, como se tentasse desvencilhar-se de alguma coisa. Abriu os olhos para o pai.

Okrum os encarou sem esboçar reação. Havia uma camada leitosa e o bebê mal conseguia ficar com eles abertos por muito tempo. Entendeu de imediato o que aconteceu. Aquele era cego.

Virou-se rapidamente na direção do outro que dormia, como se nada estivesse acontecendo. Abriu um de seus olhos, com a ponta dos dedos, e viu a enorme orbe azul.

A parteira entrou logo em seguida, encontrando aquela cena triste. Abaixou os olhos em resignação e deu as costas. Era o momento de Okrum apenas, ela entendia.

- Espere. – chamou o homem e a senhora virou-se. – Qual dos dois nasceu primeiro?

- O que tem a fita azul no braço. – respondeu e o homem olhou novamente para seus filhos. Segurou o menino com a fita azul e ele, imediatamente, parou de chorar. Encostou a testa do pequeno em seu lábios e lá ficou, enquanto ele acalmava-se mais ainda.

- Não se preocupe, Hodr. Eu e seu irmão estaremos aqui por você.

...

O carrinho seguia rápido pelas planícies de Asgard. Parecia mais como se fosse uma pequena carroça de madeira polida, sendo empurrada por um garoto de cabelos loiros escuro e compridos. Outro menino, a sua cópia, estava sentado no brinquedo, com os braços abertos e sentindo o vento tocar-lhe o rosto. Riam juntos da diversão.

Haviam se mudado para aquele reino, quando seu pai conseguiu um emprego de soldado e montou uma ferraria, que logo despontou como uma das melhores. Isso ocorreu uns dois anos depois de terem nascido. Agora já aproximavam-se dos seis anos e viviam bem ali. Okrum havia casado-se novamente e a madrasta deles, Sademai, os havia criado como filhos dela mesmo. Por isso a chamavam de mãe.

Mas a preferência dela era clara, Balder tinha o seu amor. Hodr era visto por ela como alguém que necessitava de cuidados, mas não digno de ser seu filho.

- Você está indo muito rápido. – gritou o menino sentado no brinquedo.

- Não fica com medo. Eu cuido de você. – concluiu o outro ainda correndo. Desceu por uma estrada de barro em direção a uma campina. Diminuiu a passada ao chegar por lá.

- O que foi, Balder? – Hodr virou o corpo na direção do irmão.

- É a rainha. – respondeu ele. Viu Frigga sentar-se em um pano no chão. Bastante cuidadosa por causa da sua gravidez, já estava próximo de dar a luz. Com ela estava Thor, que não passava de um bebê de dois anos e Loki sentado ao lado da mãe, tinha pouco mais de um ano. Comia um pedaço de torta de maça que Frigga havia lhe dado. Como não sabia usar talheres, comia usando suas mãos e já estava completamente coberto pelo recheio da torta.

Thor brincava com um pedaço de madeira, fingindo que era sua espada. Corria atrás de uma das servas de Frigga e a rainha ria com aquilo. A serva jogou-se no chão, fingindo que havia sido ferida e Thor correu na direção dela, pedindo desculpas. Foi agarrado pela mulher que começou uma sequência de cócegas que fez o príncipe rir.

Saiu apressadamente dos braços da serva e correu de volta até onde tinha deixado o pedaço de madeira. Abaixou-se e quando levantou os olhos, deu de cara com Balder e Hodr.

- Thor, não se afaste. – mandou Frigga e o garoto aproximou-se ainda mais dos dois irmãos.

- Quer brincar? – perguntou o loiro esticando o pedaço de madeira para Balder. Hodr continuava sentado no carrinho.

- Balder, vamos para casa. Mamãe vai ficar preocupada.

- O que está fazendo ai? – perguntou a serva aproximando-se e percebendo que havia duas crianças com o príncipe. - Vão para casa. – mandou ela tentando enxotar os meninos.

