Meu vampiro de estimação - especial escrita por Eica


Capítulo 1
Capítulo 1




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A luz feria seus olhos como nunca antes conseguira ferir. As cortinas não estavam abertas de todo, porém o pouco dos raios de sol que conseguiam penetrar no quarto incomodaram os olhos de Eric. Estava deitado em sua cama e nela permaneceu sem mover-se.

- Ele me jogou da janela. – disse, com voz fraca.

- Eu sei. – disse Sébastien.

- O que aconteceu depois? – indagou o rapaz, olhando a figura do vampiro ao seu lado, sentado na beirada da cama.

- Você morreu.

Eric levantou o dorso bruscamente, sentindo um frio percorrer-lhe o corpo.

- Não! Não morri! – exclamou, sacudindo a cabeça.

- Você está morto, Eric. – revelou Sébastien, sem demonstrar qualquer sentimento ou cuidado com as palavras.

- Não! O que está dizendo? Está louco?

- Você não está ferido, está? Não sente dor nenhuma. Seus ossos não estão quebrados. Você está bem.

Eric tornou a balançar negativamente a cabeça, como a querer afugentar as palavras cruas do vampiro.

- O que você fez? – indagou, demonstrando maior desespero.

- Atendi ao pedido de seu irmão... E ao pedido de meu coração. Não podia deixá-lo morrer.

- O que você fez? O que você fez, Sébastien?

Seu rosto contorceu-se numa careta de pavor.

- Não, não, não! É impossível!

- Entenda... Eu não podia deixá-lo morrer.

- Por quê?

- Você teria me pedido a morte se tivesse tido a chance? Ou teria pedido para viver outra vez? Você ia morrer diante de mim e eu não queria isso.

- Eu sou um vampiro?

- Não parta meu coração. – disse o vampiro, agora mais comovido. - Enxugue essas lágrimas.

- Como...? Como...? – indagou-se, não arranjando coragem para tocar nos próprios braços.

- Eu... Eu estou preso a você... Não percebe? Eu estou preso...

- Estou morto. - disse Eric, cujas palavras vieram carregadas de dor. - Meu Deus! Estou morto, estou morto!

Caio acabava de subir as escadas quando ouviu o choro e os berros desesperados do irmão. Seu coração pesou completamente e sua dor parou seus pés, impedindo-o de seguir adiante. Nunca ouviu Eric chorar daquela maneira, como se sua alma estivesse sendo partida. Como se lhe fizessem mal da pior maneira. Ouviu a voz calma de Sébastien, provavelmente tentando acalentá-lo. De nada adiantou. Controlando a dor das lágrimas, Caio andou até a porta do quarto e parou no limiar. Viu Eric deitado na cama e Sébastien tentando abraçá-lo.

- Saia daqui! Saia daqui! – berrou Eric, afastando as mãos do vampiro.

Sébastien não insistiu, embora quisesse continuar do seu lado, mesmo recebendo socos e empurrões. Viu a figura de Caio diante da porta. Encarou o olhar aflito do garoto. Não disse nada e fechou a porta ao sair, levando-o consigo. Mesmo com a porta fechada, ainda era possível ouvir os berros de Eric.

Caio levou a mão direita à boca e abafou um grandioso soluço. Os olhos avermelharam e transbordaram em lágrimas. Correu para o pé da escada.

- Para onde vai? – perguntou Sébastien, em voz alta.

- Não quero ouvi-lo.

Caio, aos soluços, desceu a escada e correu até o portão de casa. Bateu o ombro contra ele e chorou. Ao olhar para a direção da casa, viu uma figura negra diante da porta aberta. Sébastien estava lá, parado, no centro do hall, fitando-o.

A primeira semana depois de todos os fatos perturbadores que ocorreram, não foi fácil para nenhum dos três. Eric não saiu do quarto por motivo algum e recusou-se a abrir a porta para receber visitas. Mesmo que Sébastien fosse capaz de arrombar a porta com facilidade, não se atreveu. De algum modo era necessário que Eric ficasse um tempo sozinho para assimilar os fatos. Se um estava depressivo, o outro estava em estado pior. Caio se martirizava com a atitude do irmão e dormiu na sala para não ter que passar em frente ao quarto do irmão e consequentemente ouvir os seus choramingos.

Caio comeu mal. E nestes sete dias, Sébastien não comeu absolutamente nada. Nenhum sangue. Nem mesmo uma gota, o que o deixou inquieto e irritadiço.

- O que vai acontecer agora? – indagou o rapaz, quando encontrou Sébastien sentado diante da mesa da cozinha.

- A que se refere? Ao seu irmão?

- Também.

- Já tentou falar com ele? Creio que você é a única pessoa a quem ele escutará. A única pessoa por quem ele superará o que está passando para não cometer nenhuma estupidez.

- Como assim?

- Me conforta saber que ainda posso ouvir os seus choros.

Caio revoltou-se.

- Como pode dizer isso? Pensei que se importasse com ele.

- Por me importar me conforta saber que ainda chora. Que ainda está vivo dentro daquele quarto. Ele bem poderia acabar com o próprio martírio abrindo as cortinas, mas não o fez. Cabe a você dar-lhe a razão maior para não fazer isso.

