The Mistake Of Chris escrita por Realeza


Capítulo 11
What is schizophrenia and Christmas' promises


Notas iniciais do capítulo

*O que é esquizofrenia e promessas de Natal
Música: Paper Hearts - Tori Kelly
EXATAMENTE UM MÊS DEPOIS, CÁ ESTOU EU. Fala sério, pra quem achou que apareceria até o aviso dos 45 dias nos acompanhamentos, tá ótimo. Mais um capítulo com carta, devo dizer. Tá bem mais fácil escrever carta, então talvez elas apareçam um pouco mais. Essa é bem fofinha, no caso. Tá aí pra quem shippa Chris e Hannah. Tem uma lembrança mais recente do Chris com ela, alguns meses antes do hospital e tal. E um acontecimento no presente que tem relação direta com o final de um dos personagens do hospital. Além disso, o comecinho pode dar uma dica sobre o Objetivo Final pra quem é esperto.
Obrigada a todo mundo que está lendo. Nesse mês que se passou, a história conseguiu os lindos 150 reviews. Obrigada as pessoinhas que sempre comentam, amo vocês. Ah, vou deixar o link de uns posters da história aqui, pra quem quiser ver (tem mais, but, coloco no próximo capítulo).
—https://scontent-mia1-1.xx.fbcdn.net/hphotos-xpa1/v/t1.0-9/10456006_928302040588695_6067679257544315517_n.jpg?oh=1f40199d8dbb718147fcabb4a1d003b2&oe=56DBAA15 (um poster que eu fiz a tempão)
—https://scontent-mia1-1.xx.fbcdn.net/hphotos-xlp1/v/t1.0-9/12345648_940233446062221_490359109704931387_n.jpg?oh=c654965e71b13289702e07d87c74c915&oe=56DA581D (Callie rainha by autora).
—https://scontent-mia1-1.xx.fbcdn.net/hphotos-xlf1/v/t1.0-9/12346564_908627809226101_7537527375085995226_n.jpg?oh=81f2ac5d98bd67db1885207bef1668bb&oe=56D662EE (versão alternativa da Callie rainha que não é tão rainha assim, by Filipe)

É isso, aproveitem a leitura.



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Querida Hannah,

Escrevi para você no domingo passado. Já se passou mais de uma semana. Talvez isso seja errado. Com certeza. Steve me disse que eu poderia escrever mais cartas, se isso realmente me ajuda, e eu não sei se ajudar é a palavra correta. Me ajuda no Objetivo Final, e não sei se isso conta. Não conta.

O caso é que tenho pensado muito mais em você desde que comecei com essas malditas cartas. Muito mais. Se, como eu te disse na minha primeira carta, eu já ficava imaginando o tempo todo como estariam as coisas com você, agora eu vivo de lembranças entre nós, de coisas que poderíamos ter vivido caso eu não estivesse aqui.

E tenho que admitir que isso é torturante. Angustiante.

Quase choro sempre que penso em coisas desse gênero. Ou quebro alguma coisa. Ou bato em mim mesmo. Ou fico batendo a cabeça na parede sem parar e me perguntando o porquê.

Por que eu sou tão inútil? Por que só faço coisas ruins? Por que não consigo melhorar? Por que não posso simplesmente ser normal? Por que, primeiramente, eu tenho a maldita esquizofrenia?

Talvez você nem mesmo saiba direito o que é esquizofrenia. A maioria das pessoas não sabe, quero dizer, e mesmo que você não seja como a maioria das pessoas (certamente é melhor), irei te explicar. Se você pesquisar, vai encontrar a seguinte definição: transtorno mental que dificulta a distinção entre as experiências reais e imaginárias, interfere no pensamento lógico, nas respostas emocionais normais e comportamento esperado em situações sociais.

É claro que é a droga de uma definição médica.

Para mim, são as vozes e as ordens, é uma parte de você querendo obedecê-las. É o medo, e as mãos trêmulas. É a desconfiança, e o pensar que a qualquer momento alguém pode simplesmente sacar uma faca e te apunhalar. São as tonturas, os batimentos acelerados do coração, e a respiração entrecortada. É sua mente girando e girando. São os dedos apontando em sua direção, e as risadas, e os olhares estranhos. É a camada de suor na pele. É o desespero de não querer ficar num lugar onde todos te acham esquisito, é o som alto demais, e as vozes altas demais, dentro e fora da sua mente. É ver uma mancha na parede e esfrega-la até as pontas dos dedos sangrarem. É querer bater a cabeça na parede até desmaiar, é gritar sozinho no quarto perguntando pra Deus o porquê disso tudo. É só conseguir respirar quando consegue olhar para o céu. É a agonia de não saber o que fez de errado, e saber que tudo o que você faz é errado. É a pior coisa do mundo.

