A Garota Problema escrita por Brê Milk


Capítulo 41
Gangue de idiotas e festa de despedida.


Notas iniciais do capítulo

Hey amoras, tudo bem?
Eu sei, demorei mas trouxe capítulo junto comigo e espero que gostem dele viu?
Ah e MUITO OBRIGADA SECRET GIRL PELA LINDA, DIVA, FABULOSA RECOMENDAÇÃO ❤❤ Eu te amo muito garota!
E ah leiam as notas finais É IMPORTANTE!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/566504/chapter/41

O problema da vida é que ela sempre tem que se complicar em algum momento. No pior momento na verdade, só para piorar ainda mais a situação.
E era isso que estava acontecendo agora comigo, a vida resolveu me surpreender e me dar uma preciosa lição - as pessoas mudam - e eu mudei.
E agora, depois de um ano de luta, acabei cedendo e deixando minhas fortalezas caírem, uma por uma. E só agora enquanto fecho o zíper da última mala de viagem sobre a cama, percebo o quão apertado meu peito está.
Respiro fundo e passo a mão pelos olhos, tentando evitar que as lágrimas caíam quando a ardência em meus olhos terminar. Fungo e coloco a mala com um pouco de dificuldade no chão, olhando ao redor do quarto em seguida.
Uma dia. Faltava apenas um dia para eu ir embora, e isso não poderia me deixar mais aterrorizada. A semana havia passado tão de pressa que eu quase não percebi.
Parece que todos do internato já sabiam, até os professores que durante a semana se despediram de mim, tudo bem que eu não gostava muito deles e fazia bagunça na sala, mas até que eles não são tão ruins assim. E havia uma em especial, a professora de música que chorou quando nos despedimos ontem, as únicas a restarem na sala após o sinal tocar. Uma despedida agradecida e linda.
Mas bem, pelo menos eu havia passado de ano não havia? Fiz as provas mais cedo antes de todos e consegui passar. Mesmo isso não me importando muito, aposto como teria que estudar em uma escola no Canadá e isso não me agrada.
Meu lugar é aqui, no Brasil, nesse internato.
Mas por que isso não me parece mais o suficiente? Como se faltassem motivos para ficar? - porque eu sei que faltam. E ele tem nome:
Vicente.
O idiota não falou comigo desde daquele dia então, e isso só mostra o quanto insignificante eu sou para ele.
Que boba você Juli! Querendo ficar por causa dele, agora!

Balanço a cabeça mais uma vez e pulo na cama, pensando aonde estaria as meninas e Pablo agora. Já são onze da noite e pelo que eu saiba o horário de recolher já passou faz tempo. Mas me lembro que devem estar ensaiando no porão, claro.
Reviro os olhos e me cubro com o lençol até a cabeça. Só queria dormir e tentar esquecer de tudo desses últimos dias. As lágrimas, as discussões, o nervosismo, as notícias que eu ainda não recebi de Fátima e do estado do meu pai lá no Canadá... Tanta coisa!
Fecho os olhos, tento dormir mas não consigo. Então resolvo contar para ver se ajuda.

1...
2...
3...
4...
5...
6...
7...
8...
9...
10...

E escuto algo batendo contra a janela do quarto. Tiro o lençol de cima de mim e levanto da cama, caminhando desajeitadamente até a janela, a abrindo e tendo uma surpresa.

– O que diabos vocês fazem ai? - pergunto, me debruçando sobre a janela.

Os nove idiotas lá embaixo riem e acenam para mim, percebo o quanto ridícula devo parecer.

– Desce aí, rápido - ouço André murmurar e arqueio as sobrancelhas.

– Anda logo - bufo com a impaciência de Pablo.

Faço um gesto para eles esperarem e caminho até o closet, puxando de lá uma jaqueta preta e colocando por conta do vento lá fora. Me agacho e arrasto os tenista de baixo da cama, os calçando em seguida.
Logo após vou até a janela e sento no parapeito, jogo as pernas para fora e desço escalando pelos galhos do muro. O vento joga meus cabelos de um lado para o outro enquanto me concentro em colocar um pé abaixo do outro, para não cair. Quando olho para baixo e vejo uma altura já aceitável, largo os galhos interligados ao muro e pulo, aterrissando no chão agachada e intacta.
Me equilíbrio e arrumo os cabelos, olhando as pessoas à minha frente.
André, Laura, Bler, Gustavo, Melissa, Pablo, Tomás e Vicente... Todos com sorrisos nos rostos e roupas pretas.
Arqueio as sobrancelhas... Aquilo era uma caixa de ovos e papel higiênico nas mãos de Vicente?