- Eu não sei... Tenho medo.

- Do que? Dele?

- Não. Do que ele pode dizer. Não gosto de ver o seu sofrimento.

- Fale com ele, Caio.

O menor olhou para o vampiro uma última vez antes de subir as escadas e parar diante da porta do quarto do irmão. Não bateu, embora tenha pensado em fazê-lo.

- Eric? Eric, sou eu. Pode abrir a porta pra mim?

Silêncio.

- Por favor.

Silêncio. Caio engoliu o choro e revelou:

- Eu pedi a Sébastien para te ajudar. Não queria que morresse. Você estava quase morto quando te achamos. Se quiser, eu peço a Sébastien que... Podemos viver do mesmo jeito... Eu não sei o que você está sentindo, mas eu vou ficar do seu lado. Não vou deixar você.

Caio desistiu de continuar depois de permanecer parado em frente à porta por muito tempo.

No décimo dia, a fome de Sébastien já o martirizava em demasia. Pensou seriamente em sair durante a noite para atacar alguém que andasse na avenida, entretanto, lembrou-se das implicações se tomasse tal atitude. O cheiro dos sangues de Caio e Eric atraiam ferozmente seu paladar. Quando Caio ia dormir, velava seu sono, admirando-o na escuridão da sala, inalando o cheiro de seu sangue. O pior de tudo era sentir o cheiro do sangue de Eric, pois sabia bem como era o seu gosto. Já o provara. Já o sentira descer pela garganta.

- Tenho fome. – revelou a Caio, na manhã seguinte.

- Eu sei, mas não sei como arranjar. Eric nunca me disse onde conseguia.

- Faça alguma coisa.

- Não sei o que posso fazer.

- Deixe-me pegar alguém na rua.

Caio balançou negativamente a cabeça, com olhar assustado.

- Matar alguém?

- Posso esconder o corpo e ninguém saberá.

- Onde? Como?

- O terreno é grande. Posso enterrar aqui mesmo.

O rapaz pareceu refletir um pouco, no entanto, ainda demonstrava muita aflição. Por um momento, algo o fez ficar ainda mais preocupado. Lembrou-se do irmão. Do irmão que agora era vampiro como Sébastien. Devia estar com fome também. Deste modo, foi até o quarto perguntar se o irmão tinha fome. Quando forçou a maçaneta, seu coração sofreu um abalo momentâneo quando a porta se abriu com a força do seu empurrão. Levantando os olhos, visualizou a figura do irmão sentado na cama, com as costas apoiadas à cabeceira. Olhava para a direção das janelas. Os braços estavam descansando sobre o colo.

Caio pôs-se para dentro do quarto.

- Eric...

Após uns segundos, Eric voltou a face abatida para o irmão. Caio foi andando devagar até cair em seus braços, apertando-o com carinho.

- Eric! Você está bem? – indagou, com lágrimas nos olhos. – Está melhor? Te amo, irmão!

Eric sentiu um aperto na garganta, no entanto, não chorou, mas perguntou:

- Você não se incomoda por eu estar morto?

- Eu não vejo desse jeito. – respondeu, soltando-o. – Você está do meu lado. É isso o que me importa.

Os carinhos de Caio pareceram causar grande tormento a Eric.

- Você está melhor? Vai sair desse quarto?

- Vou ter que sair. Não tenho escolha. – respondeu, abaixando o rosto e suspirando profundamente, como se tentasse afastar dores intensas do coração.

Sébastien apareceu subitamente diante da porta, com seu silêncio característico. Eric o olhou. Não disseram nada um ao outro.

- Me deixe sozinho. Por favor.

Caio olhou para Sébastien por um instante e, mesmo não desejando, saiu do quarto encostando a porta. Embora Eric continuasse inclinado à melancolia, a porta continuou aberta, embora ele se recusasse a sair do quarto. Caio estava menos aflito e já preparava a casa para receber o irmão. Arrumava-a, limpava-a quase todos os dias e sentiu-se muito aliviado quando viu o irmão, pela primeira vez em semanas, caminhar pelo corredor do primeiro andar. Na ocasião, ele e Sébastien encontravam-se na sala quando ouviram os passos de Eric lá de cima. Sébastien, com um gesto, impediu Caio de correr até ele, pois, segundo ele, Eric ainda precisava ficar sozinho. Ele estava descobrindo o mundo através de uma nova perspectiva e para isso, era preciso estar só.

A caminhada até o corredor levou, evidentemente, à exploração dos outros cômodos da casa. Eric passou a sair do quarto e a entrar nos outros quartos do primeiro andar. Sempre evitando dar-se de encontro com a luz do sol, que entrava pelas grandes janelas. Por conta do seu descuido, Eric havia emagrecido demais. Suas roupas estavam muito grandes para seu corpo e a fome... Sim. A fome. A fome o estava destruindo por dentro.

Certa noite, quando todos estavam dormindo, Eric desceu a cozinha e pegou uma embalagem de pão caseiro que estava no armário. Passou manteiga no pedaço de pão que cortara com uma faca de serra, mordeu-o e engoliu. Quase devolveu o pedaço no mesmo instante. O pão não tinha gosto algum. Foi o mesmo que não comer nada. E também não se sentiu satisfeito. O estômago ainda estava vazio. Naquele instante, largou o pão sobre a mesa, onde deixara a manteiga e a faca, e dera-se conta, com desespero, que não era daquela comida que ele precisaria para se acalmar.

