The Mistake Of Chris escrita por Realeza


Capítulo 22
Unfinished drawings and all that goes under the door


Notas iniciais do capítulo

ISSO NÃO É UMA MIRAGEM
se você está lendo isso, você é um guerreiro. Um ano depois. Olá. Sinceramente não tenho o que dizer aqui, se passou UM ANO. Estou publicando isso para ver se consigo voltar a escrever, tenho sentido muita falta de estar aqui, dentro dessa história.
Enfim.



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No dia seguinte, um sábado, estou novamente sentado com Mike no gramado. Enrolado num cobertor para vencer o leve frio do início de novembro, ele mantém os olhos focados no portão de entrada do hospital.

Não conversamos, mesmo que eu altere frequentemente minha atenção entre o desenho apoiado no meu joelho e ele. Meus dedos acertam os traços apesar do vento frio que os faz tremular. Finalmente estou fazendo o desenho que prometi a Steve a semanas atrás, quando ele me trouxe os materiais, e aos poucos seu rosto vai surgindo junto ao meu no papel, seu braço sobre o meu ombro como quando íamos a jogos de beisebol.

A cada minuto, sujo mais as mãos de grafite. Paro de me perguntar um milhão de vezes se Steve gostará mesmo do desenho ou se devo simplesmente arrancar a folha do bloco, amassa-la e tentar arremessa-la sobre as árvores mais adiante. No canto da folha, escrevo a dedicatória. “Para Steve Campbell. Você é meu irmão, e eu nunca esquecerei disso.”

Nesse momento, Mike se levanta da grama e se senta ao meu lado no banco. Nós dois matemos o olhar fixo no desenho a minha frente, analisando-o. Ele lê a dedicatória em voz alta, quebrando o silêncio apenas para refazê-lo no segundo seguinte.

— Loren se esqueceu disso. — fala, sem me olhar diretamente, voltando a encarar a entrada do hospital. — Esqueceu que eu sou seu irmão.

Não sei como responder e fecho o bloco de desenho sem saber como agir em seguida. Espero que Mike continue a falar e explicar algo mais sobre a irmã ou que simplesmente levante e vá embora como da outra vez.

— Jeff diz que ela nunca vai vir. Ele passa o tempo todo me dizendo isso e em como minha irmã deve ser uma vadia viciada em sexo como a maldita namorada dele. Só que é a minha irmã, porra. Loren não é assim e eu sei que tinha que protege-la, mesmo que ela mesma não entenda isso.

— Uma hora ela vai entender, eu acho.

— Meus pais disseram que a terapeuta dela quer que a Loren me visite, sabe, pra superar isso e não me odiar pra sempre. Então eu achei que ela faria isso de verdade e viria aqui hoje. Realmente achei isso e fiquei aqui fora esperando e esperando que nem um otário porque ainda quero minha irmã de volta. — Ele eleva o tom de voz na última frase. — E mesmo que esteja frio aqui fora eu não consigo simplesmente entrar porque quero desesperadamente vê-la passando por aquele maldito portão nem que seja pra passar cinco minutos comigo.

— Talvez ela não venha hoje, e tudo bem se não vier. Ela pode vir outro dia, sem que você precise ficar esperando aqui.

Lhe dou dois tapinhas solidários nas costas sem jeito, porque não sei mais o que fazer, e me levanto levando o bloco de desenho. Penso em Steve mais uma vez, em ele ainda vir me visitar apesar de qualquer coisa. Em como poderia ser muito pior para mim caso ele não viesse.

Quando já estou a alguns passos de distância, Mike também se levanta e me segue. Paro para espera-lo, e quando me alcança, passo meu braço sobre seus ombros e o puxo para perto de mim, exatamente como desenhei no bloco que carrego na outra mão.

