Avião De Papel escrita por LadyPumpkin


Capítulo 1
O Prisioneiro


Notas iniciais do capítulo

Essa fanfic NÃO é baseada em O Menino De Pijama Listrado, apesar de eu já ter lido LOL
Ela é baseada totalmente em duas músicas de vocaloid, mas eu só vou revelar no próximo cap as músicas (quem sabe fica quieto KKKKKKK), pq n quero q vcs peguem spoiler ;D
É um cap com a visão do Sasuke e o próximo vai ser com a visão da Hina sz
Faz tempo q eu n escrevo drama, e nem gosto mt desse gênero, mas eu espero de verdade q vcs gostem! ^-^
Leiam com Ai Otsuka- Cherish, que é beeeem triste e vai fazer vc sentir os feels da fic sz o link: https://www.youtube.com/watch?v=V12KUqvP1I8

Obg por ler ^-^

Boa Leitura!



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Avião De Papel

Ele não tinha certeza que dia da semana era, mas o sol queimava toda sua pele exposta, e aquilo era o suficiente para Sasuke entender que estavam no verão. Preferia que o sol o incendiasse a ter que aguentar as longas noites frias do inverno. Mesmo que já tivesse enfrentado aquilo por tanto tempo, ainda lhe dava medo pensar no frio.

Sentou-se no chão de terra, olhando o céu azul e os pássaros que voavam tranquilos. Se pudesse voar, poderia atravessar aquela cerca sem se machucar. Besteira, riu tristemente depois, ele não tinha asas. A única coisa que tinha, além das roupas velhas e sujas que usava, era a esperança de sair daquele lugar um dia. Apenas a esperança, pois na sua vida não havia espaço para certezas.

Achou que era melhor sair dali antes que desmaiasse de calor, mas quando se levantou algo chamou sua atenção na cerca. Não, não era o arame farpado que pareciam facas, isso ele via todo dia. Não era a vegetação rala, tão pouco as arvores meio mortas. Distante dali, porém visível, algo branco e rosa se movia. Estreitou os olhos, querendo ter certeza que realmente via aquilo. Sim, era certo. Algo, ou melhor, alguém andava lentamente, do outro lado da cerca. O lado bom da cerca, o lado que ele esperava ir algum dia.

Um arrepio subiu sua espinha. Quem era aquela pessoa? Porque estava daquele lado? Porque vestia rosa? Quis gritar para que ela se aproximasse, mas teve medo que os guardas escutassem. Aquela pessoa não era um guarda, guardas vestiam cinza e tinham um desenho preto assustador em seus antebraços. Mesmo de longe, era impossível confundir rosa com cinza.

Sasuke deu um passo para frente, ainda olhando curioso o ponto branco, imaginando se o ponto o veria. Parecia que não, pois passou andando direto, parecendo ficar cada vez mais distante. Suspirou depois de piscar algumas vezes. Talvez fosse imaginação sua. Quando já ia se virar e sair dali de uma vez por todas, levando seu corpo magro e leve consigo, Sasuke pode vislumbrar o ponto branco outra vez, porém agora mais perto. Arregalou os olhos: ela não estava assim tão próxima, mas já era possível ver seu rosto.

Era uma garota de vestido branco até as canelas, cândido como as nuvens, sem toda a sujeira com qual Sasuke já se acostumara. Nos pés usava sapatos brancos como o vestido e como a pele limpa, a menina era pálida, mas havia um rosado bonito em suas bochechas. Na cabeça um chapéu grande e com um laço cor-de-rosa, destacando seus cabelos longos e negros. Ela era provavelmente a garota mais bonita que Sasuke já havia visto em anos. Fazia muito tempo que ele não via uma mulher.

Por baixo da franja tigelinha que escondia a testa, ela olhava confusa para todos os lados, como se estivesse visitando um lugar novo. Não demorou muito para ela notar a cerca e também notá-lo bem ali, com a boca aberta em ‘o’. Ela arregalou os olhos, dando um passo para trás.

