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Paula Adams

Paula não dormiu direito. Ela não conseguia parar de pensar na profecia. A garota queria entende-la, mas, de algum jeito, ela sabia que só entenderia a profecia na prática. Quando ela e os outros cinco fossem, finalmente, atrás dos objetos roubados. Aliás, que objetos eram esses? Apolo poderia ter dado alguma dica.

Outra coisa que não deixava Paula dormir era a dor que estava sentindo por seu corpo. Ela mal tinha começado a treinar com Percy, mas ele já estava arrancando sangue da garota. Porém, Paula não conseguia deixar de se sentir sortuda por ter um meio irmão grego e não romano como Beatriz tinha Jason. Percy estava pegando mais leve com Paula do que Jason estava com Beatriz. A filha de Zeus quase saiu em uma cadeira de rodas da Arena depois do treinamento, pois mal conseguia andar.

Na manhã do segundo dia antes da missão, Paula acordou cedo, tomou um banho e colocou a roupa que costumava vestir: calça jeans, tênis e blusa do acampamento. Ela saiu do chalé e foi até o refeitório, a essa altura metade do acampamento já estava sabendo da visita de Apolo e da profecia – como eles ficaram sabendo ainda era um mistério para Paula –, a garota não se importou com os olhares que lançavam a ela e sentou-se à mesa de Poseidon. Fez sua oferenda aos Deuses com o café da manhã e comeu silenciosamente. Depois Paula encontrou-se com Beatriz e Inara no Arsenal. Foram, junto com Nico, Percy e Jason, até a aula de arco e flecha. Dessa vez foi Beatriz que liderou a parada, ela treinava e ao mesmo tempo tentava treinar aos amigos. Paula até conseguiu acertar alguns alvos. A garota queria poder conversar com Beatriz sobre o que acontecera com Haden no dia anterior, mas a filha de Zeus parecia tão focada no treinamento que Paula duvidou que ela estivesse sofrendo pelo filho de Hécate, então achou melhor não falar nada. Pelo menos por enquanto. Era engraçado ver Nico treinando de armadura e tudo. Paula achava engraçada e fofa toda aquela concentração que o garoto tentava ter para acertar um alvo.

A próxima aula seria na parede de escalada. Os garotos foram os primeiros a irem para lá, as garotas foram minutos depois. Porém, antes que chegassem lá, tiveram um pequeno encontro com Isabel, Drew e Annabeth.

–Olha só quem está por aqui, Annie – Isabel, que estava com um arco nas mãos, disse.

Annabeth virou-se para encarar as três. A filha de Atena adotou uma expressão de raiva ao encarar Beatriz. Até Drew virou-se para elas. A garota asiática fez uma cara de nojo assim que seu olhar parou em Inara.

–São as idiotas que acham que um dia vão ter algo com Percy, Nico e Jason – Drew disse, colocando a mão na curva da cintura.

–E quem disse que a gente quer algo com eles? – Beatriz perguntou, cruzando os braços.

–É claro que vocês querem. Todo mundo quer! – Isabel disse.

–Não somos "todo mundo" – Paula disse.

–Não são todo mundo, mas dão para todo mundo – Isabel riu. – Você é uma vadia, Paula. Acho que puxou a sua mãe.

Paula sentiu o sangue esquentar. Ela podia aguentar ser xingada, mas nunca deixaria alguém como Isabel xingar sua mãe. Para começar uma briga, Paula não fez muito esforço, apenas pegou Isabel pelo cabelo. A filha de Apolo começou a gritar.

Em pouco tempo a briga chamou a atenção de alguns campistas que estavam por ali, eles formaram um circulo ao redor de Paula e Isabel, jogando Beatriz e Inara para trás. Não demorou muito para Quíron chegar lá.

–O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? – Quíron gritou, o Centauro parecia histérico.

Ao lado de Quíron estavam Percy, Nico e Jason. Percy e Jason estavam encarando Isabel e Paula tentando entender o motivo da briga enquanto Nico ria, achando tudo hilário.

–Acaba com ela, Isabel – Nico incentivou. Quíron olhou feio para ele.

Paula lançou um olhar mortal para o filho de Hades e se recompôs. Beatriz e Inara conseguiram atravessar o círculo que os semideuses tinham feito e olhavam com preocupação para Paula.

–Vocês enlouqueceram? – Quíron parecia mais contido, porém ainda estava estressado.

–Ela que começou! – Isabel disse, fingindo voz de choro.