Lá dentro, poucos ainda recebem visitas. Na sala de TV, Emma encara a tela com um olhar vago, sentada de uma forma estranhamente ereta. Mike se desvencilha de mim, indo em sua direção. Mando um aviso mental para ele pedindo para não perturbá-la, mas ele não o recebe e estala os dedos na frente dos seus olhos duas vezes para que a garota saia do transe.

Emma o olha de forma inexpressiva e eu os observo a uns dois metros de distância, sem querer me envolver nos segundos que se discorrem dessa forma: Mike de pé, reclinado em sua direção, com o cabelo precisando de um novo corte e levemente mais cheio que o de Emma. Ela, com as mãos sobre os próprios joelhos, as unhas roídas e o barulho de um apresentador de reality show anunciando alguns participantes e palmas sincronizadas faz a trilha sonora de fundo.

Sem que nenhum dos dois fale algo, Mike se inclina em sua direção ainda mais e deposita um delicado e longo beijo no alto da sua testa, logo antes dos cabelos loiros e despenteados. Emma fecha os olhos, aproveitando a sensação por um segundo. Ou pelo menos é isso que eu deduzo que ela sente, pelo menos, já que a outra opção para essa reação seria um enorme desgosto pelo ato que a fez não querer encará-lo. Logo o momento acaba, e antes que a atmosfera toda se dissolva, Mike se retirando da sala e a voz do apresentador voltando a ser a única atenção do cômodo, saio de lá rumo aos dormitórios, ainda carregando o bloco de desenho.

Paro nos últimos degraus da escada, me sentando. Longe ainda do corredor do meu quarto, mas bem próximo do dormitório de Callie. Posso ver a luz acesa por baixo da sua porta, e imagino se Eleanor ainda está lá com a irmã.

Abro o bloco de desenho e o folheio, me deparando com mais desenhos inacabados do que gostaria de pensar. A vista limitada da minha janela retratada em diferentes ângulos e versões de iluminação, uma incluindo a silhueta levemente apagada de Mike no dia em que nos conhecemos e que ele me aterrorizou, de certo modo. Mike em outra folha, seu rosto voltado para a grama da parte exterior do prédio. A Dra. Lee deitada sobre o sofá da sua sala, os pés erguidos e os óculos desarrumados em seu rosto. Callie distraída enquanto tenta resolver um cálculo, o cabelo lhe caindo no rosto. Emma soprando a fumaça do cigarro no telhado, a luz do fim de tarde no seu rosto. Um esboço de Jeff sentado sobre a mesa de sinuca, apontando o taco para o nada. Gregg sorrindo e olhando para o meu irmão enquanto segura sua mão delicadamente. Cenas das últimas semanas que eu resolvi preservar em grafite.

Retiro o desenho de Callie, mesmo inacabado e feito numa folha de caderno qualquer. Poderia completar os traços que faltam, mas decido que não, alternando mais uma vez o olhar entre a sua porta e o desenho em minhas mãos.

Penso e repenso a decisão vinte e quatro vezes antes de enfim de me levantar e passar o papel dobrado por baixo da sua porta. Tento não hesitar, tentando compensar o quanto demorei para enfim resolver fazer isso. Me afasto depressa, como que com medo que ela abra a porta e eu esteja lá, de pé pateticamente. Sigo para o meu quarto e espero.

E ela aparece, quarenta e seis minutos depois. A encaro, sentada no chão ao lado da minha porta, as pernas estendidas e a calça jeans com a barra dobrada. Não sorri e carrega na expressão o mesmo tom de melancolia que ontem, que não combina com a cor da sua pele e se reflete no azul dos seus olhos quando me encara.

— Eu não sabia o que escrever. — diz, indicando com um movimento de cabeça o papel que seguro e que ela havia passado por baixo da porta. Com o traço fino e a caligrafia cursiva, “Christian Joseph Campbell” escrito na folha rasgada com descuido. Apenas meu nome e nada mais, mesmo que eu tenha virado e desvirado o pequeno pedaço de papel. Me pergunto mentalmente como raios Callie sabe meu nome completo e me deparo com a consciência de que também sei o dela.

