Capítulo 1-uma vida salva, um sentimento novo.

Yuki andava pela rua escura, já era bem tarde, mas ele não se importava. Com os fones de ouvido berrando não prestava atenção no mundo em volta, por ser distraído sempre acabava tropeçando por aquele caminho, mas hoje estava um pouco mais atento e não havia tropeçado.

De repente Yuki foi puxado para um beco próximo e teve a boca tampada, ao tentar se mexer foi imobilizado, Yuki se debatia nos braços fortes daquele desconhecido quando uma voz grossa lhe disse:

-acalme-se, eu quero te ajudar. Não quero te machucar.

Yuki parou. Não estava calmo, estava surpreso, pois, o seu “atacante” tinha a voz mais bela que ele já ouvira.

-consegue ver aqueles dois caras vindo atrás daquela árvore?-perguntou o desconhecido, tirando devagar a mão dos lábios de Yuki.

-sim-respondeu o Yuki sério.

Foi a única coisa que conseguiu responder naquele momento.

-eles estavam te seguindo. São assaltantes extremamente perigosos, agora que te perderam de vista, seguirão outro caminho.

E assim se fez. Yuki já estava calmo, agora tentava achar o seu fone que havia caído em meio à agitação.

-pronto agora você está fora de perigo-disse o garoto soltando Yuki e devolvendo-lhe o fone de ouvido que estava com ele.

-obrigado por me salvar, mas por que fez isso?-perguntou Yuki virando-se bruscamente para ver o rapaz.

-uma hora você vai saber, eu me chamo Takano Tsuki e bom... É um prazer te conhecer-Takano estendeu a mão e Yuki a apertou.

-sou Yoshino Yuki. E o prazer é todo meu.

Naquela escuridão Yuki viu com muito esforço a aparência do garoto, em vão, pois, o cachecol que ele usava lhe permitia ver apenas seus olhos azul-acinzentados. Nem é preciso mencionar que também eram os mais bonitos que Yuki já havia visto.

-Yuki-kun, você deveria ir para casa! É perigoso ficar nas ruas tão tarde, você pode ser atacado por alguém pior do que aqueles dois.

“de fato, fui atacado por você!”-pensou Yuki. Mas limitou-se a dizer:

- certo, então eu já vou... Até logo... Takano-san.

-tchau... Yuki-kun.

Yuki foi pra casa o mais rápido que conseguiu, deitou-se no sofá e ligou a TV. Milhares de pensamentos confusos passavam pela sua cabeça naquele momento, seu coração estava acelerado, então Yuki ficando sonolento, sentiu seu corpo pesar, sentia que pesava duas toneladas, seus olhos fecharam devagar, Yuki adormeceu ali mesmo e com a roupa que estava.

06h00 da manhã Yuki acordou com um gato que miava no muro.

-gatos inúteis! Não prestam para nada mesmo... –disse consigo mesmo.

Yuki preparou o café-da-manhã e foi ver TV enquanto comia, ligou no noticiário matinal, um daqueles programas informativos para quem precisa acordar cedo. Assim que mudou de canal, deparou-se com o rosto dos dois criminosos que o-perseguiram na noite anterior, que haviam sido pegos em flagrante enquanto tentavam assaltar uma mulher após esfaquear seu marido.

“então eram perigosos mesmo...”-pensou.

Yuki lembrou-se do rapaz que o havia salvado naquele beco. E de seus olhos e sua doce voz...

Um arrepio estranho passou pelo corpo de Yuki e seu rosto corou.

-er... Vou me arrumar!-disse sozinho e foi tomar banho.

Quando a água gelada tocou seu corpo Yuki sentiu uma sensação estranha, algo que nunca havia sentido antes, então, foi se arrumar para ir à escola, foi correndo para não se atrasar. No caminho encontrou um de seus amigos, um garoto de 15 anos, um ano mais novo que Yuki, chamado Hiroki Haruka, que o acompanhou até a escola.

-Yuki-senpai, hoje à tarde vamos ao shopping, jogar no BoneMaker, quer ir com a gente?-sorriu Hiroki docemente.

-quem mais vai?-perguntou Yuki.

