Avalanche escrita por Aarvyk


Capítulo 8
Angeles


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, espero que gostem!



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Edwin fez questão de ficar acordado até tarde em minha última noite em Buckingham, vendo alguns filmes comigo e jogando conversa fora sobre assuntos que não me deixasse triste, como questões militares e sociais de nosso país. Eu amava nosso povo, amava a honra inglesa acima de tudo, não conseguia me render a vida em outro lugar que não fosse ali. Sequer havia saído daquela ilha por mais de duas semanas, mal conseguia imaginar o que seria de mim em três meses, que era o respectivo tempo até a coroação de Cameron e seu eventual casamento com Kaya.

Quando o despertador tocou, eu sabia que o dia de ir para Angeles havia infelizmente chegado. Meus olhos não queriam se abrir, em partes porque estava morrendo de sono, Edwin havia garantido que dormir pouco me ajudaria a ter uma desculpa durante a viagem para ficar longe de todos descansando. Só de pensar que estaria longe de meus amados irmãos, por mais que andasse brigando com Cam, me doía demais por dentro.

Levantei-me sem disposição, vestindo as roupas que havia pedido a Eli que separasse, um vestido curto fechado e uma jaqueta de couro preto. A criada iria comigo para Illéa, era a única pessoa que sabia exatamente o jeito que Avery Black seguia sua rotina, só pude agradecer pela negociação de meu gêmeo na ideia de levá-la comigo, assim como um pequeno batalhão de sete soldados ingleses, todos escolhidos a dedos por mim. Jasper não estava entre eles.

Depois de vários minutos, terminei de arrumar a pequena mochila que levaria comigo, cheia de opções para evitar contato durante o longo voo que me esperava, como livros e alguns debates da Câmara dos Comuns, o suficiente para me entreter por horas.

Assim que saí dos meus aposentos, me deparei com Dallas, o soldado que comandava o batalhão que iria comigo para Illéa, ele também era filho de um lorde conselheiro, no entanto, sua família era menos prestigiada que a dos Schmidt.

— Estamos prontos, Vossa Alteza – disse, acompanhado de um menear de cabeças. – Mas a senhorita está atrasada alguns minutos.

Meus olhos cansados me declaravam culpada. Tudo o que pude fazer foi andar um pouco mais rápido até o salão de entrada, o mesmo local em que estivera menos de dois dias atrás com os russos. Quando adentrei as grandes portas, notei que os monarcas de Illéa já estavam a minha espera, assim como seus três filhos e meus irmãos. Rei Desmond II não estava, para meu alívio e deboche.

Apenas notar a presença de Alexander fazia meu estômago revirar, ele parecia ainda mais alto e forte com as roupas que vestia naquela manhã, o cabelo loiro estava quase tão rebelde quanto o de Jasper. No entanto, eu só vi seu rosto por um leve instante, assim que notou minha presença, fez questão de se virar e começar a conversar com o pai, rei Maxon, que pareceu rir com algum comentário dito pelo filho.

— Vamos – senti a mão do soldado em meu ombro, e agradeci mentalmente por ter me apressado.

Mandei um olhar solidário para Dallas, e depois segui na direção de meus irmãos. Rainha América não parecia incomodada com minha demora, abraçava Kaya com força, ambas quase chorando com a despedida. Talvez a monarca estivesse grata por eu ter concedido alguns momentos a mais com sua filha. A ligação materna que vislumbrei me lembrava em partes a que eu tinha com minha própria mãe. Antes que eu pudesse me aprofundar nisso, abracei Edwin e Cam ao mesmo tempo.

— Amo vocês mais do que tudo – sussurrei, notando que os dois haviam ficado envergonhados com aquilo. Fazia tempo que eu não demonstrava em palavras. – Mas ainda quero te degolar, Cameron.

Meu gêmeo riu nervoso, ele me conhecia muito bem. Edwin começou a chorar em silêncio.

— Não faça isso comigo! – pedi, tentando lutar contra minhas próprias lágrimas.

