O Herdeiro do Titã escrita por Rodrigo Kira


Capítulo 12
Minha primeira Missão


Notas iniciais do capítulo

Ei, pessoal? Tudo certo? Bom, eu já fiz mais capítulos, então vou mandar este e mais um.

No último capítulo, David recebe uma profecia falando sobre o Herdeiro do Titã. Para tentar decifrá-la, ele vai com Nico ver Clóvis, para ajudá-lo a se lembrar de onde veio.
David vê em suas memórias o dia em que sua mãe o tirou de um lugar chamado Casa dos Imortais, deixando-o no orfanato, para que ficasse seguro.
Agora, o rapaz decide seu próximo passo: voltar até a Casa dos Imortais, em Washington.



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– Vocês não vão! – eu exclamei pelo que deve ter sido a trigésima vez. – De jeito nenhum!

– Ah, mas nós vamos, sim! – Percy retrucou. Estavámos discutindo como duas crianças mimadas, mas fazer o quê? Eu não podia deixá-los vir comigo.

– Pode esquecer, Percy! Não vou deixar que se arrisquem nisso.

– Do que está falando? Eu já fui até o Tártaro e voltei! Acho que damos conta de uma viagem até Washington.

Tá, ótimo argumento. Admito.

– Mesmo que tivesse morrido e voltado! – eu exclamei. – Eu vou até a Casa dos Imortais, sozinho! E vou encarar o que estiver lá, sozinho!

– Você não pode ir até lá, sem ninguém! – Percy falou.

– Por quê? Me dá um motivo!

Percy parou pra pensar por um momento. Tava na cara que ele não tinha argumento agora. Mas Jason falou por ele.

– A profecia deixou bem claro que um grupo de semideuses está envolvido. Mesmo que você queira, não pode ir sozinho.

– Isso aí! – concordou Percy.

– Que se dane a profecia! – eu retruquei. – Mesmo que ela dissesse pra todo o Acampamento vir, eu não deixaria! Eu vou sozinho e ponto final!

– Você nem sabe o que vai enfrentar lá! – agora Jason estava ficando nervoso. – Nós já passamos por muito mais perigos que você, David! Vai precisar da nossa experiência, se quiser ter uma chance!

Outro argumento perfeitamente lógico. O que eu poderia pensar em dizer?

– Não... eu não posso! – eu tentei falar, praticamente derrotado na discussão. – Essa coisa toda de Herdeiro de Titã, Casa dos Imortais... são problemas meus. Não quero envolver mais ninguém nisso, quanto mais os meus amigos!

Percy relaxou. Eu sei que ele, Jason e os outros queriam me ajudar, mas não era justo envolvê-los nisso. Não conseguia encarar Percy, até que ele colocou a mão no meu ombro.

– Você está certo. – ele disse. – Somos todos amigos. E, justamente por sermos amigos, é que nós vamos com você.

Suspirei e encarei Percy e Jason.

– Apelo emocional é golpe baixo.

– É, pra se dar bem nessa linha de trabalho, a gente tem que “trapacear” de vez em quando. – riu Percy.

Andamos de volta para a Casa Grande. Havia passado apenas um dia, desde que recebemos a profecia, ainda que parecessem meses. Acho que as coisas podem mesmo mudar de um dia para o outro.

– Então – eu disse, tentando conter a preocupação dentro de mim – , quem vai?

– A profecia fala em “Mar”, “Céu”, “Fogo”, “Sol”, “Sabedoria” e “Amor”. – disse Jason. – Se relacionarmos com os deuses, temos, em grego, Poseidon, Zeus, Hefesto, Apolo, Atena e Afrodite.

– Então, escolhemos os semideuses mais experientes desses chalés. – completou Percy.

Chegamos à Casa Grande, e lá estavam Leo, Annabeth e Piper. Junto comigo, Percy e Jason, esse era o nosso “Esquadrão Classe A”.

– Mas e quanto a Apolo? – perguntei.