-eu, o Toshi, o Makko-chan e o Hikaru.

-hm... Ta bom, eu vou.

-legal!-sorriu Hiroki novamente muito animado.

Ao entrarem na sala de aula, Yuki e Hiroki foram surpreendidos por um garoto que caiu em cima deles.

-d-desculpem-disse o garoto, ele tinha olhos azuis e cabelos loiros medianos.

-ah, são vocês, Hiroki-chan, Yuki-chan, eu tropecei. Sinto muito...

Ele os ajudou a levantar.

-Makko! Você devia tomar cuidado.

-sim, me desculpe Yuki-chan.

-tudo bem, apenas preste mais atenção.

-certo!-Makko se sentou numa cadeira perto de um garoto alto de olhos azuis e cabelo branco.

Ao ver aqueles olhos, Yuki ficou paralisado. Ele não conseguia se mexer, nem dizer uma palavra, parecia que seus pés haviam grudado no chão.

-Yuki-senpai?

-hey Yuki-chan! Acorda!

Yuki só conseguia pensar naquela noite, os olhos daquele garoto eram muito parecidos com os do seu “herói”. De repente, Yuki foi despertado de seu transe pela mão de Hiroki que pegou na sua e o fez corar.

-Yuki-senpai você está bem?

-sim...

-vamos sentar!-disse Hiroki.

-sim... –disse Yuki se sentando ao lado do misterioso garoto, enquanto Hiroki se sentava ao seu lado.

-Yuki-chan, Hiroki-chan, esse é Takano Akihiko, ele é novato, por favor, sejam gentis com ele-falou Makko animado.

-muito prazer Takano... Eu me chamo Yoshino Yuki!

“tem o mesmo sobrenome...”.

-o prazer é meu Yoshino-senpai.

-sou Hiroki Haruka.

-olá Haruka-san!-sorriu.

-me chame de Hiroki!

-ok, ok!

-Takano-kun, você tem irmão?-perguntou Yuki.

-não, sou órfão.

-ah, me desculpe...

-está tudo bem Yoshino-senpai.

A diretora entra na sala de aula e pede silêncio.

-um aviso importante!-disse ela-por hoje todos estão dispensados. Podem voltar para casa.

-eu vou pra casa!-disse Yuki.

-eu vou com você Yuki-senpai.

Yuki e Hiroki se levantaram com suas mochilas.

-Yuki-chan, vamos juntos!-disse Makko. -Takano-chan, você vem?

-pra que lado fica?

-perto do shopping.

-ah, vou... Minha casa é por ali.

Yuki, que já estava com seus fones, fingiu não ouvir e aproveitou o momento para ir na frente com Hiroki.

-você está bem Yuki-senpai?

-sim, Hiroki-kun. Obrigado...

Yuki parou no meio da rua.

-algo errado?-perguntou Hiroki.

-por que seu rosto está vermelho?

-n-não está...

-febre?

-m-mas eu já disse eu não...

-vem, vamos pra minha casa.

-t-tá.

Os dois seguiram para a casa de Yuki.

-chegamos, vem comigo.

-com licença... –pediu Hiroki educadamente.

Yuki e Hiroki foram para o quarto, Hiroki sentou-se na cama e Yuki agachou-se na sua frente.

­-Y-Y-Yuki-senpai! O que você...

-eu sabia que havia algo errado. Você está com febre e todo machucado!

-estou?

-sim, vai me dizer que não sabia??

-não.

-como alguém se machuca tão feio e não sabe?

-não sei, mas, eu não tinha notado.

-aff! Vem, vamos.

-p-pra onde?

-pro quarto ué, é melhor você ir deitar.

-certo...

Os dois foram para o quarto, Hiroki sentou na cama e Yuki agachou-se na sua frente, deixando o garoto constrangido.

-tire sua roupa.

-q-quê?!

-tire logo, está apertando seus ferimentos!

-m-mas senpai...

-faça!!

-t-tá... –respondeu o garoto tirando as roupas.

Yuki deitou Hiroki na cama e fez curativos em seu corpo.

-você é incrível Yuki-senpai! Eu não tinha notado nada...

-obrigado, agora você deve descansar. Ah, se quiser eu posso ligar pro seu irmão e avisar que vai chegar mais tarde.