Sasuke não queria que ela se afastasse. Bem, estava encantado. Ela era tão bonita, baixinha e estava do outro lado da cerca. Estava realmente curioso. Aproximou-se ele mesmo da cerca, meio com medo do arame farpado, gesticulando para que ela chegasse mais perto.

A garota levou a mão até o peito, apertando preocupada um pingente do colar de prata que usava. O olha de medo dela era o mesmo que Sasuke já via uma par de vezes, mas ao mesmo tempo sentia que isso era normal. Parecia ser comum que as pessoas tivessem medo dele; mais precisamente de quem estava daquele lado. Ainda assim, meio relutante e com passos lentos, a menina se aproximou devagar, até que eles estivessem numa distância de menos de 10 passos e Sasuke achasse que dava para conversar sem que ele precisasse gritar e os guardas notassem.

— Quem é você? – perguntou, engolindo em seco. A voz parecia arranhada, fazia um tempo que ele não falava nada. Com ninguém. Nem consigo próprio.

A garota balançou a cabeça negativamente e apontou para os próprios lábios abertos, movendo-os logo em seguida. Não houve nenhum som. Sasuke arqueou as sobrancelhas. Já havia visto outras pessoas que não conseguiam falar, mas isso era por que haviam recebido uma surra muito grande. A menina não parecia ter apanhado – tinha a pele sem marcas, os lábios pequenos e finos, olhos grandes e redondos, com algumas olheiras, mas nada roxo que indicasse um soco.

Por um momento Sasuke olhou bem nos olhos dela. Extremamente claros, sentia como se já tivesse visto aquilo alguma vez. Não teve tempo para analisar mais isso, pois a garota levou a mão devagar até a altura da própria cintura, enfiando a mão num bolso que havia no vestido – e que Sasuke não havia notado até então. Tirou de lá um caderno pequeno, a capa lilás decorada, e um lápis com a ponta bem fininha, como se tivesse acabado de ser apontado. Abriu e escreveu algo numa filha, arrancando-a logo depois.

Sasuke a assistiu se aproximar da cerca e passar o papel por baixo dela, até que estivesse do lado dele. Pegou-o e olhou.

“Não consigo falar nada, me desculpe.” Era o que estava escrito lá, a letra redonda e pequena. Sasuke sabia ler, havia aprendido há muitos anos. Sabia escrever também, mas tinha tempo que não o fazia.

— O que houve com a sua voz? – Arqueou a sobrancelha. Ela escreveu outra coisa rapidamente e novamente o passou.

“Sumiu com o tempo, só consigo falar através do papel”. Quando terminou de ler, ergueu os olhos para ela, vendo-a suspirar tristemente. Pelo jeito se acostumara a falar sempre, mas não poder fazer aquilo a angustiava agora. Sasuke entendia. Entendia perfeitamente.

— Deve ter sido difícil – comentou a olhando com certa pena. Não sabia como sentia pena de alguém, era ele que merecia isso. Novamente ela escreveu.

“Acho que já superei isso. Mas o que você faz ai?”

Ele dobrava cada papel com cuidado, botando todos no cós da calça e cobrindo com a camiseta logo depois. Não sabia o que os guardas podiam fazer se o pegassem com aqueles papéis.

— É onde eu moro, não posso sair daqui – disse desanimado. A garota olhou para as grades, subindo os olhos curiosa, e logo depois voltou para ele. Tinha muita dó dentro das íris. Muito sentimento no rosto triste. Ela se aproximou mais um passo.

“Eu também estou presa” Sasuke olhou-a, abrindo os lábios.

— Não parece estar. Se estivesse, não estaria aqui.

A morena balançou a cabeça, fazendo seu chapéu branquinho – que combinava com a pele pálida – cair um pouco para o lado. Segurou o lápis com firmeza.

