Capítulo V

E mais um dia na vida da pequena borralheira. Karina levantou-se cedo mais uma vez e rapidamente se arrumou para colocar o café da manhã das bruxas. Depois que saiu do celeiro andou vagarosamente até a cozinha onde constatou que Bete não estava.
Colocou os pães italianos na cesta e pegou queijo e presunto na geladeira. Arrumou todos na bandeja e depois foi fazer o suco de manga com a água na temperatura nem muito fria, nem muito natural.

― Ah dona Bete a senhora me paga!― Resmungou a loia pelo trabalho que estava tendo. Assim que chegou a sala de jantar preparou a mesa para o café e nem bem tinha começado as duas bruxas desceram a escada.― Bom dia!― Disse já sabendo que seria ignorada. Mal educadas!

― Ah filha eu estou animadíssima com essas aulas. Finalmente poderei voltar a ensinar dança!― Lucrécia se sentou na mesa esperando ser servida por Karina enquanto comentava com Jade sobre suas futuras aulas.

― Também estou animada mãe. Não acredito que você vai dar aula lá na escola.― Karina arregalou os olhos sem conseguir dizer nada. Porque ela daria aula de dança em seu colégio? Ah que merda de vida!

― Karina sua incompetente esse suco está horrível. Quero outro. Agora!― A bruxa mais velha praticamente gritou mas nem mesmo isso afetou a jovem tanto quanto o fato dela ter que ensinar em seu colégio.

― Onde estava Bete?― A loira entrou na cozinha já tirando seu avental.

― Ah menina ontem não dormi em casa. Minha mãe não se sentiu bem então tive que ir pra Marechal. Acabei m atrasando né?

― Não tem problema Bete. Você consegue fazer outro suco de manga pra dona Lucrécia? É que eu tô atrasada.

― Tudo bem K, pode ir se arrumar.

{...}

Assim que Karina chegou na escola seguiu direto para seu armário afim de pegar seus livros das próximas aulas. Enquanto pega seu material percebeu um murmurinho em frente a secretaria e ficou observando os vários adolescentes amontoados, principalmente as garotas.

― Bom dia Cinderella!― Cumprimentou Fabi abusando a amiga que não gostava desse apelido.

― Bom dia! Fabi o que aquele amontoado de idiotas ali?

― Ah, é sobre as inscrições das aulas extra curriculares e a peça que vai ter. Acho que é Romeu e Julieta.

― Hum.― Enquanto Fabi falava a loira pensava sobre as aulas extras.― Será que eu posso fazer?

― Claro K, você também paga mensalidade né?― Karina afirmou com a cabeça pensando na possibilidade de fazer as aulas extras.― Então, vamos nos inscrever?

Karina foi puxada pela amiga em direção ao murmurinho da secretária. Elas esperaram um pouco e assim que a fila diminuiu assinaram os seus nomes. Karina se inscreveu para dança e teatro e Fabi para teatro e musica depois seguiram para aula de biologia.

― Bom dia alunos.― A professora Selma entrou na sala com suias pastas e livros. E começou a escrever algumas coisas no quadro.― Nossa aula hoje será sobre Protozoários. Abram o livro na página 67.― Todos começaram a abrir seus livros e Karina viu de longe o seu mais novo amigo na porta. Ele estava atrasado.― Bom, os protozoários...

― Com licença professora, será que que eu poderia entrar?

― Sim Ricardo, vá se sentar. Mas saiba que não tolero atrasos em minha aula.

Cobra se sentou atrás de Fabi, que era ao lado de Karina. Os dois sorriram um pro outro e a aula voltou a correr tranquila. Vez ou oura os olhares deles se encontravam e Karina sorria para o amigo que piscava como resposta. Cobra era um cara muito sedutor.

― Próxima aula teremos uma avaliação sobre protozoários. Por favor estudem.― A professora saiu da sala e o barulho começou. Alunos conversando, ouvindo música, cantando e etc.

Jade e Pedro entraram juntos na sala pois a aula de matemática Karina tinha com os dois. Fabi saiu da sala já que sua próxima aula seria de história então Cobra e Karina ficaram juntos.

― Você se inscreveu para alguma aula extra curricular?― A loira perguntou enquanto seu olhar varria a sala. Jade e Pedro se comiam em uma das cadeiras e a loira fez careta o que fez o amigo rir.