Transtornado, voltou para o quarto cambaleando, muito fatigado, apoiando-se às paredes dos corredores, sentindo náusea pelo pão que engolira. Sentindo medo. Sentindo tristeza. Muita tristeza. Pela manhã, Sébastien veio ao seu quarto, com olhar curioso. Mais animado do que havia demonstrado estar nos últimos tempos. Eric levantou o olhar para ele. Estava sentado na cama, como da última vez.

- Não vai comer nada? – indagou o vampiro, com uma estranha entonação na voz.

- Eu gostaria de comer torradas, mas sei que isso não vai me satisfazer. – respondeu, num tom doloroso e ao mesmo tempo sarcástico.

Sébastien alargou um sorriso e deu passos em direção a janela.

- Você comeu?

- Estou esperando a aprovação de seu irmão, ou sua, para arranjar sangue. Então, a resposta é não.

Eric ficou surpreso.

- Arranjar? Como pretende arranjar?

- Não se faça de tolo. De que outra forma eu poderia arranjar sangue?

- Não vou permitir!

Com olhar amargurado, Sébastien deu passos até a cama.

- Não tem pena de mim? Não tem pena nem de si mesmo? Por que não nos arranja sangue de uma vez?

- Não posso sair desta casa! – lembrou-o.

- Caio nos arranjará.

- Como?

- Dê um jeito! Dê um jeito, Eric!

- Não tem como. – disse, agoniado, ponderando por algum momento e sentindo arrepios só em pensar no assunto.

Sébastien freou-se. Olhou irritadiço para Eric e andou ao redor da cama, sem tirar os olhos do rapaz. Eric não o fitou. Olhando para as próprias pernas, disse:

- Não adianta me olhar assim. Não posso fazer nada. Nem Caio.

- Então morreremos de fome. – disse o vampiro, áspero.

- Que parte de mim resta morrer? Eu já estou morto!

- Morto? – indagou, exaltado. – Morto? Você está vivo!

- Estou morto! Você mesmo me disse. – retrucou, maldosamente. – Não se recorda do que disse? Nós dois estamos mortos, Sébastien. Por que nos preocuparmos com comida? O prazer da comida. Isso não existe mais. Nada nos dá prazer como antes.

Sébastien iria rebatê-lo, no entanto, lembrou-se de, em muitos momentos de sua vida, passar pela mesma situação em que Eric se encontrava, muito embora tenha desejado se tornar vampiro. Suspirando, acalmou os nervos e voltou a caminhar pelo quarto, agora mais tranquilamente.

- Você não me parece bem. – disse, sem olhar para Eric.

O rapaz estranhou sua observação. Estavam discutindo a segundos atrás, de modo que não esperava ouvir palavras preocupadas do vampiro.

- O que quer dizer?

- Você parece fraco. Está magro e horrível. De modo que não poderá salvar Caio se alguém ameaçar sua segurança.

- Quem... Do que está falando? – indagou, franzindo o cenho. – Thibaut está morto. Não há mais ninguém que poderia fazer mal a ele.

Sébastien olhou-o de esguelha, com os braços atrás das costas.

- Eu, por exemplo.

Eric riu, incrédulo.

- Você? Mesmo?

- Ele ainda é jovem. E muito inocente.

- Caio não é burro.

- Não disse que era. Só estou dizendo que ele não tem força o suficiente para cuidar de si mesmo. Você é a única pessoa que lhe dá segurança e sem você para fazer isso, o mundo pode machucá-lo da forma que bem entender.

Uma aflição súbita tirou a calma de Eric.

- O que está querendo dizer?

- Eu poderia fazer mal a ele a hora que quiser e você não poderia fazer nada porque está sentado nesta cama, mal conseguindo levantar as próprias pernas. Está faminto, assim como eu, mas diferente de você, eu tive tempo de aprender a resistir aos males que podem cair sobre pessoas como nós. Você mal entende sua condição. Nada conhece de suas novas capacidades. É um tolo. É isto o que é.

Sébastien conseguiu atingi-lo onde queria de modo que Eric tirou as pernas de cima da cama, levando os pés ao chão.

- Não se atreva a me ameaçar, seu miserável!

O vampiro começou a rir.

- É lamentável, sabia? Você é patético.

- Você é e se mexer com o meu irmão...

As pernas de Eric estavam fracas, de modo que perdeu o equilíbrio enquanto tentava se manter de pé. A risada do vampiro deixou-o ainda mais irritado. Sébastien encostou o ombro na parede, entre duas janelas, e olhou para o quintal. Ainda sorria alegremente.

- Você não entende que um mundo de possibilidades abriu-se diante de você. Sim. Estamos mortos. Mas estamos vivos. Não podemos morrer facilmente. Sim. De fato. Podemos morrer, mas quem poderia saber? Você agora tem um poder infinito. Poderes. Poderes infinitos. Não há limitações em nossa vida. O que não poderíamos fazer agora? O que você não pode fazer por seu irmão que ainda não fez? Nada poderá atingi-lo de agora em diante. Você só precisa compreender que precisa estar consciente para que as coisas aconteçam.

