Capítulo III
Pov Autor

_ O que você quer Pedro? Quer pisar mais em mim? Vou logo avisando que não vai adiantar. Já tô na merda mesmo.

_ Não é isso, é que...

Pedro ainda não sabia ao certo o que dizer nunca pensou em ficar tão nervoso perto da garota, mas a tristeza que ele via nos olhos e o brilho das lágrimas que queriam sair o deixaram ainda mais confusos. Nunca havia reparado nos olhos tão belos que a moça tinha.

_ Se vai ficar me olhando feito idiota é melhor me soltar porque tenho muito prato pra lavar.

Disse ríspida se irritando pelo modo como Pedro a olhara.

_ Olha eu queria te pedir desculpas pela Jade, ela meio que extrapola as vezes e imagino como esteja se sentindo depois do que aconteceu no refeitório.

Karina riu amargamente fazendo Pedro se assustar. A tristeza que a loira tinha no olhar deu lugar a raiva e amargura.

_ Pedro, Pedro, Pedro... Quando você vai aprender? A Jade nunca foi e nem nunca vai ser melhor do que aquilo! Eu já estou acostumada com os insultos dela e não precisa fingir que se importa comigo porque sei que não se importa e muito menos sabe a sensação de ser humilhada e destratada na frente de todos. Agora vê se me deixa em paz e volta pra sua namorada naja! Mas só um aviso, as cobras são venenosas!

Karina puxou sua mão que ainda estava em contato com a dele e saiu batendo o pé e bufando de raiva. Raiva porque apesar de ser uma cobra tudo que ela havia dito era verdade. Karina não tinha nada. Pobre, empregada doméstica e nem seus próprios pais a quiseram. Será que ela nunca iria ser feliz? Nunca alguém poderá amá-la? E mesmo não querendo chorar não pode evitar as lágrimas que escorreram pleo seu rosto.

Pedro por sua vez ficara estático ainda parado no corredor observando o ponto loiro sumir do seu campo de visão. A menina usou palavras duras e o sofrimento que ela passou foi tão real que mesmo não querendo ele sentiu pena e um enorme sentimento de proteção o consumindo.

{...}

Ela não podia ter se dado ao luxo de uma suspensão. Apesar do Edgar pagar a escola quando a bruxa da dona Lucrécia descobrir sobre a suspensão e sobre a briga com sua filha adorada vai fazer um inferno na vida da pequena borralheira.

_ Karina? Ta me ouvindo?

Bete tirou Karina dos devaneios ao chamá-la pelo nome. A verdade é que Bete desatinou a falar mas a loirinha não havia prestado atenção em nada.

_ Desculpa Bete, tava longe.

_ Percebi. Olha eu quero que vá ao mercado e compre essas coisas que estão na lista. A dona Lucrécia inventou um jantar de ultima hora e parece que os convidados são importantes.

Bete lhe entregou o papel com a lista de coisas a comprar e Karina tirou seu avental branco colocando em cima do balcão. Em seguida saiu da mansão com seu vestido de empreguete mesmo, rumo ao mercado próximo onde a Lucrécia tinha uma conta, assim as empregadas nunca levavam dinheiro e ao final do mês ela pagava tudo que havia sido comprado em seu nome. Karina havia chegado ao mercado e tinha o carrinho vermelho em mãos, com ele circulava pelas sessões do enorme mercado buscando tudo que havia na lista de compras. A loira se distraiu lendo o rótulo do champignon na sua mão e não percebeu que esbarrou em alguém até o mesmo bufar de raiva.

_ Desculpe!

Sorriu timidamente para o garoto moreno. Ele tinha os cabelos e olhos negros e uma expressão sombria, logo que o rapaz percebera que se tratava de uma garota sorriu de canto e se levantou do chão batendo na calça.

_ Tudo bem gata, também estava distraído.

Karina corou levemente pelo elogio e saiu andando pelo mercado pegando o resto das coisas que foi comprar.

{...}

Assim que chegou na mansão Allencar Karina tratou de ir ajudar sua amiga Bete a preparar o jantar. Depois que fez tudo com ela a mesma dispensou a jovem para que tomasse um banho e descansasse, afinal teria que ajudá-la a servir o jantar que seria logo mais a noite. Karina não queria ter que olhar para Jade hoje mas não tinha escolha afinal era seu emprego, seus estudos e até mesmo seu teto que estava em jogo.
A noite caiu e com ela um sentimento de angustia abateu a jovem empregada pelo jantar que teria que servir. Não sabia porque mas estava sentindo-se estranha em relação a isso. Depois que tomou um banho longo e saiu do seu pequeno banheiro enrolada na toalha Karina pegou o fardamento adequado para ocasião. Quando haviam festas, jantares, coisas do tipo o fardamento que tinham que utilizar era vermelho vinho com alguns detalhes em preto. Depois que calçou a sapatilha e escovou seus cabelos curtos saiu do celeiro em direção a cozinha da mansão.

_ K os convidados já chegaram você poderia levar essas bebidas pra eles? Ainda tô olhando o arroz aqui.

_ É claro Bete.

Karina pegou a bandeja com as bebidas e seguiu em direção a sala onde encontraria os convidados. A loira gelou assim que viu os doze pares de olhos a encarando. Além de Lucrécia, Jade e Bianca as pessoas que também jantariam era nada mais nada menos que Pedro e sua "família".

Assim que viu a garota o encarando ele não resistiu ao sorriso que brotou. A menina levou a bandeja até cada um deles e na vez dele ela não o encarou. Pedro achou estranho a atitude mas não fez nada.

Ele ainda não sabia o motivo desse jantar, mas seu pai o obrigou a ir. Na verdade depois que Marcelo se separou de sua mãe ele vem mandando e desmandando na vida do garoto que não tem escolha a não ser se submeter. Depois que se casou com Roberta então tudo piorou. A mulher é ambiciosa e foi dela a ideia de Pedro se aproximar de Jade pois a garota era filha de Edgar, um cara muito rico e de posses.
Todos se sentaram a mesa e o jantar começaria a ser servido dali a pouco. Alguns empregados entraram servindo as comidas mas os olhos do rapaz buscavam os azuis da moça que ainda não havia entrando. Pedro se contorcia na cadeira, porque além de tédio a irritação por ter Jade tagarelando ao seu pé de ouvido era grande.

_ Então marcamos esse jantar porque eu acho que a relação de vocês dois está muito boa e merece comemoração.

Lucrécia se pronunciou fazendo Jade dar palminhas de animação e Pedro sorrir entediado.

_ O que a gente tem pra falar é uma coisa pro futuro mas é bom ir pensando porque a certeza que isso vai acontecer é quase de 99,99%

Agora quem se pronunciava era Marcelo fazendo Pedro erguer a sobrancelha em tom de curiosidade. O que será que eles estavam inventando?

_ Achamos que vocês deveriam ficar noivos, ainda esse ano.

Karina adentrou a sala de jantar e escutou o que Lucrécia havia acabado de falar sobre o "noivado" de Jade e Pedro. A garota estava tremendo e não sabia porque. Acabou deixando a bandeja que carregava cair chamando a atenção de todos que estavam presente e recebendo vários olhares de reprovação e apenas um de tristeza.

_ Mas é uma imprestável mesmo, não serve nem pra garçonete Karina! Por isso que eu disse que assim que completar essa maior idade eu vou te por na rua. Agora limpa essa bagunça.

Karina assentiu com a cabeça e os olhos marejados embaçavam sua visão impedindo que a mesma enxergasse direito. Até quando aguentaria essa humilhação?