O Herdeiro do Titã escrita por Rodrigo Kira


Capítulo 30
Sabe que gosto desse sótão?


Notas iniciais do capítulo

Bem, pessoal... Foi uma história e tanto. Tantas vezes que comecei e acabei parando. Tantos comentários, tantos favoritos... Tudo isso me deixou muito feliz em continuar escrevendo.

Mas, como todas as coisas, essa história também tem que terminar. Quero então agradecer a todo mundo que acompanhou David até aqui, e espero que acompanhem as futuras fics que pretendo escrever (inclusive um novo volume de "Herdeiro do Tiitã").

Espero que apreciem o capítulo e até lá embaixo!



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Alguns dias já tinham se passado desde que eu voltara ao Acampamento. Meus ferimentos já estavam curados, e meu braço estava ótimo. Nenhuma cicatriz ou estragos na pele.

Durante todo o tempo em que fiquei me recuperando, Lucy e os outros tomaram conta de mim. Leo consertou o relógio, o qual eu nunca mais tirava do pulso. Percy e Jason vinham me contar todas as brigas e encrencas que a minha “morte” lhes causara (Lucy pareceu não gostar nada quando eles falaram sobre a última reunião). Piper vinha me visitar, apenas para saber como eu estava. Ela me daria um soco de verdade se eu dissesse em voz alta, mas ela é muito gentil. Annabeth ficava vindo me contar sobre as conversas que ela tinha com Quíron sobre como eu havia sobrevivido e me curado aos poucos durante as duas semanas em que desapareci.

Aparentemente, a teoria que foi mais bem aceita seria justamente meu poder de parar o tempo. Segundo eles, meu poder meio que entrou num “modo de emergência”, então quando meu corpo estava à beira da morte o relógio se ativava sozinho, me fazendo perder a consciência e acelerando o tempo de regeneração do meu corpo. Em outras palavras, era como se eu fosse uma fita de vídeo reproduzida em alta velocidade, e quando voltava ao normal, as feridas já estavam melhores o bastante para me tirar de qualquer risco.

Annabeth ficou preocupada, especulando que consequências isso me traria em longo prazo (ela suspeitou que isso pudesse diminuir minha expectativa de vida, mas acho que não tem nada a ver). Mesmo assim, eu estava vivo e inteiro. Ainda que ela estivesse certa sobre esse lance de expectativa de vida, acho que seria um preço pequeno a pagar, se considerarmos que escapei da morte por um fio.

Tudo bem, ainda tem gente por aqui que não vai nem um pouco com a minha cara, e Clarisse parece ainda querer enfiar a minha cabeça numa privada (acho que Percy entende do assunto). Mas eu passei e me sentir em casa estando no Acampamento. Jason me contou que alguns campistas ficam no Meio-Sangue o ano inteiro, enquanto outros voltam para ficar com as famílias. Acho que o “antigo David” iria querer voltar pra casa como um louco, pra não ter que encarar tantas loucuras. Mas o David “pós-Casa dos Imortais”... Ficou mais em dúvida.

Claro, eu queria ver meus pais, mas meus amigos também agora eram parte da minha família. Uma família grande, cheia de gente maluca e possivelmente desequilibrada. Mas ainda assim, uma família.

— Incrível como tanta coisa muda em tão pouco tempo... – falei para mim mesmo, deitado em minha cama no sótão da Casa Grande, olhando para o teto com os braços cruzados atrás da cabeça. Uma brisa suave passava pela janela soprando levemente o meu rosto, junto com a luz do Sol que iluminava o ambiente.

Outra mudança. O antigo David via esse sótão como um confinamento solitário e cheio de auto piedade. Mas para o meu novo eu, era apenas o meu quarto, onde meus amigos vinham me ver, jogar conversa fora e comer os chocolates que os irmãos Stoll contrabandeavam (ganhei uma sacola cheia deles, a título de “parabéns por não morrer”).