Eric permaneceu de pé, com o corpo inclinado para frente.

- Você sabe que eu não faria mal ao seu irmão, mas ele não estará privado do ataque de outras pessoas. Por isso ele precisará que você esteja mais disposto para lutar por ele.

- Esse discurso todo é só um meio de me convencer a te deixar matar as pessoas por aí? – indagou Eric, deixando-se cair na cama.

- Não. Estou sendo sincero. – disse Sébastien, olhando-o. – Sem querer nada em troca. Você o ama mais do que ninguém e por isso mesmo, não deve deixar que a oportunidade escape de suas mãos. Essa é sua chance de ser forte. Forte como nunca foi antes.

Eric ponderou.

- Se a sua vida não vale nada para você neste momento, talvez a dele signifique alguma coisa como eu acredito que signifique.

Sébastien saiu do quarto, mas não sem antes mandar um olhar de desdém a Eric. O jovem ficou sentado na beirada da cama por um tempo, tentando enxergar o lado bom daquele seu estado físico. Pensamentos contraditórios o atormentaram o restante do dia. E, somente no dia seguinte, Eric saiu de seu quarto, cambaleante e cansado, pegou o telefone celular que haviam deixado muito distante de seu alcance e discou para um número em sua lista de contatos. Caio, minutos mais tarde, foi chamado a sua presença, e Eric assegurou que ele poderia trazer sangue, pois autorizou ao seu contato que esta mudança fosse feita.

Passou o endereço ao seu irmão e sugeriu que fosse para lá de táxi.

- Quer que eu vá agora?

- Acho melhor. Sébastien deve estar impaciente.

Caio consentiu. Arrumou-se, ligou para um taxista e saiu de casa quando o automóvel chegou em frente da casa. Eric permaneceu sentado no sofá da sala mesmo depois da partida do irmão. Sébastien veio incomodar-lhe o ânimo. Chegou sorrateiramente, como de costume. O rosto de Eric estava mais ossudo. Mais um pouco e ele ficaria cadavérico. Sébastien não gostou desta sua aparência doente e misteriosamente, ao contrário dele, conservava-se mais atraente.

Como ele consegue?, indagou-se Eric, ao analisar friamente o vampiro que andava diante de seus olhos. Estaria ele tomando sangue escondido?

- Eu já fiz uma escolha.

- Hum? Do que está falando?

- Não era isso o que queriam de mim? Que eu escolhesse entre um de vocês?

Eric afligiu-se.

- Não quero saber quem escolheu.

Sébastien limitou-se a sorrir.

- Não será preciso dizer. Você descobrirá com o passar dos dias.

Eric desviou-lhe o olhar, desejando não ter ouvido nada do que o vampiro lhe disse. Suspirando, tentou pensar em outro assunto. Mais seguro, levantou o rosto para Sébastien, que andava de um lado a outro da sala.

- Temos alguma habilidade além da falta de amor pelo próximo?

Sébastien sorriu após alguns segundos de expressão séria.

- Sim, - respondeu. - Sarcasmo.

Eric não retrucou.

- Como pode dizer que não tenho amor pelo próximo? Se não tivesse, sua vida não teria significado nada para mim.

- Não quero matar ninguém.

- Não precisará matar. Você mesmo me livrou disso. Você também está livre.

- Então... O que pode me ensinar? Quais minhas habilidades? Suponho que eu não me tornei vampiro apenas para estar vivo e morto.

- Você tem uma grande força agora. – Sébastien riu e concluiu: - Embora você não a aparente por parecer um saco de ossos.

Deixando o deboche de lado, Sébastien ainda disse:

- Só precisa controlar. E também se movimenta depressa, mas isto não se ensina. É algo natural que você fará sem se dar conta.

- É isto? Rapidez e força física? – indagou, parecendo desapontado.

Sébastien fez que não.

- Todos os seus sentidos estão mais apurados. Um vampiro ouve melhor, sente melhor... Com o tempo saberá muitas outras coisas. Não se olhou no espelho? Não viu o que mudou em você?

Eric respondeu que não.

- Ainda não estou pronto para me olhar.

- Não se viu? Por quê?

- Estou morto. Por isso. – respondeu calmamente. – Estou morto por dentro. Já olho para meu corpo com estranheza. Não quero ver minha cara. Tenho medo. Não sei se meu coração agüenta.

Sébastien achou melhor não discutir. Calado, deu um passeio pela sala.

- Não desejo ficar aqui. Vamos à França.

- Está falando sério?

- Estou com saudade de casa.

Eric abafou um riso. Não acreditava que Sébastien pudesse sentir saudade de qualquer coisa. Todavia, não mencionou isto. Apenas disse:

- Por que esse interesse repentino? A França mudou muito desde que você saiu de lá.

- Eu sei disso. Da mesma forma que este país mudou, com a França não seria diferente. Andei lendo alguns livros e sei o que aconteceu nos últimos séculos. Muita coisa desagradável. Certamente. Já enjoei desta cidade. Não desejo continuar vivendo aqui. Quero ir embora. Enjoei desta casa, destes corredores, deste jardim... De tudo que me rodeia. Não tenho liberdade neste lugar, mas numa casa de campo, poderei circular livremente.

