Where We Belong escrita por Carol Chase Lovegood
- Apresse-se, sua lesma! - exclamou Odile - A festa começa em apenas duas horas!
Jim estava cansado de ouvir a velha gritando ordens. Falava, falava, falava e ajudar que é bom...
Sem querer arrumar confusão, o jovem apenas mergulhou o esfregão no balde de água suja e voltou a limpar o chão da despensa, evitando o olhar da governanta irritada.
"Se a festa é no salão principal, qual a necessidade de me obrigar a limpar o chão da despensa?" ele pensou, sem ousar sequer sussurrar. Seria um enorme problema se Odile ouvisse.
- Quanto tempo será que você leva para limpar apenas um cômodo? - e lá estava a velha novamente - E não me olhe desse jeito!
Jim virou o rosto, escondendo a careta que fizera (uma mescla de irritação, cansaço e tédio puros). Limitou-se a aumentar o ritmo. Assim, talvez, a chata parasse de reclamar.
Àquela hora, apenas os dois empregados estavam no casarão da família Velvet, arrumando os últimos preparativos para a festa de aniversário da filha mais nova do casal mais rico de Neam Ville. Para Jim, era uma surpresa que, com tantas mansões, a jovem quisesse passar seu aniversário num lugar como Neam Ville: pobre, sem graça e fedido.
"Se eles tem tanto dinheiro, por que não fazer a festa logo aqui? E que horas será que essa velha chata vai embora?" ele se perguntou.
- Acelere! - Odile começou outro monólogo - Um garoto de dezesseis anos como você deveria estar me agradecendo por eu ter lhe dado este emprego.!
- Só vim limpar o salão de festas - Jim perdeu a paciência - e você está me obrigando a fazer faxina na casa toda. Para mim, isto não é trabalho, é tortura.
- Quando você vai aprender a me ouvir, garoto de rua? - a velha lançou-lhe um sorriso irônico, sabendo o quanto o novo servente odiava que lhe lembrassem que ele não tinha nada além de uma casa abandonada.
- QUANDO VOCÊ VAI SIMPLESMENTE CALAR ESSA BOCA, SUA VELHA BIRUTA!
- COMO É?!
Jim sentiu as mãos franzinas de Odile puxarem-no pelo colarinho, arrastando-o para fora da casa e jogando-o com toda a força contra um muro de tijolos em frente à saída dos fundos. O garoto sentiu um filete de sangue escorrer por seu rosto e então ouviu a porta da casa sendo batida.
Ele fora demitido.
E sequer recebera o dinheiro prometido.
Levantou-se devagar, estalando os ossos da coluna e limpando o pouco de sangue que escorria de seu nariz com a manga da blusa velha e esfarrapada. Seguiu então seu caminho até um beco escuro, aonde ele sabia que seria seguro fazer a metamorfose.
Passando pela porta da mansão Velvet, ele viu Odile abrindo a porta para a rica família que ali morava. O senhor gorducho de bigode e cabelos grisalhos devia ser o pai de família; a morena a seu lado, sua mulher; e as duas jovens loiras a seu lado, as filhas. A mais baixinha viu Jim observando a família enquanto entrava no beco escuro do outro lado da rua. Ela acenou discretamente antes de passar pelo batente da porta.
Enfim sozinho, o garoto permitiu que a metamorfose se iniciasse. A cabeça se alongou, assim como seu corpo. Os ombros se encurvaram e pelos brotavam de seu rosto e suas mãos, que se fechavam transformando-se em patas com garras. Logo, havia um lobo cinzento franzino na calada da noite, em meio a uma viela sombria.
O lobo farejou o ar e andou silenciosamente até o centro da rua, verificando se não haveria ninguém à vista. Então, Jim, em sua forma de lobo, seguiu o longo trajeto até a periferia de Neam Ville, aonde ele e seus dois irmão moravam, sozinhos, numa casa abandonada.
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