Me levantei devagar, movendo os ombros para fazer o sangue correr pelo corpo e me apoiei no parapeito da janela, olhando para o Acampamento iluminado pelo sol de fim da tarde.

Campistas correndo de um lado para o outro, praticando lutas de espadas, jogando vôlei, remando no lago de canoagem, conversando com ninfas ou escalando parede com lava. Mais um dia igual a qualquer outro no Acampamento Meio-Sangue.

— David? Está acordado? – ouvi a voz de Lucy me chamar da entrada do sótão. – Ah, você está aí! Venha logo, estão todos esperando!

Deixei a Casa Grande junto com Lucy. O lance era que nossos amigos tinham decidido que jantaríamos todos juntos em “comemoração” pela missão cumprida. Pela experiência de Percy e os outros, concluir uma missão não necessariamente mantém o mundo livre do perigo e destruição completos. No máximo, retarda as coisas por algum tempo. Em outras palavras, pode salvar o mundo quantas vezes quiser que ele se coloca em perigo novamente (será que é assim que minha mãe se sente quando não arrumo meu quarto?).

Quando chegamos ao pavilhão de refeições, já estava ficando escuro e os archotes já estavam acesos. Quíron abriu uma exceção às regras (e bem grande dessa vez), deixando que todos nós ficássemos na mesma mesa (no caso, a mesa de Poseidon) para jantar.

Depois de fazermos nossas oferendas (afinal mesmo os deuses não gostando de mim, achei melhor não dar mais motivos para quererem me destruir), ficamos rindo e conversando sem parar enquanto comíamos. Quem visse de fora, poderia muito bem acreditar que éramos só um bando de adolescentes comuns... Se desconsiderar o fato de que o prato de Percy estava cheio de comida azul (ainda não entendi o que ele tem com essa cor) e que Leo ficava arremessando bolinhas de fogo pra todo lado e brincava com ferramentas e pedaços de sucata. Estava muito divertido, mas fomos obrigados a parar quando Leo “acidentalmente” fez um mini autômato que começou a correr pela mesa, chutando os pratos e a comida.

Logo que nos retiramos do pavilhão, andei mais devagar, ficando bem atrás do resto do grupo. Com as mãos nos bolsos, andava tranquilamente, olhando o céu noturno do Acampamento. Meus pensamentos foram de encontro aos demais herdeiros de titãs... Como teria sido se eu tivesse os conhecido de outra forma? Como seria se eu tivesse ficado na Casa dos Imortais?

— No que está pensando? – perguntou Lucy que, vendo que eu estava mais para trás, também diminuiu o ritmo dos próprios passos.

— Na Casa dos Imortais... Me pergunto como as coisas teriam se desenrolado se eu tivesse ficado lá quando era pequeno.

— Mas não ficou. Você está com a gente, David! – ela retrucou.

— Sei disso. Mas parando pra pensar bem... Acho que a vida deles foi muito triste. – digo ainda pensativo. - Eles nunca conheceram nada além daquela casa. Nunca tiveram outro objetivo além daquilo que os titãs mandavam fazer. E, por mais que não goste dessa ideia, eu nasci como um deles...

Lucy parou bem na minha frente, me olhando com a cara mais irritada (e consequentemente, a mais gracinha) do mundo. É engraçado olhar pra uma garota brava quando ela é menor que você.

— David, você pode até ter nascido como um deles. Mas você é um de nós! E isso nunca vai mudar! – ela disse, um sorriso aos poucos se formando em seu rosto.

Me lembrei das palavras de Nico, no dia em que partimos para a missão. “Não são nossos pais que nos definem, mas as nossas ações”. Acho que só então entendi realmente o significado daquilo. Eu podia ter escolhido ajudar os titãs? Poderia. Mas preferi outro caminho. Foi minha escolha.

— Tem razão... – respondo e sorrio de volta para Lucy. Olho para frente e vejo que nossos amigos ainda não repararam que ficamos parados conversando. - ... Ei, Lucy. Quer ver uma coisa?

— Hm? Ver o quê?

