Snow escrita por TLittleLiv


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!

Enfim, eu coloquei essa fic na categoria "songfic" porque eu pus muito trechos de músicas nela (se vc acha isso tosco, então dê meia volta rs), porém eu não me baseei em uma música específica para escrevê-la.
Motivos pelo qual coloquei trechos de músicas: essa história surgiu do nada e resolvi escrever para passar o tempo (ou seja, não me prendi a estereótipos ou ao que iam achar dela). Eu só escrevia ela quando estava entediada. Por isso demorei para concluir, apesar de ser curta. Comecei a escrever em outubro (só eu mesma para demorar isso tudo u.u).

Nas notas finais colocarei cada música que citei.
Sem mais delongas, boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/569264/chapter/1

Ainda não tinha nevado, mas ele não duvidava nem um pouco que isso logo aconteceria. Até dentro da loja estava frio, maldita hora para o aquecedor dar defeito. Mas ao contrário do que imaginaria, não achou o frio incômodo tão insuportável assim. Naquele dia achou muito bem-vindo. O frio distraia sua cabeça de pensamentos que não queria ter, que preferiria nunca ter.

Atrás do balcão, observava o movimento da loja de CDs com os cotovelos apoiados a sua frente e umas das mãos confortando o queixo. Os costumeiros fones de ouvido faziam-se visíveis, com as pontas dos dois fios perdendo-se por entre sua cabeleira loira e a outra ponta tendo fim no bolso da calça jeans.

“When I saw you, everyone knew

I liked the effect that you had on my eyes...”

O movimento daquele fim de tarde de sábado era pouco. Duas pessoas aleatórias vagavam por entre os estreitos corredores de estantes baixas, cheios de CDs players, todos os quais devidamente separados por gênero e nacionalidade. Uma das pessoas, uma garota de fartos cabelos castanhos escuros que desciam em ondas por suas costas, ouvia um trecho de um CD em um dos guinchos com headphones e leitores digitais que se encontravam em cada fim de corredor. Ele conseguiu visualizar o CD que a tal garota possuía nas mãos, era um de uma das suas cantoras favoritas.

Olhou melhor para a garota, que parecia perdida em uma das ótimas faixas de música daquela obra, por um momento se imaginou puxando assunto com ela, conhecendo-a melhor, usando sua boa conversa e charme para marcar um encontro qualquer... Imaginou se apaixonar por ela e ela por ele... Imaginou-se com uma vida amorosa tão estável que daria inveja a qualquer um...

Pena que não era tão fácil assim. Não era apenas apertando um botão que o faria se livrar dos problemas. Não era como se ele pudesse escolher a quem amar...

“But no one else heard the weight of your words
Or felt the effect that they have on my mind
Falling”

A garota tirou os headphones e os pôs novamente no guincho, ajeitou os longos cabelos atrás da orelha e apertou mais o cachecol em volta do pescoço, olhou por um breve instante para ele quando percebeu que estava sendo observada. Sorriu. Seu sorriso era lindo, pensou. Seus olhos, sinceros e grandiosamente infantis. Pequenas pintas completavam a visão de seu rosto pequeno e de uma beleza tão natural e normal que a tornava muito atraente. Mas ao invés de retribuir o sorriso, ignorou-a e levou seus olhos para baixo, dando atenção a uma papelada ao lado da caixa registradora.

Queria poder se apaixonar assim... Não queria? Seria uma bela história de amor. Uma música começou a soar de seus fones, que o fez morder fortemente o lábio inferior. Queria muito... Mas não conseguia se livrar de seus próprios sentimentos, de seu fantasma particular.

Alguns minutos depois voltou a observar a loja, dando tempo mais que suficiente para a garota ter desviado o olhar dele. Não queria ter dado a impressão errada para ela, de que a estava paquerando ou algo assim. Para a sua surpresa viu a garota conversando com o outro cliente que estava na loja. Pareciam ter se topado um com o outro ali por acaso e se apresentaram. Ela, tímida, colocando o cabelo constantemente atrás da orelha, mesmo que a mecha já estivesse ali, corando de leve. O cara falava alegremente sobre o CD que estava em suas mãos, um que o loiro não conseguiu ver, e que parecia interessar aos dois. Ele sorria de lado, como que para fazer charme.