- O que está havendo, Dirbel? – aproximou-se Frigga e viu os meninos. Trazia Loki seguro pela mão. – Olá. – falou ela. Balder deu a volta no brinquedo e segurou Hodr pela mão, fazendo o irmão pular e começarem a correr. – Esperem, não tenha medo.

Hodr parou e puxou para que o outro também o fizesse.

- Vamos embora. – o mais novo puxou o irmão.

- Ela mandou esperar. – respondeu o outro. – Ela é boa.

- Como sabe? – Balder franziu o cenho, parecendo perder a paciência quando Hodr insistia.

- Eu só sei. – ele desvencilhou-se de Balder e seguiu andando de volta até onde Frigga estava, guiava-se pelos sons. Sempre fora assim. Sua audição passou a ser sua visão.

Frigga o olhava sorridente. Não havia percebido que ele era cego. Apenas o fez quando se aproximou. Loki estava apoiado nas pernas da mãe, mas logo começou a seguir Thor e a brincar com ele.

- Qual o seu nome? – perguntou ela.

- Hodr, filho de Okrum. – respondeu o menino.

- Okrum? O nome não me é estranho. – respondeu Frigga olhando para Dirbel.

- É um dos soldados de honra do nosso rei, Majestade. Também é o ferreiro.

- Ah sim, eu me lembro. – A rainha sorriu. – Esse é o seu irmão. – ela olhou para o outro rapaz. – Qual o seu nome, meu querido?

- Balder. – respondeu ele ainda de longe. Desde pequeno sempre fora desconfiado.

- Bem, eu me chamo Frigga. – Ela ergueu-se completamente, porque o peso do bebê já estava afetando suas costas. Não podia mais ficar abaixada por muito tempo. - Vocês querem comer um pedaço de bolo conosco? – ela olhou para Hodr e para o irmão.

- Precisamos ir andando. A mamãe vai ficar preocupada se a gente demorar. – o mais novo segurou na mão do irmão.

- Então prometam que retornam amanhã. – falou Frigga. – Estaremos aqui, depois do meio dia. Avisem a mãe de vocês.

- Vamos Hodr. – Balder puxou a mão do irmão, mais uma vez.

- Prometemos. – falou o mais velho e sorriu. Acompanhando o outro garoto até o brinquedo que o empurrou de volta pela colina e em direção a sua casa.

No dia seguinte, retornaram. Mesmo contra os protestos de Balder, Hodr disse que iria. Sozinho se o irmão não aceitasse.

Daquele dia em diante, todas as tardes eles iam até o mesmo lugar. Se divertiam com os príncipes e se tornaram bastante amigos. E isso incluía Sigyn, que nasceu algumas semanas depois.

Frigga ensinou Hodr a tocar piano, nos meses que se seguiram. Deixava a pequena ruiva sentada em seu colo, enquanto contava o tempo das notas para o menino. Isso quando Sigyn não estava brincando no chão, com Loki, que já tinha quase três anos e a segurava para que aprendesse a andar. Havia visto o que a mãe fazia e tentava imitar. Colocando Sigyn sentada a uma certa distância e afastando-se. Chamava a pequena para que ela fosse até ele.

A rainha tentou, da mesma forma, ensinar piano a Balder, mas ele desistiu na segunda aula. Não tinha o menor jeito para a música. Preferia brincar de espadas com Thor. Era mais divertido.

...

Era inverno e a casa dos irmãos estava em festa. Era o dia de Hodr e Balder. Estavam completando dez anos e mesmo que a data fosse triste para Okrum, ele se esforçava para não demonstrar. Ainda mais porque agora tinha a Sademai com ele e não queria magoá-la.

Estavam sentados conversando quando alguém chamou, do lado de fora. Hodr levantou-se para atender. Conhecia aquela casa como a palma da sua mão. Abriu a porta e recebeu um abraço apertado.

- Parabéns, Hodr. – falou Warla sorrindo, era um ano mais nova que os gêmeos. Chegou acompanhada por Frigga, que vinha logo atrás junto dos três filhos e de Sif. Traziam presentes para cada um dos dois.