“Estou sim, de verdade. É um lugar engraçado...”

— Deve ser melhor do que estar aqui – respondeu ele, mas olhando-a como se a entendesse. Realmente entendia. Soltou um grande suspiro, sendo observado pelos olhos perolados. Sasuke iria perguntar o nome dela, mas antes que o fizesse um barulho muito alto soou pelo lugar todo.

Ela olhou assustada, juntando as sobrancelhas. Logo depois mirou o moreno, que engoliu em seco.

— Eu preciso ir embora. – Tinha medo na sua voz. Olhava para os lados, querendo ter certeza que nenhum guarda viria e a veria ali. – Você vai voltar amanhã?

E sem tempo para escrever nada – muito assustada – a garota balançou a cabeça positivamente. Os cabelos negros balançaram levemente quando um vento passou. Foi a última coisa que Sasuke viu antes de sair correndo dali.

Fazia calor como todo dia. Coçou o nariz, olhando os pequenos insetos que passavam de lá para cá, parecendo muito minúsculos quando Sasuke os olhava. Às vezes se pegava pensando que era minúsculo e inferior como aqueles insetos. Talvez fosse isso mesmo – era a coisa que os guardas mais repetiam naquele lugar.

Havia passado toda a noite solitária e escura olhando os papéis que havia guardado no cós da calça. Precisava de um lugar para eles. Talvez escondido embaixo de alguma cama. É, isso parecia bom. Sentou-se na areia e esperou que algo acontecesse. Sasuke costumava passar todo o tempo que não estava apanhando ou tentando dormir esperando que algo acontecesse. Qualquer coisa que o tirasse da chatice que era sua vida.

Ouviu um baixo arranhar de garganta e se virou. Lá estava ela, brilhante como o próprio sol, vestindo branco mais uma vez, mas agora com um bonito chapéu de palha de laço lilás. Combinava com a paz que o semblante dela passava, combinava com os cabelos negros e levemente azulados, combinava com a roupa e com o perfume que Sasuke jurava poder sentir de muitos metros de distância.

Nunca havia sentido um cheiro tão bom quando o dela. Nunca havia sentido um cheiro bom.

— Você fugiu outra vez... – falou, ficando em pé, perto da cerca. Lembrava-se dela ter lhe dito que também estava presa. Como queria ter a coragem dela e sair dali...

A garota tirou o caderno de dentro do bolso do vestido e escreveu, ainda de pé. Era baixinha, tinha algumas marcas pequenas e vermelhas que subiam das canelas até desaparecem no vestido, mas nada que fosse realmente tão chocante. Ela escreveu e passou, com cuidado, para Sasuke, através da cerca.

“Eles acham que eu estou dormindo. Então eu me visto e vou andar um pouco” foi o que ele leu. Guardou o papel novamente.

— É bonito o lugar onde você fica? – Ele arqueou a sobrancelha curioso. Que pergunta besta, pensou depois. Se era uma prisão, era claro que não era bonito. Nada no seu lado da cerca era bonito, então o lado dela não devia ser, também. A única coisa bonita que devia ter era ela e alguns pássaros.

Escreveu novamente alguma coisa e já ia o passando, animada. Não notou quando sua mãe enroscou entre os ferros da grade. Ambos, juntos, arregalaram os olhos. Antes que Sasuke pudesse impedir, a menina puxou a mão e tudo o que ele viu foi sangue. Ela gritou de dor, caindo ajoelhada enquanto cobria o ferimento com a outra mão. Sangue escorria pelos seus dedos e braço. Sangue pingava dos ferros. Sasuke se ajoelhou, ficando bem em frente a ela, em pânico.

—Você está bem?! – falou assustado, olhando para o sangue que não parava de escorrer. Os olhos claros dela estavam cheios de lágrimas. A garota só conseguiu mexer o rosto de um lado para o outro, deixando finalmente algumas gotas escorreram por suas bochechas alvas. Sasuke não pôde fazer nada além de olhá-la preocupado. Era culpa dele. Ele que começara a falar com ela.

