Contos de Heróis Esquecidos escrita por Lucas SS


Capítulo 2
Campeões: Ideologias Furtadas


Notas iniciais do capítulo

Esse é o segundo conta da coletânea. Tudo vai se encaixar... Mas tudo tem seu tempo.



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Eu deixara de ser aquele moleque magricela e sem confiança. Deixara de pensar que tudo era difícil demais. Deixara de pensar que estava sozinho.

Dois anos de treino mudam muito alguém, principalmente o treino para ser um campeão. O Sol não era mais um flagelo em minha pele. Posso até dizer que gosto do calor ardente que sinto quando seus raios me tocam. A grande bola de fogo, morada do Deus do Sol, era um alívio para mim e meus colegas, pois enquanto podíamos vê-lo, sabíamos que estávamos de folga. As missões sempre nos levavam para o subterrâneo. Parece que os vilões gostam de lugares escuros e frios, cheios de insetos e umidade. Por isso eu prefiro o "lado de cima", onde posso pegar um bronzeado e suor treinando, não pela tensão.

Infelizmente meu treinamento de dois anos não me deixava ser nada além de um novato. Teria que dedicar uma vida inteira para me tornar um homem digno de ser chamado de campeão. Poucos realmente ganharam esse título e esses poucos são os que coordenam todos os bravos heróis que querem ser campeões também, tudo lá de dentro do Forte dos Escolhidos. Acho que deram esse nome para que eles parecessem ainda mais poderosos, como se tivessem nascido para servir aos deuses.

Claro que eles não nasceram para isso. Na verdade eram os que sobraram para servir às divindades. Eles não passaram por treinamentos, por missões inferiores, por comandantes durões nem por títulos como "iniciante" ou "aprendiz".

Mas, para minha infelicidade, eu tenho que passar por isso se quiser ganhar algum dinheiro servindo aos seres do "lado mais de cima ainda". Se cansa? Um pouco. Se vale a pena? Depende do ponto de vista. Eu fiz bons amigos, tive boas experiências, ganhei ouro, conheci mulheres, aprendi filosofia, conheci mulheres, fui abençoado, conheci mulheres, e muitas outras coisas. Por outro lado sangrei, suei, desmaiei, fiquei com medo, saudade, raiva e, principalmente, inferioridade.

Esse é o pior sentimento. Mas ele vem com um extra: se você sobe, se sente superior, mas não dá para subir estando no topo.

Estou falando muito rápido? Pode perguntar se tiver alguma dúvida. Bem, acho que devo começar pela pergunta mais óbvia: o que é um campeão? Não, não é alguém que ganhou uma competição. Quer dizer, também é, mas não sou esse tipo de campeão. Perdão, não sou um "novato nas artes de campeão" desse tipo. Odeio esse título.

Um campeão é alguém que luta por um deus, interpretando sua filosofia do seu jeito, cumprindo missões vindas pelas divindades ou pelos heróis das artes de campeão que estejam acima. Eu sou do nível mais baixo, porque preciso ter um bom preparamento físico, psicológico e espiritual para poder aprender mais. Pelo menos é isso o que Shay diz, ou melhor, cospe na minha cara.

— Você parece um graveto! — cuspiu ele. — O que foi, a menina se ofendeu? Vai voltar para as pernas da mão e entrar naquela caverna que...

Não preciso completar, não é? Vamos lá, deve ter alguma criança vendo isso.

— Pule desse penhasco! Se você tem fé em seu deus, tenha fé que ele vai te salvar! — ele gritou até suas veias aparecerem na testa.

Não a nada melhor para colocar fé no coração de um homem do que estar em um penhasco com um rio de lava no fundo, um careca bigodudo xingando sua mãe e dizendo como o quarto dela era bonito enquanto diz para pular e ver se a fé pode te salvar.

Se alguém tiver dúvida, sabiam que ninguém pulou, por isso tivemos que descer a montanha rastejando. Meus joelhos lembram daquele dia muito bem, não é joelhinho? Ai que joelhinho fofo. Quem é o joelho favorito do Cain? É você!

Ah, desculpa, vocês estavam vendo. E desculpa também por não me apresentar. Eu sou Cain, abençoado por Van, deus da energia e da magia.

Chega de apresentações, vamos para o que interessa: o ponto de partida.

Era minha décima sequência de cinquenta flexões usando armadura completa e com a espada nas costas. Shay, meu treinador, dizia que nós precisávamos estar prontos para aguentar o peso de um mamute durante uma luta, mesmo usando a vestimenta de batalha.

— Parem para descansar e comer algo, já consigo escutar essas coisas que vocês chamam de estômago gritando por alimentos. Eu libero das flexões quem comer grama no lugar de pão e água!

Minha barriga realmente pedia por comida, mas de preferência que ela não fosse verde. Se uma vaca aparecesse por perto, garanto que minha equipe iria assá-la na hora. Contudo não existe tais animais dentro da base.

Eu, Fex e Nost pegamos o pão seco e comemos juntos com a água cristalina. Enquanto isso, por um motivo além do imaginável por meros mortais como eu (preguiça), Dorian começou a comer a grama.

— Cara, chega disso, você vai ficar com dor de barriga — Fex falou.

— Não vai mais conseguir sentar depois que essa grama sair — falei rindo.

— Eu não quero mais fazer flexões, cansei disso, quero poder relaxar um pouco.

Todos nós já sabíamos o que iria acontecer assim que o intervalo acabasse. Shay não era de dar folga para ninguém, mas adorava fazer crueldades.

Após a curta refeição e alguns minutos para recuperar as forças, o treinador ordenou:

— Todos pro chão! Vamos aumentar as sequências para cem de cada vez. Dorian, você não precisa fazer esse exercício.

— Obrigado mestre Shay.

— Ao invés disso faça cem abdominais.

Antes que todos pudessem rir, tudo mudou. A torre maior do forte estourou. Os tijolos de pedras choveram e as espadas foram postas em mãos. Os inimigos deram as caras.


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Notas finais do capítulo

E aí, bateu a curiosidade?