Frigga entregou os dela. Eram duas túnicas perfeitas, feitas a partir do melhor linho que existia nos nove reinos. Havia adquirido uma afeição forte pelos rapazes, desde o primeiro dia que os viu, e por isso o mimo extremamente caro. Na verdade, não podia se esperar menos da rainha de Asgard.

Entregou os dois pacotes aos meninos e esperou que abrissem. A túnica de Hodr era de uma cor marrom claro, com bordados dourados e um excelente acabamento. Só a costureira do palácio poderia ter feito aquilo com tamanha perfeição. O menino deslizou os dedos por sobre o bordado das mangas e golas e sorriu. Embora não pudesse ver a obra perfeita daquela peça, ficou extremamente feliz em receber aquele presente.

Balder o olhava pelo canto de olho enquanto abria o seu presente. Era a mesma túnica que a de Hodr e com os mesmo desenhos, exceto que a cor era um azul marinho escuro. Ele respirou fundo e sorriu sem vontade, agradecendo a Frigga pelo presente. Mais tarde, na mesma noite, ele trocou a sua túnica com a de Hodr. Tinha gostado mais da do irmão do que a sua.

...

Sete anos se passaram rápido demais, rápido até para os próprios deuses. Hodr e Balder tornaram-se belos rapazes de dezessete anos e, por conta disso, tiveram que aprender uma profissão. A única que estava ao seu alcance, naquele momento, era aquela de seu pai. Seriam ferreiros.

Estavam sentados em uma parte mais alta das ruas de Asgard, comiam alguma coisa antes de voltarem ao seu serviço. Conversavam entretidos até que ela apareceu. Sigyn descia a rua com Sif, Loki e Thor. Tinha acabado de completar doze anos e já havia mudado drasticamente. O corpo de menina havia ficado para trás.

Abriu o seu maior sorriso ao ver os dois irmãos.

- Olá rapazes. – falou ela aproximando-se. Thor veio logo em seguida e cumprimentou Balder com um aperto de mão forte e um sorriso. Eram bastante amigos. Cresceram juntos. Eram quase irmãos.

- Para onde estão indo? – perguntou Hodr.

- Para a casa de Sif. – respondeu Sigyn sentando ao lado dele. O rapaz entregou-lhe uma ameixa. Sabia que a princesa adorava. Ela deu uma mordida na fruta. - Querem vir?

- Temos trabalho a fazer. – respondeu Balder encarando-a.

- Estão trabalhando demais ultimamente. – falou Thor. – Levantem e vamos.

- Não podemos mesmo, amigo. – continuou. – recebemos várias encomendas de espadas, lanças e escudos. Estamos quase sem prazo e não está tudo pronto.

- Talvez até tenhamos que começar a trabalhar durante a noite também, para dar tempo. – concluiu Hodr.

- É uma pena. – suspirou Sigyn.

- Vamos então? – perguntou Loki. Estava em pé, com a feição séria de sempre e com as mãos nas costas. Tinha acabado de completar treze anos.

- Sim, irmão. – respondeu Thor ajudando Sigyn a levantar-se.

- Obrigada pela ameixa, Hodr. - a princesa beijou-lhe a bochecha e sorriu, mesmo que ele não pudesse ver que sorria. – Tchau Balder. - Loki colocou uma das mãos nas costas dela, guiando-a para que acompanhasse o grupo.

- Porque não conta a ela? – perguntou o mais velho dos gêmeos.

- Contar o que?

- Que você gosta dela. – respondeu ele sorrindo. – Eu posso ser cego, irmão, mas vejo muita coisa que algumas pessoas não enxergam ou finge não enxergar. Acho que valeria a pena. Sigyn é um doce, vai entender.

- Acha mesmo que uma princesa se apaixonaria por um simples ferreiro, irmão?

- Porque não? – respondeu Hodr sorrindo.