– Ainda não temos certeza. – respondeu Annabeth. – A profecia diz que tudo acaba com uma flecha de Apolo, então precisamos do melhor arqueiro deles.

– E há vários arqueiros no chalé de Apolo. – disse Leo. – O que eles esperam que façamos? Algum teste, como se fossemos escalar um ator pra uma peça?

– Tavez haja mais do que isso, Leo. – disse Nico, saindo de dentro da Casa Grande, com Quíron e Calipso. Leo quase pulou de susto.

– Dá pra parar com essa mania de surgir do nada?! – ele exclamou.

– O que estavam fazendo? – eu perguntei, tentando desviar a atenção do ataque de Leo.

– Estávamos discutindo sobre as acomodações de Calipso. – disse Quíron. – E decidimos que ela ficará na Casa Grande. Vocês dividirão o sótão, David.

– Como é?! – exclamamos eu e Leo, ao mesmo tempo.

– Esqueceu que ela me odeia?! – eu falei. – A ideia básica de colegas de quarto é que eles se entendam, e eu acho que não estamos cumprindo esse quesito!

– Depois de tudo o que eu passei pra encontrá-la, vamos ter que ficar separados?! – disse Leo. – E ela ainda vai ter que dividir o quarto com um cara?! Sem ofensas. – ele falou, se virando para mim.

– Nenhuma. – concordei.

Calipso se adiantou e ficou entre mim e Leo.

– Olha, essa ideia também não me agrada, mas foi a única solução que encontramos.

– Você não podia... sei lá... ficar no chalé de Hefesto?! – eu perguntei. Por mais que Calipso negasse, era óbvio que tinha algo entre ela e Leo. Portanto, nada mais natural do que ficarem no mesmo quarto.

– Talvez não. – disse Leo. – Lá é meio bagunçado. Mas eu poderia conseguir acomodações legais no bunker 9!

Calipso encarou Leo, como se não acreditasse no que ouvia.

– Você espera que eu more em uma oficina?

– Qual o problema? Eu morei em uma, quando era pequeno. – disse Leo.

Quíron resolveu dar a discussão por encerrado.

– Chega. Calipso ficará no sótão até segunda ordem. – ele se virou para mim. – A equipe para sua missão já está formada?

– Ainda falta alguém do chalé de Apolo. – respondi com voz seca.

– Nico, o que quis dizer com “haver mais do que isso”? – perguntou Annabeth, entrando na conversa.

Nico olhou para todos nós antes de falar qualquer coisa.

“Com uma flecha de Apolo, o mundo ou um coração irá se quebrar”. Esse é o final da profecia. – ele disse friamente. – “O mundo ou um coração” parece significar que uma escolha vai ter que ser feita. Salvar o mundo inteiro ou salvar uma vida.

– Onde quer chegar? – perguntou Piper.

– Pra salvar o mundo, alguém vai ter que morrer. E é o filho de Apolo quem vai ter que decidir.

*****

De repente, voltar a discutir sobre eu e Calipso dividirmos o sótão me pareceu um assunto bastante interessante. Até voltar com Percy e Annabeth para revirar todo o arsenal era uma ótima ideia. Na verdade, qualquer coisa era melhor do que aquilo.

– Por que eu tenho que pedir a ela?! – sussurrei para Leo.

– Nem olhe pra mim! – ele respondeu. – Foi ideia do garoto da água.

Leo apontou com o polegar para Percy.

– Não me chame de “garoto da água”. – ele olhou para mim. – E, David, ela é a única pessoa do chalé de Apolo que... bem, conhece você.

– Depois de eu ser reclamado por um titã, pode apostar que ela prefere não ter me conhecido.

Percy deu de ombros.

– Agora é meio tarde pra reclamar. Anda logo, precisamos dela.

Desisti. Se tinha uma coisa que eu tinha aprendido sobre Percy, é que ele podia ser tão teimoso quanto uma mula. Dê a ele um motivo pra teimar com alguma coisa, e pronto. Danou-se.

