Memórias de um soldado escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 1
Memórias de um soldado - Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, pessoal!Eu sempre tive vontade de escrever, nem que fosse uma One-shot, sobre Shingeki no Kyojin (ou Attack on Titan para os amantes do título em inglês). Começarei minha experiência com uma mini-história referente a dois dos meus personagens preferidos: Levi Ackerman e Petra Ral. Confesso que eu torcia para que eles um dia ficassem juntos; na minha opinião, eles combinavam, e muito. Bem, eu espero que esta leitura seja apreciada por vocês. Nos vemos nas Notas Finais o/



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— Cabo Levi! Obrigado por cuidar da minha filha... Sou o pai da Petra. Quero falar com o senhor antes dela me ver. Ela me mandou essa carta dizendo que tinha sido convocada para entrar no seu esquadrão... Então, ela lhe foi útil pelo que você esperava dela? Ela pretendia se “entregar” ao máximo a você. Bem, ela é idealista demais para se preocupar com o pai! Ah, que menina mais apressada! Bem, então... falando como pai dela, acho que ainda é cedo demais para ela se casar. Ela ainda é tão nova e tem tanta coisa pela frente...

Aquelas malditas palavras sempre voltavam à cabeça dele. Aquelas malditas palavras...

* * *

Levi estava em seu quarto meditando. Ali, sentado em uma cadeira, com uma garrafa de sakê na mão, ele observava o pôr do sol; tão distante, tão puro, tão indiferente ao que acontecia no mundo.

Tão linear à muralha Sina...

Contemplava aquela vista tão divina, como se, por um momento, pudesse se dar o luxo de se esquecer de tudo o que ocorrera naquele dia. Infelizmente, ele sabia que era impossível; aquelas memórias se perpetuariam em sua mente.

— Missões de reconhecimento... Tsc. — Ele deu outra golada. — Isso não serve de nada... Ah, o que estou dizendo? Estou amaldiçoando meus companheiros que se sacrificaram nessas jornadas.

“Cabo Levi, Petra Ral se apresentando, senhor! É um imenso prazer conhecê-lo, senhor!”

Ele se lembrava, perfeitamente, do dia em que convocara a prodígio Petra Ral a compor o seu esquadrão. Petra era uma jovem sorridente, gentil e talentosa em todos os aspectos. Mesmo sendo uma pessoa de presença doce, era uma assassina de Titãs excepcional; perfeita para integrar o Esquadrão Levi.

Mas ele se amaldiçoava naquela hora. Por que teve que aceitá-la na equipe? Por que teve que conhecê-la? Um simples “não” evitaria tudo o que ele estava passando naquele momento.

Aliás, teria sido melhor que Petra nunca tivesse existido. Assim, ela jamais teria sofrido aquilo.

— Petra... — Deu uma risada baixa, triste e sem graça. — Tsc, estou sendo egoísta ao sentir saudades de você. Seu pai deve estar horrorizado, agonizando às lágrimas neste exato momento... Você não voltou para casa... e a culpa é toda minha — dizia.

* * *

— O que está fazendo vestida assim? — Levi perguntou assim que abriu a porta daquela sala.

Petra trajava um avental branco, já empoeirado, um lenço de igual cor lhe cobria os cabelos loiros enquanto outro, a parte inferior do rosto, protegendo-o da poeira. Também usava um espanador de pó em cada mão. A garota estava com um olhar determinado.

— Eu aprendi com o senhor, Cabo Levi, que devemos deixar nossas instalações o mais limpas possível. Não posso falhar aqui; seria uma vergonha ao Esquadrão Levi — respondeu Petra, voltando ao trabalho.

Levi balançou a cabeça negativamente. Para ele, Petra era um pouco divertida; incapaz de arrancar-lhe um sorriso, mas, ainda sim, ela era divertida.

Ele pôs o lenço sobre a cabeça, isolando os cabelos do ambiente imundo e, abaixando-se perto de onde Petra estava limpando, disse:

— Posso me juntar a você? — perguntou.

— Ah, s-sim. Seria uma honra, senhor — timidamente e um pouco corada, ela respondeu.

— Certo, mas limpe direito. — Levi, mesmo que quisesse, era incapaz de se separar de sua natureza rabugenta. Se Petra se importou ou se incomodou, não demonstrou.

— Tudo bem, senhor.

* * *

Por que ele não conseguia sequer chorar? Por quê? Ele não sabia como responder a tal pergunta. Seria sua fria natureza humana? Talvez.

