Eu não entendi de primeira, estava meio atordoada com o que aconteceu. Kaio estava me beijando, meu corpo estava imóvel, até algo para o beijo, que foi Leo. Eu apenas vi ele dando um soco na cara de Kaio. Aquilo me fez acordar. Leo chutava a barriga de Kaio, que estava no chão. Pouco tempo depois, Kaio se levantou e socou a barriga de Leo com o próprio punho. Não conseguia distinguir quem era mais forte, mas acho que Kaio tem um histórico de violência maior, então... O sangue pulava da boca de Leo, que chutou Kaio com tanta força que ele parou do outro lado do corredor. Todos os alunos olhavam para a briga, que acontecia no meio do colégio. Eu estava parada, com os olhos do tamanho de pratos, e na minha frente, Catarina, com um sorriso de demônio estampado no rosto. Leo não quis mais ficar na briga, então deixou o corredor. Acho que ele deixou a escola também.

Corri até Kaio e só faltei bater mais nele, mas como o coitado estava estraçalhado por completo, não quis fazer um estrago maior.

—Por que você fez isso?!— gritei, tentando ajudá-lo

—Deixá-lo com...— ele gemeu— ciúmes é uma boa saída para ele admitir que gosta de você...

—Meu Deus! Você é mais idiota do que eu imaginei!— berrei— De onde você tirou essa ideia absurda?!

—Catarina. Ela disse que eu podia ajudar assim...

Engasguei. Como aquela... Nojenta pode fazer isso?! Olhei para trás e vi ela sorrindo, satisfeita com o plano maléfico funcionando. Levei Kaio para a enfermaria e corri atrás de Leo. Ele era o único garoto que amei, na vida inteira.

Vasculhei a escola toda, até achá-lo debaixo da escada do campo de futebol que tinha no colégio. Olhei para ele meio sem jeito, mesmo eu não ter beijado Kaio, Leo pode pensar que sim. Pode pensar que somos namorados, ou coisa pior. Leo ainda não tinha me visto, estava mexendo na "aliança" de cadarço, e parecia estar com o coração inundado de rancor. Até que ele me viu e me ignorou.

—O que está fazendo aqui?— perguntou ele

—Eu queria conversar...

—Não tenho nada para falar com você. Vai conversar com o seu namorado.

Leo se levantou de debaixo da escada e ficou no meio do gramado. As nuvens estavam negras, querendo uma chuva à qual quer hora. Será possível que sempre quando eu falo com ele começa a chover?! O universo não conspira conosco por acaso? Me aproximei em passos lentos e disse com uma voz chorosa:

—Por que você não quer me ouvir?

—Não importa mais. Pode ficar com seu namoradinho, assim que a festa dos anos 60 acabar, eu e meu pai vamos embora deste país.— senti o peito doer— Deve ser um alívio pra você não é?

—Você sabe que eu não sou assim!

—Mas o que eu estou reclamando? Não devia estar triste. Não somos nem namorados, nem ficamos... Somos... Colegas de classe.

Aquele "Colegas de classe" me matou. E como assim ele vai embora? Eu não conseguia imaginar meus dias sem aqueles olhos azuis olhando para mim, sem vê-lo todos os dias. Fiquei tonta só em pensar, queria estrangular Catarina, por enganar Kaio e mentir para Leo.

—Eu e Kaio não somos namorados!— falei

—E o que é isso?— Leo me mostrou o celular e vi a foto, a mesma que Catarina me mostrou— Desminta isso.

Não sabia o que dizer, não queria dizer mais nada. Mas era Leo... Minhas pernas estavam fracas. Vê-lo irritado me assustava, vê-lo com os olhos azuis enfurecidos me fazia gelar. Queria sacudi-lo e dizer: Seu idiota! Apenas acredite!

Mas não fiz nada disso. Apenas chorei. Leo olhava ara mim com desgosto, como se quisesse escarrar em mim. Aquilo tudo estava acabando comigo, Catarina, Leo e Kaio... Todos eles eram responsáveis. Talvez minha vida não seja tão difícil, eu devo tê-la complicado tanto que está como está. A chuva começou.

—Você não se lembra não é...?— berrei

—Lembrar do quê?!— gritou ele, que fez minha espinha gelar

—Da promessa! Da promessa que fizemos quando criança!

—Você é louca? Eu só conheci você este ano!

Fiquei com tanta vontade de enforcá-lo, mas não fiz isso. Agarrei a gola dele e disse:

—Você me conheceu à seis anos atrás! Perdeu sua memória num acidente!

—Chega!— ele me empurrou— Eu não quero ouvir mais nada!

—Qual é o seu problema garoto?!

—EU TENHO CIÚMES!

Leo deu as costas e me deixou no gramado, me molhando por conta da chuva. O que eu fiz para merecer isso? Minhas pernas vacilaram e caí no gramado, chorando feito uma boba. Vi Lúcia correndo em minha direção. Ela era a única que eu queria ver agora, minha melhor amiga. Lúcia se jogou no gramado e me deu um abraço. Sabia que eu não queria falar agora.

Eu queria muito que fosse diferente. Muito.

O decorrer do dia foi triste, e o clima estava de acordo com o meu humor: chuvoso, triste e silencioso. No fim da aula, chamei Lúcia para ficar na minha casa comigo, não queria ficar sozinha. Ela assentiu e fomos juntas a chuva.

Lúcia adorou o modelo do vestido e disse:

—Que lindo amiga! Você vai usar na festa dos anos 60?

—Não vou mais... Eu queria estar bonita para uma pessoa apenas, mas ela não quer nem mais olhar na minha cara.— disse tristonha

—Está falando do babaca do Leo? Você é jovem garota! Tem muito gatinho na nossa sala! Mostre à esse galã de meia-tigela que você está livre, e não precisa dele!

—Eu cumpri minha parte da promessa.

—Mas ele não! Eu não faço promessas por isso: as pessoas quebram.

Normalmente Lúcia conseguia me animar, mas hoje eu estava péssima. Ela se ofereceu para me ajudar à fazer o vestido de bolinhas, e até que eu aceitei.

Fizemos um lindo vestido de bolinhas sem mangas, a saia era solta e quando eu rodava ela voava livremente. Só faltava dar o último ponto no vestido para terminar, e Lúcia me ajudou a finalizar o vestido. Fizemos um laço com a fita azul e Lúcia colocou nos meus cabelos ruivos. Ela passou um batom vermelho nos meus lábios e penteou minha franja curta. Lúcia tirou um par de sapatos pretos bem engraxados e pediu para eu calçar.

—Você está linda amiga.