- O sangue, Sébastien! – lembrou-o, mais sério. – Não há como, a não ser que esteja pensando em matar.

- Por que esta fixação por morte? Por que sempre menciona esta palavra? Morte.

- Eu não sou um assassino e gostaria que você não continuasse demonstrando essa sua tendência ao homicídio. Além disso, Thibaut disse que os vampiros estão sendo caçados por lá.

- Ele mentiu a todos nós. Por que não mentiria sobre a razão para ter vindo a este país?

- Você quer ir?

- Eu gostaria. Podíamos viver numa casa de campo, longe da agitação da cidade. Num lugar tranquilo.

- Não sei falar francês e o seu francês é da época das cavernas. E devo lembrá-lo, como se eu já não tenha feito isto, que tem a questão do sangue. Aqui podemos conseguir com facilidade. E lá?

- Um acordo. Podíamos fazer um acordo com algum vampiro. Da mesma forma que o seu contato misterioso lhe arranja, um contato na França também poderia nos arranjar.

- E se não der certo?

- Não tem vontade de conhecer o meu país?

- Eu tenho vontade de ir a muitos lugares, mas em minhas novas condições, como eu poderia viajar? Em algum momento, a luz do sol me alcançaria. Isso limita em muito minhas possibilidades.

- Não. Não limita. Você é inteligente. Há de encontrar um meio de cruzar o oceano a salvo.

Eric o examinou. Gostara do elogio, mas não agradeceu. Antes de pensar em viajar para outro país, havia outras coisas a resolver. Quando Caio retornou, Eric e Sébastien continuavam fazendo companhia um ao outro na sala. Eric olhou para as mãos magérrimas enquanto ouvia Caio abrir o portão da frente. Sua aflição aumentou conforme enxergou o irmão se aproximar da casa pela janela. Trazia o sangue. O sangue estava com ele. Sébastien foi até o hall para receber o rapaz.

- Isso mesmo. – disse, assim que Caio atravessou a porta. – Muito bom, meu menino.

Passou a mão pelo rosto do rapaz, fazendo-o estremecer e, andando em direção a cozinha, pegou dois copos do armário e regressou a sala. Abriu uma das bolsas de sangue e encheu os dois copos com o líquido rubro. Deixou o restante do sangue sobre a mesa e estendeu um dos copos cheios a Eric. Caio observou tudo à distância.

- Tome.

Eric olhou para o copo. O sangue lhe deu repulsa. Sébastien, ainda de braço estendido, bebeu o sangue do outro copo que ele segurava com a mão esquerda. O vampiro suspirou aliviadíssimo e feliz.

- Há duas bolsas de sangue. Uma delas é sua. Por hora será o suficiente para essa sua aparência desagradável não mais me aborrecer.

Eric não pegou o copo e não demonstrou que pegaria num futuro próximo. Sébastien, desapontado, deixou o copo sobre a mesa.

- Tome quando se sentir mais confiante.

Caio aproximou-se. Devagar. Sébastien sentou no sofá oposto ao de Eric e tomou todo o sangue da bolsa destinada a ele.

- Por que reluta?

- Ainda pergunta? É o sangue de um estranho.

- Se fosse o seu, você beberia?

- Sim.

- Por quê? Não é a mesma coisa?

- Claro que não é.

- Você precisa beber. – intrometeu-se Caio, surpreendendo até mesmo a Sébastien.

Eric olhou-o espantado.

- Caio...

- Você precisa beber. Está doente. Está mal.

- Mas... É muito difícil...

- É costume. Acostume-se a beber e logo verá, naturalmente, que nada tem de extraordinário.

Sébastien inclinou-se na direção da mesa de centro e empurrou o copo na direção de Eric.

- Beba ao menos um pouco e verá que o gosto não é ruim.

- Não é questão de gosto...

- Por favor, Eric. Você precisa beber. Tem que ficar forte.

Caio pegou o copo e ofereceu-o a Eric. O rapaz olhou de um para outro. Na face de Sébastien, havia uma hilaridade irritante. No rosto de Caio, afeto e preocupação. Sem escolha, e muito mais faminto do que deseja estar, Eric finalmente pegou o copo da mão de Caio. O líquido balançou ao toque de sua mão. O rapaz umedeceu os lábios com a língua e preparou o estômago para o que estava prestes a fazer. Levou a boca a borda do copo e, ainda muito enojado, virou um pouco o copo e engoliu.

Sua primeira reação foi tossir e distanciar seu rosto do copo. No entanto, ao perceber que o líquido não era ruim, ao contrário, tinha um sabor irresistível, com as mãos trêmulas, levou o copo à boca outra vez e bebeu até a última gota. Sébastien desatou a rir, satisfeito. Caio ficou bravo com ele e mandou que se calasse.

Os risos de Sébastien fortaleceram o pensamento de Eric de que ele estava ridículo naquele momento. Tolo. Patético. Como o vampiro o chamara. Por isso, chorou, largando o copo ao seu lado. Caio sentou-se com ele e o acudiu em seus braços.