A garota se levantou com dificuldade, olhando para a mão trêmula e cheia de sangue. Não conseguiu nem mesmo olhar o machucado enorme que estaria na outra. Balançou a cabeça para ele e saiu correndo dali. Sasuke gritou para que ela ficasse, mas ela só sumiu entre as árvores.

O caderno e o lápis estavam ali, parados. Engoliu em seco. Ele deixou a mão aberta, mas junto os dedos. Estava tremendo, então fechou os olhos e, de uma vez só, passou o braço pela cerca. Gemeu de dor e abriu os olhos. Não havia o machucado tanto quanto ele esperava; talvez por que fosse muito magro e seu braço não tinha tanto problema em passar por um daqueles buracos. Controlando a respiração e ignorando a dor, Sasuke tentou mover os dedos, para que pudesse puxar o pequeno caderno e o lápis. Como não era de capa dura, passou rápido pelo espaço e, do mesmo jeito que o braço havia entrando, tirou-o de lá.

Havia vários furinhos em sua pele e um pouco de sangue – menos que o dela – mas Sasuke não se importou. Olhou para o objeto em suas mãos e olhou para as árvores da onde ela tinha vindo. Esperava que ela voltasse no outro dia.

Sentou-se no chão outra vez e tirou o que havia guardado dentro da camiseta velha e cheia de sangue. As olheiras e bolsas debaixo de seus olhos já eram muitas naturalmente, mas havia duplicado, pois Sasuke passara outra noite sem fechar as pálpebras. Passara a noite toda tentando fazer aquilo e agora lá estava, todo amassado e cheio de dobras estranhas, mas finalmente do jeito certo. Sorriu para o vento. Havia feito uma coisa que prestava, em toda sua vida de inutilidade. Queria que ela aparecesse, queria tanto!

Sasuke sorriu para o horizonte, esperando-a. Passou-se um bom tempo, e nada da garota aparecer. O sorriso foi sumindo devagar. Sentiu uma coisa muito ruim dentro de si – finalmente havia achado alguém com quem pudesse conversar, mas ela já não viria mais. E isso tudo por causa dele. Sua garganta seca trancou-se. Seus olhos lacrimejaram, assim como acontecia todas as noites em que pensava que nunca sairia daquele lugar. Seu irmão lhe disse uma vez que ele deveria ser forte, não deveria chorar. Sasuke sempre tentara, mas parecia horrível demais...

Antes que ele desabasse no choro, pode ver, lá no fundo, um tecido amarelo brilhante, sacudindo-se de um lado para o outro. Aproximou-se da cerca, um sorriso já brotando em sua face. Ela apareceu linda como sempre, vestindo amarelo dessa vez, descalça e com um chapéu rosa bebê, sem fitas. No ombro havia uma bolsa pequena, na mão tinha ataduras enroladas. Na boca levava um pequeno sorriso triste e nos olhos muito medo. Veio devagar, como se o próprio vento levasse-a e ela apenas flutuasse. Ela era tão elegante daquele jeito! Sasuke rezava por sua vez de tomar banho também – ultimamente os guardas estavam levando muitos para isso – para que ele pudesse ficar tão bem como ela estava.

Sasuke sorriu de orelha a orelha, seus olhos negros se iluminaram como a lua iluminava o céu. A garota cheirava a tudo o que Sasuke nunca havia visto antes, e a beleza e limpeza e simplicidade dela o agradavam de um jeito que ele nunca sentira antes.

Ergueu o caderno, para que ela pudesse ver.