Hannah, se lembra de quando ficávamos olhando as estrelas de noite? Seu pai te ensinou a localizar as constelações quando a gente tinha uns 10 anos. Você acordava mal humorada várias vezes por ter ido dormir tarde ou até mesmo acordar pela madrugada para olhar o céu. Imagino que seu pai te despertava as duas da manhã, e sua curiosidade sempre vencia o sono. Você deveria andar pelo piso de madeira da casa nas pontas dos pés até a varanda, onde o pequeno telescópio estava instalado.

Você não era uma criança muito tranquila, Hannah. Era do tipo danada, que apronta e não tenta nem esconder. Falou por meses e meses que queria seu próprio telescópio, e sabia pelo sorriso de canto do pai que ganharia de Natal. Você simplesmente não era o tipo de pessoa que recebia um “não”. Pois bem, você acordou de madrugada na noite de Natal, e como já estava crescida para o conto do Papai Noel, não se interessava nem um pouco em ser uma boa menina. Desceu as escadas e encontrou um belo embrulho decorado nos pés do pinheiro. Carregou-o para cima e rasgou o papel de listras, espalhando retalhos pela casa. Minutos depois você estava de camisola e casaco na frente da minha janela, jogando pedrinhas para me acordar.

Me juntei a sua nova moda de pijama mais casaco de inverno, e atravessei a rua com uma fina camada de neve até a casa amarela, que brilhava com as luzes de decoração natalinas. Você reclamava em alto e bom som do tempo que te deixei esperando no frio gélido, e como não conseguia mais sentir as pontas dos dedos.

Na varanda da sua casa, você levou uma hora até montar o equipamento. Meus olhos lutavam insanamente contra o sono, sendo despertador pelos petelecos que você dava na minha testa. Seu cabelo estava totalmente desarrumado, e o verde dos olhos exibia um misto de cansaço, euforia e frustração pela demora em finalmente montar aquilo. Quando conseguiu, me arrastou pelo pulso até a beirada do local, e me empurrou para que observasse através do telescópio.

— Bem ali, tá vendo? — Você apontou para cima, em direção a uma constelação que eu já não lembro o nome. Me desculpe. — Chris, você tá cego? Ali!

Finalmente, depois de ver em seu rosto que você queria simplesmente me bater por não conseguir localizar, eu achei a tal constelação que você falava.

— É simplesmente incrível, Hannah! — falei, enquanto tirava os olhos do céu por um momento para te encarar. Fiquei revezando entre observar você, com o seu sorriso bobo de satisfação, e o brilho das estrelas. Era difícil até mesmo naquela época escolher onde manter o olhar, já que as duas opções eram visões incríveis.

— Agora pode me agradecer por te mostrar esse tipo de coisa. E por abrir meu presente de Natal antes da hora com você. Por você, aliás.

Nós tivemos de entrar minutos depois, pois nenhum dos dois aguentava o frio. Eu tinha que ir para casa, é claro, mas não fui. Você me puxou para o seu quarto com os dedos gélidos no meu pulso, enquanto pegava uma pequena lanterna escondida entre os livros. Nos embolamos na cama, por baixo de camadas e camadas de cobertor, e você acendeu a lanterna, deixando a luz brilhar entre nós dois. Seu nariz estava vermelho por conta do frio, mesmo que já estivéssemos nos aquecendo, e você ainda exibia o mesmo sorriso bobo de felicidade. Eu já falei que sou apaixonado pelo seu sorriso? Talvez eu tenha percebido naquele instante, enquanto você me encarava e puxava minha mão para entrelaçar a sua.

— Nós vamos ficar pra sempre juntos, não é? — Você me perguntou, com o sorriso se desmanchando um pouco.

— Sempre.

