Escolha- quando se Convive com Jacob B escrita por many more


Capítulo 11
Capítulo 11- Mais uma chance




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Capítulo 11

 

Yona

 

            Estava aceitando tranquilamente meus dias claustrofóbicos, presa em casa. Meus pais estavam sempre saindo com os amigos ou só os dois juntos, pareciam até que estavam me implicando. Às vezes eu acho que eles têm a mesma idade que eu, ou menos.

            Descrição exata do meu ócio: Eu, na cozinha, escutando rádio, com luvas de plástico, lavando louça. Eu odeio lavar louça, mas alguma coisa eu tinha que fazer. Pelo menos para ocupar minha mente e para ver se Jacob para de irromper nela. Eu não pensei que seria fácil esquecê-lo, e de certo modo eu não queria. A todo instante me lembrava das coisas no Canadá e me batia uma vontade louca de poder sair correndo pela porta da sala e ir de encontro a ele, para pelo menos vê-lo mais uma vez.

            Queria poder saber qual foi o final da história do casamento. Pelo que conheço Jacob, ele não deve ter conseguido deixar que a cerimônia seguisse normalmente, com certeza não. Alguns berros e ameaças, e uma transformação desnecessária deve ter acontecido. Por toda aquela fixação por Bella, eu esperava pelo menos ver ou ouvir na TV e na rádio, sobre algum seqüestro ocorrido em algum município ou condado de Washington. Não apareceu. Eu poderia saber facilmente me transformando, mas a questão era que eu não queria ouvir dele, eu queria ouvir de alguém. Queria evitá-lo, mas queria vê-lo. Eu só devia estar em algum estágio de loucura.

            Chega, chega. Larguei as luvas na pia, faltando alguns copos e talheres para serem lavados. Fui até o telefone, no hall de entrada. Disquei um número. O de Kate, minha amiga. Eu havia falado com ela no segundo dia que cheguei aqui. Ela ficou louca, fez um monte de perguntas, conversamos bastante, enquanto eu inventava um monte de mentiras sobre minha tia inexistente e sua cidade inexistente. Não contei nada sobre Canadá e sobre Jacob.

            - Ei, Kate. – disse quando uma voz fina e suave atendeu.

            - O que você manda? – ela perguntou.

            - Vem aqui pra casa antes que eu morra seca de tédio.

            - Não sei bem, Miss Drama. Eu estou indo viajar, lembra?

            - Lembro. – menti.

            - Olha, faz assim. Vou ver se passo aí antes de ir. Pode ser? – Kate sempre dava um jeito de fazer o que eu pedia, não só para mim, mas para todas as amigas. Ela tinha esse dom.

            - Pode. Mas vem logo. – abusei mais um pouco.

            - Tá bem. Só não morra seca antes de eu chegar aí. – ela riu e desligou.

            Fui para a sala, assistir televisão, enquanto esperava. Minha amiga Kate não morava tão longe, só alguns quarteirões acima. Se corresse chegaria logo.

            E foi o que ela fez. Quando abri a porta estava ofegando.

            - E aí grandona? – ela me falou, entrando.

            Katherine era bem pequena, um metro e cinqüenta e seis. E um grande espírito maluco por natureza de encarar a vida. Quem não conhece nem imagina que ela tem dezessete anos.

            - Passei rápido. Meus pais estão terminando de colocar as malas no carro e virão me buscar. Vim correndo. – disse Kate entre uma lufada de ar.

            - Quer água?- perguntei me dirigindo a cozinha.

            - Quero.

            - Então, para onde está indo? – puxei assunto, enquanto colocava água em um copo.

            - Eu já te falei. – Kate falou em um tom de advertência.

            Acontece que eu não prestei atenção.

            - Eu esqueci. – sorri para ela.

            - Flórida. Meu pai alugou uma casa de praia lá. Lembrou agora?

            - Sim. – não.

            Entreguei o copo para ela. Ela bebeu de uma vez só.

            - Vai ficar por quanto tempo mesmo? – perguntei mentindo.

            - Sinceramente Yona, esse castigo está te fazendo mal. Vou ficar por quatro semanas. – minha pequena amiga estava se irritando comigo. Mas se eu não perguntasse não teria assunto.

            Concordei com a cabeça.

            - Seus pais saíram? – ela perguntou, ainda bem.

            - Saíram.

            Kate riu de mim. Olhei-a com repreensão.

            - Desculpa, mas é engraçado esse seu castigo. Como é que eles podem te castigar só porque sua tia ligou pra eles falando que você saiu escondido?

            Essa foi a pior inverdade (porque esse negócio de mentira estava me dando nos nervos) que eu já inventei em toda minha vida.

            - Pois é. Eu também não entendi.

            Um carro buzinou lá fora.