— Venha, você não vai se machucar mais – garantiu, esperando que ela chegasse mais perto. Os olhos perolados percorreram a cerca até o final, com medo. Mas a garota apenas se sentou no chão, um metro dele. Sasuke se sentou também, botando o caderno, o papel amassado e o lápis na sua frente, onde ela pudesse ver. – Ontem à noite eu pensei num jeito que pudéssemos nos falar... – viu-a assentir, prestando atenção. – E pensei em aviões de papel... Podíamos passar isso por cima da cerca... E então você não se machucaria.

Ela olhou para cima, vendo o quão alta a cerca era. Sorriu para ele, como se dissesse que concordava.

— Sabe fazer um avião de papel? – Sasuke perguntou. Ela balançou a cabeça negativamente. – É muito fácil... – arrancou um papel do caderno dela e dobrou para que a menina visse. Da bolsa ela tirou outro caderno, dessa vez com a capa roxa. Começou a acompanhá-lo na dobradura, seguindo cada passo e rindo toda vez que ele se enganava ou ela não prestava atenção. Sasuke ria junto dela, se divertindo. – Então é só escrevermos algo dentro. – E ele próprio começou a escrever, com o lápis que havia pegado dela. A menina também escreveu, com outro lápis que havia levado.

Terminou primeiro e o observou traçar as palavras lentamente, como se tivesse muita dificuldade. Se tivesse que escolher, Sasuke preferia continuar falando, mas se aquela garota não tinha voz e só podia falar com ele por cartas, então ele faria o mesmo. Alguns minutos depois ele terminou e levantou-se, correndo para longe. Ela fez a mesma coisa, olhando cada movimento dele.

Os dois tinham aviões de papel na mão. Sasuke pulou e o lançou, o vento bateu contra o avião e o fez ir mais rápido, caindo do lado dela numa fração de segundos. Ela riu divertida, jogando o seu também, porém sem pular. Sasuke achou isso curioso, mas não pensou muito, apenas pegou o avião e o abriu, depois de ver que ela fazia isso com o seu também.

“Somos amigos?”

Era a única coisa que estava escrito lá. Sasuke sorriu para a carta e ergueu os olhos, vendo-a sorrir sobre a sua também. Assentiu para ela, que encostou o papel dele contra o peito, com um doce suspiro cortando o ar.

“Toda vez que eu acordo estou na mesma cama, cercada por quatro paredes e com um vaso de plantas do meu lado. Papai me trás roupas e presentes todos os dias, mas eu não ligo muito para isso. Eu sei que ele está sorrindo na minha frente, mas por trás está tão triste... Também sei que ele não gostaria de me prender lá, e ele já me disse tantas vezes que queria me levar para a casa, mas não tem nenhuma escolha. Eu rezo todos os dias para que ele não saia do meu quarto triste; eu não quero isso para ele.

Ele sempre foi um homem forte, então eu tento ser forte também, por ele. Mas é muito difícil quando tudo o que eu vi no mundo foi um cubículo pequeno como aquele. É difícil quando tudo o que eu tenho é alguns minutos com ele – papai trabalha muito, então ele só vem me visitar às vezes – e com alguns presentes que eu mal posso aproveitar.

Foi assustador quando eu fugi pela primeira vez, mas eu não me arrependo. Eu te conheci. Eu sou muito grata por isso, porque você é o único que pode me entender. Ninguém mais está preso como eu estou. Só você.

Um dia eu vou entrar ai, e talvez nós possamos ser melhores amigos... Eu ia adorar ser sua melhor amiga. Veja só, eu estou me esforçando para voltar a falar. Todo dia Dona Kurenai entra no meu quarto e me ajuda com isso. Dona Kurenai é muito gentil, eu queria que você a conhecesse. Será que ela aceitaria vir comigo? Você gostaria de ver ela, Sasuke?

Quando eu começar a falar nós vamos poder parar de mandar cartas, eu sei que isso é complicado para você. Eu não quero que você deixe de dormir para escrever – não há outro jeito de você fazer isso?”