Catherine Rosalynne Blair. Também conhecida como talvez a garota mais extraordinária que eu já conheci, que no momento está chateada comigo e não faço a mínima ideia de como consertar as coisas.

Tento não pensar nisso, de que não tenho exatamente um plano sobre como arrumar as coisas com ela. Sinceramente, minha mente só girava em torno de tê-la por perto novamente, sem cogitar o que viria em seguida.

Estendo a mão em sua direção para que ela se levante, e Callie aceita e me segue para o quarto, fechando a porta atrás de si. Parados no centro do cômodo, ainda seguro sua mão, com um pedido implícito para que não se solte. Talvez levemente incomodada com isso, seu olhar não se cruza com o meu enquanto ela vasculha o quarto silenciosamente.

Logo em seguida, solta minha mão e se joga na cama, pegando o bloco de desenho ali abandonado. O segura, olhando apenas a primeira folha em que estava aberto e hesitando como em busca da minha permissão.

— Eu acho que ainda não quero conversar. — declara, de forma a esclarecer a cena estranha na qual estamos. De forma implícita, inclui “mas eu prometi que estaria aqui, então estou”. — Então, se importa? — pergunta, sobre os desenhos.

— Não, tudo bem. — permito, sem saber o que deveria fazer em seguida, ainda parado no meio do minúsculo quarto. Callie se ajeita na cama, se encostando contra a parede e colocando os pés descalços por entre as cobertas levemente desarrumadas.

Puxo a cadeira da escrivaninha para perto dela, de modo a ficar na sua diagonal. Ela desvia a atenção da folha em suas mãos por um segundo para me olhar enquanto me acomodo, pegando em uma das gavetas um pequeno sketchbook e um lápis. Jogos os pés sobre a ponta da cama e abro o caderno, parando na primeira folha em branco.

E antes que eu perceba de fato o que estou fazendo, sua imagem salta da ponta do grafite. Imerso na tarefa, mergulho na atmosfera silenciosa que criamos, sentindo sua presença por perto e grato por ela simplesmente estar aqui.

Durante os minutos que se seguem dessa forma, é como se desconstruíssemos a barreira que começou a se formar entre nós da noite daquele piquenique, suas palavras sobre Hannah que ressoaram na minha mente milhares de vezes desde então. Callie vez ou outra esboça um início de sorriso que surge no canto dos seus lábios, mas ela insiste em apaga-lo franzindo a boca levemente.

Imagino se seus quase-sorrisos são por conta dos desenhos. Ou se porque se dá conta que a estou desenhando nesse exato momento, apenas mais um rascunho que se juntará aos demais. Não sei se me importo com o verdadeiro motivo.

Quatro dias depois, ela passa uma carta por baixo da minha porta pela madrugada. E depois outras duas, em intervalos irregulares de dias.

***

Chris Joseph Campbell,

Parece incrivelmente errado começar uma carta com o seu nome completo quando já atingimos o nível de intimidade que nos permite ficar em silêncio enquanto você me desenha. Mas eu não me importo, porque já tentei escrever essa droga várias vezes e não consigo passar do primeiro parágrafo.

Lena me cobrou sobre a tarefa das cartas da Dra. Lee. Acho que tenho que admitir que até esse momento, eu não tinha escrito nem mesmo uma linha. Infelizmente, Lena já me conhece o suficiente para saber quando estou mentindo, e tive que lhe mostrar meia dúzia de envelopes fechados com folhas em branco para que ela se convencesse de que eu realmente estou fazendo alguma coisa.

Algo em mim quer preencher pelo menos um envelope com uma folha escrita, mesmo que eu não tenha a mínima ideia do que falar.