–Como é que é? – Paula olhou para Isabel, incrédula. – Você que começou! Sua inútil!

Paula e Isabel começaram a discutir. Quíron bufou.

–Chega! – disse o centauro, calando Isabel e Paula. – Não quero saber quem começou! Se eu ver isso acontecendo de novo, vou punir vocês!

Quíron trotou para longe de lá, mas continuou por perto caso algo mais acontecesse. O centauro parecia esgotado e muito cansado. Paula bufou.

Isabel, Drew e Annabeth saíram de lá, assim como os outros semideuses. Annabeth não estava muito animada em presenciar outra briga de Isabel e Paula e também não queria ter que começar a própria briga com Beatriz, então achou melhor ir treinar.

–Você apanhou feio, Paula – Nico provocou.

–Nico – Paula olhou para o garoto. –, faz um favor para mim? Pega uma passagem só de ida para o submundo e fica lá pelo resto da sua vida, seu infeliz.

–Você não viveria sem mim – Nico picou para Paula.

–Garoto, vai encher o saco da tua mãe! – Paula revirou os olhos.

–O que você estava fazendo, Paula? Por que bateu nela? – Percy perguntou.

–Ela provocou, imbecil – Paula respondeu.

–Você estava batendo nela ou ela que estava batendo em você? – Nico riu.

Paula trincou o maxilar. Ela empurrou Nico com tanta força que o fez cair no chão, porém Nico segurou o braço dela e Paula foi ao chão também, mas ficou sentada em cima de Nico, com as pernas na lateral do corpo do garoto, distribuindo socos por seu abdômen.

–Como assim? DE NOVO?

A voz de Quíron fez Paula levantar rapidamente de cima de Nico. Paula e Nico ficaram lado a lado.

–Paula, você só sabe arrumar confusão? – Quíron olhou incrédulo para ela. – Já que vocês dois – ele olhou de Paula para Nico e vice versa. – ficam brigando tanto, os dois vão ficar de castigo. Juntos.

–O que? – Paula e Nico falaram juntos.

–Vocês irão ficar no sótão da Casa Grande. Sozinhos. Até se entenderem. Agora vão já para lá! E acho bom vocês entenderem-se rapidinho. Vocês dois precisam treinar!

Paula e Nico trocaram um olhar e, sem alternativa, fizeram o que Quíron mandou, enquanto o Centauro os seguia.

[...]

"Mas que ódio! Se esse garoto me provocar de novo dentro daquele sótão não vou pensar duas vezes antes de cravar uma adaga no coração dele! Porra, garoto chato do caralho!", Paula pensava nisso enquanto caminhava até a Casa Grande.

Quando estavam em frente à Casa Grande, Ivan correu até Paula. Ele já estava sabendo sobre a briga. Notícia ruim corre rápido.

–O que aconteceu, Paula? Você está bem? – Ivan perguntou.

–Estou bem. Apenas briguei com a Isabel e com esse idiota – Paula apontou para Nico. – Nada demais.

–E você está indo para onde? – Ivan olhou para Nico. O filho de Nêmesis com certeza não estava gostando de Nico ser companhia de Paula.

–Vou ficar de castigo com esse otário – Paula respondeu. – Porque bati demais nele.

–Olha, o filho de Nêmesis – Nico debochou. – Vai procurar o que fazer, idiota.

–Eu estava treinando, imbecil – Ivan disse com raiva. – Diferente de você que estava apanhando.

–Vamos vocês dois! – Quíron empurrou Paula e Nico na direção da porta. – Não tenho o dia todo para ficar esperando.

–Tenho que ir – Paula disse a Ivan. – A gente se vê mais tarde.

Paula deu um selinho em Ivan e o abraçou rapidamente. Ela entrou primeiro na Casa Grande, e antes que Nico pudesse entrar, Paula viu Ivan o puxar pelo braço.

–Se você encostar nela... – Ivan sussurrou ameaçadoramente, mas Paula conseguiu ouvir.

–Tá com medo que a gente transe loucamente lá dentro? – Nico sorriu. – Não vou comer sua namoradinha, filho de Nêmesis.

–EU NUNCA VOU DAR PRA VOCÊ, DI ANGELO! – Paula gritou, morrendo de raiva. – JAMAIS! NEM QUE A MINHA VIDA DEPENDESSE DISSO!

Quíron olhou feio para eles.

–Deuses! Será que dá pra vocês moverem o traseiro aqui para dentro? – o Centauro olhou para Paula e Nico e depois para Ivan. – Ivan, vá treinar!

