Capítulo 13

Yona

            Quando Jacob disse que havíamos chegado ao estado de Washington, eu fiquei eufórica. O caminho até aqui fora muito longo, e apesar de termos vindo tranqüilos, foi um pouco cansativo.  E ainda bem, não tivemos nenhum mal entendido.

            Ele me falou sobre todos os outros, Sam, Jared, Paul, Embry, Quil, Leah e o irmão Seth. Sobre Sam Uley ser o mais velho como lobo, o alfa, e por isso, todos seguirem suas ordens.  Mas não eram como subordinados, era como se Sam fosse o irmão mais velho a quem todos respeitassem. Todos eram considerados irmãos uns dos outros, como em uma grande família.

            Demorou algumas horas até que chegássemos ao perímetro de La Push. Percebi ao ver uma placa perto da rodovia indicando para os motoristas que restava um quilômetro para entrar na Reserva. Jacob adentrou ainda mais na mata, cortando caminho. Ele estava feliz. Feliz por estar de volta em casa, de volta para seu pai e seus amigos, e nada envolvia Bella. Talvez agora as coisas pudessem seguir por um rumo diferente. O meu.

            E aí, Quil?- Jacob ficou eufórico de repente. – Sim, eu estou de volta.

            O que foi que disse? – perguntei. As coisas que Jacob pensava não faziam sentido.

            Não, está tudo bem. Esta é Yona. – ele ignorou minha pergunta.

            Oi? Com quem está falando, tá maluco?- insisti, confusa.

            Com Quil! Não o ouve?- Jacob me respondeu por fim, um pouco impaciente por minha lerdeza.

            Fixei minha mente tentando identificar os pensamentos de Quil. Nada. Nem uma palavra ou um gemido. Só eu mesma e Jacob. Eu podia sentir os passos pesados de Quil sobre a terra, correndo eufórico até nós, mas não conseguia ouví-lo em minha mente.

            Não! – pensei.

            Ela não consegue te ouvir. – ele pensava para Quil. – Não consegue ouvi-la também? Estranho...

            Com a conversa picada dessa maneira, eu não podia entender nada, era como se estivessem falando por um telefone.

            Um lobo marrom chocolate enorme, saltou por cima de um arbusto cheio de folhas e parou bem próximo a mim, lançando-me um olhar curioso e se aproximando de Jacob.

            Quil está mandando um oi. – repassou Jacob o recado do amigo para mim.

            Oi. - respondi.

            Era engraçado, eu finalmente estava em La Push, conhecendo mais um ser humano-lobo e me sentia completamente à vontade. Era como se estivesse em casa.

            Algumas meninas sonham a vida inteira em conhecer a pessoa perfeita para compartilhar toda uma vida repleta de sonhos com ela. Uma pessoa especial, que a ame e que a respeite como assim deve ser. Outras sonham em viajar independentemente dos pais, usufruindo de toda a liberdade possível e vivendo intensamente cada momento de sua vida como se fosse o único. Já eu, vivia um pouco dos dois sonhos. Eu tinha minha pessoa especial para compartilhar com ela toda uma vida repleta de sonhos (bastava ela querer), e também usufruía toda liberdade possível, vivendo intensamente cada momento de minha vida. Eu poderia me considerar uma garota realmente feliz. Eu estava feliz.

            Também senti falta de vocês. – Jacob agora parecia conversar com todos os outros. – Eu nem te incluí nessa, Leah.

            Continuávamos a correr, como se houvesse o lugar certo para parar. Quil nos acompanhava, e pouco a pouco foram surgindo das árvores, arbustos e troncos tombados, outros seis lobos. Chegavam, me olhavam curiosos e tomavam seu lugar junto a Jacob, pulando, tocando-o com a pata ou o empurrando, como fez um lobo cinza, Jake respondeu com outro empurrão. Um dos lobos, o menor deles, reagiu diferente em relação a mim. Ele me encarou com um olhar duro e apressou os passos até que ultrapassasse todos os outros, dando a volta e tomando seu lugar perto de Jacob, me deixando para trás.

            Não se intimide Yona. Essa é Leah. Lembre-se do que eu te falei sobre ela.

            Sim. A loba. Ela gostava de competir. E deve ter provado comigo que mesmo com outra loba no pedaço, ela continuava a ser a mais rápida. Não me intimidei. Mesmo com a prova boba eu ainda me simpatizava com ela, só pelo fato de também ser mulher.

            O último lobo chegou. Um preto maior que os outros, tomando seu lugar bem à frente e sendo escoltado por outros dois lobos, como em uma coreografia. Então, todos pararam. E se não fosse pelo aviso de Jake, eu teria ido de encontro com um dos lobos que ali estavam, caindo por cima dele e causando confusão.

             Sam, é melhor todos nós nos transformarmos, assim Yona poderá participar também. – Jacob falava de forma respeitosa ao chefe.

