Funest Cupiditas escrita por Mrs Born to Lose, Davink


Capítulo 4
Maxime faciem deprimentium - A Mais Deprimente das Faces


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores!!
Esse capítulo foi escrito por Chocolates do Mello, e editado por Mrs Suicidal.
Pois bem, postaremos sem tanta demora, agora.
Boa leitura!!!



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A parte mais difícil foi carregar o corpo até o Bentley 76 estacionado há duas quadras do beco onde nos encontrávamos. Albert não estava morto, não ainda pelo menos. Vez ou outra ele soltava gemidos irreconhecíveis e frases sem sentido, com certeza clamando por misericórdia. Idiota, mal sabia ele que a diversão nem tinha começado ainda.

No meio do caminho uma fina garoa começou a cair, molhando minhas roupas, minha pele e meu ser.

Algo naquela chuva me parecia familiar, cada gota que se chocava contra mim fazia com que eu lembrasse daquela fatídica tarde de sábado, o dia em que eu finalmente me libertei.

Vários policiais se amontoavam tentando me proteger com seus guarda-chuvas, mas pela primeira vez em muito tempo eu ansiava em ser tocada por algo tão doce e belo, algo que eu considerava inalcançável de dentro daquele maldito porão.

Depois de horas de interrogatório e infindáveis perguntas respondidas eles chegaram a conclusão de que eu claramente era uma vitima dos abusos de meu pai, após aquele dia eu nunca mais fui a mesma, tanto pelo fato de me tornar o que me tornei quanto por me tornar algo como a "protegida" da polícia. Novamente pude ver o quão ignorante os homens são, por mais que demonstremos ser fortes e auto suficientes eles sempre acham que precisamos de proteção. Que precisamos deles.
Minhas mãos involuntariamente fecharam-se em punho.

–So...cor...ro! - Um grito, que mais soou mais como um gemido entrecortado arrancou-me de meus devaneios e pus-me a fitar uma cena lastimante, o loiro arrastava-se pela calçada em direção à avenida em uma fracassada busca por ajuda.

– Ah, por favor! Não faça isso, você não tem ideia do quanto é deprimente de se assistir! - Agarrei a gola de sua camisa e puxei-o de volta -Seja um garoto bonzinho e quem sabe eu faça você se divertir um pouco antes de morrer, hein?!

Acabei por ter que arrastar aquele infeliz o restante do caminho, joguei-o no banco traseiro e acelerei avenida a fora. Tenho que confessar uma coisa: correr a quase 100 km por hora numa pista molhada era realmente reconfortante, loucura com uma pitada de insanidade também mas com certeza me acalmava de uma maneira que quase nada era capaz de fazer. Infelizmente como tudo que é bom nessa vida acaba rápido não foi surpresa alguma para mim encontrar com uma blitz rotineira, reduzi a velocidade uma curva antes de ser parada.

– Habilitação e documentos do veiculo, por favor. - Pediu o guarda encostando no para brisas, ele mascava chiclete e o cheiro praticamente toxico de tutti frutti adentrou o carro, fazendo-me ter ânsias de vomito.

–Algum problema? - Perguntei tentando desviar sua atenção para mim, por algum motivo ele estava ficando interessado no banco de trás.

–Ham... nada de mais, apenas um trabalho de rotina. O que aconteceu com ele?

Apontou na direção de Albert e naquele momento tive certeza de que Albert saltaria do assento e calmaria por ajuda mas ele não se mexeu, não emitiu nenhum ruido por menor que fosse.

– Bebida! - Soltei sem pensar muito no que dizia, pensei que se falasse mais do que devia ele ficaria entediado e me deixaria ir - Sabe como é, algumas pessoas não sabem controlar.

Dei um tapinha nas costas de Albert que continuou imóvel. O homem analisou os documentos e os devolveu em seguida, e sem tirar os olhos de mim, disse que eu estava liberada.

Se aquilo foi estranho? Digamos que sim, no entanto eu não estava totalmente ligada na conversa e assim que me vi livre acelerei novamente.

– Chegamos! - Anunciei mais para mim mesma, já que eu não fazia ideia se Albert ainda estava vivo ou não. - Vamos, acorde! Chegou a hora da brincadeira.