–Sim, senhor.

Ivan trocou um olhar com Paula e saiu de lá. Paula e Nico subiram até o sótão e quando chegaram lá Nico começou a reclamar da poeira e do antigo oráculo que ainda não havia sido tirado de lá. O que Paula achou estranho já que espirito de Delfos que estava em Rachel.

–NÃO MEXAM EM NADA! – Quíron gritou, avisando.

Paula encostou-se à um parede enquanto ouvia Nico reclamar.

–Cara, dá pra calar a merda da sua boca? – Paula olhou para Nico. – Você está me dando dor de cabeça.

–Não enche, Paula! – ele disse, sentando no chão.

Paula sentou também, mas um pouco longe de Nico e começou a brincar com uma adaga que ela havia colocado no seu cinto. Depois de muito tempo em silêncio, Nico disse:

–Você realmente gosta dele? – ele olhou para Paula.

–De quem, idiota?

–Do filho de Nêmesis, sua tapada.

–O nome dele é Ivan e sim, eu realmente gosto dele – Paula respondeu. – E isso não é da sua conta!

Nico revirou os olhos e ficou calado novamente. Paula nunca teve muito o que falar com Nico então preferiu ficar em silêncio também. Não por muito tempo.

–Isso aqui tá um tédio – Paula comentou.

–Tive uma ideia – Nico disse, ficando de pé.

–Qual? – Paula perguntou, olhando para ele, sem colocar muita fé no que Nico tinha dito.

–É uma brincadeira. Eu tenho dois dados aqui no meu bolso, nós vamos jogá-los e o que tirar o número mais alto, terá que tirar uma peça de roupa – ele disse, sorrindo malicioso.

–Tá de sacanagem, né? Não vou tirar minha roupa na sua frente – Paula falou.

–Que foi? Ta com medo, Paula? Não tem coragem? – Nico provocou.

Se tinha uma coisa que Paula odiava, essa coisa era ser provocada. Paula ficou de pé no mesmo instante em que Nico disse aquilo, ele estava com um sorriso provocador nos lábios. Paula pegou os dados da mão dele e jogou no chão: 4. Nico pegou os dados e jogou: 5.

Ele tirou os sapatos. Depois olhou para Paula sorrindo e devolveu os dados. Como ela queria matá-lo! Paula jogou o dado mais uma vez: 3. Ele jogou: 2. Paula não queria tirar nenhuma peça de roupa na frente do filho de Hades, mas já tinha entrado na brincadeira e não ia desistir agora. Tirou seus tênis. Nico pegou os dados e jogou novamente: 10. Paula jogou: 8. Nico tirou as meias. Paula jogou os dados novamente: 9. Nico: 6. Paula tirou as meias também.

Eles ficaram nessa brincadeira até sobrar apenas a calça jeans em Nico e em Paula sobrar a calça jeans e uma blusa de alcinha que, graças aos Deuses, ela resolveu usar hoje por debaixo da blusa do acampamento.

–Sua vez – Nico disse.

Paula hesitou em pegar os dados e Nico começou a provocá-la. A garota perdeu a cabeça e jogou os dados no mesmo instante, para o seu azar deu 12. Ela queria morrer! Nico começou a rir maliciosamente e disse:

–Não tem número maior que 12. Vamos lá, tire a roupa.

–Não! Nem pensar! Eu não vou ficar só de roupas intimas na sua frente! Já basta você aí quase seminu – Paula disse, encostando-se à parede de braços cruzados.

Nico ficou de pé e caminhou na direção da garota. Ele colocou as duas mãos na parede de modo que Paula ficou entre seus braços. Nico olhou diretamente nos olhos de Paula, e ela o encarou de volta. Eles ficaram se encarando, até que Nico deu um sorriso de lado, e disse:

–Deixa que eu tiro sua roupa.

Ele sussurrou aquelas palavras no ouvido de Paula. A garota sentiu seu corpo inteiro se arrepiar, como se tivesse recebido uma descarga elétrica. Nico colocou uma mão no rosto dela e puxou suavemente sua nuca. Paula queria poder impedir o que estava prestes a acontecer, mas ela não tinha o controle. Era ele. Era Nico que estava no controle. E nesse momento ela quis que ele concluísse o que havia começado.

Foram se aproximando até que os lábios dele encostaram levemente nos dela, ele sorriu e sussurrou:

–Posso beijar você, filha de Poseidon?