Caminhei de encontro à garota. Ela estava de costas para mim, praticando com o arco e estava tão concentrada que talvez nunca percebesse que eu estava ali.

– Er... Lucy? – falei baixo. Claro que ela não ouviu. Olhei para trás e Percy e Leo só sinalizando pra falar com ela de uma vez. Suspirei e tentei novamente, um pouco mais alto. – Lucy?

Ela se assustou um pouco com minha aparição meio súbita e se virou para mim. Quando viu quem a tinha chamado, recuou uns dois passos, vacilante. Ótimo começo... ergui as mãos em rendição.

– Calma! Eu não queria te assustar. – eu disse.

– N-não me assustou! – ela retrucou, tentando manter a compostura.

Orgulho... então esse era o calo da Lucy. Era tão... sei lá... graçinha? Dei um meio sorriso que não consegui conter.

– O que quer comigo, David? – ela disse, fria o bastante pra fazer sumir meu sorriso.

– É, então... preciso de... da sua ajuda. – eu ia dizer “preciso de você”, mas, dadas as circunstâncias, isso podia soar totalmente errado.

Expliquei para Lucy sobre a profecia, a Casa dos Imortais, a ida para Washington. Só não comentei sobre a escolha que o semideus de Apolo teria que fazer. “Quero que me ajude a resolver uns problemas. A propósito, você vai ter que escolher se algum de nós vive ou morre e a escolha errada acaba com toda a vida na Terra. Sem pressão, está bem?”. Não parecia um jeito interessante de colocar as coisas.

– E por que tem de ser eu? – perguntou Lucy. Pergunta válida. - Há outros melhores do que eu, por exemplo...

– Não! Só conheço você do chalé de Apolo. E é a melhor arqueira que já vi. – resposta meio válida. Que foi? Não podia dizer “Quero que seja você.”, ou qualquer coisa assim.

Lucy ficou pensando um pouco, indecisa. Era claro que ela não confiava mais em mim, mas a chance de ajudar a salvar o mundo parecia ser bastante tentadora, apesar das possibilidades de morte quase certa.

– Você tem relação com os titãs, que querem destruir o mundo... – ela disse, pausadamente. – E está querendo impedir isso? Meio contraditório, não acha?

– Totalmente. – eu concordei. – Mas, mais do que tudo, eu quero saber como eu me meti nessa confusão toda. Agora, eu praticamente nem sei quem eu sou.

– E pra descobrir, quer a minha ajuda?

– É.

– Ao mesmo tempo em que quer impedir os titãs?

– Isso.

– Mesmo sabendo que você pode só piorar tudo?

– É bem por aí.

Ela suspirou.

– Está bem. Quando saímos?

– Amanhã cedo.

Ela se foi, sem dizer mais nada. Ela não estava nessa por mim, óbvio. Lucy queria impedir o fim do mundo ou seja lá o que estivesse acontecendo na Casa dos Imortais. Não era bem essa a minha ideia pra um segundo encontro, mas vá lá. Pelo menos eu poderia tentar me reaproximar dela.

*****

Quase não preguei os olhos naquela noite. Primeiro, porque Calipso ficou gritando comigo sem nenhum motivo aparente, insistindo em uma divisória do sótão, sendo que eu não poderia pisar no “lado dela” nem por decreto. Depois, ela ficou gritando coisas do tipo “Não se atreva a me espiar!” ou “Nada de me ver dormindo!”. De uma hora pra outra eu tinha passado de “objeto de pavor” para “tarado em potencial”, aos olhos de Calipso.

Segundo, eu não queria dormir. Não queria ter aqueles pesadelos novamente. Uma noite foi o suficiente para uma vida inteira. Fiquei pensando em como os meus amigos deviam ter sofrido com os próprios pesadelos, já que tinham passado por muito mais coisa do que eu. Será que, depois de um tempo, esses sonhos se tornavam apenas uma lembrança horrível e bem distante? Ou será que ainda vinham nos atormentar, mesmo que já tivéssemos vencido?

