Incomplete escrita por KatCat


Capítulo 22
There Snows Too?


Notas iniciais do capítulo

Oie xD
Espero que gostem do capítulo!



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— Pronto — disse, assim que acabou de colocar a gaze em meu pescoço. Eu me virei um pouco e encarei o reflexo no espelho. Nem parecia que eu tinha sofrido alguma coisa se não fosse pelo curativo e pela minha camisa ainda encharcada de sangue e da chuva.

— Hm... Obrigada — agradeci baixinho, pulando de cima da pia e desviando dele, caminhando em direção ao meu quarto e fechando a porta atrás de mim. Tranquei ela, mesmo sabendo que não funcionaria nada, e que se ele quisesse entrar ali, ele entraria, e caminhei até o closet. Enquanto eu escolhi alguma roupa para usar, minha cabeça estava uma bagunça. Porque ele tinha feito aquilo? Ele podia muito bem sumir dali num piscar de olhos, e eu que teria que me virar com eles sozinha. Ele não precisava ter feito aquilo, então... Porque ele fez? Peguei uma blusa cinza de mangas curtas, uma calça de linho preta, uma pequena touca bordada e um casaco preto de veludo. Aqui era bem mais frio do que a casa de Steve, e eu não estava afim de morrer congelada. Entrei no banheiro do meu quarto e liguei o chuveiro na água fria. Sim, eu não queria morrer congelada, mas a minha pele estava pegando fogo, e eu não tinha ideia do porquê, então, banho frio.

Eu demorei no banho. Eu fiquei encarando a água, agora vermelha, serpentear no chão branco até chegar ao ralo. Tinha colocado uma faixa em volta do meu pescoço e dos joelhos para não molhar o curativo. Não queria estragar aquilo, pois definitivamente eu não pediria nem que me pagassem para ele fazer aquilo de novo. Nem fodendo. Ainda tinha uma dignidade para zelar. Desliguei o chuveiro depois de um tempo, e me sequei, colocando a roupa que havia separado e saindo do banheiro. Graças a Deus, me quarto continuava vazio. Joguei a blusa suja dentro do closet, em um canto separado, e antes de jogar o short, eu peguei o que Loki havia me dado mais cedo. Joguei o short na mesma direção da blusa, e me sentei na beirada da cama, com ele em mãos.

O dourado brilhava em meio ao quarto escuro. Minha mão tremia levemente, então eu fechei-a e respirei fundo, levantando da cama e saindo do quarto. Eu merecia algumas respostas, e aquele deus era o único que as tinha.

Loki estava encostado com os braços cruzados em cima da bancada que dividia a cozinha da sala. Eu parei em frente a ele.

— O que vamos fazer agora? — questionei, ficando na mesma posição que ele, que tirou os olhos da mesa e os focou nos meus. Dois tons de verdes bem parecidos.

— Por enquanto, nada — deu de ombros, e eu ergui uma sobrancelha — Quer agir sem planejar, e acabar cometendo algum deslize, o que acabaria matando você? — perguntou, e eu suspirei derrotada, saindo de sua frente e indo em direção a janela, afastando um pouco a cortina e encarando o lado de fora. Já havia parado de chover, mas agora nevava.

— Lá neva também? — indaguei, depois de alguns minutos em silêncio.

— Lá? — perguntou, sua voz levemente confusa.

— Asgard — esclareci, me virando para ele, que continuava na mesma posição — Em Asgard neva também?

— Às vezes — respondeu, e eu voltei a encarar o lado de fora. Ouvi passos, e depois senti sua presença ao meu lado, mas não fiz nenhum movimento, só fiquei encarando os flocos de neve caírem do céu, agora branco, mas um pouco alaranjado no horizonte, sinal de que a noite se aproximava — Lá o tempo não passa como passa aqui em Midgard, Anjo. O que aqui é um ano, lá não chega a seis meses. As estações duram mais. Mas, sim, lá neva também. Eu costumava ficar exatamente como você está agora. A janela do meu quarto dava direto para o jardim do palácio. Eu ficava na varanda, olhando a neve cair por horas e horas — falou, e eu o encarei pelo canto do olho.