            Todos os olhares estavam voltados para mim. Os olhos negros de Sam Uley me olhavam, tomando sua decisão. Num ímpeto, contornou e prosseguiu caminho, os outros seis seguiram-no. Jacob esperou por mim.

            Estamos indo para a casa da Emily. Sam está tentando deixar você mais a vontade. Ele acha que não nos ouve por ainda não fazer parte da alcatéia... E então, o que está achando de tudo?

            Meio deslocada, mas, caramba, quantos lobos! É bom saber que eu não sou tão anormal como eu pensava.

            Jacob soltou um latido abafado e olhou-me enquanto corria mais depressa.

            Fico feliz por estar gostando, Yona...

            Ele correu ainda mais, fazendo com que eu corresse também na tentativa de não deixar uma má impressão. Leah poderia ser a mais rápida, mas eu não queria ficar conhecida como a mais devagar.

            Não sei se nisso havia alguma ligação, mas a loba cinza foi a primeira a se transformar, dando um salto e adquirindo sua forma humana no ar, pousando no chão, já vestida, em movimentos perfeitos e uma rapidez sutil.

            - Não vamos causar trauma logo de início na novata. Se transformem logo e poupem-na de ver a bunda murcha de vocês. – disse Leah, num tom alto para que todos ouvissem.

            Eu recolhi minha modéstia e timidez, transformando e vestindo roupa atrás de uma árvore. Nada de um grande salto no ar e demonstrações de agilidade, eu sabia que isso eu ainda não era capaz. Ao surgir de trás da árvore, vi que no lugar de lobos enormes, estavam homens enormes e de pele acobreada, tropeçando, pulando ou simplesmente vestindo normalmente suas bermudas e calças. Bom, eu não fui poupada de vê-los nus, como Leah havia pedido a eles, mas nessa altura do campeonato, eu não me importava mais, tudo parecia absolutamente normal.

            Agora não sabia identificá-los de novo. Olhava para o rosto de cada um – e para Jacob- e os examinava, enquanto sorriam e brincavam uns com os outros de brincadeiras infantis, não proporcionais à maturidade que eles aparentavam ter com todo aquele tamanho e corpo. Eu não pude deixar de soltar uma risada animada enquanto caminhava até eles... Até Jacob, para ser mais exata. Minha risada foi um pouco empolgada demais, porque todos pararam e me observaram continuando a caminhar, -agora em passos mais curtos e lentos- e me examinaram.

            - Seja bem vinda Yona. – disse um deles. Quebrando todo o silêncio com a voz grave e esticando a mão para a mim, em um gesto amigável. – Eu sou Sam Uley.

            - Não se preocupe. Você vai se acostumar com agente. – outro surgiu do meu lado sorrindo e estirando o braço sobre meu ombro.

            - Tá. E você quem é? – eu perguntei ao folgado, sem me conter em sorrisos.

            - Eu sou Quil. – ele sorriu.

            - É. Não tome conclusões precipitadas sobre nós só pelo comportamento insano de Jacob. – disse outro.

            - Insano? – perguntei procurando sentido na palavra.

            - É. Jacob é meio louco...

            - Ah, sai daí! Você nem sabe o que está falando. – disse outro deles, o empurrando e dando-lhe um cascudo. Depois se virou para mim com a mão ocupada, segurando a cabeça do amigo, enquanto outros riam e zoavam. – Eu sou Paul.

            - Oi. – eu olhava toda aquela algazarra que se formava em volta de mim, enquanto continuávamos a andar e a mata deixava lugar para uma casa que não se encontrava distante.

            O ainda desconhecido, se desvencilhou das mãos de Paul, dando-lhe um murro no queixo e correu aos aplausos e gritos de torcida dos outros, enquanto Paul corria em volta do grupo, perseguindo o irmão, com Sam mais a frente e Leah do lado, bem séria para a ocasião. Tudo realmente como em uma família.

            - Vocês estão é assustando ela. – finalmente se pronunciou Jacob.

            - Você vai se acostumar, acredite. – um que ainda não havia falado nada, disse para mim. Ele mantinha um enorme sorriso e parecia ser bem jovem em relação aos outros. – A propósito, eu sou Seth.

            - Olá. – tentei ser mais simpática.

            Na porta da pequena casa, que agora estava bem mais próxima, surgira uma moça, bonita por sinal, transparecendo toda sua alta estima e confiança em um grande sorriso branco. Ela provavelmente fora alertada da nossa chegada pela correria e gargalhadas dos meninos.

            - Mas como vocês estão animados hoje! – ela falou com entusiasmo, olhando para cada um, enquanto Sam a abraçava, pegando-a facilmente no colo.

            Emily então arregalou os olhos por cima dos ombros de Sam.e abriu mais o sorriso ao pousar os olhos sobre Jacob.

            - Santo Deus! Mas veja se não é Jacob?– Emily se soltou dos braços de Sam e se aproximou de Jacob. – Que bom que voltou! Billy vai ficar muito feliz por estar de volta.