Lógico que foi uma resposta de momento, e que tinha tanta incerteza na minha voz que fiquei com medo de que percebesse. Era mais algo em que eu queria acreditar, e quem sabe se você conseguisse ter essa certeza, eu também conseguiria. Quando se tem 10 anos, mesmo que os problemas sejam literalmente maiores que você, você simplesmente não consegue não ter esperança, mesmo que eu já tivesse imaginado mais de uma vez que os assistentes sociais poderia levar eu e Steve caso as coisas piorasse. Fechei os olhos e pedi a Deus que realmente nos deixasse juntos pra sempre, apenar de tudo. Parece que o pedido foi em vão, considerando as circunstâncias atuais.

Falando em circunstâncias atuais, no momento, estou com um hematoma roxo logo abaixo do olho. A parte mais engraçada, na minha opinião, é que apanhei de uma garota que eu nem ao menos conheço realmente. Quer dizer, ela se chama Nikky, e é a namorada do Jeff. Ontem ela veio visita-lo, e bateu na porta do meu quarto quando já estava indo embora. A garota deve ter uns 20 anos e estar na faculdade. Perguntou se eu era mesmo o Chris com um sorriso simpático, combinando com os cabelos castanhos na altura dos ombros, e quando confirmei com um aceno de cabeça, simplesmente parou de sorrir e socou minha cara.

— Obrigada por ser um idiota e ferrar com a minha vida! — gritou, e saiu andando pelo corredor com passos rápidos, desfilando enquanto balançava os quadris largos. Tenho que admitir que ela bate bem forte, e que por pouco não me derrubou, mesmo sendo bem mais baixa do que eu. A melhor parte é que eu literalmente não disse nem mesmo uma palavra a Nikky. Defini que ela e Jeff foram feitos um para o outro, que nunca existirá alguém melhor para ele.

Agora ela e o namorado me assustam, principalmente pelo fato de que Jeff declarou em voz alta que quer me matar, e só não faz isso porque não consegue com os guardas o vigiando. Eu o denunciei por usar drogas aqui dentro. É uma longa história, na verdade, e eu prefiro não comentar.

Vou fazer questão de falar sobre isso com a Dra. Lee na segunda. Ela passou a terapia inteira na quarta tentando me fazer ser mais participativo, mas foi uma perda de tempo. E só serviu para me deixar estressado. Se quando nem mesmo falo nada já apanho, porque vou me arriscar a me aproximar de alguém e coisas do tipo? Pra mim, me parece mais um risco a minha própria segurança.

Não sei porque me surpreendi tanto por Nikky ter me batido. Não é como se eu nunca tivesse apanhado na vida. Na verdade, ganhar apenas um soco era um golpe de sorte. Sem nenhum motivo aparente, um dia eu fui interrompido no caminho de volta pra casa e acabei cuspindo sangue no asfalto e me perguntando se eles tinham finalmente quebrado alguma das minhas costelas depois de tantos chutes. Eu esperei até ter certeza de que tinham ido embora, e fiquei deitado no chão até que a dor se amenizasse o suficiente para conseguir levantar.

Escondia os machucados entre as peças de roupa, mas é meio impossível disfarçar um olho tão machucado a ponto de mal se abrir, porque eu aparentemente estava lançando um olhar desafiador a um cara do colégio. Eu nem mesmo tenho um olhar ameaçador, apenas um olhar de quem está sendo ameaçado. Foi difícil pra Steve fingir não reparar, e fazer mil perguntas sobre como raios eu tinha acabado daquele jeito. Por fim, decidiu que eu deveria começar a fazer exercícios físicos para ficar mais forte. Era uma besteira, é claro, mas era melhor que esperar até que quebrassem minha mandíbula e eu ficasse com a cara deformada.

Quando começamos o ensino médio há quase dois anos, você mudou de escola. Foi desesperador, Hannah. Porque você não iria mais estar comigo durante as aulas, não me salvaria dos atrasos invadindo meu quarto nas segundas de manhã, e não me ajudaria nos trabalhos de ciências biológicas. Entrei em desespero porque tinha certeza que você encontraria pessoas novas e melhores do que eu no novo colégio, e eu só te veria pela janela do meu quarto enquanto você e algum cara conversavam na grama do seu jardim. Felizmente, eu era o cara com que você conversava na frente de casa no fim da tarde.

