O Herdeiro do Titã escrita por Rodrigo Kira


Capítulo 27
O Caminho de Volta (P.O.V.: Lucy Honesun)


Notas iniciais do capítulo

Pessoas, como prometi, agora vai ser capítulo disparado até o final! É, não faltam muitos pra acabar, mas ainda assim, eu espero que vocês gostem! O que será que vai acontecer agora, hein? Vamos ver... Espero vocês lá embaixo!
Este capítulo e o próximo são na visão da Lucy!



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Eu atirei nele. Eu atirei no David. Atirei e corri pelo caminho de volta, chorando como uma criança. Logo que entrei no corredor que dava acesso à câmara do núcleo de Cronos, pude ouvir o grito de David. Um grito de dor lancinante tão forte que ficou nos meus ouvidos por pelo menos uma hora, até que o som sumisse.

Em seguida veio um tremor... Como se a própria Casa dos Imortais estivesse entrando em colapso. Olhei para as paredes e o piso, e rachaduras começam a se espalhar, vindas do salão do núcleo. Não é como se a Casa estivesse colapsando. Quando a Flecha de Apolo destruiu o Dav... Núcleo de Cronos, o lugar inteiro começou a “morrer”.

— A Casa dos Imortais... Vai ruir... – concluí enquanto adentrava novamente no espaço da Herdeira de Hélios, Emily.

A garota estava começando a acordar depois de ter sido nocauteada por David, alguns minutos atrás. Se a situação fosse outra, eu poderia muito bem deixar ela ali pra ser esmagada pelos escombros. Só que... Ah, sei lá, não pareceu a melhor opção agora.

— Levante, Emily! Rápido, rápido!! – exclamei, tentando movê-la. – Se não dermos o fora daqui, vamos todos morrer, então se levante!

Logo que ela ficou de pé e pareceu entender a situação, eu me virei e continuei correndo para sair da Casa dos Imortais. Já tinha feito a minha parte e agora era cada um por si. Passei correndo pelo salão de Emily, chegando aos aposentos de Eron. Ele ainda estava sentado naquela poltrona puída, como se esperasse o mundo acabar pra fazer alguma coisa.

— Eron!! – exclamei, e ele pareceu entender, se levantando um pouco menos cambaleante e correndo para fora junto comigo. O tempo de repouso devia ter lhe feito bem.

Enquanto corríamos, me atrevi a olhar por sobre o ombro e ver a situação. E não tinha nada atrás de nós. Digo, absolutamente nada. Tudo atrás de nós estava se obliterando.

Estávamos chegando à entrada do quarto de Alice, que ainda devia estar lutando com Piper. Tentamos abrir a porta, mas ela mal se mexia, como se estivesse emperrada pelo outro lado. A destruição estava nos alcançando e se não conseguíssemos passar, morreríamos. Não vimos mais a Emily, então não sabia se ela tinha morrido ou escapado de algum jeito.

— Vamos, abre! ABRE!! – exclamei até a garganta doer, empurrando a porta junto com Eron.

Estávamos prestes a ser engolidos pela obliteração quando a porta começou a rachar, atingida por ela. Tivemos que nos segurar com força para não sermos arrastados pela destruição infinita (acho que foi parecido com o que seria lutar contra um buraco negro, só que menos intenso) e conseguimos nos puxar para dentro do quarto. Sem nem parar para explicar, voltamos a correr e Piper nos viu passar, nos olhando com uma cara de “Mas, o quê?!”. Ela só precisou encarar a direção da qual vínhamos, então nos seguiu.

Passamos por uma Alice desconcertada e logo suas plantas e animais começaram a ser sugados pela destruição. A ouvi gritar, mas não me atrevi a olhar para trás. Seguimos correndo sem parar, voltando para o corredor que nos levaria ao quarto de Dylan, o Herdeiro de Oceano, que devia estar em uma batalha contra Percy.

— O que foi que aconteceu?! – exclamou Piper enquanto corríamos. – Cadê o David?!

— Corra agora! Pergunte depois! – retruquei, mordendo o lábio inferior com força.

Eu não conseguiria dizer o que havia acontecido.

*****

Quando chegamos ao quarto seguinte, tinha água pra todo lado. Percy e Dylan se atacavam sem parar com espadas e correntes de água. Não sei quanto tempo levaria até que a destruição chegue até onde estávamos, mas não podíamos perder tempo.

— Percy! Temos que ir embora! – exclamei para ele. – A Casa dos Imortais está se destruindo!

Esse alerta fez com que os dois parassem de lutar e prestassem atenção em nós.

— Quê?!