– O que é tudo isso? - olho diretamente para ele.

– Bem, hoje é a sua última noite aqui... - Bler começa.

– Então achamos que seria direito seu vandalizar um pouco a casa da secretária - Vicente diz, encolhendo os ombros enquanto abre um sorriso torto.

Abro a boca e uma risada sai. Não acredito, eles estavam dizendo mesmo isso? Se bem que não seria uma má ideia.

– Vocês até podem ser uns idiotas, mas são bens geniais quando querem - sorrio e vejo as caretas deles.

Vicente revira os olhos e me entrega uma das caixas de ovos, sério agora. Sua mão nem chega a tocar na minha... Evito enrugar a testa.

– É melhor a gente ir - Melissa diz, parando ao meu lado e colocando a mão em meu ombro.

Quebro o contato visual com ele e apenas balanço a cabeça, confirmando. Todos correm para trás do internato e eu os acompanho, tendo cuidado para não deixar os ovos caírem.

– E os seguranças? - me apresso a perguntar quando nos aproximamos da entrada do internato.

– E quem disse que vamos pela frente? - Lauta ri, me fazendo sorrir.

Corremos mais um pouco, uns ao lado dos outros até que chegamos na parte de trás do internato, onde continha um grande muro alto.

– Iremos pular, não iremos?

Bler assente com a cabeça. Encolho os ombros e todos se entreolham receosos. Ah cara, eles nunca haviam feito isso?

– Vocês nunca haviam fujido? - pergunto, descrente de mais.

– Vamos dizer que não - Pablo murmura, com a mão na cintura como sempre.

– Mas precisamos que uma pessoa escale primeiro - Tomás diz, ele estava certo.

– Eu vou - Eu/ Vicente dizemos juntos.

Nos encaramos e reviramos os olhos. Nem no meu último dia ele consegue deixar eu fazer uma coisa sozinha?

– Tudo bem, vão os dois juntos antes que alguém nos vejam. Andem. - é a vez de Laura ser mandona.

Com um suspiro, caminho até o muro e o olho de baixo, na verdade é mais alto do que eu pensei. Mordo a parte de dentro da bochecha, como é que eu vou subir nisso?

– Vai ficar aí? - reviro os olhos com a voz irritante do idiota.

O olho e ele já estava ao meu lado. Pisca o olho e começa a escalar o muro, colocando os pés em pequenos buracos no muro esticando as mãos, segurando em alguns galhos vindos da árvore ao lado que alcançando ao muro.
Vamos Juli, prove que você consegue! Você já subiu na barca desligada não? - minha consciência estava certa, eu podia fazer isso.
Entrego a caixa de ovos para Bler e volto até o muro.

E então começo a escalar também, fazendo o mesmo que Vicente, só que ele já estava lá em cima, jogando as pernas sobre o muro pronto para pular. E eu ainda aqui, me agarrando aos galhos.
Respiro enquanto me forço a subir e depois de algumas derrapadas estico meu braço para cima para agarrar a base plana do muro mas meu pé acaba escorregando do buraco e eu deslizo, acabando por ter a certeza que iria cair e me espatifar no chão.
Mas não, ao invés disso sinto alguém agarrando rapidamente minha mão esticada e me puxando com estrema força para cima, me puxando para si. Respiro fundo, o coração acelerado pela adrenalina e levanto os olhos, encontrando os de Vicente arregalados. Ele havia me salvado, evitado que eu caísse. Parece que o jogo virou, já que ele havia me resgatado de seu medo.

– Você já esteve em uma gangue, já deveria saber que muros são perigosos. - ele diz, enquanto me solta e pula para o lado de fora do muro.

Abro a boca indignada com seu comentário e estreito os olhos lá para baixo, vendo Vicente se levantando enquanto limpa suas roupas. Jogo as pernas para frente e salto, acabando por aterrissar de pé no chão, o que me surpreendeu por conta da altura. Olho para ele que me encarava boquiaberto e encolho os ombros.

– Como você disse, eu já estive em uma gangue. - ironizo e ele revira os olhos, cruzando os braços e esperando os outros pularem também.

– Engraçada.

– O que levou vocês a fazerem isso? - pergunto, curiosa demais para não perguntar.

– Bem, você já teve uma gangue. E agora tem nós, então é melhor do que nada - ele murmura, sorrindo para mim.