“Dona Kurenai vem me ver frequentemente. Ela está quase todo dia na minha prisão. Ela fala para eu não chamar meu quarto assim, mas eu não gosto de quarto, por que aquilo não é um quarto para mim.

Apesar de eu gostar das visitas da Dona Kurenai, estou preocupada que ela venha me ver quase todo dia. Será que é por que... Ah, nada, eu não quero te incomodar com essas bobagens, esqueça.

Mas, Sasuke, se eu não conseguir voltar a falar, terá algum problema? Você não irá ficar magoado, irá? Eu queria que tivesse outro jeito que nós pudéssemos nos falar, além de aviões de papel.

Tem uma coisa muito legal que eu queria te falar! Dona Kurenai achou uma carta sua – mas ela não leu, eu disse que era do meu diário –, percebeu que estava dobrado em forma de avião e me ensinou a fazer um chapéu de marinheiro. Você sabe o que é um marinheiro, Sasuke? Papai me disse que eles são guardas do mar. Existem guardas da terra e guardas do mar, marinheiros são guardas do mar. Não parece divertido? Você acha que existe algum tipo de guarda do céu? Talvez tenha. Seria interessante.

Dona Tsunade reclamou que eu não venho tido as aulas que deveria ter. É sobre o homem que nos governa. Papai me disse seu nome, mas eu realmente não sei escrever – ele na verdade me disse para parar de escrever qualquer coisa, isso toma minhas energias –, então eu não vou te escrever, pois você pode aprender errado e isso não é legal. Mas eu já vi uma foto dele. Ele parece simpático, mas seus olhos me dão medo.

Quando eu sair da minha prisão, espero poder voltar os estudos. Você já estudou alguma vez, Sasuke? É tão bom aprender coisas novas!

É realmente sério o que você me disse sobre a comida? Aqui eles também controlam minha refeição, há muitas coisas que eu não posso comer. Acho que estamos em lugares muito parecidos... Você não acha?

Desculpe, estou falando demais.”

“Eu sei que é errado ouvir atrás da porta, mas acabei ouvindo Dona Tsunade falando com papai. Ela tomou todo o tempo que ele tinha comigo, mas eu confesso que não estou assim tão incomodada. O que ela disse para ele foi que eu teria que passar mais tempo aqui – eu não irei sair no dia previsto.

Eu não quero mais ficar aqui, Sasuke. Eu quero muito sair desse lugar, eu não aguento mais nenhum dia aqui. A única coisa que me anima é reler o que você já me mandou. Eu quero tanto ser adulta! Quando eu for adulta e você também, vamos mandar em nós mesmos, então sairemos desses lugares. Se eles nunca te disseram isso ai, é só porque eles não querem que você saia. Não acredite neles!

Nós podíamos visitar outras cidades, campos... E se nos tornássemos navegadores? Oh, Sasuke, isso seria tão legal!

Eu quero crescer logo. Só seremos eu e você.

Dona Kurenai parou de vir aqui... Acho que ela não quer que eu volte a falar. Ou ela só não sabe o que fazer mais. Eu juro que estou tentando, Sasuke, eu juro com todo o meu coração.

Eu vou parar de escrever, estou ficando muito cansada. Isso tem acontecido muito todos os dias, eu já não sei o que fazer, não importa o que eu coma ou beba, vou ficando mais desanimada a cada minuto. Agradeço a Deus que eu tenha você como amigo.”

Sasuke fechou a carta, suspirando e olhando para o céu. Estava ajoelhado, ela havia acabado de ir embora outra vez, e parecia exatamente com o que havia descrito: desanimada, triste. Não havia mais nada que ele pudesse fazer, além de ficar ali e a esperar no outro dia. Era a sua única felicidade. Vê-la todo dia, sorrindo ou mexendo no cabelo, usando um chapéu novo. Era sua única esperança.