Eu não sou boa com palavras como você. Não sou boa desenhando ou fazendo qualquer coisa. Não sou boa com as pessoas, porque das últimas vezes que tentei fazer algo legal Emma tentou se matar e você acabou com um corte na testa.

Odeio que a única vez em que me sentia suficientemente boa em algo foi em malditos concursos de beleza. Ou da vez em que você me disse que eu era suficiente pra você.

Odeio pra caralho estar apaixonada por você, mesmo que esse seja uma das melhores coisas dentro de mim, quando todo o resto parece uma merda afetada pelo Borderline.

Lena fala coisas sobre você, que o amor é paciente e tudo mais. Que tenho que te esperar de alguma forma louca, como se um belo dia você fosse acordar sem toda essa obsessão pela Hannah. A minha parte racional sabe que isso não vai acontecer, mas todo o restante não consegue se afastar de você.

Você me fazer mal quando atacou o Mike me fez bem. Eu sei que isso parece muito contraditório e realmente é, mas concluí que eu gosto de você da maneira certa. Não, eu não estou apaixonada pela parte de Christian Campbell que quase matou alguém. Na verdade, eu odeio pra cacete essa parte e estou muito feliz por odiar. Todo o meu cérebro sabe que isso é errado, as partes racionais e irracionais e isso é muito bom, porque se não fosse assim, se eu conseguisse ainda te amar tanto quanto antes, eu daria mais passos para perto de você e para uma possível Síndrome de Estocolmo. E isso seria verdadeiramente ruim, mais um item na minha ficha de diagnóstico e mais dezenas de parafusos soltos dentro da minha cabeça sem que eu tenha a mínima ideia de como encaixa-los para que as coisas não pareçam tão erradas.

Na maioria dos dias eu sei como parafusar as coisas com o Borderline, então está tudo bem. Lena me ajuda a apertar os parafusos e encaixar tudo da melhor forma possível para que eu não fique cada vez mais desequilibrada antes de chegar aos 20 anos.

Para ser sincera, Lena teve tanta dificuldade de como lidar comigo quanto eu mesma. Sempre que eu ficava mal por alguma coisa, ela tentava me mostrar que poderia ser pior e que para outras pessoas era realmente pior.

“Eu não sabia que era uma competição de qual ferida dói mais”, eu respondia. E então pensava tanto sobre feridas que doeriam mais que a dor se tornava real e ainda mais forte até que eu perdesse totalmente o controle sobre a minha mente.

Então, começou com a técnica de me mostrar que aquilo poderia ser melhor. Isso aparentemente me ajudava porque eu começava a agir com a certeza de que tudo estava de fato melhor até que a realidade me atingisse como um vento gélido que atravessa a janela quando se espera uma brisa de verão, que congelava minhas esperanças e me levava de volta a cama e as crises de histeria que duravam madrugadas inteiras.

Agora, ela só tenta fazer com que a minha parte racional seja a dominante porque é onde os meus parafusos estão mais apertados.

Nem Lena nem a Dra. Lee conseguiram apertar os parafusos de Emma e eu tenho medo do que as partes soltas dela podem fazer porque sei que as minhas podem fazer exatamente o mesmo. Eu torço para que a Dra. Lee consiga apertar seus parafusos ou diminuir o volume da sua mente ou qualquer outra metáfora que você prefira para que eu consiga amar todas as suas partes sem dar mais passos para perto da loucura até que todos nós cairemos de um precipício.

Essa provavelmente foi a pior carta já escrita. Eu não me importo muito porque acabei de decidir que vou te escrever outras, e talvez eu mude de decisão ou realmente escreva e comece a levar a sério o objetivo dessa tarefa das cartas de desabafar.

Callie Rosalynne Blair, “Miss Suicídio”.


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Notas finais do capítulo

Se houver UM ser humano ainda vivo nesse história, se manifeste, por favor. Sinto que estou dando um grito no vácuo um pouquinho, sendo sincera. Quero estar aqui de novo



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