Alois sorriu consigo mesmo. Que engraçado...

Realmente não havia coisa melhor que duas pessoas desimpedidas se encontrarem por acaso e se apaixonarem perdidamente. Era lindo de se ver, porém doloroso para ele que almejava tanto algo tão simples assim para sua vida... Ser apaixonado por uma pessoa desimpedida.

Os dois pombinhos saíram da loja juntos minutos depois, com suas respectivas compras, provavelmente planejando continuar a conversa alegre deles em alguma cafeteria por ali perto, deixando o loiro a sós com sua melancolia. Perguntava-se por que diabos repetia a maldita música em seu celular... Era como se ela fosse uma bela tradução de sua situação, algo que tocava na ferida, mas que ao mesmo tempo precisava ser ouvida e repetida.

“It almost feels like a joke

To play out a part

When you are not the starring role

In someone else's heart...”

Realmente era uma piada, mas não conseguia evitar. O amava. Isso era fato.

Faltava pouco tempo para terminar seu expediente. O Céu começava a mostrar indícios da noite que se aproximava, tingindo-o de cores alaranjadas e rosadas por entre as pesadas nuvens cinza. Não faltava muito para o funcionário da noite chegar, ele tomaria seu lugar no turno. Era um velho roqueiro cheio de tatuagens que parecia estar constantemente alegre sem motivos. Sempre falava animadamente com ele, mesmo que estivesse nos dias que sua cara exalava toda a frustração de sua patética vida.

Aguardou pacientemente a vinda de seu colega de trabalho olhando periodicamente o relógio na parede.

A pequena loja de CDs parecia maior quando ficava vazia e também triste. Como se fosse um desperdício ter tantas músicas ali para serem ouvidas e ninguém se importasse ou se dignasse a parar para escutá-las.

Alois passou as músicas de seu celular, finalmente não repetindo a anterior. Não achando uma que o satisfizesse, pôs em modo aleatório.

E foi aí que aconteceu.

Ouviu o barulho do sino ao alto da porta de vidro fosco, que indicava que alguém havia entrado. Olhou para o cliente e por um momento achou que seus olhos lhe pregavam uma peça.

Mesmo que quisesse não conseguiria esconder seu espanto. Não que isso, demonstrar surpresa, fez diferença. O outro nem sequer demorou-se um segundo olhando para ele. Apenas começou a observar as prateleiras como quem não queria nada.

E por justamente ele não ter se demorado nele, a raiva subiu mais forte. Já deveria está acostumado com isso, não? Afinal, não era de hoje que em diversas situações aquela pessoa o ignorava como se ele fosse só mais uma pessoa qualquer no mundo. Mas ali era diferente. Ele nunca o ignorava quando estavam sozinhos. Mas bem, Alois deveria ter imaginado que depois de ontem isso aconteceria, mas não havia sentido algum dele ter vindo àquela loja sabendo que ele trabalhava ali.

Alois soube que ele estava agindo forçadamente assim que percebeu em que sessão ele estava passando a vista. Sabia muito bem que ele odiava indie-pop e derivados, justamente porque o loiro amava e ele sempre arrumava qualquer desculpa para implicar com suas coisas. Quase perdoou aquela ignorada apesar de não entender o jogo do outro. Achava que tinha dado um ponto final aquela história toda. Chega de jogos, de mentiras... chega de fingir.

Ciel era uma pessoa muito difícil de conviver. Era algo que Alois não tinha como defendê-lo nesse quesito. Porém, o loiro sabia que era igualmente difícil para o outro conviver com ele também. Essa história de “opostos se atraem” não se aplicava naquele caso. Eles não eram opostos... complementares, talvez?

Alois passou muito tempo querendo se lembrar das circunstâncias que o levaram aquela situação dolorosa de outrora. Mas não conseguia se lembrar. Sim, se lembrava de quando tinha o conhecido, mas não se lembrava do momento em que o sentimento foi plantado ali. Era como se tivesse sido pura biologia de seu corpo. Algo que já estava inserido nele, algo pré-disposto a acontecer, e não algo que cresceu conforme o tempo.