            - Meus pais. – Kate pulou do banco onde estava sentada. – Queria poder não contribuir para sua morte seca e lenta, amiga, mas eu tenho que ir.

            - Eu supero. – brinquei. – Boa viagem.

            Ela me abraçou ficando nas pontas dos pés, enquanto eu me abaixei para abraçá-la. O carro buzinou de novo.

            - Eu juro que te trago alguma coisa. – disse minha amiga correndo até a porta e abrindo-a. Acompanhei-a.

            - Ta certo. O meu presente tem que ser o maior, senão não te perdôo. – gritei quando ela entrou no carro.

             Ela acenou por trás do vidro e os pais dela fizeram o mesmo, acenei também e o carro partiu. Voltei para meu sofá e minha televisão. Inseparáveis amigos meus agora.

            O tempo passava devagar enquanto eu trocava de canal mais do que assistia. Sem nenhuma vontade de fazer outra coisa, cochilei por um curto tempo e depois assisti a um canal de culinária. Jacob ia e voltava na minha mente e cada vez que aparecia me arrancava um frio na barriga.

            Mas que droga. Eu vou acabar indo para La Push desse jeito. Eu precisava vê-lo mais uma vez, senti-lo. Eu queria estar perto de novo...

            Eu não sabia como seria lá. Talvez não precisasse me transformar tanto, os dias como humano poderiam até sobrar. E conhecer os outros. A outra loba... Leah era o nome dela não era? Poderia ser incrível... Se Jacob estiver lá, se não tiver fugido, levando em conta minha teoria sobre o seqüestro de Bella.

            Mudei de canal. Discovery Channel. Estava no intervalo comercial, resolvi deixar ali, às vezes eu me interessava pelas coisas que mostravam. Evolução humana, extinção dos dinossauros, vida marinha, hábitos de um macaco do sudoeste selvagem da África. Era legal. Mudei de posição no sofá quando a programação voltou. Por enquanto nenhuma explicação, só aquela floresta habitual, vista de cima, os pássaros e os insetos fazendo barulho, algum animal menor fugindo do predador maior que vinha em seguida, caminhando devagar...

            ...Era um lobo acinzentado. O locutor começou a falar com toda aquela voz grave. “ Os lobos são os únicos animais monogâmicos...” Não esperei concluir, troquei de canal. Era demais para mim. Lembrei mais uma vez dos momentos com Jacob. Eu podia sentia o cheiro de lobo consumindo todo o oxigênio da sala. Torci para ser o meu cheiro. Começar a delirar era muita loucura, em seu mais alto estágio.

            Meus pensamentos foram interrompidos pelo toque da campainha. Meus pais deviam ter chegado, e esquecido a chave por sinal. Caminhei até a porta com passos firmes e pesados, destrancando-a e arregaçando-a com certa brutalidade.

            No momento seguinte eu perdi todo meu oxigênio, toda noção de tempo e espaço, esqueci como se fala, quem eu era, onde eu estava. Um rapaz moreno altíssimo estava encurvado com o braço encostado no umbral da porta, fazendo com que seu bíceps ficasse em evidência. Ele ergueu os olhos para mim.

            - Qual é o seu problema? – Jacob perguntou entre dentes.

            Eu comprimi os lábios, para esconder toda a alegria e felicidade e tudo que eu estava sentindo naquele momento.

            - Qual é o seu problema? O que há de errado com você, Yona?- enquanto ele atirava vespas contra mim, ia entrando em casa me fazendo recuar para trás, saindo de seu caminho.

            Tornei-me consciente de novo, voltando a respirar, relembrando de tudo que havia acontecido no instante em que corríamos de volta para os Estados Unidos.

            - Qual é o meu problema? Faça-me o favor, Jacob. – disse indignada.

            - Pensei que tivesse acontecido algo. Fiquei horas te procurando. Por que fez aquilo? – ele gritou para mim.

            - Era isso que você queria não era? Se livrar de mim? Foi o que eu fiz. – utilizei do mesmo tom de voz.

            - Se livrar de você? De onde tira essas coisas? – ele riu, parecendo perplexo. – Cara, como você é neurótica!

            Me irritei. Ele falava de um jeito como se eu fosse culpada. Como se eu estivesse o deixado lá, sem motivos aparentes. Eu não era culpada! Pelo menos não levaria toda a culpa sozinha.

            - Você veio aqui só pra me ofender? Por que se for, saia daqui. Volta para a Bella. – joguei.

            Eu queria culpá-lo por tudo aquilo de qualquer maneira. Desviei de seu corpanzil enorme, indo para cozinha. Ele veio logo atrás.

            - Você não devia ter ido embora daquele jeito.

            Me virei para encará-lo, Jacob parecia suplicante, como se quisesse dizer mais alguma coisa. Eu também queria fazer o mesmo, queria não só dizer que a culpa fora dele, mas também falar que sentia sua falta. Eu estava aflita e agoniada, não era nada fácil tentar controlar tudo que sentia de verdade.