Paula não respondeu nada, apenas colocou sua mão na nuca dele e o puxou suavemente. Seus lábios finalmente se tocaram, ávidos, cheios de desejo, e eles intensificaram o beijo. A mente de Paula viajava em várias direções, seu estômago girava e seu coração estava tão acelerado que Paula pensou que fosse pular do seu peito. O filho de Hades mudou a posição deles, de modo que ele ficou encostado à parede e Paula ficou na sua frente. Nico a carregou no colo, ela entrelaçou suas pernas na cintura dele e Nico sentou-se no chão com ela. O garoto estava encostado à parede e Paula estava sentada em seu colo de frente pra ele. Nico estava a apertando tanto que Paula tinha que encerrar o beijo às vezes por falta de ar.

Eles pararam o beijo para recuperar o fôlego e então Paula olhou para Nico. Enquanto ele fazia carinho pelos ombros e braços dela com a ponta do dedo indicador, Paula ficou admirando-o. Não ficou o encarando simplesmente, mas olhou para ele. Para cada detalhe dele. De um jeito que ela nunca havia olhado antes.

Paula nunca havia reparado em Nico como reparou naquele momento. Nunca tinha visto cada detalhe dele como viu naquele momento. O garoto tinha uma minúscula cicatriz escondida na palidez da bochecha. O cabelo possuía tantos tons de preto que seria impossível contá-los, mudando infinitamente ou algo próximo disso, da raiz até a franja, que quase chegava a cobrir os olhos. Ah, seus olhos... Paula poderia passar décadas, séculos, vidas, todas as formas de tempo que existem, fitando-os. Eram negros como se todo o petróleo existente nesse minúsculo ponto chamado Terra tivesse sido comprimido em dois glóbulos oculares, e o seu dono era tão profundo, raro e misterioso quanto esse mesmo líquido. Eram perfeitos, e não somente seus olhos, e sim tudo nele. Até mesmo os pequenos erros nele não destoavam sua sublime aparência, pelo contrário, o deixavam ainda mais divino. Corpo magro e musculoso, as mãos longas, finas, o queixo com um formato entre triangular e quadricular, aqueles braços que davam à Paula a sensação de ser enlaçada por um anjo, o sorriso troncho digno de Botticelli, o nariz pequeno e plano, as sobrancelhas arqueadas e medianas, o fato que ele é só alguns centímetros mais alto que Paula, as orelhas quase escondidas pelo cabelo liso, e seus lábios... Ainda não existe uma palavra boa para descrever como eles eram e tudo o que Paula sentia por eles.

Nico passou a mão pelo cabelo da garota, tirando uma mecha que insistia em ficar na frente dos seus olhos. Ele sorriu, a olhou nos olhos e disse:

–Você não vai mais me ouvir dizer isso. Então preste atenção: você é linda.

As bochechas de Paula coraram de forma espantosa e ela sorriu. Paula não sabia como reagir à um elogio de Nico di Angelo, o garoto mais insuportável e mala que ela conhecia. Nico a apertou contra seu corpo e a beijou suavemente, ela o puxou para mais perto intensificando ainda mais o beijo. Eles ficaram desse jeito por mais alguns minutos, até que a realidade voltou na forma de um Centauro para eles. Quíron estava chamando-os, ou melhor, gritando. Paula separou-se rapidamente de Nico e vestiu as peças de roupas que havia tirado, ela não queria que ninguém pensasse que havia acontecido algo naquele sótão que realmente não havia acontecido.

Eles ficaram frente a frente perto da escada. Nico suspirou e deu um sorriso cansado, depois deu um selinho em Paula e subiu o beijo para a testa da garota. Ela deu um sorriso de lado e o encarou.

–Nosso segredo? – Nico sussurrou.

–Nosso segredo! – ela sussurrou, sorrindo.

Nico assentiu e desceu as escadas vestindo sua camisa. Paula demorou mais um pouco para descer. A garota estava pensando nele. Estava pensando no beijo. Porém, estava pensando ainda mais no que sentiu com tudo aquilo. Sim, seria segredo. Até porque eles ainda tinham um ódio mútuo um pelo o outro. E talvez até um sentimento diferente, mas esse podia esperar mais um pouco.

Paula desceu as escadas e encontrou Quíron a olhando com uma expressão raivosa. Ela passou por ele e saiu da Casa Grande. Bem, Paula não sabe explicar, mas ela estava achando que o dia havia voltado a ficar bonito.