Filhos da Guerra escrita por Anna_Rosa


Capítulo 4
Sonhos




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“Não deixe que seus medos tomem o lugar dos seus sonhos – Walt Disney”

A neve que cai fora das pequenas janelas da alta torre escurecida pelo tempo já não traz a alegria das guerras de neve, aliás eu nem sei o que é isso, a única guerra que eu conheço não espalha floquinhos brancos pelo chão, não, ela deixa manchas vermelhas, dor e medo.

Eu acho que não deveria estar aqui, tão próxima a janela, e com certeza eu não deveria estar escrevendo, eu acho que eu nem deveria existir. Eles dizem que meus pais me amavam, e que foi esse amor que me fez assim, meu irmão diz que eu trago esperança, que há uma liberdade em meus olhos que o fazem lutar. Mas eu não sei se isso é verdade. Eu não sei mais quem eu sou, o que eu sou...

No começo eu acreditava que eles viriam nos salvar, que a resistência não nos deixaria, mas ninguém nunca veio, talvez ela nem exista mais. Eu escuto gritos em outras portas, maldições perigosas e passos que se aproximam. Eles nunca param, seguem em frente, mas eu me escondo no sofá próximo a janela, e olho adiante dela, no fundo, acho que eu ainda espero que eles venham nos buscar.

Mas quem nos sobrou, quem vai nos amparar? Eu sei que há lutas, mas eles não chegam aqui, eu nem sei onde é aqui, mas eu também não sei o que há lá fora. Um constante pesadelo, em todo lugar, só há o frio, o medo, a crueldade. A guerra não acabou com a queda de Harry Potter, o poder clama por mais poder, e a natureza humana mutilada dentro dele o consome, o torna mais perigoso. Voldemort, ele reuniu mais seguidores, eu consigo ouvir seu riso frio, sem vida. Seus comensais tornaram-se tão letais quanto ele e não há para onde fugir.

Nas poucas vezes que ainda vejo alguém, sempre um rosto desconhecido, sempre uma história diferente, eles contam que ele busca por um novo poder, algo que se esconde em alguém ou que foi escondido com alguém. Talvez esse poder esteja comigo, com meu irmão, em alguém querido, talvez em mais um rosto desconhecido, rezo para que esse poder não exista. Alguns dizem que ele já o encontrou, e que ele vem dos que Voldemort mantém prisioneiros, mas, existe alguém que não seja um prisioneiro?

Quando as manhãs se tornam negras e as tardes não trazem o por do Sol, quando a noite se enche de tormentas e os pesadelos vem, não há nada a fazer, não há quem chamar, só há um ursinho dourado, com pelo desbotado e as roupas de Hogwarts. Mas ele é familiar para mim, ele tem cheirinho de casa, é meu refugio, meu conforto, meu patrono em meio aos dementadores. Mas é nos dias de teste que eu realmente preciso dele, não importa o que há nas colinas alem das janelas, tudo o que eu vejo são as sombras que nos guiam ate salas escuras, onde não há pra onde olhar, onde tudo que esta à nossa frente são os olhos ofídicos desprovidos de humanidade. Ele nos observa, vê como enfrentamos o medo, como reagimos ao confinamento e então alguém vem e, com algo fino e pontiagudo, retira um pouco de magia. Depois disso, nem todos voltam para os quartos. 

Nesses dias eu me agarro ao urso, é onde podemos chorar, a moça que me traz de volta diz que esta tudo bem, mas eu sei que é mentira, ela diz que tenho sorte e vou ficar segura, mas sei que tem um custo e sei que meu irmão esta envolvido nisso. Ele sempre vem no dia seguinte aos testes. Ele vê os fantasmas dos meus pesadelos e eu vejo o fantasma do que foi seu sorriso. Ele é forte pra mim e eu devo ser forte por ele.

Eu sei que ele sempre vai voltar, que vai sentar ao meu lado e me contar histórias de como a neve era mais quentinha antes e do gostinho doce do chocolate quente, de como é montar um boneco de neve e sentar em frente a lareira. E ele vai contar que em meio a todas as pessoal más que eu conheci aqui, lá fora existe uma que é boa, ele nunca me diz o nome dela, ele só me fala que um dia eu vou sair daqui, e ela vai cuidar de mim. As vezes eu adormeço sob o braço dele e sonho com ela me tirando desse pesadelo. Mas eu sei também, que em meio ao meu sono meu irmão vai me abraçar apertado, beijar minha testa e murmurar um ‘adeus’, então eu vou sorrir e mesmo sem abrir os olhos eu o verei partir, eu não sei pra onde, eu não sei porque, eu só ouço a porta trancar atrás dele.

Eu queria correr, fugir daqui, mas não há como, eu queria ir com ele, voltar pra casa... Mas tudo o que eu faço é abraçar meu urso e me enrolar no cobertor largado no sofá em frente a janela. E mesmo na noite mais escura, eu fecho meus olhos e posso ver as estrelas e as noites em frente a lareira, um cheiro de biscoitos ainda quentes e um suave ronronar... e aos poucos a imaginação ganha vida e já não há mais nada além dos Sonhos ao meu redor.


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