Queria acreditar que ainda sairia dali e estaria com ela do outro lado da cerca. Queria estar com ela do outro lado da cerca. Mas ele percebia só agora, depois de mais de três meses que eles trocavam cartas, o quanto aquilo era impossível. Ele nunca sairia dali. Morreria de fome, ou sendo torturado, como via acontecer com outros ali dentro. Ele morreria e não estaria com ela. Sorriu tristemente.

Só era livre quando, de noite, escondido de todos, conseguia escrever as cartas para ela. Era o único momento onde Sasuke se sentia uma pessoa, e não um rato perambulando pelos cantos. Aquela garota o tinha como alguém importante, mesmo que ao lado dela ele não parecesse nada. Havia uma fenda enorme entre os dois, ele sabia. Ela era boa demais para enxergar uma coisa dessas. Apertou a carta nas mãos.

Era a única coisa preciosa que tinha. Seu irmão fora levado e não voltara, ele não queria ser levado também. Os olhos doíam, inchados por causa do sono não dormido. Sasuke deixou uma lágrima escorrer e molhar o chão seco. Ela nunca saberia o quanto ele sofria por dentro.

Ele a amava. Ele a amava, se amor era o que sua mãe lhe dizia quando era apenas uma criança.

Era uma mentira achar que eles poderiam ficar juntos, mas aquela menina transformava todas as suas mentiras em verdades muito doces.

Sasuke fechou os olhos, desejando acordar em outro lugar.

Não estava tão quente como os outros dias, o clima estava agradável para ele. Esperou ansioso que ela aparecesse, seu coração batia rápido como vinha acontecendo já fazia uma semana toda vez que pensava nela. Queria vê-la sempre, queria poder tocá-la e chegar perto, muito mais perto. Então ele a viu vindo, vestindo branco como na primeira vez que ele a vira. Na cabeça estava o chapéu branco de fita cor-de-rosa, combinando com as bochechas coradas. Os lábios dela estavam secos e sem vida.

Dessa vez a garota não se aproximou como fazia sempre. Segurando o chapéu, ela lançou o avião de papel que já estava em mãos, assistindo-o triste, Sasuke viu, atravessar a cerca e cair no pé dele. Arqueou as sobrancelhas, em dúvida. O que ela estava fazendo? Porque não chegava mais perto? Estranhando, Sasuke abriu a carta.

“Sasuke, já não posso estar com você. Eu irei para um lugar muito longe, um lugar onde você não poderá estar.

Saiba que foi um dos bens mais preciosos de toda a minha vida.

Adeus.”

Ele levantou os olhos arregalados, as sobrancelhas juntas. Viu-a então balançar a mão e se virar, saindo correndo de lá. Aquilo não era verdade, Sasuke pensou. O papel escorregou de suas mãos e alcançou o chão. Sem querer, ele pisou em cima, andando até a grade. Ela iria voltar. Estava brincando.

Seu peito doeu. Quis chamá-la, mas sua boca se fechou, os olhos se banharam nas lágrimas. Ele não sabia o nome dela. Aproximou-se da cerca, queria sair daquele lugar, queria buscá-la, queria perguntar o que havia acontecido. Ele enganchou as mãos entre o arame farpado, o ferro cortou sua pele, fez furos em todo seu braço. Sasuke agarrou aquilo com mais força, queria ir embora. Gritou de dor, gritou esperando que ela voltasse para ajudá-lo, gritou esperando que aquele negócio sumisse. Ela era o único motivo para ele continuar acreditando.

Sangue manchou a areia, gritos chamaram a atenção dos guardas. Não sentia nenhuma dor física, tudo o que sentia era seu coração ser destroçado. A garota, cujo nome ele não sabia, era sua felicidade. Ela era tudo o que ele tinha. Ela não podia desaparecer...

...Ela não podia. Mais sangue pingou, até que ele ficasse mais pálido do que já era todo dia. Mais sangue pingou.