- Bravo! – aplaudiu Sébastien, de pernas cruzadas. – Magnifique! Ce point je suis fier de vous, mon enfant! Buvez! Buvez! Vous devez être en vie!

- Deixe-nos um tempo, Sébastien. – pediu Caio.

- Não! – exclamou Eric, subitamente. – Está tudo bem. Eu posso fazer isso.

Eric recuperou a calma e apanhou o copo sobre o sofá.

- Eu preciso me acostumar a isso. – revelou, trêmulo.

Sébastien encheu o copo de sangue para ele enquanto Caio assistia a tudo.

- Você tem raiva de mim?

Eric olhou para o irmão, confuso.

- Por quê?

- Eu o condenei a essa vida porque...

Sébastien olhou para o rapazinho enquanto os olhos de Caio se enchiam de lágrimas.

- Pedi a Sébastien que te ajudasse. Por um momento, eu desejei que ele te tornasse imortal, só que ele adivinhou sem eu falar nada. Não havia outro jeito de te salvar.

Eric deixou o copo cheio de sangue sobre a mesa e beijou o rosto do irmão.

- Eu estou contente por não ter morrido, apesar de não estar como eu era antes. Você não me fez nada, Caio, e mesmo que tivesse feito alguma coisa, eu jamais sentiria raiva de você. Porque sei que você estava pensando em mim. E é por isso que eu preciso me acostumar a isso.

Tornou a pegar o copo e desta vez, mesmo fazendo cara feia, tomou todo o líquido escarlate. Sébastien voltou a encher o copo todas as vezes necessárias até a bolsa esvaziar.

Nas noites seguintes, os irmãos começaram a dormir no mesmo quarto. Na mesma cama. Eric deixou seu quarto de lado e foi deitar-se com o irmão no seu. O vampiro, mais satisfeito com o rumo das coisas, algumas vezes velava o sono dos dois, imaginando o que viria a seguir, sem deixar, quando o sol nascia, de importunar Eric com a história sobre a França e de sua vontade de voltar para lá.

O jovem rapaz já recuperara seu peso normal depois da primeira semana tomando sangue. Ainda não gostava de fazer o que fazia. Ainda repudiava o líquido escarlate descendo por sua garganta. Mas era preciso. Fazia isto por Caio. Fazia isto para continuar vivo ao seu lado. Para protegê-lo. Só depois da primeira semana é que foi para o banheiro para banhar-se. E somente depois da primeira semana, olhou-se no espelho.

Para Caio, o irmão continuava o mesmo de sempre. Tinha o mesmo rosto. A mesma beleza. O mesmo carisma. Mas aos olhos de Eric, seu rosto mudara. Tinha, é claro, os mesmos desenhos, os mesmos olhos, os mesmos lábios. Todavia, quando ele se via, não se via igual como Caio o via. Era como se seu rosto tivesse passado por uma revitalização. Eric tocou no próprio rosto e tremeu, quando sentiu um ar frio entrar pela porta aberta do banheiro.

Virou o rosto para a direção do quarto e viu que Sébastien estava de pé ao lado de sua cama. Os braços estavam cruzados. Os cabelos negros cobrindo boa parte do peito como um véu brilhante e encantador. Seu olhar atravessava sua carne, como se pudesse enxergar sua alma sem nenhuma dificuldade. E naquele instante, Eric envergonhou-se por usar apenas uma cueca. Desviou o olhar de Sébastien, e pensou numa forma de cobrir o corpo seminu sem evidenciar seu desconforto.

- Você me viu chegar?

- O que? – respondeu, olhando-o cedo demais.

- Você viu que eu entrei no quarto? Você notou que eu estava entrando?

- Como assim? Eu percebi alguma coisa. Eu acho. Mas não te vi de modo algum.

- Isso é um bom sinal. Você já consegue perceber os meus movimentos.

- Isso é bom? – indagou, olhando-se no espelho e penteando os cabelos, tentando esquecer que o seu reflexo não era mais o mesmo.

- Eu disse que é. – aproximou-se Sébastien, sorrateiramente.

Parou no limiar da porta. Em seguida, atrás de Eric. O rapaz não lhe deu atenção. Terminou de escovar os cabelos. Depois tirou um pote branco da gaveta do armarinho.

- O que é isso?

- É para a pele. – explicou, abrindo a tampa do pote redondo. – Para fortalecê-la e protegê-la.

- Você não precisa disso.

Tarde demais para falar. Eric já havia enfiado o dedo médio dentro do pote. Sébastien aproximou-se mais e tocou nas mãos do rapaz.

- Você realmente não precisa disso. – disse, com os lábios próximos ao ouvido esquerdo de Eric.

O vampiro virou o rosto para fitá-lo melhor.

- Você é um vampiro agora. Está jovem. Estará sempre jovem e bonito. E só uma coisa pode te deixar sempre jovem e bonito. E não é esse creme que fará isso.

Eric lavou as mãos com a água corrente da torneira e as secou com a toalha de rosto pendurada na parede ao seu lado esquerdo. Em seguida, olhou para o reflexo de Sébastien. O vampiro apoiou as mãos na pia, de modo que Eric se viu encurralado por seus braços.