Eu havia entendido. Eles só queriam me mostrar que eu não preciso estar em uma gangue para ser aceita, que eles poderiam ser a minha gangue, os meus amigos, a minha família... Droga, que meus olhos não marejem!
E espera... Vicente havia dito "nós" ? Isso quer dizer que ele estava incluindo ele também?

Paro de pensar com o barulho de alguém gritando e vejo Pablo estirado no chão, berrando algo como suas unhas quebradas. Balanço a cabeça e corro até ele, o ajudando a levantar. Logo depois Melissa pula, sendo seguida por Gustavo e assim por diante até todos já terem pulado.

Em seguida me dou conta que havia deixado a caixa de ovos do outro lado do muro antes de pular e bato na testa, mas logo me surge Bler sorrindo com a caixa de ovos na mão. Franzo a testa, como ela havia pulado com aquilo na mão...

– Só foi pular com ela levantada no ar e aterrissar em pé - murmura encolhendo os ombros.

Assinto e logo após vejo todos correrem pela rua de trás do internato. Os acompanho e vejo o quão escuro esta mas logo vejo o carro de Vicente estacionado a frente. Ele desliga o alarme e todos entramos, logo em seguida o dono do carro canta pneu até a casa da secretária com ataque de pelanca que eu não sei onde fica, mas que com certeza ficará com uma decoração especial de cascas de ovos e papel higiênico barato.

...

E aquela noite poderia ser considerada a melhor que eu já passei com meus amigos. Havíamos bombardeado a casa da secretária que eu não faço questão de lembrar o nome. Atiramos ovos e papel higiênico por toda a casa do lado de fora, mesmo que eu tenha arremessado um com extrema força e tenha quebrado a janela, mas tudo bem. Tivemos que sair correndo no fim, livres e felizes. O esquecimento dominando nossas mentes para não lembrarmos das aflições do futuro. Naquele momento eu havia sido mais do que Juli, eu havia sido Julia, a filha de Lívia Lacoste, que era uma artista nata. Eu tinha a certeza que havia me tornado minha mãe, que onde quer que ela estivesse, sentiria orgulho de mim. Não por eu sair por aí vandalizando a casa da secretária, mas por ser quem eu me tornei.
E agora, enquanto tenho o cuidado de entrar para dentro dos corredores do internato com a galera, sei que não consigo mais me imaginar sem eles. E é justamente o que vai acontecer, eu vou ficar sem eles...

O escuro é tudo que vejo. As luzes dos corredores todas desligadas e silêncio ecoando, e quando procuro por um dos meus amigos atrás de mim não sinto ninguém. Fico confusa... Onde eles estavam?...

– SURPRESA!! - Ouço gritos.

Me viro para a frente e as luzes são acesas. Passo meus olhos por todo o local e vejo uma faixa grande pendurada em frente a escada com os dizeres "Sentiremos sua falta Juli" escrito. Um bolo enorme em uma mesa de frente a escada no corredor principal e todos meus professores, colegas de sala e os diretores presentes. E ah, também vi Francisco ali no meio, já de pijama enquanto esfregava os olhos e os meus amigos com sorrisos travessos juntos ao lado do bolo. E Marcelo também.
Senti um sorriso se formando e as lágrimas escorrendo. Definitivamente, eu já era aceita no mundo.

– Uau - foi tudo que consegui falar.

De repente já estava sendo rodeada de braços a minha volta e consegui ouvir gritos de todos. Gargalhei e comecei a agradecer, indo falar com um por um e ouvindo junto com todos o que cada um ali tinha para me falar.

– Sentiremos sua falta - foi a vez de Laura falar por todos meus amigos ali, enquanto chorava.

– Eu também seus babacas - disse, tremendo um pouco.

– Você não vai se esquecer de mim né? - Francisco perguntou, de repente sem o jeito serelepe.

– Claro que não. Você é o melhor pirralho do mundo - disse enquanto agachava para abraça - lo.

E assim fiquei, me despedindo de um por um ali. Afinal já era meia - noite e daqui a pouco tempo eu estaria dentro de um avião partindo para depois do oceano. Ouve choros, risos e despedidas.
Um tempo depois foi a despedida definitiva e todos foram dormir, enquanto eu fiquei encostada no corrimão da escada pensando em por que Vicente foi embora quando chegamos. Ele não havia participado da festa de despedida, não havia.