Pisco um olho e faço sinal de silêncio para Lucy, levando um dedo aos meus lábios. Então, seguro sua mão e fecho os olhos. Quando os abro outra vez, ativo o meu poder. Faço o tempo parar.

No primeiro momento, Lucy não percebe que o tempo congelou ao nosso redor, mas acho que meu sorriso largo e animado entregou a situação. Ela olhou para o resto do pessoal, mais à frente e depois para mim.

— Como...? Quando...?! É sempre assim?!

— É uma coisa que eu estava querendo testar já tem um tempo. – confesso, e lentamente solto a mão de Lucy. Ela continuou se movendo, então o tempo dela não foi congelado. – Pensei que se outra pessoa estivesse em contato comigo quando afetasse o tempo, essa pessoa não seria afetada. Pelo jeito, eu estava certo.

Lucy andou até a frente do grupo, vendo suas expressões congeladas. Como que para confirmar, ficou movendo a mão em frente aos olhos de Percy e os demais. Eles nem piscaram, é claro.

— Quanto tempo pode manter as coisas assim?

— Não sei. Conscientemente, nunca tentei manter por mais do que alguns minutos. – admiti, coçando a nuca.

Lucy ficou olhando para ao redor mais um pouco e depois se virou para mim, com um pequeno sorriso.

— David... Se o tempo está parado, então... Ninguém vai ver nada, certo?

— Ah? É, sim. Mas por que...

Não pude terminar de falar. Porque Lucy me beijou. Meu coração foi de calmo ao máximo em um segundo. E, antes que eu percebesse, estava retribuindo o beijo, meus olhos fechados e sentindo os ossos tremendo pelo nervosismo. Um calor enorme estourou dentro de mim, indo do peito para todo o resto do meu corpo. Tenho que dizer, foi o melhor beijo em tempo pausado da história do mundo!

— Olha só... Eles se beijaram. – a voz de Piper me fez voltar pra realidade.

Abri os olhos e virei a cabeça lentamente. Percy e os outros estavam olhando pra gente. Se antes eu estava com calor, agora devia estar queimando... De vergonha.

— Ei, ei! Não parem por nossa causa! – disse Leo, agitando as mãos como quem pede para prosseguir alguma coisa. – Continuem! Finjam que não estamos aqui!

— D-desde q-quando vocês... – começou Lucy, que ainda estava bem perto de mim, o que me fez pensar se ela não estaria sentindo as batidas descontroladas do meu coração.

— Desde o começo. – falou Jason. – Quando olhamos pra trás... Bem, vocês já estavam aí.

— Mas eu... Eu parei o tempo!

— Foi mesmo? – ironizou Annabeth. – Então o beijo deve ter sido bom, pra te desconcentrar tanto assim!

Por um momento, eu quis sair correndo. Depois, quis gritar de pânico e vergonha. Mas no fim, eu acabei rindo. Depois Lucy acompanhou as risadas. Logo, todos estávamos rindo sem parar, como um bando de adolescentes comuns que acabaram de ouvir uma piada tão ruim que era engraçada.

Todos voltaram para seus chalés depois disso, mas Lucy quis vir comigo até a Casa Grande e ficamos sentados no telhado por um tempo, olhando o céu noturno de Long Island. Ela apenas recostou a cabeça no meu ombro e segurei a mão dela, bem de leve.

Ela ainda era uma semideusa. Eu ainda era um herdeiro de titã. E o mundo ainda iria se meter em problemas que nós teríamos que resolver. Mas naquela noite... Preferi deixar tudo isso de lado.

Éramos apenas um simples casal adolescente. Numa noite de acampamento. Isso já era o bastante.


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Notas finais do capítulo

Bem... E é isso, pessoal. Muito obrigado outra vez por terem acompanhado a fic até o final, pelas favoritações e comentários. Espero também que leiam e releiam o quanto quiserem!

E fiquem de olho: pretendo fazer novas fanfics e a qualquer hora, David pode voltar pra ver vocês!

Aquele abraço!



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