Por que estou tão emotivo?/Não, não dá pra ficar assim/Preciso de auto-controle/E lá no fundo eu sei que isso nuca funciona

Eu estava melhor, e isso me assustava. A sensação de torpor e vazio em meu coração estava sendo substituída pela saudade. O luto não sufocava mais a minha alma e isso me incomodava. Vivi muitos anos nas trevas e minha visão ainda não estava totalmente preparada para a luz, sentia que a ferida que necrosava meu ser estava transformando-se numa cicatriz rósea e inofensiva. Uma sensação de traição queria inundar meu corpo. Meu relacionamento com o Ronald não foi arrebatador ou inflamado, éramos dois adolescentes descobrindo as glórias do primeiro amor.

Ele foi meu primeiro em tudo, primeiro beijo, primeiras palpitações incontroláveis no peito que me faziam olhar para os lados para ver se alguém percebia, de tão forte que eram. O primeiro desejo, não aquele só de beijos e abraços, mas de carícias e noites mais acaloradas. O sexo que sempre fora um tabu para mim foi quebrado por um garoto de intensos olhos azuis e cabelos ruivos, nunca me arrependi daquela noite, e das outras seguintes, no chalé das conchas. Éramos amigos, ele era a pessoa certa. Mas tudo se foi como se eu tivesse acordado de um sonho magnífico e aberto os meus olhos para a realidade maculada e tórrida da guerra.

Depois da não conversa com a Gina o meu relacionamento profissional com o Malfoy melhorou, ainda não tive coragem de pedir desculpas ou qualquer coisa do tipo, mas suportava ficar 5 minutos olhando pra sua cara sem querer matá-lo ou estupora-lo. Numa noite de sexta-feira qualquer o loiro até limitou-se em me desejar um bom fim de semana ao encontra-me nos corredores da clínica, precisava resolver esse assunto o quanto antes.

O inverno já estava em seu auge monumental, destruindo árvores com nevascas estrondosas, o que não era muito natural nessa região. Com a chegada do natal e as festas de fim de ano onde normalmente me escondia em algum pub ou simplesmente sozinha em casa, comemorar junto com minha família de coração era algo totalmente novo e assustador. Meu coração palpitava em imaginar não estar mais sozinha e fazia-me imaginar que depois de grandes perdas é possível sim respirar novamente.

Depois de comprar todos os presentes possíveis para os Wesleys e Potters fui arrrumar-me para o tão esperado encontro. Olhando-me no espelho me sentia uma gata pronta para o ataque, linda e poderosa como nunca me imaginava ficar. Onde está aquela Hermione fofinha? Morreu e deu lugar á uma bela mulher.

Depois de aparatar na casa dos Potter respirei fundo e dei duas batidinhas rápidas na porta, sendo atendida por um ruivo belíssimo trajado numa veste bruxa toda preta e impecavelmente passada. Seus olhos se esbugalharam em reconhecimento encarando-me de cima a baixo como se não acreditando no que visse. Sem que eu esperasse ele me abraçou e rodopiou-me no ar como se eu fosse tão pesada quanto uma pena.

–Migatinha!!-ele gritou e como se fosse um chamado uma confusão de cabelos ruivos aglomerava-se em minha volta envolvendo-me numa atmosfera cheia de amor tão conhecida por mim. Sim é muito bom está em casa.

A festa nos Potter rolava animadamente, casais rodopiavam pelo salão crianças corriam para lá e para cá e eu me escondia num canto segurando um lindo menininho de cabelos azuis. Incrivelmente o Teddy grudara em mim quando me vira e recusava outro colo. Observando-me de um canto do salão o loiro de olhos cinzentos me encarava nada discretamente. Meu nervosismo pelos seus olhares me faziam esvaziar rapidamente minha taça de hidromel, sentia-me mais leve e um pouco alta. Quando a Gina discretamente tira o Teddy dos meus braços o loiro finalmente se levanta caminhando em minha direção.

–Não acha que já bebeu demais Granger? Ou você quer dar um show logo depois da ceia?

–Mesmo achando que não é da sua conta doninha quicante, eu estou muito bem obrigada e ainda consigo andar sem esbarrar em ninguém.

–ótimo saber disso, vem levanta-diz ele estendendo suas mãos finas e brancas em minha direção- vamos dançar sabe-tudo. Vamos ver se você é boa em tudo que faz.

A contra gosto levanto-me segurando firmemente em suas mãos disposta a mostrar do que sou capaz. Ele leva-me ao centro do salão enlaçando-me com seus braços me fazendo dançar graciosamente ao som da música trouxa. Encarava aqueles olhos outrora frios e calculistas agora tranquilos com a leve frieza ainda lá, mas apenas tranquilos. Suas mão apertavam levemente a base da minha coluna me aproximando ainda mais de seu corpo. Levando minha boca a sua orelha digo num sussurro de provocação.-Acho que já tem a sua confirmação.Sou boa em tudo o que você imaginar.

Ele afasta-nos levemente e encara minha face levemente bêbada e sorri em descrença. -Está tentando me seduzir Granger?- Sussurra o loiro soltando um riso de escárnio. -Você está bêbada,acho que é hora de ir para casa sabe-tudo.

–Não mesmo agora que a noite estava ficando interessante você que se livrar de mim Malfoy?

Digo num sussurro rouco e embolado-Vamos Granger eu te levo em casa. –diz o loiro já me puxando para fora e aparatando na porta de meu apartamento,no meu momento de embriaguez nem estranho o porquê do loiro saber onde eu morava.

–Agora você vai entrar ai tomar uma ducha gelada e voltar ao seu normal.Adeus sabe-tudo.

Em vez de deixa-lo ir embora eu puxo o seu pulso o fazendo se virar para mim arrebatando os lábios do loiro para um beijo inicialmente calmo que se transformou numa confusão de línguas e mãos.Em segundos estava com as costas imprensadas na parede do corredor segurando possessivamente os cabelos lisos do sonserino dando leves puxões de incentivo.Suas mãos percorriam a lateral de meu corpo como se procurando uma forma de fundir ainda mais nossos corpos.Quando um leve gemido escapa de meus lábios o loiro como se tivesse voltado a si afasta lentamente os nossos corpos.

–Você vai se arrepender disso amanhã,então é melhor pararmos por aqui Hermione,a ressaca vai te trazer uma bela dor de cabeça e um enorme arrependimento.-Diz ele ainda segurando minha cintura.

–Fique- é a única resposta que minha mente conturbada consegue pensar naquele momento. Meu corpo parecia clamar por um momento que prolongasse o que eu estava sentido,esse leve entorpecimento misturado a arrepios involuntários toda vez que ele me tocava.Eu reconhecia o desejo apenas gostaria que aquilo não acabasse,ou não.

Quebrando com todas as minhas expectativas o loiro encosta levemente os lábios nos meus como se degustando um vinho precioso e tão rápido como antes se afasta frustrando meus pensamentos nada puros. –Até mais Granger,quando estiver sóbria conversamos.-diz ele se afastando em direção a saída e sumindo do meu campo de visão com um leve ruído de aparatação.

Dirijo-me a meu apartamento abrindo abobalhadamente a porta e trancando-me no mesmo.Escorrego lentamente em direção ao sofá pensando apenas uma coisa. Eu beijei Draco Malfoy e além disso eu o convidei para a minha cama. Com a cabeça rodopiando em pensamentos confusos e embriagados adormeci no sofá quase instantaneamente,me preparando para a ressaca e para a vergonha matinal.