- Você está forte agora. – disse o vampiro, de modo extremamente atraente e sedutor. – Será que conseguiria livrar-se de mim se eu o levasse para aquela cama neste momento?

Eric disfarçou o arrepio movendo o corpo.

- Está agindo errado. Não deveria dizer estas coisas tendo escolhido meu irmão.

- Eu não disse que o escolhi.

- Você disse que eu descobriria com o passar dos dias e eu percebi que você o tem...

- Você percebeu o que gostaria de perceber. – disse o vampiro, soltando as mãos da pia e se afastando de Eric. – Seu irmão é atraente e excitante. Eu adoraria brincar com ele todos os dias de sua vida. Mas ele não me desafia como você. E nesta vida, eu preciso ser desafiado, do contrário, morrerei no marasmo, na monotonia. No tédio.

Eric saiu do banheiro e abriu o guarda-roupa para vestir-se antes que sua excitação fosse descoberta por Sébastien. O vampiro também saiu do banheiro e encostou-se na parede, do lado da porta do banheiro.

- Você me irritou agora. Disse que meu irmão o entedia. – disse Eric, vestindo uma bermuda. – E brincar? Por Deus! Por que usa essas palavras? Todos são brinquedos pra você? Brinquedos que só servem para serem jogados na cama e abusados o quanto você quiser?

Sébastien deu de ombros.

- Seu irmão não me entedia. Só disse que uma vida com ele não me traria os desafios que tanto me enchem de júbilo. Você, ao contrário, está sempre me desafiando com palavras e gestos. Um atrás do outro. Você, diabinho, adora me tentar.

- Não faço de propósito, acredite. – riu.

- Não? – arregalou os olhos exageradamente.

Sébastien caminhou até a porta do quarto e trancou a porta. Eric estremeceu.

- Não, Sébastien, não comece.

- Quero ver o que você pode fazer. Quero ver se conseguiria me machucar.

- O que? Está louco?

O vampiro andou até ele. Eric tentou se afastar. E conseguiu. Todas as vezes em que o vampiro se aproximava demais. No entanto, Sébastien conseguiu prendê-lo dentro do banheiro.

- Só sairá daqui se conseguir me repelir. Você consegue?

- Pare de brincadeiras!

- Não estou brincando.

- Você só quer...

- Não leve para o lado sexual. E se está fazendo isso, é porque me deseja demais e por isso anseia que eu me jogue sobre você. Fico contente que pense assim, de fato, mas neste momento, só quero medir a sua força.

- Faça isso numa queda de braço, mas não desse jeito, me espremendo contra a parede.

- Queda de braço? Como assim?

- Queda de braço! Apoiamos nossos braços sobre uma mesa, seguramos nossas mãos e tentamos... Ora! Não importa! Me deixe sair! Tenho muita coisa para fazer!

O empurrão que Eric deu em Sébastien não foi o bastante para afastá-lo. Mas Eric continuou tentando. Se estava assim tão forte quanto o vampiro dizia, então certamente que conseguiria lutar com ele à altura.

- Não! Meu Deus! – gemeu Eric.

O vampiro acabara de contra-atacá-lo com um beijo na curva do pescoço. Seu corpo apertou-o firmemente contra a parede, fazendo Eric sentir cada detalhe excitante de Sébastien. Ele sabia que o vampiro abusaria de seu corpo se cedesse, e naquele momento, ele não desejava outra coisa senão isto: estar nas mãos de Sébastien outra vez.

Aos poucos, a tática do vampiro surtira efeito. Logo, Eric não tentava mais afastá-lo e nem mesmo tentava proteger o seu sexo das mãos pervertidas de Sébastien. Sua bermuda e sua cueca foram ao chão. Suas pernas estremeciam a cada toque e seu sexo fervia em desejo. Beijaram-se desesperadamente. Como se quisessem engolir a língua um do outro. Esfregavam as mãos no corpo um do outro com força. O carinho se fora. A delicadeza se fora. Só havia lugar para a luxúria.

Sébastien deixou Eric no ar, com as costas apoiadas ao azulejo molhado do box. Enquanto beijava-lhe o peito, Eric ia sentindo-se invadir mais e mais pelo sexo do vampiro. E aquele prazer descontrolado, o prazer descontrolado... Aquela excitação perigosa e perversa... Queria mais. Queria muito mais. Queria que ele fosse além. Queria que ele nunca mais o soltasse.

- Mon enfant!

Seus gemidos foram longe demais. Caio ouviu! Caio com certeza ouviu!, pensou, aflito. Soltou-se das mãos de Sébastien, com o corpo cansado de satisfação, e recuperou as roupas que haviam se molhado ao contato com a água do piso. Vestiu-se e, abrindo a porta do quarto, procurou o irmão pelo corredor. Não o achou.

- Para onde vai? – indagou o vampiro, atrás dele.

- Caio! – chamou Eric.

A aflição foi diminuindo conforme Caio não o respondia. Sem dúvida, não escutara nada. Devia estar longe para ouvir. E de fato estava. Eric viu-o pela janela do hall. Estava no jardim, aparando a grama que havia crescido demais nas últimas semanas.

Esta noite, Caio e Eric voltaram a dormir no quarto do menor. Porém, às dez da noite ainda não haviam pegado no sono.