— Também te amamos, irmã – disse Cameron, que suprimia as emoções de seu tom de voz.

Nossa mãe chorava muito apesar de ser forte, Edwin havia puxado a personalidade sensível dela quase que inteira, mas suas feições eram quase as mesmas de Desmond II. No entanto, eu e Cameron reprimíamos muito tudo o que sentíamos, talvez igual a nosso pai, não sabíamos muito bem dizer o que se passava na cabeça daquele monstro, não era algo que perdíamos tempo pensando.  

— Faça uma boa viagem, Avy – disse o caçula, por fim.

Meu gêmeo estendeu o braço, guiando-me até rei Maxon e rainha America, que terminavam sua despedida com a princesa Kaya. Ela me olhou com um sorriso, mesmo que chorasse um pouco e, inesperadamente, me abraçou com força, suas mãos pequenas apertando minhas costas quase cicatrizadas. A expressão de dor veio em cheio, mordi meus lábios até sentir o gosto de sangue.

Cameron percebeu na hora.

— Kaya! – seu tom de voz alto e preocupado fez com que a garota se afastasse de mim assustada.

— Minha irmã tem um problema pulmonar... – meu gêmeo apressou-se em inventar uma mentira para os monarcas de Illéa, que olhavam atentos para o sangue que escorria de meus lábios. – Ela não se sente muito bem com... Abraços fortes...

Ofeguei por alguns instantes, aceitando o lenço que o soldado Dallas havia pegado rapidamente em seu bolso. Limpei minha boca enquanto me tremia um pouco, odiava o gosto de sangue, trazia péssimas lembranças. Minha visão ficou turva por alguns instantes.

— Eu sinto muito, princesa Avery. – Escutei a voz fina de Kaya, ela parecia realmente chateada com a situação. – Queria apenas me despedir. E também garanto que amará Angeles. O verão é minha estação preferida, o castelo fica ainda mais lindo!

A voz dela me irritava, e pude escutar que Cameron fazia o possível para garantir a todos que não passava de um problema pulmonar por termos nascido prematuros.

— Senhorita – Dallas colocou sua mão cuidadosamente em meu ombro, quase pude jurar que ele havia descoberto meu segredo. – Tente respirar fundo três vezes e soltar o ar pela boca. Garanto que irá ajudar.

Assenti com a cabeça, fazendo o que ele havia sugerido. Pisquei os olhos algumas vezes, voltando a realidade. Quando minhas forças haviam retornado, eu só queria ir embora daquela situação de uma vez. Ignorei os olhares dos monarcas, por mais rude que pudesse parecer. Alexander e Mason conversavam como se nada tivesse acontecido, Edwin chorava silencioso sem notar que eu ainda estava ali.

Confusa em pensamentos, só fiz a primeira coisa que me veio à mente. Me sentia sufocada.

— Vamos, vamos logo com isso – falei, alto e claro, dando as costas a todos e seguindo em direção aos portões do palácio.

Não me lembro muito bem o que havia acontecido logo depois daquilo. Minha mente não estava funcionando, afundada nas sensações ruins que sentia desde os doze anos, quebrada em estilhaços por não conseguir prever um final feliz para minha vida. Apenas fui pela direção que me encaminhavam, de um transporte para o outro, sendo vigiada por olhos com intenções desconhecidas.

Subi a pequena escada do avião com passos rápidos, fiz questão de ser a última a entrar para ver as poltronas que os meus acompanhantes de viagem haviam escolhido. Não teria a companhia de Dallas ou Eli naquela etapa, somente a realeza viajava na classe A, e aquilo só me lembrava do quanto monarquias eram chatas.

Rainha América e rei Maxon sentavam confortáveis um ao lado do outro, deixando os dois assentos de frente para eles vagos. Entretanto, os dois príncipes haviam feito o mesmo com o outro jogo de quatro poltronas que o avião comportava. Odiei aquilo, minha escolha era óbvia.