Dormiu abraçando cada papel que guardava debaixo da cama velha de madeira. O local era sujo, as cartas estavam sujas, ele estava sujo, mas não queria sair dali. Não queria se levantar, aquilo já fazia dias. Seu estômago já não roncava de fome, seus olhos não abriam mais. Sentiu um chute na barriga, gemeu de dor, se encolhendo mais sobre o chão. Tentou ver quem era.

— Mais que porcarias são essas, imprestável? – Era um dos guardas, com a voz fria e seu uniforme bem arrumado. Sasuke não se moveu, mas ao ver que ele falava de uma das cartas, que já até tinha em mãos, ele tentou se sentar, finalmente acordado. Antes que voasse em cima dos guardas, um lhe segurou por trás, deixando-o de joelhos. Ele abriu a carta. – Estava falando com alguém de fora?! – gritou, irado. O coração de Sasuke falhou uma batida. E se eles soubessem quem era ela? E se eles a pegassem?

Ela não merecia passar tudo o que ele já havia passado. Preferia passar por ela.

— Acha mesmo que conseguiria sair daqui, seu rato imundo?! – E rasgou a carta em vários pedaços. Outros guardas riam, inclusive o que segurava Sasuke. Os olhos deles se arregalaram em puro ódio, duas únicas lágrimas se formavam nas laterais. Quando o guarda tentou pegar mais uma, Sasuke não se aguentou, ele se moveu de forma tão forte que o que o segurava o soltou sem força, e o moreno pulou em cima do outro guarda, socando-o tão forte e com tanta raiva, que todos juraram que o rosto dele se desfiguraria. Assim que o moreno fez isso, os quatro o seguraram mais forte, dando-lhe socos e chutes em todo o corpo. Encolheu-se chorando de dor e raiva.

A última coisa que ele ouviu antes de ficar desacordado de tanto apanhar, em todos os lugares e de todas as formas, foi alguém dizendo:

— Levem-no agora mesmo! – E tentando abrir os olhos roxos e inchados, ele soube de onde conhecia os olhos dela...

Dessa vez, quando se levantou, estava num lugar onde a garota dizia passar o maior tempo: um quarto com quatro paredes. Mas não havia vasos de planta, não havia muita luz, além a de uma janelinha muito pequeno e que ficava muito alta para ele ver algo. Tinha sangue seco nos lábios e queria água. Fazia muito tempo – ele não sabia quanto, mas fazia – que não tomava algo. Olhou em todo o redor e concluiu, dolorido fisicamente e emocionalmente: estava ali para morrer. Morrer de fome, sede e na própria imundice.

Sasuke queria viver mais um pouco, queria viver apenas para vê-la outra vez... Chutou e bateu na porta várias vezes, implorando para que lhe tirassem daquele lugar.

— EU QUERO FALAR COM ELA!

Ninguém o ouviu. Ninguém abriu a porta. Ele tentou destruir aquele lugar, no ápice da sua loucura, tentava arranhar as paredes com as mãos, suas unhas se enterravam entre os espaços dos tijolos e ele as prendeu lá, saiu sangue para todos os lados, Sasuke perdeu todas as unhas. Mais lágrimas rolavam toda vez que ele se lembrava dela.

Acabou caindo de fraqueza no chão, ouvindo apenas a própria respiração e o choro ir embora. Não tinha mais lágrimas, não tinha mais água no corpo.

Quero te ver.

Quero te ver.

Quero te ver.

Quero te ver.

Nas ervas profundas das tristezas e mágoas que ele vivia, ela era a única flor que crescia: bela, nítida e branca. A última coisa que ele sentiu foi seu peito doendo na profunda escuridão do quarto. Sasuke fungou.

— Eu não sei o seu nome...


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Notas finais do capítulo

Todos os espaços são propositais KKKKKKKKKKKK
Espero q tenham gostado e q eu tenha deixado vcs ao menos um pouco na bad hahahaha
Um grande bj, te vejo no próximo ;D