Terceiro, pode ser estranho dizer, mas eu estava um pouco... empolgado. Afinal, mesmo que fosse algo ruim, eu finalmente saberia quem eu era (ou melhor, quem esperavam que eu fosse), de onde eu tinha vindo e qual era o meu papel em tudo aquilo. Não tinha o menor desejo de ficar na Casa dos Imortais e fazer o que os titãs queriam que eu fizesse, mas eu precisava saber a verdade sobre mim mesmo. E esse sentimento... de descobrir a verdade, por pior que ela pudesse ser, era o que mais me impedia de dormir.

*****

Apesar de não ter dormido quase nada, estava disposto e com tanta energia pra gastar que, se desse, acho que poderia abastecer a eletricidade de uma casa ou duas. Peguei minha mochila da escola, agora cheia de comida, kit de primeiros socorros (incluindo ambrosia e néctar – o gosto podia ser horrível para mim, mas não dava pra negar que era útil), uma muda a mais de roupa e uma adaga de bronze celestial, que Annabeth cismara que me serviria.

Tomei café com Percy, Jason e Nico, o que já havia se tornado um hábito muito agradável. Depois todos seguimos para a Colina Meio-Sangue, onde outros campistas vieram se despedir e nos desejar boa sorte. Ou melhor, para Lucy e os outros.

– Trate de voltar, Leo Valdez! – Calipso disse, com lágrimas nos olhos, que tentava esconder. Pelo amor dos deuses, tava na cara que ela gostava de Leo. Não seria muito mais fácil admitir de uma vez?

– Relaxe, flor-do-dia. – ele a tranquilizou, secando uma lágrima que começara a rolar pelo rosto de Calipso. – Eu já encontrei a sua ilha duas vezes e isso era impossível. Acha que uma ida rápida até Washington é tão mais difícil assim? Eu vou voltar tão rápido que nem vai dar tempo de você sentir a minha falta.

– Não vou sentir! – ela disse emburrada. Leo apenas riu e beijou-lhe a testa.

A situação era tão engraçada que nem percebi um trio se aproximar. Ress, junto com Connor e Travis Stoll.

– Ei, cara. – falou Ress. Ele tentou se mostrar confiante, mas do jeito que as pernas de bode tremiam, eu percebi que ele ainda tinha algum medo de mim. – Boa sorte.

– Obrigado, Ress. Pena que não pude passar mais tempo com você, mas resolveremos isso quando eu voltar.

– Você manda. – ele riu, mais relaxado. – E, se quer saber, o seu cheiro é muito mais de semideus do que qualquer outra coisa.

Travis e Connor se aproximaram.

– Manda bem lá fora, David. – disse Travis. – E depois, te ensino um jeito legal de enganar os outros no pôquer.

– Valeu, Travis.

– E estaremos guardando alguns... “contrabandos” bem legais pra você. – falou Connor. – Que rimam com “chocolate ao leite”.

– Vou estar ansioso por isso.

Apertamos as mãos, uma última vez. Nunca fiquei tão emocionado em uma despedida.

Uma última pessoa veio falar comigo. A última pessoa no mundo que eu esperava que viesse se despedir. Clarisse.

– Espero que apanhe muito e morra lá fora, cria de titã. – ela disse, com um sorriso cruel. Não esperava menos dela.

– Acho que não. – eu disse, provocando. – Você ia sentir a minha falta.

Eu me virei e fui junto com o resto do grupo, ao som de gritos de incentivo, palmas e desejos de boa sorte como coro de fundo. Uma saída bastante épica, para uma missão que podia muito bem fracassar. Fiquei ainda mais empolgado.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Estou terminando o capítulo 18, que está me dando algum trabalho, mas assim que ele ficar pronto, os próximos já estão bem planejados, então vou acelerar bastante a postagem!



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