-o senpai não sabe? Meu irmão se mudou, moro sozinho.

-bom, então descanse enquanto preparo um almoço.

-ta bom.

Takano e Makko ainda andavam pela rua.

-Aki-chan, você quer ir no shopping mais tarde?

-sim, tenho umas coisas a fazer lá.

-certo, tchau Aki-chan, vou por essa rua, vou na casa do Yuki-chan.

-tá bom, até mais Makko-chan.

Makko seguiu para a casa de Yuki. Yuki terminou o almoço e foi chamar Hiroki.

Ao ver o garoto dormindo relaxado e desprotegido daquela forma, seu corpo ficou estranho. Olhou com atenção para o corpo de Hiroki, cada curva... Cada músculo... Os lábios... A respiração... Então Yuki notou o volume na calça de Hiroki, seu corpo ficou quente e seu rosto corou. Por um instante pensou estar excitado, mas achou que era apenas uma impressão.

-ei Hiroki-kun...

Yuki ficou por cima do garoto, que estava acordando, quanto notou que algo na calça de Yuki tocava sua perna.

-Y-Y-Yuki-senpai...?

-ah!! -assustou-se Yuki- desculpa, eu estava te acordando...

-hm...

-o almoço está pronto.

Hiroki virou de frente para Yuki, deixando seus rostos colados. Yuki e Hiroki ficaram totalmente corados, fecharam os olhos e aproximaram os lábios num impulso irracional, de repente Makko abriu a porta da casa e entrou, Yuki caiu no chão com o susto.

-Yuki seu desgraçado!-gritou Makko.

-o-o que eu fiz Makoto?

-me deixou soz... Por que o Hiro-chan está pelado na sua cama?

-porque ele está doente.

-você está se aproveitando do Hiro-chan?!

-claro que não!

-Makko-senpai! O Yuki-senpai estava cuidando de mim...

-sei... –duvidou Makko.

-vamos comer! E Hiroki-kun... Se vista.

-sim.

-aliás, Makko, você não devia entrar assim só porque tem a chave! E se ele estivesse realmente pelado?

-ué...

Makko e Yuki foram para a cozinha e Hiroki foi se vestir.

-Itadakimasu!! -disseram em coro.

Todos comeram e foram se sentar na sala.

-está ficando tarde, é melhor eu ir pra casa. -preocupou-se Makko.

-está bem, tchau Makko.

-você vai ficar bem Hiro-chan?-perguntou Makko.

-sim Makko-senpai. –respondeu Hiroki.

-ok então, tchau. –Makko saiu.

-v-você quer uma bebida?

-sim.

-eu tenho bolo também, quer?-perguntou Yuki novamente enquanto vasculhava a geladeira.

-sim, obrigado.

Os dois beberam e comeram bolo e após várias fatias e latas Yuki notou que Hiroki estava estranho.

-ei Yuki-senpai! Por que você está sempre tão... S-Sério?

-Hiroki-kun você está bem? Acho que tem licor nesse bolo...

-ei senpai! Não me ignore!-Hiroki jogou uma lata vazia na cabeça de Yuki.

-acho que já tá bom de bebidas também.

-não se atreva a pegar essa lata senpai!

Yuki tentou tirar a bebida da mão de Hiroki e acabou derramando nos dois.

-ah! Droga, o que eu faço?

-ei senpai ficará resfriado! Tire a roupa!

-quieto seu bêbado! Você quem vai piorar!

“me surpreende ele estar bêbado e se preocupar comigo, isso quer dizer que ele ainda percebe as coisas, ou quer dizer que já é algo normal para ele?”

-tá, eu tiro. -Hiroki tirou toda a roupa ali mesmo.

-Hiroki-kun! Era pra você fazer isso no banheiro!

-eu não quero!

Yuki corou. Não sabia o que fazer, se sentia muito estranho, ficou nervoso até que finalmente decidiu:

-vem Hiroki-kun, vou te dar banho.

-haaaan?

-vem, sobe nas minhas costas.

-tá.

Hiroki subiu nas costas de Yuki, que o-carregou para o banheiro e o-jogou na banheira.