Sentei-me cuidadosamente na janela, de frente para Alexander, que mal me encarava, cobrindo a boca com uma das mãos, sempre em seus próprios pensamentos, imersos em algo que eu não conseguia compreender. Permanecemos por bons minutos naquele silêncio mortal, até que Mason sorriu para mim, emanando uma certa curiosidade.

— É uma pena que só viemos a ter contato agora – ele disse, sua voz era menos irritante que a de Kaya. Mas suas intenções eram bem menos pueris que as dela.

— Estive ocupada – respondi, desviando o olhar do príncipe-herdeiro para a janela e encarando a mesma vista que deixava Alexander tão pensativo. Não havia nada de interessante ali. – Espero que meu irmão tenha feito uma ótima recepção.

— Ele fez – Mason não se deu por vencido, me encarava com uma curiosidade que não parecia boa. – Aliás, soube que gosta de xadrez. Por que não me dá a honra de jogarmos uma partida durante o voo?

Antes que eu pudesse recusar por estar cansada demais para aquilo, o príncipe já havia chamado um de seus criados. Em questão de segundos, o tabuleiro havia sido montado na pequena mesa fixa que me separava dos príncipes. As brancas estavam postas ao meu lado.

— Quer mesmo que eu comece? – perguntei, sem notar o quão rude aquilo havia soado. No entanto, por um segundo pude notar um pequeno sorriso se formar nos lábios de Alexander, que ainda encarava a janela do avião.

— Primeiro as damas. – Mason pôs-se a dizer, ignorando o tom irônico que eu usara com ele.

Fingindo uma expressão cortês ao futuro soberano de Illéa, fiz o meu primeiro movimento. Apressado e ansioso pela vitória, notei que ele deixava um dos pontos de sua defesa quase aberto. Me aproveitei daquilo. Em cerca de vinte lances, fiz meu movimento final com o cavalo, e então respirei fundo, satisfeita. Alexander continuava em seu próprio universo, porém havia dado uma leve olhada no tabuleiro no momento em que soltei o ar dos pulmões. Nossos olhares se encontraram por um instante, alguns segundos sem desviar o verde e o mel de nossas íris.

— Xeque-mate – disse devagar, soltando um riso debochado para o irmão. Foi a primeira vez que escutei sua voz, o timbre era rouco como o do rei, mas carregava o calor das palavras que a rainha proferia. Não era irritante.

Alexander voltou para sua postura desinteressada tão rápido quanto havia saído dela. Notei que Mason parecia furioso, achei melhor ignorá-lo para não começarmos outro jogo.

No resto do que se deu do voo, usei a estratégia de Edwin. Caí em sono profundo, até ser acordada quando chegamos a Angeles. O sol foi a primeira coisa que me chamou a atenção, era quente como eu quase nunca havia sentido na Nova Inglaterra, minhas íris doíam com o esforço de se acostumar àquela nova claridade. O céu era excessivamente azul, quase sem nuvens.

 — Seja bem vinda a Illéa, princesa – rainha América disse com um sorriso, eu estava prestes a descer as escadas do avião. O rei apenas me lançou um olhar genuíno e um movimento de cabeça.

  — Obrigada, Majestade – respondi, piscando algumas vezes por conta da luz.

 Em um dos degraus, escorreguei meu pé levemente, ainda tentando me acostumar com o sol de Angeles. Alguém me estendeu uma mão no meio de meu desequilíbrio, por instinto levei meu pulso naquela direção, encontrando o olhar sério de Alexander. Os olhos cor de mel me atingiam em cheio, e assim que toquei sua pele, pude sentir o calor de sua presença irradiando-se por mim.

Eu quase me recordava de como era estar com Jasper em nossas primeiras vezes, a excitação era similar. No entanto, os dois pareciam completamente opostos. Alexander era só um garoto, Jasper era um homem, mais velho e experiente. Pelo menos, era o que eu achava.


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Notas finais do capítulo

Gostariam de comentar o que estão achando? Será que Alexander é um príncipe bom ou ruim? Ou na verdade é um esquisitão? ksksksksksks