            - Ahh Jacob! Não venha me dizer o que eu devia ter feito ou não. Quer saber, vai embora daqui. Volta para toda a porcaria daquele casamento e para sua querida amada. – eu dizia qualquer coisa que vinha em minha mente, tentando esconder o que eu gostaria de dizer de verdade.

            Ele calou, e depois prosseguiu um pouco mais calmo.

            - Voltar por quê? Eu não fui ao casamento. Eu nem cheguei a voltar para La Push!

            - Ah não? – perguntei impressionada, encostando-me na bancada da cozinha.

            - Não. Eu fiquei te procurando, Yona.

            Não me diga uma coisa dessas Jacob Black. Não numa hora como essa, em que eu estava prestes a dizer tudo que sentia.

            - A culpa é toda sua. – falei baixo e devagar. - Você não deveria brincar com o sentimento dos outros. – deixei escapar. Jacob me olhou espantado. Bela maneira, essa minha, de se declarar.

            Ele demorou alguns instantes para raciocinar.

            - Eu não... estava brincando com os seus sentimentos... Eu nunca faria isso. – Jacob falava irritado como se parecesse ofendido. – E foi você quem perguntou. O que você esperava que eu respondesse? Você ia esperar chegar até ao casamento? Seria pior, não seria?

            Cruzei os braços.

            - E em que momento você planejava me contar? Não... Porque se eu não tivesse perguntado, você não iria me falar. – isso parecia tão “discussão de relacionamento”.

            - Eu achei que você tinha visto nos meus pensamentos. – ele falava calmo.

            Eu começo a achar que tudo não passou de um grande mal entendido.

            - Não. Para mim você estava os escondendo de mim, sei lá. – respondi sem graça.

            Ele negou com a cabeça em um gesto sutil.

            - Tá. Escuta. –Jacob se aproximou de mim, pegando minhas mãos. – Quero que venha para La Push comigo.

            Sorri meio boba. Essas frases me pegaram em cheio.

            - O que? Agora? – perguntei sem entender.

            - É. – ele me encarava, esperando uma resposta.

            Mordi os lábios. Eu ainda estava de castigo.

            - Não posso. – disse em um suspiro aflito.

            Jacob largou minhas mãos, se afastando alguns passos para trás, impaciente comigo.

            - Não, espera Jake. – tentei impedi-lo de que fosse embora, mesmo ele não fazendo menção disso. – É que eu estou de castigo... Por toda as férias.

            Ele riu. Olhando-me daquele jeito, apertando os olhos.

            - Lobos não são domesticáveis, Yona. Não seguem regras.

            Continuei o encarando, tentando tomar uma decisão. Era minha única chance de continuar junto a ele, de senti-lo outra vez. Mas não poderia fazer isso de novo com meus pais, ir embora, ainda mais com um castigo que fora decreto deles por causa da minha “aventura”. Jacob ainda esperava minha resposta.

            - Yona. – berrou minha mãe de repente, assustando a mim e a Jacob. – Yona minha filha, o que está acontecendo? Por que a porta está aberta? – ela apareceu na cozinha.

            Ao ver Jacob, minha mãe saltou para trás, colocando a mão no coração.

            - Quem... é esse?- minha discreta mãe olhou Jake de cima em baixo.

            Desencostei da bancada.

            - Mãe, esse é Jacob Black. Eu o conheci no Canadá. – apresentei-o, sem tocar no assunto de lobo e todo o resto.

            - Oi. – disse ela indiferente. – Bom, Jacob, Yona não deve ter te recebido direito. Vamos sentar... Tomar um suco, água?

            - Não, obrigado. Eu já estava de saída.

            Assustado (ou decepcionado), Jacob saiu sem muitas cerimônias. Olhei para minha mãe, olhei para o nada onde ele estivera e para minha mãe de novo. Corri até a porta na tentativa de impedi-lo, mesmo sabendo que ele já havia ido embora. Dei uma boa olhada na rua, mas tudo parecia normal e parado. Meu pai saía do carro e parecia nem ter percebido o moreno alto que há pouco saíra daqui de casa.

            Voltei para dentro.

            - Onde o conheceu? Em um show de luta livre clandestino? – a ironia de minha mãe me irritava.

            - Não. Em um bar de strippers em que eu estava trabalhando. – respondi desorientada enquanto tentava controlar toda a agitação e raiva que eu sentia naquele momento.

            Ignorei as palavras praguejadas que minha mãe dizia contra mim. Mais uma vez eu perdia Jacob, sem nem saber se ele poderia ter a boa vontade de retornar. Não. É claro que não retornaria, ele já me dera chances de mais.

 


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