Misa Uzumaki: Demônio de Gelo escrita por Nephilim Imortal


Capítulo 3
Pequena Mendiga




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Olhei meu rosto na poça d’água. Eu tinha mudado muito em dois anos. Meus cabelos antes de um tom vinho vivo, agora estavam sem cor,desgrenhados e sujos, meus olhos cinzas sem vida e cheios de sofrimento. Minhas roupas surradas e imundas. Magra, pálida. Eu amadurecera muito nos últimos tempos, percebi como o mundo não tinha nada a nos oferecer.

Crianças sem pais... Eu e Nagato éramos assim, mas, isso era comum em Amegakure, principalmente por causa da Guerra Ninja que se acirrava. Ninguém podia se dar ao luxo de ter compaixão, muitas pessoas tinham uma família inteira para alimentar, desperdícios não eram tolerados, principalmente para alimentar sem-tetos. Por um tempo tentamos fugir da verdade, mas agora sabemos que a rua é nossa casa.

No início tive muito medo principalmente porque Nagato, meu irmão gêmeo estava muito distante por causa do que ocorreu à nossos pais. Uma tragédia, eu diria...

Tentamos viver com as crianças órfãs ninjas, mas nós éramos muito diferente deles e percebemos que sobreviveríamos melhor sozinhos. Aprendemos com eles a pedir comida na vizinhança. De tempos em tempos voltávamos para as crianças, pois eram o que tínhamos de mais familiar nessa época. As tardes passadas com eles amenizavam sempre o fardo que carregávamos.

A última vez que nos encontramos há algumas semanas atrás, Yume, uma das garotas lhe disse que Hanzou Salamander, um homem de meia idade que já estava lutando à leste da Vila para expulsar os shinobis, ganhava rapidamente a confiança das pessoas.

—Tenho certeza que quando a guerra acabar, ele será o novo líder da Vila. – afirmou Takashi.

—Isso se a guerra acabar... – comentou Aiko, a mais nova, tristemente.

—Não acho que seja bom que ele governe... Parece tão corrupto – disse Hiroíto.

O menino, em paradoxo ao seu nome, que significa “homem grande”, era miúdo e magricela, talvez o sentido dele, era ao que se tornaria no futuro, grande de coração e alma.

Olhei para o céu fechado e encarei cerrando os olhos, as nuvens que nunca paravam de despejar água. Parecia uma maldição da vila. Bom, pensei, agora tenho mais trabalho a fazer. A única coisa que tinha feito nos últimos dois anos, pedir comida na rua. Pedi de porta em porta durante o resto do dia e tive muita sorte. Consegui um pão inteiro. Voltei para o ponto de encontro. Nagato estava lá. Eu nunca o vira tão pálido e magro. Seus cabelos estavam como os meus sem cor, mas seus olhos roxos ainda brilhavam, parecia um poder oculto do qual a chama nunca se extinguiria. Seu humor não estava mais tão sombrio, mas nós quase nunca ríamos.

—Você já está aqui? – indaguei

—Bem, sim, mas eu consegui algo!

Sorri.

—Hoje é nosso dia de sorte.

A expressão de Nagato era apenas triste.

—Nagato, meu irmão, eu sei o que você está sentindo, tudo vai melhorar, eu prometo.

Eu o abracei naquele momento.

—Afinal, somos gêmeos, - ele deu um sorriso pálido. – Você tem tanta esperança, que eu acredito.

—Sim, vamos passar alguns anos difíceis, mas podemos daqui a alguns anos arranjar um emprego e com o tempo vamos conseguir dinheiro para comprar nossa própria casa, Nagato!

—E podemos até abrir um negócio aqui na Vila, quando conseguirmos nos estabilizar.

—Sim, pode ser um bar, um restaurante, são tantas opções.

—Juntos... talvez a gente consiga. Misa, você nunca vai me abandonar, vai ficar comigo, não é?

—É claro que vou!! Não fale besteiras!

Guardamos o pão para os próximos dias e comemos as frutas ressecadas. Consegui fazer Nagato rir um pouco colocando os filetes no nariz e fazendo mímicas engraçadas. Nós já estávamos com 6 anos, e ainda não sabíamos quando iria acabar nossa miséria...

✼✼✼

Na semana seguinte fizemos como sempre. Marcamos um local de encontro e saímos a procura de comida. Porém, dessa vez nada deu certo. Eu e meu irmão nunca roubamos, mesmo com muita fome, mamãe, quando viva, nos ensinou que era errado. Bati a porta de um bar, os homens me atenderam, todos meio bêbados. Negaram a comida, mas fiquei com muita raiva deles e decidi que entraria lá e pegaria comida. Eles não mereciam tê-la, enchiam a cara daquela maneira deplorável todo dia, eu com certeza sofria mais que eles. Entrei correndo ali, peguei alguns pães e legumes que podia comer crus e sai em disparada.

Minha falta de sorte foi que um homem horrorosamente forte parou bloqueando a saída. Ele me deu um tapa e começou a berrar dizendo:

—Eu odeio pirralhos de rua! Não fazem nada da vida e ainda roubam de nós, os honestos. Você deve morrer garotinha!

Ele me levantou pelos cabelos, arrancando um tufo. Eu gritava e esperneava, mas o homem não me soltou. Tapou minha boca com um pano e amarrou meus braços e pernas. Ele me jogou dentro de um armário com tanta forca que desmaiei. Tudo ficou escuro e o resto de esperança que eu tinha se esvaiu. Meu irmão costumava dizer que não morreríamos de a esperança ainda existisse. Será que minha hora era aquela? Não podia ser... Minha vida está apenas começando, pensei.