Sorri enquanto arrastava o semi morto pelo chão úmido da garagem, por algum motivo Albert resolveu dar sinal de vida protestando e tentando se livrar de minhas mãos.
Empurrei-o pelos ombros e ele bateu feito um saco de batatas contra a parede oposta.

– Já disse para não fazer isso. É... lastimante. Ele escorregou até o chão, sangue esvaia-se de sua boca, o loiro pendeu a cabeça para o lado, desmaiado.

Suspirei.

– Já tive brinquedinhos que duraram mais....

Estava pronta para terminar o serviço quando a porta da frente abriu, fazendo um o pequeno estalo característico. Entrei em estado de alerta eu tinha entrado pela porta da garagem então como a porta da frente poderia ser aberta? Ela deveria estar trancada.

Escondi Albert dentro de um dos quartos de hóspedes, tirei os saltos e fui até a sala, tudo estava escuro devido ao fato de eu não gostar muito de luz, passar tanto tempo presa no breu ainda tinha efeitos sobre mim. A porta de fato estava aberta, mas não havia sinal de arrombamento, o que descartava a possibilidade de ser um ladrão ou algo do tipo. Pensei que talvez fosse uma das empregadas mas não era possível já que todas elas folgavam aos domingos.

Segui até a cozinha tentando não fazer barulho, foi quando um som horrível de algo sendo quebrado reverberou por toda casa, não uma mas duas sombras vestidas de preto passaram voando, um deles se chocou contra mim e caiu. Um par de olhos negros me encaravam por detrás de uma máscara preta, parte do cabelos vermelho vivo saia desgovernado pela abertura da mascara, ele se levantou e saiu correndo. Fiquei ali estagnada, observando o delinquente fugir, não fiz nada por dois motivos. O primeiro é que eu ainda tinha um cadáver para dar fim e segundo eu ainda não sabia o quanto aquela situação poderia me ser útil. Ignorando os fatos anteriores fui em busca de Albert ou pelo menos o que tinha restado dele. Não o encontrei.

A porta do quarto estava partida em duas, o que deve ter assustado os ladrões, mas Albert fizera aquilo? Ele mal estava aguentando consigo mesmo, a menos que...

A verdade me atingiu como um tapa na cara, como pude ser tão burra? Ele estava fingindo! E eu acreditei!

A raiva borbulhava dentro de mim, ser enganada novamente era algo que eu não suportaria, antes mesmo de sequer raciocinar me pus a procurar aquele miserável, um bastão de beisebol rolava entre meus dedos.

Ele tentou fugir, mas não era páreo para meus reflexos instantâneos. Mesmo que estivesse fingindo, ele ainda estava machucado. Golpeei-o incontáveis vezes.

Eu precisava daquilo. Ele precisava.


Depositei seu corpo sobre a cama de casal, mesmo com vários hematomas pelo corpo ele se mantinha firme, eu até que poderia me divertir um pouco mais com ele, mas decidi que já tinha me envolvido demais com aquele bastardo, não queria que nada na autópsia me ligasse a ele.

–P-Por que... Está faz-endo isso? - murmurou entre dentes, as vezes se engasgando com o sangue.

Aproximei minha boca de seu ouvido: - Porque cansei de ser a presa, simplesmente por isso.

Albert me encarou como se não entendesse nada do que eu estava falando.

–Venha. Tenho algo pra te mostrar. - carreguei-o até o peitoril da varanda. - Se conseguir descer até lá embaixo está livre para ir em bora.

Ele me encarou como se seu fosse louca, mas quando percebeu que eu falava sério, equilibrou-se meio descuidado e pôs-se a descer. Com um último suspiro de adeus, um sorriso involuntário se formou em meu rosto. Não foi preciso muito esforço e logo Albert foi jogado no ar.

Não olhei sua queda mas o barulho do corpo chocando-se contra a água era musica para meus ouvidos.

E aquele pássaro tão simplesmente fracassado, sequer aprendera a voar.

Ah, sua face... E tão deprimente encará-la.

E então, deixei que o sorriso em meu rosto se desfizesse. Era hora de me preocupar com coisas maiores. Aquele corpo, inerte, na água, sequer chegava à minha mente como objeto de importância.


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Notas finais do capítulo

Então é isso, amores. Comentem, nós temos medo ~muito medo~ de fantasminhas.
~Chus de avelã