Amarrada sobre uma corda presa a uma pedra, perdida no fundo do mar. Acreditava estar em um puro frenesi, mas a sensação de água em seus pulmões não condizia com isto. De nada se lembrava, dando-lhe uma certa sensação de angústia: Como absorvia oxigênio debaixo da água?

Uniu todas as suas forças, tentando se desamarrar da corda que a prendia naquela vasta extensão de água salgada, que já estava dando-lhe ânsia de tanto sal. Após se soltar, impulsou o seu corpo para cima com força, chegando finalmente na superfície terrestre, ficando aliviada por sentir o ar em movimento batendo em seus ruivos fios úmidos.

Após passar algumas unidades de tempo retirando a saliva salgada que foi expelida por sua boca, sentou-se sobre uma rocha, enquanto observava as pequenas ondas batendo-se contra as rochas que aparentam serem resistentes e fortes, cutucava com os seus dedos finos e ossudos os seus lábios carnudos que estavam ressecados, percebendo uma grande sensação de incômodo em suas gengivas. Arregalou os olhos ao sentir os grandes caninos que se formaram nos lugares de seus dentes, tornando-se frustrada em não conseguir se recordar do acontecido. Fechou seus olhos, pensando em mente o que poderia ter ocorrido.

Lembrava-se da imagem de um elegante homem, pálido como um albino que se vestia de forma aprimorada, como um lorde dos séculos passados. O que ele tinha de beleza, demonstrava os demônios que continha em seu olhar negro e perverso.
Barnabas. Barnabas Collins. Esse era o nome daquele atípico homem que amedrontava as sua lembranças. Tudo estava ficando claro em sua mente desordenada, e tudo ia se formando em sua cabeça.
Juventude eterna, mentiras, traição, tentativa de homicídio, vampiros.
Se inclinou sobre a rocha que estava para apreciar o seu reflexo no mar, para ter a certeza de algo: Não havia nenhum reflexo seu.
Julia em um indeterminado instante, ficou boquiaberta, não crendo no que havia se metamorfoseado, em uma sanguessuga sem um coração pulsante. Mas logo em outro momento, um sorriso escapou-se de sua boca, ela havia conquistado o que queria, nunca iria ver rugas e expressões faciais nascerem em sua pele, não iria mais se incomodar com nenhum tipo de fio branco que crescesse em seu coro cabeludo e por fim: Seria eternamente bonita.
Resplandecia-se por dentro, estando-se mitigada. Mas algo ainda a incomodava: Como Barnabas teve a audácia de tentar lhe abater, sem mais nem menos? Ela poderia ter cometido falsidade, mentindo para ele de que iria acabar com aquele seu pesadelo, mas tudo isso servia para um benefício próprio. O que mais doía no fundo dos sentimentos de Júlia, é de que a mesma foi capaz de sentir-se atraída por Barnabas, tendo uma certa fascinação por ele.

“Não vou me permanecer neste estado. Não irei lhe demonstrar mágoa.” Pensava Júlia, enquanto tentava se por de pé na rocha molhada. “Irei tirar-lhe satisfação, fazendo com que ele se arrependa por toda a eternidade.”

Percebera que ainda estava o período da escuridão noturna, mas que logo teria que sair dali, e se aconchegar em qualquer lugar sem raios solares, o que parecia ser difícil, mas não completamente impossível. Precisara de se esquentar e se alimentar: O dia seria longo.