            Não pude deixar de perceber as cicatrizes no rosto perfeito da moça. Todo o lado direito da face de Emily era marcado por três longas listras que iam de seu cabelo até o queixo. E nesse instante paralisei, porque Emily havia me percebido e olhava-me com surpresa.

            - Vejo que trouxeram uma visita. – ela falou com espavento.

            - Outra irmã, Emily... Ela é como nós. – manifestou-se um altão, de olhar sarcástico.

            Emily sobressaltou, passando os olhos de mim para Leah.

            - Mesmo? Onde a encontraram?

            - Foi Jacob quem a encontrou. – disse Quil.

            - Ah, isso esclarece algumas coisas. Bem que eu vi que ela não era daqui da Reserva. – sorriu Emily para mim. – Bom, vamos entrar. Vou preparar alguma coisa para vocês.

            Sorri ao notar os olhos ternos de Jacob para mim.

            Não preciso dizer o quão aconchegante era a casa de Emily. Simples o suficiente para me sentir a vontade. Com uma mesa de madeira quadrada e pequena logo na entrada, um sofá e uma poltrona de estofado listrado e gasto, e um balcão que dividia a sala, da cozinha. Os rapazes, mais acostumados e mais a vontade do que eu, chegaram e se acomodaram nas cadeiras, bancos e sofá.

            - Então Yona, de onde você é? – perguntou Sam, sentando-se na poltrona gasta.

            - Massachusetts. – respondi direto.

            - Huum. – Sam me analisava. – Então, de certa forma, seu pai deve ser...

            - Quileute. – completei. – Ele é.

            - Isso explica tudo. Mas o que não se encaixa é o que pode ter desencadeado sua transformação. Não... O que fez você se transformar nós sabemos. Mas como isso pode... Se bem que...

            Eu já não entendia o que Sam queria dizer. Isso se não estivesse apenas refletindo em voz alta.

            - Victória deve ter algum dedo nisso Sam. – disse Seth. – Já que ela andou por todo lado criando novos sanguessugas, talvez ela tenha dado uma voltinha lá para os lados de Massachusetts.

            - Foi o que eu pensei...

                        O assunto já não me prendia, eu não sabia quem era Victória, ou o que era esses tais sanguessugas e muito menos o que isso tinha haver com minha -falta de sorte- transformação. Meu interesse agora estava voltado para o rapaz de pele acobreada que me trouxera até aqui. Encostado no balcão, com os braços cruzados e a cabeça em sabe-se lá pensando em quê, Jacob parecia tão anônimo agora. Quisera eu ter o poder de adentrar em sua mente e arrancar todos os pensamentos e colocar de volta apenas coisas sobre Yona Miller.

            Então se fez silêncio na sala, só se podia ouvir a movimentação das mãos de Emily conduzindo alguma panela ao fogo, abrindo e fechando a geladeira e cantarolando baixinho alguma canção.

            A voz de Paul quebrou o silêncio.

            - Sabe que até pensamos que você ia voltar mais cedo, Jacob. Pensamos que não suportaria e voltaria para ver o casamento da Bella. Fizemos até apostas. – ele disse com um sorriso ardiloso. E apontou Seth com a cabeça. – Seth foi no seu lugar. Ele disse que foi uma boa festa. Não foi Seth?

            - Foi. –Seth respondeu um pouco receoso.

            - Eu não quero saber. – Jacob falou, olhando fixamente para Paul e apertando levemente os punhos.

            - Eles ainda não voltaram da lua de... – o dos olhos sarcásticos interrompeu a frase pela metade olhando para Jacob, sério, como se tivesse feito mal em começar a falar.

            - Eu vou embora. Meu pai precisa saber que estou aqui. - Jacob desencostou-se do balcão. – Podem continuar a falar se vocês quiserem.

            - Jacob. – interrompeu Sam, com sua voz grave. – Jared foi buscar seu pai. Você não precisa ir. E ninguém vai falar mais nada, não é Paul? Embry? – Sam os olhava, insinuante.

            - Foi mal, cara. Eu não falei por mal. – disse Embry.

            - È. Agente pensou que você já tinha superado...

            - Olha, eu posso muito bem ver meu pai em casa.

            Jacob já se conduzia até a porta enquanto eu olhava os dois lados sem saber que decisão tomar.

            - De jeito nenhum, Jacob. – agora era a voz de Emily que se colocava no meio. – Você vai esperar seu pai aqui. Além do mais, estou preparando algo pra vocês, não me faça essa desfeita.

            - Você ouviu, Jake. Não tente desafiá-la. – Quil deu uma risada para quebrar o clima.

            Um freio de mão foi puxado com força do lado de fora, anunciando que alguém acabara de chegar, pondo fim ao clima ruim.

            - Olha aí, seu pai chegou Jacob. – pronunciou-se Leah.