Afinal, nada mudou. Ou tudo mudou. Você falava animadamente dos novos colegas de classe e dos projetos das aulas enquanto estávamos sentados no chão do seu sótão, com o sol entrando de leve pela pequena janela, e eu apenas acenava com a cabeça. Quando me perguntava algo sobre como estavam as coisas no colégio, apenas respondia que estava tudo na mesma, e não em como eu tinha cada vez mais medo das pessoas de lá, de como suava frio quando todos conversavam muito alto e como os gritos nas aulas de educação física me atormentavam e me rendiam várias boladas.

Você sorria para mim sem perceber que eu escondia algo. Talvez fosse nessa época que eu comecei a mentir tão bem. Não, ninguém me incomoda na escola. É, estou me dando bem nas aulas. Sim, vou fazer o trabalho em grupo, nós vamos nos reunir na sexta. Tenho que falar que você tinha mudado bastante, Hannah. Com 15 anos, não era nem de longe a mesma garotinha que se mudou pra casa em frente à minha. Tinha crescido, o cabelo batia na cintura fina que você odiava, mas que eu secretamente amava e achava simplesmente sexy demais, o que contrastava com o sorriso infantil. Você usava maquiagem, mesmo que eu dissesse que era linda quando tinha acabado de acordar. Tinha se tornado o tipo de garota pela qual os garotos se apaixonavam, e eu era a prova disso.

Você havia criado uma mania linda de sorrir e franzir o nariz ao mesmo tempo. Era a coisa mais linda do mundo. Sinceramente, seu sorriso era uma das poucas coisas que tinha o poder de iluminar meu dia. Você tinha deitado no chão do sótão de barriga para baixo, apoiando a cabeça sobre os braços. Eu estava ao seu lado, na mesma posição. Parou de sorrir por um segundo e me encarou séria, como se de repente tivesse notado algo de muito grave. Fiquei com medo de que me olhasse nos olhos e me dissesse que sabia que tudo era mentira, mas você estendeu a mão e tocou meu rosto com as pontas dos dedos deslizando pela minha bochecha. E não disse nada. E foi um dos melhores momentos da minha vida. Porque eu tinha a certeza de que uma parte de você sempre estaria comigo, então de um jeito ou de outro, a promessa que eu tinha lhe feito no Natal cinco anos antes ainda estava de pé, e uma parte de mim também estaria com você. E nós estaríamos juntos para sempre.

Estou sorrindo enquanto lembro dessa cena, mas tenho uma vontade profunda de começar a chorar. Lembrar de você dói muito, Hannah. Escrever sobre as lembranças dói mais ainda. E me desculpe se tiver marcas de lágrimas nessa carta. Sinto sua falta. Nunca senti tanta falta de alguém. Quando não te escrevia, simplesmente evitava lembrar de nós, e preferia fantasiar sobre como você estaria agora, mas não consigo mais fazer isso. Não consigo. Porque não consigo pensar que você está bem com outra pessoa e não sente minha falta, e que nunca mais teremos momentos tão lindos como aquele. Nunca pensei que fosse dizer isso, e que Deus me perdoe, mas quero desesperadamente voltar ao passado, porque apesar de ser péssimo e desastroso, eu ainda tinha você, e isso bastava.

Com amor,

Chris.


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Notas finais do capítulo

Deixe sua opinião aí embaixo nos reviews (sua opinião sincera hein).
Perguntas de hoje:
—O que acham desses últimos meses dos quais o Chris se lembra? Essa memória com a Hannah não dá muitas pistas, mas coloquem a cabecinha pra trabalhar.
—Algo sobre o Objetivo Final? Ou ainda é puro mistério?
—Sobre a Nikky, da onde acham que veio esse comportamento? E o que ele pode desencadear (valendo palpites sobre o final da história.
—Criar ou não criar um tumblr pra TMoC? (eu tinha começado a fazer um, mas tava apanhando muito do HTML de lá e apaguei).
Ah, tentem preencher a lacuna de "o que pode ser melhorado?" hoje. Por favor, por mim. Sim, estou pedindo críticas. E falando nisso, o parágrafo onde o Chris define a esquizofrenia pra ele tem várias orações que começam da mesma forma, de um jeito repetido. É uma figura de linguagem, antes que apontem como um erro (metonímia, gente). Fora que fica de um jeito mais natural, como se fossem mesmo os pensamentos do Chris, todos bagunçadinhos.
É isso, até mais ♥



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