Depois de um mês internado, Ron estava finalmente voltando para casa, não estava totalmente livre do hospital e dos médicos, pois parte da sua recuperação precisava ser feita sob os acompanhamentos médicos. De certa forma, Ron sentia-se confortável naquele quarto, ainda se lamentando pela sua perda e protegido do que o esperava lá fora. Voltar para casa e consequentemente para sua vida normal o assustava, não sentia-se preparado para encarar a sua nova realidade.

–Pronto? –Hermione entrou no quarto e acabou assustando o marido que olhava pensativo para a janela. –Desculpe, não queria te assustar.

–Tudo bem. –Ron se apoiou a muleta que aprendera a usar nos últimos dias. –Pedi à enfermeira que me deixasse sair dignamente, sem cadeira de rodas.

–Precisa de ajuda? –perguntou ela tentando soar o mais natural ao vê-lo amparado pelas muletas.

–Se puder carregar minha mala. –pediu um pouco envergonhado.

–Claro. –Hermione sorriu, segurou sua mala e abriu a porta. –Vamos?

–Vamos. –correspondeu ele tentando mostrar um sorriso.

Enfermeiras e médicos paravam no corredor para se despedir, mesmo com seu temperamento difícil e momentos de raiva, Ron era muito querido por todos, afinal eles faziam parte de uma cidade composta basicamente por militares e suas famílias e o ato feito pelo jovem Weasley era classificado como heroico pelas pessoas.

–Acho melhor te avisar. –Hermione quebrou o silêncio total que pairava dentro do carro. –Seus pais, meus pais, seus irmãos... Você sabe, todo mundo está lá em casa te esperando.

–Imaginei. –a ansiedade aumentou e Ron não se sentia pronto para chegar em casa.

Conhecendo bem a sua família, Ron sabia que uma grande festa o esperava. Enquanto Hermione dirigia pelas ruas conhecidas que os levavam para casa, Ron prometeu a si mesmo que tentaria ao máximo demonstrar felicidade pela presença de todos os familiares em sua casa, quando tudo que ele mais queria era ficar quieto e sozinho.

A festa ficou completa com a chegada de Ron, todos estavam na apertada sala de estar para abraça-lo e dizer o quanto estavam felizes com a sua volta. Ron forçou um sorriso e cumprimentou seus irmãos, cunhadas e sobrinhos.

–Pegue, meu filho. –Molly trouxe um prato transbordando de comida.

–Estou sem fome, mãe. –respondeu Ron sem vontade de comer enquanto fingia interagir com os irmãos.

–Você precisa comer, Ron. –falou Bill, seu irmão mais velho.

–Nós pescamos o peixe. –disse Jorge.

–E assamos na sua churrasqueira. –completou animado Fred.

–Vamos, Ron! –Percy incentivou o irmão mais novo. –Desde bebê você nunca recusou comida, principalmente a comida feita por nossa mãe.

–Pronto! –Ron pegou o prato e começou a comer. –Agora vocês podem me deixar em paz?

Hermione ficou de longe observando o comportamento do marido, sabia que ele estava disfarçando e o quanto ainda estava ressentido com ela.

–Você vai ficar bem? –perguntou Ginny trazendo Hermione de volta dos seus pensamentos.

–Sim. –respondeu ela tentando parecer segura.

–Ainda acho que deveria ter aceitado a ajuda da minha mãe. Como irá cuidar de Ron e das crianças?

–Ron ficou muito tempo longe de casa, o melhor para ele é se recuperar aqui.

Molly havia convidado Hermione, Ron e os netos para ficarem em sua casa até Ron estar recuperado. Hermione agradeceu a oferta, mas depois de todo o tempo longe de casa, eles precisavam ficar juntos e serem uma família.

–E o melhor para você, Hermione? –Ginny estava preocupada com a amiga e cunhada.

–No momento, eu preciso pensar no que é melhor para Ron e minha família.

–Eu entendo, eu faria o mesmo.

–Obrigada, amiga. –agradeceu Hermione por Ginny entender e respeitar a sua escolha.

A festa terminou no começo da noite, assim como acontecia todas as vezes que a família se reunia, a bagunça foi arrumada por todos. Molly guardou o que sobrou da comida para Hermione não se preocupar em cozinhar para o marido e os filhos.

–As crianças já estão dormindo. –avisou Arthur antes de ir embora.

–E as sobras na geladeira. –completou Molly ao terminar de lavar a louça. –Nos próximos dias eu volto com mais, farei aquela sopa de abobora que Ron adora.

–Obrigada, Arthur. –agradeceu Hermione pela ajuda. –Não se incomode ,Molly, posso me virar.

–Eu sei, querida. Mas você estará tão ocupada cuidado das crianças e de Ron que não me custa nada ajudar. –Molly a abraçou.

–Boa noite. –Hermione se despediu e fechou a porta, agora seus filhos e marido dependiam totalmente dela.

Ron agradeceu quando todos foram embora, não aguentava mais fingir que estava adorando sua casa lotada e todos dizendo o que ele deveria fazer ou comer. Só queria dormir o máximo que pudesse, era o único modo de esquecer sua nova condição física.

A casa ficou silenciosa depois que todos saíram, ainda conseguia-se escutar as vozes se afastando e o barulho dos carros partindo. Hermione olhou para o marido sentado no sofá encarando a parede, sem força ou vontade alguma para sair dali.

–Ron? –ela o chamou cautelosamente. –Quer uma xicara de chá?

–Não. –respondeu ele friamente. –Vou dormir.

–Espera. –Hermione pediu antes que ele subisse a escada e o levou para um cômodo ao lado da sala que ela utilizava como escritório.

O escritório havia se transformado em um quarto. Bill e Percy trouxeram uma cama muito semelhante com a qual Ron utilizou no hospital e a montaram. Hermione colocou seus livros em caixas e pediu para que Harry os levasse para o sótão. Molly e Rachel arrumaram o cômodo da melhor maneira, deixando confortável e espaçoso o suficiente para Ron se movimentar sem esbarrar em nada com as muletas.

–O que é isso? –perguntou Ron ao ver o que virara o escritório.

–Achei melhor você ficar aqui embaixo, por enquanto, até se recuperar e começar a usar a prótese. –respondeu Hermione com receio da reação dele. –Assim você não precisa subir as escadas. O banheiro também está adaptado para você usar.

–Sim, agora eu sou um incapacitado e tudo precisa ser adaptado. –sorriu Ron sentando na cama e olhando para o seu novo quarto. –Tem mais alguma coisa que você achou melhor fazer sem a minha autorização?

–Ron, eu só achei...

–Esse é o problema, você sempre acha que sabe de tudo! –esbravejou ele sem se importar se falara muito alto e poderia acordar os filhos. –Então aqui vai, sabe-tudo, você está errada! Bom, antes que você tente fazer algo brilhante novamente, eu gostaria de ficar sozinho nesse meu novo quarto e dormir. Posso?

–Boa noite, Ron. Se precisar de alguma coisa é só chamar, estarei lá em cima. –ela se retirou segurando suas lágrimas.

O relacionamento e os sentimentos seriam postos em segundo plano, Hermione iria honrar as promessas feitas no dia em que se casou com Ron e estaria do seu lado na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, nos bons e maus momentos.