-ah! Senpai eu estou mo... Molhado...

-eu sei, tome um banho.

-não!

-tome ou darei em você!

-não vou tomar banho!!

-então darei um banho em você.

Yuki começou a passar sabonete no corpo de Hiroki e esfregar bem o corpo dele enquanto observava atentamente as curvas e músculos daquele corpo. Yuki começou a sentir aquela sensação estranha de novo, ficou excitado, não resistiu e desceu a mão pelo corpo de Hiroki até que chegasse à sua parte intima.

-ei... Senpai... Se ficar com a mão aí ele ficará duro...

-desculpe... Vem, vamos sair, eu te empresto minhas roupas.

Os dois saíram do banheiro. Yuki ficou com muita vergonha por ter feito aquilo, por sorte, o amigo não se lembraria depois.

-senpai! Ei! Suas roupas ficarão grandes assim-disse Hiroki fazendo gestos com as mãos.

-calma Hiroki-kun - Yuki pegou algumas roupas e ajudou Hiroki a se vestir.

-durma por agora Hiroki-kun, mais tarde eu te chamo tá?

-ta...

Hiroki adormeceu. Yuki voltou para a sala e se sentou no sofá, ficou pensando no que tinha feito.

“eu sei que foi errado, mas foi algo que eu precisava fazer, eu senti que precisava.”

Yuki se deitou no sofá e ficou pensando no corpo de Hiroki, de repente veio à sua cabeça o olhar do estranho que o-salvou na noite anterior.

“o mesmo sobrenome...”

Yuki olhou para a janela, ficou encarando e esperando as coisas se esclarecerem na sua mente. Já era costumeiro ele fazer isso, e sempre funcionava.

-Takano...

-falou comigo?-o mesmo garoto entrou pela janela sorrindo.

-o que você tá fazendo aqui?

-me certificando de que você está bem.

-Takano-kun!!

-me chame de Tsuki, Yuki-chan!!

-Tsuki-kun você tem irmão?

-não, não tenho família.

-hm...

-eu não tenho nenhum tipo de parentes e quase não me relaciono com outras pessoas comuns.

-e por que veio atrás de mim? Por que eu?

-se você não fosse tão desajeitado eu não precisaria te proteger.

-quê?

-é isso aí!

-desculpe por ser fraco então!

-ei Yuki-chan! Não fique bravo.

-você invadiu a minha casa e me chamou de inútil.

-está bem, me desculpe... Ei Yuki-chan quem é o garoto que está na sua cama?

-ah! É um amigo, ele está doente, por isso estou cuidando dele no momento.

-sei...

-não pense coisas estranhas! Somos só amigos e colegas de escola!!

-disso eu sei, mas quem sabe o que andam fazendo quando estão sozinhos? Tenho que me certificar de que ele não tocará no meu doce Yuki-chan... ou que você não tocará nele.

Yuki corou. Lembrou-se do banho de Hiroki.

-que?!

-e por qual outro motivo eu arriscaria sua segurança?

-pare de dizer coisas estranhas!

-estranhas? O que há de estranho em proteger alguém mais fraco? Ainda mais alguém que você gosta... –Tsuki se aproximou lentamente de Yuki.

-Ei... afaste-se.

-não quero.

-afaste-se Tsuki!

-ora, por quê? Eu não quero e você me deve isso!

-não te devo nada!

-eu te salvei e você trouxe outro cara pra cá, você me traiu Yuki-chan!

-e-ei, que história é essa? Eu não fiz nada com ele!-disse Yuki afastando o garoto de si.

-Yuki-chan você é mesmo um bobão!-e Tsuki pulou pela janela.

Depois de alguns minutos Hiroki acordou e encontrou Yuki deitado no sofá, tão perdido em pensamentos que nem notou o garoto.

-Yuki-senpai...

-ah, Hiroki você acordou.

-sim, minha cabeça está doendo e não lembro de nada... Acho melhor eu ir para casa.

-tem certeza?

-sim, eu te vejo depois.

-tá, até logo.

Hiroki foi para casa deixando Yuki sozinho.

-será mesmo... que eu estou gostando daquele cara?-disse Yuki para si mesmo.