Solto um suspiro e olho em volta, o corredor com vestígio de comemoração. Só restou eu aqui, segurando um copo vazio. Jogo no lixo e me dirijo para um lugar especial, que como já disseram, "o meu lugar".
Faço o mesmo caminho já decorado e quando me dou conta já estou sentada no banco do jardim secreto. Está escuro, mas não tenho medo. Me sinto bem no escuro.

– Talvez seja porque eu já tenha passado tanto tempo nele - murmuro para mim mesma.

Mas não esperava receber uma resposta.

– Falando sozinha? - tento enxergar quem possa ser mais a pouca luz não deixa, mas reconheço a voz. Alberto.

– Pensei que não iria se despedir de mim - comento chegando para o lado para ele se sentar.

– Pensou errado - sorrio - Não tinha como não me despedir.

Alberto para, pela voz embargada posso perceber que está a ponto de chorar. E eu agora já me encontro ao ponto também, mas não quero que seja as lágrimas nossa despedida.

– Sabe que não tenho o que falar, não sabe Juli? - murmuro que sim enquanto aperto a lateral do banco para não deixar escapulir um soluço. - Mas bem, como sou o exemplo a ser seguido tenho que dizer algo... Está feliz com a mudança?

Mordo o lábio inferior sentindo as lágrimas brotarem. Não, eu não estava.

– Nem um pouco - respondo baixinho.

– Então por que escolheu?

– Porque... - engulo em seco, talvez nem eu mesma saiba - É o melhor para todos.

Não, eu sei que não é.

– Para todos, exceto você - Alberto responde, respirando fundo no final. - Escute Lacoste, você tomou sua decisão e vai pagar a consequência. Quero que você vá para o Canadá.

Como assim Alberto queria que eu fosse? Ele tem sido um pai para mim esses meses todos e agora me queria longe?

– T- tudo bem eu...

– Quero que você vá para o Canadá e volte o quanto antes - ele me corta e eu sinto um alívio quando ouço suas palavras - Mas acima de tudo, deixe o destino resolver a questão de sua escolha.

Limpo as lágrimas e respiro fundo, talvez Alberto esteja certo. Não há volta e foi a minha escolha, agora é só contar com o destino.

– Você acha que eu ainda volto, quer dizer, que eu vou conseguir voltar e encontrar as mesmas pessoas?

– Vamos torcer que sim.

Sorrio minimamente e abraço o diretor. Na verdade ele era mais que um diretor com um estilo engraçado, ele era meu amigo e quase um pai. Era ele a pessoa com os conselhos mais confusos e sábios ao mesmo tempo. Era ele quem me ajudou na maioria das horas que eu mais precisei.

– Agora, deixemos as despedidas para amanhã, já está tarde e você terá uma longa viagem pela frente. - me solto dele e balanço a cabeça que sim, me levantando e andando pelo escuro. Mas paro quando ele me chama - E Juli, gostaria de ter uma filha igual você.

Sorrio ao ouvir aquilo e uma lágrima escorre.

– Que bom, pois eu iria aprontar mais do que apronto aqui - ele ri e eu saio correndo do jardim.

Corro até chegar nos corredores do internato e vou até meu armário. Retiro o cadeado que não havia trancado e abro a porta, retirando de lá dez cartas que havia feito de manhã na aula de ciências. Dessa vez tranco o armário já vazio e vou em direção as escadas subindo com os papéis na mão. Vou primeiro para o corredor dos meninos, procuro pelo quarto do Marcelo e coloco a carta dele por debaixo da porta. Logo em seguida vou até a porta do quarto de André, Gustavo, Tomás e Vicente e coloco as cartas lá dentro pela brecha debaixo da porta.
Em seguida sigo para o corredor do dormitório das meninas e coloco uma carta por debaixo da porta do quarto de Melissa. Em seguida vou até o meu quarto e entro, colocando uma carta ao lado de cada cômoda das meninas e de Pablo.
Respiro fundo e tiro a jaqueta, os tênis e caminho em silêncio até minha cama. Me deito sobre ela e fecho os olhos, talvez amanhã não precise de despedidas.

Só espero que eu consiga ser forte, só isso. Ou pelo menos, que pareça ser daqui a diante.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oi de novo!
Só queria avisar que pelas minhas contas só faltam quatro capítulos para o fim de AGP + o Epílogo :(
E eu também queria agradecer a todas VOCÊS que me acompanham e convidar os leitores fantasmas a aparecerem viu?

Beijocas e até AMANHÃ! ( sim, amanhã tem capítulo em comemoração a 1 ano de AGP )

❤❤



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Garota Problema" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.