Mas no final, a vida não era tão fácil quanto as coisas já tão certas como o corpo, que funciona em seus mecanismo em harmonia. A vida, no sentido de ser humano, com suas falhas, erros, leis, padrões impostos, atrapalha toda e qualquer harmonia.

“But you fit me better than my favourite sweater

And I know

That love is mean, and love hurts

But I still remember that day

We met in december...”

Ciel continuou rodando a loja sem tentar nenhuma aproximação. E o loiro resolveu seguir esse jogo, não falou absolutamente nada. Mas não deixou de acompanhar os movimentos do outro com os olhos.

Não demorou muito para que o funcionário do turno da noite chegasse. Mas para o Alois os vinte minutos que passaram foi uma tortura. Queria falar algo, mas se impedia. O outro não olhou para ele uma vez sequer, como se ele não estivesse ali. Apesar de tudo, isso machucava. E isso irritava mais ainda o loiro, por se deixar ferir novamente por esse tipo de atitude que jurou nunca mais ter que passar.

O velho roqueiro tomou seu turno e Alois preparou-se para juntar suas coisas e ir embora. Não olhou novamente antes de cruzar a porta que dava para a área dos fundos da loja. Não viu quando o outro fitou abertamente as suas costas. E muito menos viu quando este saiu da loja com uma pressa desmedida.

Alois teve sorte que a porta dos fundos estava com a chave na fechadura. Odiaria ter que pedir as chaves emprestadas ao velho roqueiro e ter de explicar que perdera as suas. O velho com certeza o deduraria ao chefe.

O frio conseguia ser ainda maior do lado de fora. Não nevara, ainda. A rua estava pouco movimentada para o início de uma noite de sábado. O loiro expirou fundo, deixando o ar gelado arder em seus pulmões, antes de ajeitar o cachecol em volta do pescoço e por suas luvas. Começou a caminhada. Poderia pegar o metrô até sua casa, mas gostava de caminhar, e mesmo que o caminho não fosse curto, precisava pensar e só o fazia direito enquanto caminhava. E também queria ver o rio. Vê se a água criara a fina camada de gelo, como um tapete feito de raspas de gelo e glitter azul. Era tão lindo.

Atravessou a rua para poder caminhar contemplando aquele lindo espetáculo da natureza. E estava justamente como ele imaginara. O céu fechava-se completamente em nuvens cor grafite. Não chegou a tomar muita distância do ponto que saíra, ouviu a voz por cima da música que saia de seus fones.

-Alois, espera!

O loiro virou-se e tentou usar os segundos dessa ação para se preparar psicologicamente ao que veria. Mas tinha certeza de que nenhum tipo de preparação diminuiria o impacto que a visão dele fazia em si.

- O que faz aqui? Achei que não tínhamos mais nada para falar. Deixei isso bem claro ontem e hoje você também. – Se referia a sua atitude na loja.

A mágoa inundava sua voz, não tinha como disfarçar, ou não queria tentar maquiar isso. Apesar de ser um pouco injusto sentir tamanha mágoa por ele, já que a culpa de tudo não era só inteiramente dele. “Ah, é sim. Quem cala, consente.” Espantou tal pensamento da cabeça rapidamente.

Era doloroso ver o outro recuperar o fôlego da corrida que fizera e respirando com dificuldade, o rosto vermelho e a nuvem de vapor lhe abandonando os lábios; o cabelo escuro lhe caindo por sobre o olho direito, vendo-o levar a mão enluvada ao rosto, esta afastando uma mecha teimosa. Era doloroso desejar uma pessoa que não era sua.

- Não pense que só porque você veio até aqui vai mudar alguma coisa, nada do que me disser ou do que tentar desconversar, nada do que falará irá me tentar e convencer novamente. Entendeu? Acabou! Chega, cansei... – Alois fez uma pausa para tomar fôlego, e nessa pequena pausa percebeu o quanto seu corpo tremia, e não era só de frio. – Foi divertido? Sim, foi. Mas essa palhaçada já ultrapassou tempo demais... Tempo o bastante para eu sair perdendo nessa história toda enquanto você não se importa. É isso, né? Você simplesmente não se importa. Nunca se importou, nem sei por que veio aqui...

- Me desculpe.