― Eles são nojentos né?― Karina assentiu e os dois riram de novo.― Não, eu não me inscrevi em nenhuma aula extra. Não é minha praia sabe.

― Ah Cobra vamos lá. Seria muito mais legal com você. Por favor se inscreve em teatro ou dança, qualquer coisa.

― Vou pensar em seu caso loirinha.

As primeiras aulas passaram rápidas e no intervalo Cobra, Karina e Fabi foram juntos para o refeitório. Depois que pegaram seus lanches se sentaram em uma mesa vaga.

― Ah Fabi, esqueci de te contar. Sabe quem vai dar aula aqui no colégio?― A amiga negou e então Karina voltou a falar.― A bruxa mãe.

― Não acredito.― Fabi colocou a mão no coração dramatizando a situação. Karina assentiu diversas vezes com a cabeça e Cobra ficou olhando tudo sem entender nada.

― Tô perdido, alguém me explica?

― A bruxa mãe é a Lucrécia. Mãe da bruxa menor que é a Jade e consequentemente também é a patroa da K.

― E o que é que tem ela vir da aulas aqui?― Cobra ainda não sabia dos mal tratos sofridos pela loira e por isso ainda não entendia a gravidade do problema.

― Como o que é que tem? Ela vai fazer da minha vida um inferno. Pior do que já está. Que droga de vida!

― Não se preocupa loira. Eu te protejo. Vou até me inscrever também nessas aulas só pra te ajudar.― Karina sorriu para o amigo como agradecimento e Fabi olhava tudo com atenção. Ela estava estranhando o jeito de Cobra mas decidiu que depois veria isso melhor.

Quando o intervalo acabou, todos seguiram para quadra, já que teria o primeiro treino de futebol. Karina e Fabi sentaram na arquibancada enquanto as lideres de torcida adentraram o campo com as suas roupas minusculas.

― Elas são ridículas.― Fabi afirmou olhando-as com desdém.

― Pelo menos os meninos as olham. E querendo ou não elas são bonitas né?

― Você também é e nem por isso precisa se vestir igual a uma vadia K.

― Sou tão bonita que os meninos da escola morrem de amores por mim. Deixa de besteira Fabi.― Karina afirmou irritada. Pra ela o fato de ser pobre, ser empregada e ser feia, ou pelo menos se achar feia, era humilhante de mais.

― Os meninos da escola eu não sei, mas um certo Ricardo eu tenho certeza.

― Do que você está falando garota?

― Do Cobra. Ele gosta de você, tenho certeza. Já percebeu o jeito que ele te olha? Ele te encara, sorri o tempo todo pra você, te defende...

― Ele... ele é só meu amigo.

Assim que Karina disse isso sua atenção voltou-se para o campo onde os garotos se aqueciam. Cobra corria de um lado para o outro e Pedro se alongava. Pedro olhou para Karina e sorriu de lado, coisa que a loira estranhou bastante. Assim que Cobra viu a cena acenou para a amiga e mandou um beijinho no ar. Karina corou violentamente e sorriu olhando para os pés.

― Ele pode ser só seu amigo K, mas tenho certeza que ele quer mais do que isso.

{...}

No final do quinto tempo o diretor mandou todos irem para o auditório. Fabi, Karina e Cobra foram juntos mais uma vez e sentaram-se lado a lado. Do lugar onde Karina estava dava pra ver o casal vinte... brigando? Isso mesmo e por incrível que pareça, ou nem tanto, Karina se sentiu feliz por isso. Só não sabia o porque.

― Bom dia alunos da escola Ribalta.

"BOM DIA!"― Todos responderam juntos.

― Como a maioria já sabe, teremos aulas extra curriculares esse ano. Foi uma ideia da coordenação e eu achei muito boa e resolvi implementa-la. Vocês terão até amanhã para se inscreverem nas aulas e também para a peça Romeu e Julieta que será apresentada na semana antes da festa de Valentine's Day. As audições começam na quinta as duas da tarde aqui no auditório mesmo. Vou apresentar alguns dos novos professores de vocês. Chamo ao palco. Nando, professor de musica. Aline, professora de teatro, Fred, professor de pintura e Lucrécia professora de dança.

― Essa aí que é a bruxa?― Cobra sussurrou ao ouvido da amiga que assentiu em resposta.― Se ela aprontar com você daremos um jeito.― O sorriso do gato de Alice apareceu no rosto de Cobra o que fez Karina rir da malícia do amigo.