- Somos de mundo diferentes. – Balder terminou de comer e levantou-se. – Está na hora de voltarmos ao trabalho.

- Percebeu que sempre quando começamos a falar de Sigyn você muda o assunto? – Hodr levantou-se, caminhando para dentro da ferraria como se estivesse vendo o caminho. Seguindo direto até a sua mesa de trabalho.

- Essa é uma deixa para que paremos de falar nela. – Balder tirou a espada da fornalha e começou a bater com o martelo. Estava tão quente que a sua cor era um amarelo vivo.

Hodr sorriu, voltando sua atenção para o cabo de uma lança. Era um exímio ferreiro e sua deficiência não o atrapalhava, muito pelo contrário, o ajudava a ser muito mais detalhista. Aprendeu a ouvir o som do ferro. Quando estava quente, fazia um barulho ao ser tocado pelo martelo, e quando estava esfriando fazia outro. Sabia diferenciar. Era claro que havia se queimado inúmeras vezes até aprender a profissão e as cicatrizes em sua mão provavam isso, mas isso só o fez crescer. Não há vitória sem luta e ele sabia disso.

Estavam trabalhando atentamente quando Okrum chegou, ainda fardado com as roupas do exército de Asgard e acompanhado de um de seus superiores. Ele não precisou dizer nada para que Hodr soubesse que haviam mais duas pessoas ali. As passadas distintas e o barulho das armaduras eram inconfundíveis.

- Então, qual dos dois foi o artista por trás dessa espada? – perguntou o tenente. Balder olhou o cabo e abaixou o olhar. Trabalhado demais para ser dele.

- Hodr. – respondeu Okrum. – Todas as armas que saíram para o exército, foram feitas por ele. – o jovem estava de costas e ao virar-se o tenente impressionou-se. Havia sido um cego a fazer aquela arma perfeita.

- Eu só fiz o meu trabalho. – respondeu ele humildemente. Odiava esse tipo de atenção. Na verdade não estava acostumado com ela.

- Filho, você merece todos os elogios que lhe derem. Aceite-os. Você é um artista. – comentou o tenente. Balder trincou o maxilar. Sentiu ciúmes. Continuou marretando a espada que fazia enquanto o homem falava sobre a perfeição da obra de Hodr. Até que, depois de um tempo, inventou uma desculpa para que pudesse deixar o lugar.

Caminhou rápido até a sua casa. Respirava pesadamente e tentava acalmar-se. Não entendia como seu irmão, deficiente, conseguia ser melhor do que ele naquilo. Ele podia ver, esforçava-se para fazer os melhores detalhes, mas ainda assim Hodr era superior a ele.

Irou-se ao pensar nisso. Nunca recebera um elogio assim e se sentia como se não fosse bom. Deu um murro em uma das jarras de vidro que espatifou-se ao cair no chão.

Com o barulho, a sua madrasta aproximou-se correndo. Encontrou o jovem encostado em uma das paredes, sentado no chão.

- Balder. – ela aproximou-se, ajoelhando-se diante dele.

- Me deixa em paz. – ele falou quase em um sussurro a primeira vez, mas gritou alto quando a mulher tentou tocá-lo. – Me deixa em paz! – Sademai o encarou por um minuto antes de atender ao seu pedido.

Balder levantou-se e seguiu para seu quarto. Dividia com o seu gêmeo, já que a família não tinha muitas posses.

- Irmão, está tudo bem? – Hodr perguntou entrando pela porta. – Nós temos muito trabalho a fazer. O pai pediu para que eu viesse lhe buscar.

- Diga ao pai que a partir de hoje não sou mais ferreiro. – respondeu ainda de costas.

- O que aconteceu? – perguntou o mais velho preocupado. Amava o irmão e se algo o estava ferindo, queria compartilhar a sua dor. Não o deixaria carregar aquilo sozinho.

- Como consegue que tudo seja voltado a você?

- Eu não entendi, Balder. – respondeu o outro franzindo o cenho em completa confusão.