— Explico depois, apenas corra! – retruquei sem nem esperar que ele tentasse entender a situação em que nos encontrávamos.

Percy então guardou sua espada, Contracorrente, nos seguindo, enquanto Dylan olhou para nós, aturdido da mesma forma que Alice havia feito há pouco. O som de paredes trincando e rachando chegaram ao quarto, indicando que ele começaria a ruir também.

Achei estranho que os herdeiros de titã não nos atacavam enquanto corríamos para fora da Casa. Talvez estivessem tão chocados quanto nós pelo lugar começar a desmoronar, ou pode ser alguma coisa que só eles entendessem. Mas não é também como se eu quisesse ficar mais tempo para perguntar.

Ainda faltava buscar Annabeth, Jason e Leo. Teríamos que ser muito rápidos e sair dali, antes que tudo fosse abaixo. Corremos pelo corredor de volta ao quarto de Dominic, o Herdeiro de Prometeus. Fiquei pensando em como seria uma batalha entre dois superestrategistas... Talvez fosse uma enorme disputa de xadrez, talvez ficassem se encarando, bolando plano em cima de plano e aquele que errasse na estratégia se entregaria.

Percy tomou a dianteira do grupo. Com certeza queria chegar logo ao quarto seguinte e ter certeza de que Annabeth estava a salvo.

— Annabeth! – Percy exclamou, depois de literalmente derrubar a porta.

E sem dúvida ela estava a salvo. A biblioteca de Dominic estava revirada, as mesas, tombadas e o globo havia caído do suporte e rolava pelo salão. O garoto estava apagado, com os óculos tortos e o cabelo estava tão bagunçado que parecia um ninho de ratos. A roupa estava amassada e com cortes leves no corpo.

Annabeth, por outro lado, estava em pé, ofegante e empunhando sua adaga. O cabelo louro estava desalinhado pela luta com Dominic e ela estava com arranhões, mas nenhum ferimento mais sério. Percy correu até ela, abraçando a namorada antes que a exaustão a derrubasse. Eles trocaram poucas palavras em tom baixo, como “vamos embora” e “conversamos depois”, então voltamos a correr.

O salão seguinte era o do Herdeiro de Atlas, Peter, que estava em combate com Jason. Mesmo que Peter fosse um páreo duro, não ficamos tão preocupados com nosso amigo. Afinal, Jason e Percy eram os melhores guerreiros que tínhamos no Acampamento Meio-Sangue. Ainda assim, não diminuímos o ritmo da corrida nem por um minuto. Afinal, a Casa poderia colapsar atrás de nós a qualquer instante.

Quando chegávamos perto do fim do corredor, já podíamos ouvir sons de estrondos, como se duas bolas de demolição estivessem se chocando.

— Que droga é essa?! – exclamou Piper. – Agora a destruição da Casa está às nossas costas E à nossa frente?!

— Acho que não é a destruição, Pipes... – disse Annabeth, enquanto corríamos. – Na verdade, acho que Jason está tendo trabalho com seu novo amigo.

E, pra variar, Annabeth estava certa. Antes mesmo que chegássemos à porta, ela explodiu, nos empurrando para trás pela pressão do choque.

— Mas o que foi isso?! – exclamei, enquanto me colocava em pé outra vez para depois seguir com o grupo para dentro do quarto de Peter.

Assim como a biblioteca de Dominic, a academia do Herdeiro de Atlas estava todo revirado e com as coisas quebradas. Buracos no chão e nas paredes, pesos atirados para todos os lados, e halteres partidos em pedaços estavam espalhados por aí, em meio às maquinas de ginástica arrebentadas.

Enquanto olhávamos o ambiente duramente castigado (e provavelmente ficaria ainda mais quando a destruição chegasse), Jason e Peter trocavam golpes estrondosos. Jason atacava com sua espada de ouro imperial, enquanto Peter devolvia usando o que quer que encontrasse no quarto, entre pesos e halteres.

— Jason! – exclamou Piper. – Esquece esse cara e vamos embora! A Casa está ruindo! Temos que sair daqui o quanto antes!

Os dois trocaram mais um golpe e se afastaram para nos olhar. Peter ficou como que paralisado por alguns segundos, do mesmo jeito que Alice e Dylan.

— R-Ruindo...? Quer dizer que o... – ele não conseguiu terminar a frase, pois a destruição estava chegando ao quarto dele.

Jason foi esperto em aproveitar a brecha e lhe deu um empurrão bem forte, lançando Peter contra alguns pesos largados em um canto. Aproveitamos para sair dali e ir ao encontro de Leo no quarto seguinte.