Os raios de sol morriam aos poucos no horizonte, sendo, vagarosamente, encobertos pela muralha Sina. Levi poderia imaginar que eles eram da mesma cor que os cabelos de Petra, ou, talvez, a mente dele estivesse lhe pregando uma peça muito sem graça. Dentro de instantes a noite chegaria. Metaforicamente, aquele dia morria; assim como ela, Petra, faleceu — derrotada na batalha contra a Titã Fêmea.

— Passe de uma vez, dia maldito. Passe de uma vez por todas. — Ele abaixou a cabeça, evitando olhar os últimos instantes dos raios solares.

* * *

A Titã Fêmea havia recuado; o plano de captura havia fracassado. Levi se movia o mais rápido que podia com o DMT. Talvez fosse possível alcançá-la ainda, derrotá-la, salvar alguém.

O que Levi encontrou naquela clareira contradizia todas as suas expectativas e esperanças.

Seu esquadrão estava ali, jazia derrotado, arruinado, destruído. Todos estavam mortos, até mesmo ela.

Do alto da árvore Levi foi capaz de enxergar perfeitamente. Petra fora arremessada com violência contra um tronco de árvore, de forma que sua coluna vertebral tinha sido dobrada; o sangue lavava a madeira do caule. Os olhos de Petra ainda estavam abertos, mas eram vazios, mortificados; da boca, o líquido vermelho ainda escorria.

Levi suspirou com pesar, desgosto e amargura. Chegara tarde demais. Da boca dele nenhuma palavra ousava sair.

* * *

— Titãs! — Um grito em meio a Tropa se fez ouvir. Atrás do grupo dois titãs de 15 metros corriam esfomeadamente.

Como era do procedimento, o sinal de fumaça vermelha subiu aos céus; a Retaguarda havia avistado os Titãs.

— Velocidade máxima à frente! — ordenou Erwin, comandante da Tropa de Exploração.

— Não vejo nenhuma árvore alta ou construções — dizia Levi ao comandante Erwin, enquanto cavalgava ao lado dele — Nem imagino como será lutar aqui.

— É mais fácil fugirmos até a muralha — disse o comandante.

Um dos Titãs atacou com a mão direita, tentando pegar um dos cavaleiros, mas não obteve sucesso. Outro membro da tropa, todavia, não teve tanta sorte de escapar. O outro Titã continuava a perseguição.

— Assim eles vão nos alcançar! — Armin analisou.

— Vamos ter que lutar? — Jean, sob tensão, perguntou.

— O DMT não faz milagres em planícies. Sem contar que... tem cada vez mais deles vindo.

— Droga! Então o que a gente faz? — Jean trincou os dentes.

A feição de Armin dizia tudo; os olhos, principalmente.

— Bem... — ele começou.

Ao longe, mais pessoas eram devoradas pelos Titãs.

Outro soldado foi capturado, preso nas mãos de um daqueles monstros. O Titã levava-o à boca vagarosamente, prestes a devorá-lo. Se não fosse pelas habilidades extraordinárias de Mikasa Ackerman, ele estaria morto.

Mais à frente, porém, gritos se fizeram ouvir.

— Essa não! Fomos alcançados por eles!

— Eu darei a volta pelas costas dele! Eu vou distraí-lo e você...

— Nem pense nisso — disse Levi. — Livre-se dos cadáveres; os Titãs estão na nossa cola.

— M-Mas...

— Muitos corpos no passado não retornaram. Esses não são especiais. — As palavras de Levi eram frias, mas, infelizmente, deveriam ser ditas, pois apenas por intermédio delas, eles poderiam sair vivos.

— Vamos fazer isso? Vamos fazer isso mesmo? — um dos soldados perguntou, chorando.

O Titã estava cada vez mais próximo. A cada passo, eram metros de distância que caiam por terra. A tropa precisava agir e rápido.

— Droga... — Levi cerrou os punhos sobre a perna esquerda.

— Nós temos que fazer! — Um dos soldados, fechando os olhos, abriu a traseira da carroça, lançando para trás um corpo de um companheiro derrotado.

O horror, a desumanidade; era isso que os soldados sentiam naquele momento. Um a um, os corpos eram descarregados das carroças e, imediatamente, esmagados pelos pés dos Titãs.

Um dos cadáveres era de Petra...

Levi olhou para trás. A expressão do rosto dele era serena e um tanto vazia; certamente triste. Contudo, o soldado mais forte da humanidade não poderia demonstrar emoção, fraqueza, nada. Ele, com desgosto no coração e com a feição fria, via o corpo morto de Petra capotar no chão. O rosto dela estava descoberto, ele podia ver o rosto da garota ainda ensanguentado.

— Ótimo! Continuem assim! Estamos ganhando distância! — disse um dos homens.

Mas Levi não disse mais nada, não sabia o que dizer, não sabia o que fazer. Olhou uma última vez para trás e, por fim, virou o rosto para frente. Nunca mais ele veria o sorriso de Petra Ral.