- Não entendeu? Eu vou explicar direitinho a você. – ele virou-se encarando os olhos leitosos do irmão. – Você, por menos que se esforce, recebe tudo e eu, por mais que tente, fico com o resto.

- Isso não é verdade, irmão. – Hodr cruzou os braços e respirou fundo. Estava na cara que o irmão estava se exaltando por besteira.

- Não? Você sem conseguir enxergar, faz uma arma para o exercito e o próprio tenente vem a você dizer que é um artista. Dá uma única ameixa a Sigyn e recebe um beijo de agradecimento.

- Eu entendi. – Hodr respirou fundo. – Não há nada entre eu e Sigyn. Eu a considero como uma irmã.

- Nem que você quisesse. Ela não olharia para um inválido. – respondeu saindo do quarto e deixando a casa.

...

Balder mudou a partir dali, sua amizade com seu irmão se desfez completamente, tanto que estarem no mesmo lugar era sinal de briga. Hodr sempre tentava remediar as coisas, convencer o irmão de que ele também era bom no que fazia, mas Balder perdia completamente a razão. Em uma dessas vezes, os irmãos brigaram de socos e mesmo que Hodr fosse bom em luta, isso requeria a visão para um melhor desempenho e Balder sempre ganhava por causa disso. Desse modo passou a humilhar o irmão, chamando-o sempre de deficiente ou de aleijado. Uma vergonha para sua família.

Como consequência daquilo, acabou ganhando a inimizade de Sigyn, Loki, Warla e Sif. Thor ainda era seu amigo, mas não da mesma forma de antes. Ainda mais depois que Balder passou a perseguir a princesa. O amor que sentia por ela virou uma completa obsessão de uma mente doentia.

Como no dia em que Sigyn, com dezesseis anos, estava voltando do mercado. Havia sentido vontade de comer uma fruta chamada Pêra, mas não havia aquilo em Asgard. Era um fruto exclusivo de Midgard e somente um vendedor possuía aquelas frutas exóticas. A princesa, como sempre fazia, buscou a sua capa escura e desceu as ruas com sua cabeça coberta pelo pano.

Comprou as frutas e retornou ao palácio, dando de cara com Balder ao entrar nos jardins reais.

- Olá Sigyn. – falou ele aproximando-se.

- O que faz aqui, Balder? – perguntou a jovem tirando o capuz da cabeça. – Eu já disse tudo o que eu tinha para dizer.

- Não vim por você. – respondeu ele seriamente. – Vim pedir a seu pai que me aceite como soldado de Asgard.

- Espero que ele não tenha feito a burrada de te colocar em um posto como esse. – respondeu a jovem encarnado-o de uma forma desafiadora. Dizia o que pensava, sempre foi assim.

- Está olhando para o mais novo soldado de confiança do rei.

- Por favor. – resmungou a ruiva.

- Pode se orgulhar disso, Sigyn. Seu futuro marido será o líder do exército. – respondeu sorrindo.

- Sério? Meu futuro marido? – ela perguntou sorrindo em deboche. Aproximou-se do ouvido do homem. – Nem em seus mais loucos devaneios. – A ruiva desviou-se, mas Balder a segurou pelo braço.

- Você será minha, Sigyn. Custe o que custar. – respondeu ele.

- Veremos. – respondeu ela puxando o braço com força. Começou a caminhar em direção ao palácio e encontrou Loki parado na porta. Ele tinha dezessete anos agora e já adquiria os traços marcantes de sua personalidade.

- Você está bem? – perguntou ele encarando a jovem, que não o respondeu e manteve seus passos constantes. Ainda não falava com ele desde aquela noite em Alfaheim e esse silêncio já durava dois anos.

Duas semanas depois ocorreu o torneio de Odin, onde Balder conseguiu a mão de Sigyn em uma luta desigual.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É isso amores, espero que gostem!!
Um mega beijo para vocês e os amooooooooooooo muito!!
Inté!!!

S. Laufeyson!!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sobre Deuses e Escolhas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.