- Sébastien continua falando da França. – comentou Eric, deitado de lado, de frente para o irmão.

- É? É, eu ouvi ele falar. Lá deve ser legal.

- Você gostaria de ir pra lá?

- Sim, mas não tem como. Você e ele não podem ir.

- Talvez não... Ou talvez haja um jeito.

- De que forma? – voltou o rosto para Eric, agora mais esperançoso.

- Só há um meio. De avião. Mas sem dúvida jamais poderíamos ir da maneira convencional. Se tivéssemos um avião próprio... Um jatinho particular...

- Com o dinheiro que temos, podemos pagar um jato, não acha?

Eric levantou o olhar para o irmão.

- Ainda temos muitas moedas. Não só moedas. Mas dinheiro. Real. Podemos pagar a um profissional para nos levar à França. Não deve ser difícil.

Era impressionante o quanto Sébastien conseguia influenciar Caio. Após esta conversa, ambos, Caio e Sébastien, falavam da França com mais regularidade. Parecia que o país europeu se tornara o assunto mais interessante da casa. E embora tivesse curiosidade em conhecer outra cultura, Eric ainda estava com o pé atrás.

Seu posicionamento só mudou um mês mais tarde. Quando ele já havia pesquisado o preço de uma viagem internacional como a que estavam desejando fazer. Quando resolveu ouvir os pedidos dos dois, outra coisa precisou ser preparada: suas aulas de francês. Caio ficou deveras empolgado quando Eric mencionou que pagaria um professor para dar aulas de francês aos dois. Sébastien não ficou tão contente, pois segundo Eric, ele também deveria fazer as aulas para atualizar um pouco a sua língua arcaica.

O professor chegou no dia cinco de maio a casa dos dois rapazes, trazendo seus livros e todo o indispensável para cumprir seu serviço com profissionalismo. As aulas particulares aconteceram no escritório do andar térreo, onde fora deixado uma lousa para que o professor pudesse rabiscar a matéria com tranqüilidade.

O professor, de nome Éber, tinha em torno de trinta e quatro anos. Comentários inofensivos de Caio e Eric deram a Sébastien o motivo para odiá-lo, já que, segundo os dois irmãos, Éber era um homem atraente e inteligente. Também charmoso e tentador. Muito tentador!, comentou Caio, entre risos.

O rabugento Sébastien, não fosse pelas ameaças de Eric, não teria mais assistido a nenhuma das aulas porque se irritava somente em olhar para a cara bonita de Éber. O vampiro fulminava o professor com o olhar e muitas vezes se recusava a fazer os exercícios em voz alta, quando estes exigiam que ele pronunciasse algumas palavras em francês.

Em resposta aos comentários de Eric, o vampiro simplesmente tentava seduzi-lo da maneira que sabia fazer. Contudo, Eric manteve-se impassível. Foram seis meses de duras aulas, na opinião de Sébastien, e seis meses também de abstinência.

- Caio fala melhor que você. – provocou Sébastien, na sala, em companhia dos dois garotos.

Éber há poucas horas saíra da casa, após dar a última aula aos três.

- É claro que fala. E tenho muito orgulho dele por isso.

Sébastien olhou-o com desdém quando percebeu que a provocação não surtira efeito.

- E quando vamos? – indagou Caio, animado.

- Assim que acertarmos tudo com a empresa que vai nos alugar um jato particular. Há uma empresa em São Paulo que presta esse serviço. Fazem vôos nacionais e internacionais. Vou entrar em contato com eles para acertar tudo. Mas antes há uma coisa que precisamos decidir também. Em qual cidade da França vamos morar.

- Paris. – respondeu Sébastien.

- Paris é muito agitada. Você não queria sossego?

- Vamos procurar na internet. Deve ter alguma casa afastada do centro urbano que dê pra gente comprar. – sugeriu Caio.

- Isto mesmo. Procure na... Onde? Não importa. Escute seu irmão, Eric. Ele sabe o que deve ser feito.

Mais um mês se passou. E a impaciência de Sébastien terminou quando os irmãos já haviam fechado o contrato com a empresa de serviços aéreos e com a empresa que lhes vendera a casa em Paris. E por falar na casa, Sébastien viu uma foto dela no notebook de Eric e ficou satisfeito por ela lembrá-lo do passado.

Os pertences dos dois foram levados ao aeroporto da cidade onde o jato, e seu piloto e equipe, os aguardavam. A viagem teve início às oito da noite. Caio sentou-se ao lado do irmão e Sébastien, por sua vez, ao lado dele. O vampiro, é claro, ficou aflito quando o jato levantou vôo. Não acreditava que uma máquina pesada e barulhenta como aquela conseguia manter-se acima do solo e voar como um pássaro, sem cair, sem desfazer-se no céu. Enquanto Sébastien tentava se acalmar e ser racional, Eric e Caio pensavam no que estavam deixando para trás, e no que veriam na França.

Será que realmente encontrariam algum vampiro na cidade? Haveria uma caça aos vampiros? Como a imprensa não divulgava o assunto? O que Paris estaria escondendo? O que eles encontrariam quando chegassem à capital? Haveria outros vampiros franceses tão sedutores e também perigosos quanto Thibaut e Sylvian eram?


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