Conseguiram escapar dos Titãs sacrificando os corpos de seus companheiros. Sobreviveram graças a uma tática repugnante e deplorável.

* * *

A Tropa de Exploração retornara à muralha Sina, o último posto avançado que representava a sobrevivência humana. Sob cochichos e reclamações remetentes a gastos com impostos por parte da população, os soldados eram recebidos na cidade.

Um homem veio até Levi. Aparentava ser um senhor comum — não deveria possuir muitos recursos financeiros; um cidadão como outro qualquer; diferente da corja pútrida e gananciosa que também vivia naquele lugar. Ele disse:

— Cabo Levi! Obrigado por cuidar da minha filha... Sou o pai da Petra. Quero falar com o senhor antes dela me ver. Ela me mandou essa carta dizendo que tinha sido convocada para entrar no seu esquadrão... Então, ela lhe foi útil pelo que você esperava dela? Ela pretendia se “entregar” ao máximo a você. Bem, ela é idealista demais para se preocupar com o pai! Ah, que menina mais apressada! — Ele deu uma risada um tanto forçada. — Bem, então, falando como pai dela, acho que ainda é cedo demais para ela se casar. Ela ainda é tão nova e tem tanta coisa pela frente...

Malditas palavras... Levi as ouvia desgraçadamente, o que ele poderia dizer? Nada! Os olhos vazios e distantes do oficial evitavam entrar em contato com os do pai de Petra.

Levi seguia seu caminho, apenas ouvindo o homem falar. Uma hora, Levi sabia, aquele pai notaria que sua amada filha jamais retornaria para casa — nem mesmo o corpo dela poderia ser sepultado.

“Muitos corpos no passado não retornaram. Esses não são especiais.” — Quanta hipocrisia, pensava Levi.

* * *

A noite, finalmente, tomava o céu; sem lua para iluminá-lo. Talvez, para o soldado mais forte da humanidade, nem mesmo aquele corpo celeste teria capacidade e brilho para alumiar aquele dia amaldiçoado.

— Desculpe-me, eu não pude proteger você... Petra. Eu cheguei tarde demais. — Frustrado, Levi lançou a garrafa de sakê no chão, espatifando-a.

Ele levou as mãos à cabeça, apoiando-a enquanto refletia em tudo o que acontecera naquele dia, naquele tão odioso dia.

— Você era devota a mim e eu falhei com você, falhei com todos... Erd, Auruo, Gunter e você, Petra... — Levi fungou. — Eu não acredito que tanto tempo foi gasto na minha vida apenas para descobrir isso sozinho. Eu... Eu sempre fui frio com você, assim como os demais. Sinto muito por isso, Petra. Eu... De que vale o título de “Soldado mais forte da humanidade” se não pude te salvar? Se eu pudesse trocar tudo isso para te ver novamente, ou, pelo menos, só para saber que você está viva... Mas não posso.

O rapaz nunca foi de externar seus sentimentos; sempre foi gélido, indiferente, quase artificial. Contudo, as memórias do soldado vinham à tona com um baque terrível e insuportável. O que mais lhe doía era que ele, o grande Cabo Levi, deveria sustentar a pose fria e inabalável não somente para fortalecer o moral de seus comandados, mas, também, de algum modo, fortalecer o próprio.

— Deixe isso ir embora, deixe... — O moreno dizia consigo. — Ela não vai voltar, ela se foi.

Uma brisa acalentadora circulava no ambiente sombrio, a saber, o quarto de Levi. Era suave, vívida, fina, mas ao mesmo tempo, quase palpável; um verdadeiro paradoxo em relação àquela tarde.

Por um instante Levi fechou os olhos e se deixou guiar pela própria imaginação. Pensou em Petra, fantasiou a garota tocando-lhe o rosto — exatamente como a brisa fazia naquele momento —, conversando com ele. Num breve momento, ele pôde sonhar com ela. Não tinha dúvidas, Petra seria eterna no coração dele.

— Um dia eu verei você de novo, Petra. Espere por mim e... — Levi se levantou da cadeira, expirando vagarosamente. — Obrigado, obrigado pelo dia em que te conheci, Petra Ral. Eu jamais vou te esquecer... Petra.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Eu, realmente, os adorava. Assim como Eren e Mikasa, Levi e Petra eram amados por mim; são os únicos casais que eu "shipo" em SnK.Ainda penso em escrever uma história maior. "Oh, céus! Eu tenho tanta coisa para escrever! Nem sei se vou dar conta!"Bem, quem sabe ainda não dou as caras nesta categoria novamente?Obrigado a todos que leram. Obrigado mesmo!Até a próxima, pessoal! o/