Alois parou no meio da frase. O loiro gesticulava bastante enquanto falava, mas no momento que a voz dele sussurrara, o interrompendo, não foi somente sua voz que parou, mas todo o eu corpo. Não sabia se tinha escutado direito. Cada grama de silêncio pareceu pesar uma tonelada.

- O que disse? – Não só queria ter a certeza de que não tinha imaginado como também o prazer de escutar novamente.

- Perdoe-me... – Olhos azuis fitavam olhos azuis.

Ciel matinha as mão enluvadas dentro do bolso do casaco, Alois podia ouvir seus dentes trincados de frio. Mas apesar disso, nenhum outro sinal de seu corpo passava tanto significados quanto seus olhos. Alois pensou que com olhos como aqueles Ciel não precisaria de um corpo para se expressar.

Ciel soltou o ar, que não percebera que matinha preso, pesadamente. Fechou os olhos.

- Sei que é tarde para falar isso... Mas eu nunca me perdoaria se não tentasse.

Com aqueles olhos semicerrados que olhavam para algum ponto no rio, o moreno tirou as mãos do bolso e as levou a frente da boca, abafando, tentando aquecer a parte inferior do rosto.

Alois não pôde evitar um resmungo desdenhoso.

- Diz isso demonstrando tanta preocupação que chega a me comover. – Falou irônico, cruzando os braços.

Porque até quando ele vinha lhe pedir desculpas era por causa dele mesmo e do seu alterego, não pelo loirinho. Alois não se lembrava de algum momento que o outro tenha feito algo puramente para ele, algo que o colocasse em primeiro lugar em suas atitudes. Queria ser totalmente indiferente àquele pedido de desculpas, mas aqueles olhos não deixavam. Eram impossíveis de serem ignorados.

- Acha mesmo que não me preocupo com você? – Ciel levantou um pouco a voz. Matinha as mãos ao lado do corpo e este levemente inclinado, como se fosse se aproximar a qualquer instante. – Está tão convencido assim de que não gosto de você?

O loiro ficou surpreso. Mais que surpreso, extasiado. Achou que aquilo era o máximo de afeição que o Ciel poderia demonstra-lhe. Era constrangedor e frustrante admitir que isso já bastava para ele.

Suspirou longamente, subitamente cansado, e deixou as mãos penderem ao lado do corpo.

- De qualquer forma, Ciel, não dá mais para levar isso. Você está...

- Não estou.

Ciel ergueu sua mão direita e com a esquerda puxou a ponta da luva do dedo indicador e foi a desnudando calmamente. Na medida em que fazia isso, o rosto do Alois foi se iluminando de uma expectativa que foi atendida.

O anel não estava mais lá.

O loiro não pôde conter o ímpeto de correr até o outro e abraçá-lo fortemente, quase o sufocando.

- Alois...! – Sua voz saiu abafada contra o peito do outro.

Ciel lutava para respirar, por ser mais baixo, seu rosto ia de encontro ao peito do Loirinho. Por sua vez, a felicidade era tanta para Alois que não ligou para os protestos do moreno.

Via o primeiro floco de neve cair diante de seus olhos e pousar no topo da cabeça de seu amado. Afastou-se do outro o suficiente para deixá-lo respirar. Limpou o floco de neve dos cabelos do Ciel e riu.

- Você não tem jeito, Alois...

Dessa vez foi a vez do loiro calar-lhe a boca, mas não com algo que queria dizer, mas com um beijo. Levou suas mãos para cada lado do rosto do menor e selou os lábios levemente. Nunca conseguiria por o que sentia em palavras de uma forma que fizesse sentido, então simplesmente o beijou. E quando Ciel não apenas retribuiu, mas aprofundou o beijo, levando suas mãos à cintura do outro, os aproximando mais, já não sentiam tanto frio. Apesar da neve que caia mansamente naquele fim de tarde.

.

.

.

Fim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sim, a história é meio confusa. Sintam-se livres para me perguntar sobre ou simplesmente dizer " q porra é essa?" nos comentários ;)

Músicas (por ondem):
Tee Shirt - Birdy
Starring Role - Marina And The Diamonds
Blue Jeans - Lana Del Rey

Reviews são sempre bem-vindos o/


.
Ps: Para quem está acompanhado minha fanfic "Say", calma que eu dei uma empacada, mas não vou abandoná-la. Cês sabem que eu demoro mesmo.