— Quando eu era pequena, meu pai costumava brincar comigo e minha irmã quando nevava — comecei com cautela. Eram raros esses momentos. Momentos em que nem Loki, nem eu, estávamos nos atacando ou ameaçando um ao outro. Esses eram os momentos em que não éramos nem deus, ou humana, mas sim Loki e Davina. Por mais que não parecesse, eu gostava desses momentos. Eu conseguia ver por trás da muralha de gelo que Loki havia construído ao redor de si mesmo, exatamente como eu havia feito. Mas eu só não sabia se haveria consequências para os momentos que eu deixava isso acontecer — Uma vez, eu tinha dez anos e ele construiu um balanço para nós duas, na parte de trás da casa. Ele ainda está lá. Ficávamos por horas e horas brincando lá, até minha mãe finalmente nos obrigar a entrarmos na casa, antes de ficarmos doentes. Nós corríamos para dentro, e minha mãe sempre nos esperava lá com três copos de chocolate quente — contei, um sorriso abobalhado nos meus lábios. Me virei completamente para ele, que encarava o lado de fora — Pode parecer bobeira, ou idiotice para você, mas para mim não era. Esses momentos eram únicos. Podiam acontecer sempre que nevava, claro, mas mesmo assim, eu adorava eles. Eu adorava a sensação do vento congelante em meu rosto quando o balanço quase ficava no alto. Eu daria tudo para poder voltar no tempo, exatamente nesses momentos, para aproveitar só mais um pouco. Nem que fosse um minuto.

Eu me forcei a parar depois disso. Não queria continuar. Não queria me lembrar.

— Seus pais te davam atenção? — ele perguntou em um murmúrio tão baixo que eu quase não ouvi. Quase. Ele encarava o lado de fora com as sobrancelhas franzidas, causando um vinco no meio de suas sobrancelhas que o deixavam com uma carinha infantil, e uma falsa sensação de inocência.

— Como assim? — perguntei, um pouco confusa com sua pergunta. Ele se virou lentamente para mim, seus olhos de um verde escuro, quase castanho.

— Thor sempre tinha sido o preferido. Meu pai só se importava com ele. E, apesar de minha mãe também se importar comigo, eu sabia que Thor também era o preferido dela. Por anos, eu tive que viver na sombra do filho de Odin, enquanto eu o via cada dia mais perto do trono que devia ser meu — falou, sua voz tão venenosa quanto uma cobra.

— Minha mãe sempre tinha dado mais atenção para Devin — sussurrei no mesmo tom que o dele, voltando a encarar a janela. Alguma coisa me dizia que era para eu calar a boca e sair dali agora, mas eu não conseguia. Perto de Loki, eu não tinha segredos. Eu sabia que, se ele tinha vindo atrás de mim, era porque ele sabia minha vida de cabo a rabo — Ela sempre era a que tirava notas mais altas, que corria mais rápido, que tinha uma caligrafia melhor, ela sempre era melhor que eu em tudo. Mas, ao contrário de você e Thor, eu não conseguia odiá-la. Ela era minha irmãzinha, meu dever era cuidar dela, não odiá-la. Sabe, eu entendo toda essa fé que Thor tem em você — sorri amarga, me virando para ele, que continuava me encarando com os mesmos olhos indecifráveis — Apesar de ele ter todos os motivos, ele ainda não consegue desistir. Eu sei, porque eu me sentia assim com Devin. Eu tinha todos os motivos para odiar ela com todas as minhas forças, mas eu não conseguia. Eu tinha que cuidar dela, proteger ela. Thor se sente do mesmo jeito com você, apesar de vocês não serem do mesmo sangue, cresceram juntos. Meu pai uma vez me disse uma coisa, Loki. Você escolhe sua própria família. Tendo o mesmo sangue ou não — falei, a sombra de um sorriso no meu rosto, enquanto ele me encarava com a mesma expressão — Thor lhe considera família, quer você seja realmente seu irmão ou não. A partir do momento que você aceitar isso, vai parar de ter tanto ódio assim guardado dentro de você.

Eu terminei de falar e saí de lá.


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Notas finais do capítulo

Comentários? Para quem queria momentos mais legais entre a Davina e o Loki :3
Posto, provavelmente, no domingo ou na segunda.