E o lugar não estava muito diferente de quando passamos na primeira vez durante a entrada. Todo destruído e caindo aos pedaços. Só que agora estava um pouco mais chamuscado. Leo Valdez e suas brincadeiras com fogo mágico de filho de Hefesto... Ele ainda batalhava contra o herdeiro de titã com jeito para psicopata. Era faca, bolas de fogo e pedaços de metal voando pra tudo quanto era lado.

— Leo!! – exclamou Jason. – Temos que dar o fora daqui agora!!

Desviando de um monte de facas, lápis apontados e outros objetos nem um pouco seguros (ainda que muito comuns), Leo olhou em nossa direção, como se só agora reparasse em nosso retorno.

— Ah, oi, pessoal! – ele acena para nós, fazendo parecer que era apenas um garoto comum, brincando no parquinho da escola. – Eu estou um pouco ocupado aqui!

Se a situação fosse outra, creio que nenhum de nós se importaria de ficar assistindo Leo desviar das facas e lápis arremessados por seu novo amiguinho psicótico, mas você aprende a redefinir suas prioridades quando há uma casa enorme se autodestruindo continuamente às suas costas. Queríamos logo encerrar a diversão de Jack, e como o herdeiro de Epimeteu parecia muito mais centrado em tentar alvejar Leo do que prestar atenção em nós, Jason só precisou comandar os ventos para empurrar o garoto magrelo de encontro a uma parede, nocauteando-o.

— Eu devia... Ter jogado um pouco mais pra esquerda... – Jack resmungou antes de apagar de vez. Definitivamente, ele “pensa depois”.

— Pois é... Mais pra esquerda naquele lance e teria ferrado a minha perna! – Leo completou o raciocínio do adversário desmaiado. Com certeza, ele é um idiota.

Sem perder mais tempo, Piper puxou Leo pelo braço, embora parecesse que ela queria arrastá-lo pela gola da camisa, sem ligar se ele seria enforcado com isso. Minhas pernas estavam doendo tanto pela corrida que meus ossos pareciam chumbo quente, pesados e insuportáveis. Ainda assim, nenhum de nós se permitiu parar de correr até que tivéssemos deixado a Casa dos Imortais e alcançado o portal que nos levaria de volta à cidade.

— WASHINGTON, D.C!! – Percy berrou a plenos pulmões para os postes gravados com o símbolo ômega, abrindo o portal e nos fazendo voltar ao gramado que circundava o obelisco do Monumento Washington.

Pela corrida intensa, acabei tropeçando sozinha e caí no chão, dando de cara com a grama. Foi um acidente, mas Percy e os outros me imitaram, se largando no tapete verde e fresco, tentando todos recuperar o fôlego ou fazer com que os ossos deixassem de ser gelatina quente. Olhando ao redor, ninguém pareceu dar muita atenção a uma meia-dúzia de adolescentes vindo sabe-se lá de onde e desabando em frente a um dos maiores monumentos nacionais, todos sujos, suados e com ferimentos. Ou a Névoa estava particularmente poderosa para nos fazer parecer um grupinho como outro qualquer, ou pessoas nas nossas condições eram tão comuns em Washington quanto pombos de rua.

Lentamente nos levantamos e eu estava particularmente ansiosa para voltar ao “Expresso Festus” e ir embora dali, partir de volta ao Acampamento Meio-Sangue. Mas é claro que o resto do grupo tinha muitas perguntas na cabeça. Odeio essas perguntas, que você não quer saber a resposta... Ainda mais depois de hoje.

— Estão todos bem?

— O que diabos aconteceu com aquela Casa?!

— Alguém viu se sobrou alguma coisa dela?

— E o que aconteceu com os herdeiros? Estão vivos?

— Falando em “herdeiros”... Cadê o David?

Essa última foi a pior das perguntas. Mesmo estando de costas para meus amigos, pude sentir todos os olhares sobre mim. Todos esperando uma resposta.

— O David... O David morreu. – as palavras pesavam na minha boca, como se eu estivesse cuspindo metal. E meu coração parecia estar se destruindo do mesmo jeito que a Casa dos Imortais. - ... Eu o matei.


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Notas finais do capítulo

E é isso aí, gente! Não se preocupem, já vou mandar mais para vocês! E, a quem interessar possa, estou pensando num volume dois de "Herdeiro do Titã", mas ainda não tenho uma boa ideia para escrever. Se alguém tiver uma sugestão, estamos aceitando (olha o cara querendo pedir ideia emprestada!). Hahahaha! Bem, nos vemos no próximo capítulo!



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