Sinceramente, não me lembro muito bem do tempo que permaneci lá, não entendia ao certo por qual motivo aqueles homens queriam me manter ali, mas certamente tinha haver com a guerra, as pessoas nunca mais tiveram o mesmo olhar desde que a guerra chegou ao nosso país e à nossa Vila. Era um olhar perverso e desgastado, ninguém mais queria ajudar ninguém, alias quanto menos ajudavam, mais atrapalhavam e faziam sofrer. Com pouca comida, pensava que nunca conseguiria fugir, mas Nagato estava me esperando tinha que estar esperando por mim no ponto marcado. Os homens, donos do bar, acredito, entravam alternadamente lá, não me lembro muito dessa época na verdade, ficava desacordada a maior parte do tempo, eles deviam me dar algum remédio para dormir. O motivo eu não sei. Para que eles me manteriam em catirveiro? Será que entravam para verificar se eu ainda vivia? Acho pouco provável.

Lembro apenas de mãos que me seguravam, risadas maliciosas, falta de ar e uma terrível sensação de impotência completa, não conseguia tirar as pessoas da minha frente e não podia evitar chorar. 

...

As minhas primeiras tentativas de fuga foram repreendidas com uma pancada forte, seguida de um desmaio. 

Consegui me livrar das amarras e sair da dispensa do bar. Eu ainda tinha 6 anos o que significava que seria praticamente impossível lutar contra homens-armário. Tinha um pequeno plano, mas no fim não deu certo.

Como consegui fugir? Explosão. Única coisa que posso te afirmar. Explodi como Nagato explodiu na noite da morte de nossos pais, mas eu tinha poderes muito diferentes. O clã Yuki altamente destrutivo vivia em mim e provavelmente a raiva tomou conta e pude ser mais forte que aqueles nojentos. Provavelmente eles morreram, pois havia muito sague no chão a partir do momento que tomei consciência de mim novamente. 

Corri para fora do bar e a chuva molhou meus cabelos e minhas roupas. Os olhos ardendo pelo choro e as pernas fracas. Cheguei ao ponto de encontro, onde eu e Nagato iríamos nos encontrar e ele não estava lá. Permaneci uma semana esperando, pensando que ele voltaria, mas ele não voltou.Precisava de comida, então seguiria vagando, mais doente do que nunca, sabendo que quando saísse dali nunca mais veria meu irmão gêmeo.

A chuva, como sempre castigava o lugar, me sentia feliz por tê-la molhando meu corpo, me trazia de volta a vida, por mais desesperada que estivesse. Eu amava meu irmão, precisava dele mais do que em qualquer outro momento.

Depois de fugir da “prisão” não comi mais nada e vagava sem rumo, se parasse para dormir ou ate mesmo me sentasse não levantaria mais e morreria. Continuei e continuei, não sabia mais onde estava, me afastava da vila, certamente, pois, as paisagens mudavam. Chegou um momento em que a fadiga me venceu e minhas pernas fraquejaram me abandonando completamente. Olhei novamente para meu reflexo tremulante na possa que eu acabei de cair. Quase não me reconhecia, olheiras fundas, rosto magro, faminta e fatigada. Realmente acreditei que o fim tinha chegado e fechei os olhos esperando encontrar meus pais, Nuri e Hiruzen em um lugar calmo, onde talvez a chuva não castigasse os olhos.

Lembro-me bem de ter visto alguns lampejos e uma bandana ninja estranha, com quatro riscos curvilíneos, da Vila da Névoa, antes de desmaiar e do mundo mudar completamente. Quando acordei, pensei estar morta, pois, não chovia.

✼✼✼

“A vila da Chuva era realmente molhada, eu pensei sorrindo, lembrar de coisas assim nunca foram fáceis e essa foi uma época terrível de minha vida que me vejo lembrando sem razão. Talvez não pior que agora. Água rodeava meu corpo, uma água meio esverdeada. Faixas avermelhadas pelo sangue cobriam minha barriga, uma dor aguda subiu por minha espinha e me fez arrepiar. Alguns segundos depois percebi que estava conseguindo respirar por causa de um grande tubo que tampava meu nariz e boca.

Estiquei os braços e percebi que era vidro, tentei quebrá-lo, mas, não consegui. Tentei observar o dano que aqueles psicopatas fizeram. Um corte na barriga, confere. Uma unha arrancada, confere. Cortes nas pernas e pedaços regulares de pele faltando, confere. Levei ás mãos a cabeça e percebi que uma parte do meu cabelo do lado direito havia sido corado ou arrancado. Isso eu não sabia.

Acho que começava a perceber o que eles estavam fazendo, não era tortura, nem cárcere. Eles estavam fazendo experimentos comigo. Isso não era bom, meu corpo guardava muitos segredos da Vila da Névoa que não poderiam ser revelados. Mas, será que esses homens malucos estariam interessados em meros segredos de Estado?

Talvez o interesse deles fosse mais direto, como meu Kekkei Genkkai, eu sinceramente entregaria a eles só para sair daqui. Se eu pudesse ao menos conversar com eles antes de ser desacordada para os experimentos, eu pudesse negociar.

Toda minha vida, sempre cercada por água... Quero sair, voltar para aqueles que amo, mesmo que poucos tenham restado.”


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :)



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