― Já lidou com ela a muito tempo Cobra, não precisa fazer nada.

― Não vou deixar ela te humilhar K, estou aqui pra o que você precisar, lembra?― A loira sorriu e logo sentiu a mão quente do amigo apertar a sua. Sua mente brilhou com uma pensamento.

"Ele ta afim de mim? Ele não pode estar afim de mim. Que droga!"

Depois do aviso Karina foi para o ponto de ônibus esperar a condução. Cobra se ofereceu para dar uma carona a amiga que não aceitou, mas que já começava a se arrepender pois fazia mais de vinte minutos que esperava essa droga de ônibus.

― Essas coisas só acontecem comigo. Que merda de vida!― Chutou uma latinha de refrigerante que nem percebeu mas acertou alguém. O cara tava de capacete e ela nem viu de quem se tratava.― Olha, desculpa, desculpa mesmo. Não vi você aí. Só faço besteira né? Me desculpa.

― Tudo bem K, só acertou a moto.― Quando ela ouviu o apelido dela ser falado ficou curiosa para saber de quem quem era o motoqueiro. Quando o tal cara tirou o capacete ela viu que se tratava de Pedro.

― Ah é você? Podia ter acertado a cabeça e não a moto. Que azar.― Assim que ela resmungou Pedro riu.

"Além de linda é engraçada!" Ele pensou.

― Quer uma carona? Sei que você ta aí morfando faz tempo...

― Porque não vai dar carona para sua namoradinha hein?

― Porque ela tem carro e além disso odeia motos. Você vem ou não?― A loira pensou em não aceitar mas era bem provável que voltaria a pé já que parece que a condução desse horário ela havia perdido. Então sem dizer nada pegou o segundo capacete e subiu na moto do garoto que deu a partida logo em seguida.

Pedro corria, corria mesmo e Karina não pode evitar em agarrar a cintura do garoto que se aproveitava da situação. As mãos pequenas da loira apertavam a cintura dele e o cheiro de morango dela invadia as narinas do rapaz que começava a desejar o caminho ser mais longo para que pudesse passar mais tempo com ela desse jeito. Karina, por sua vez, também estava adorando a situação, por mais que não quisesse admitir para se mesma. O corpo quente dele lhe passava segurança e o perfume amadeirado dava vontade de fungar o pescoço do rapaz o dia inteiro.

"O que é isso Karina?" Se perguntou.

Não demorou muito para que chegassem a porta da mansão Allencar.

― É... obrigada pela carona Pedro.

― Sempre que precisar linda.― Assim que ele disse isso Karina deu cambalhotas em seu interior. Ouvir ele a chamando de linda era bom de mais, só que nem ela entendia porque tamanha felicidade por isso. Pedro já saindo com a moto e Karina estranhou o fato dele não entrar para falar com a namorada.

― Ei, você não vai entrar?

― Está me convidando pra entrar senhorita?― Perguntou brincalhão o que fez a menina sorrir. Aquele sorriso de lado que ele gostava e nem mesmo sabia que gostava tanto assim.

― Não maluco. Quer dizer, sua namora, a Jade. Você não vai entrar para vê-la?

― Ah! Não vou não. Passamos a manhã inteira juntos e isso é o suficiente pro dia todo.― Karina riu alto sendo acompanhando por Pedro. Ele era divertido isso ela teria que admitir.― Já vou antes que ela me veja aqui. Até amanhã K.

Ele saiu com a moto e Karina resolveu entrar logo. Se a Jade pegasse ela de conversinha com o namorado amado dela a loira se daria, muito mal. Depois que trocou de roupa foi para a cozinha ajudar Bete a preparar o almoço. Karina conversava com Bete sobre as aulas extras e nem percebera que tudo estava sendo observado por Jade atrás da porta da cozinha.

"Ah mas você não vai fazer as aulas extras não sua empregadinha!"

― Mãããe! Mãe você tem que fazer alguma coisa.― Jade subiu para o quarto de Lucrécia que procurava alguma coisa no closet.

― Fazer alguma coisa sobre o que Jade?

― A Karina mãe, ela quer fazer as aulas extras.

― Filha infelizmente ela pode fazer as aulas. O Ed que paga o colégio pra ela, eu não posso impedir.

― Mas você pode fazer alguma coisa, sei lá.

― Eu vou pensar em algo ta bom meu amor? Não se preocupa que a empregadinha não vai sair ilesa dessa.