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- Eu, bom... eu só não quero ir.

- Deixe de ser boba, carinho meu, você sabe o quanto todo mundo daquele colégio te ama e te quer em cima daquele palco como Rainha do Baile. Agora vamos, troque-se para arrumar esse cabelo.

Dito isso, saiu do quarto deixando a menina apenas de lingirie sentada na cama com um vestido em mãos. Era um senhor vestido, de fato, vermelho, todo bordado a mão em dourado. Não havia sido barato ela sabia disso, e sabia que a 'mãe' nunca a perdoaria se não fosse a festa de formatura, de novo. Mas ela não queria, ou melhor não poderia ir e dessa vez não era capricho seu.

Arriscar a vida de todos seus colegas de classe, de suas famílias e amigos era o tipo de coisa que Anna não faria. Esse instinto de proteger os outros estava em seu sangue desde o dia que nasceu, só que o destinho mudou um pouco os fatos.

Anna nasceu em Verson, na França, em uma família simples, mas de bom coração, pelo menos, a fachada era assim. Sua antiga casa na realidade não acabava no porão, no mínimo haviam mais cinco andares, ela nunca havia ido até o final. Seus pais, caçadores de vampiros e criaturas da noite, a treinaram para ser a melhor, sempre, sem nenhum pingo de amor ou afeto. Só treinos. Só batalhas.

Quando tinha desessete anos, a menina já superava a seus pais. Quando se tem a vida tirada da maneira que ela teve, crescendo em meio ao sangue derramado no seu café-da-manhã e acordando todos os dias com uma flecha envenenada na sua porta, adquire-se o costume de ser apenas uma caçadora. Não uma humana adolescente normal, só uma caçadora. E a melhor se ela conseguisse.

Certa noite, saiu de casa sozinha. Sua mãe, grávida de mais uma cobaia, passava mal e seu pai havia levado ao hospital. Era a primeira vez que não tinha ninguém com ela. Não que a incomodasse, mas era realmente assustador andar pelas ruas de Paris, em meio a tantas pessoas, sem saber bem o que ou quem procurava.

Ela só não esperava que esse alguém, fosse achá-la - mais precisamente achar seu pescoço - antes que pudesse tomar conta disso. Foi simples, rápido e fácil, para ele. Dolorosamente demorado para ela. Uma noite sozinha lhe tomou o resto da eternidade.

A partir de então, seu corpo foi se transformando em tudo que mais repudiava. Uma imortal. Uma linda vampira, imortal aos desessete anos.

Clichê? Talvez, se não fosse tão real.

Ao voltar para casa, ainda sangrando sem a transformação completa, foi banida do 'grupo' e ameaçada de morte. E superando todas as suas expectativas, seus mestre, vulgo seus pais não deixaram. Ela era a melhor máquina que eles já criaram, e não seria por se transformar que ela deixaria de ser, apenas ficaria mais habilidosa.

Lembrando-se disso, Anna colocou o vestido justo no corpo branco perfeito. Era a quarta vez que se formava, não conseguia simplesmente ficar sem fazer nada. Já rodara o mundo em todo tipo de escola, e sua inesperada família a acompanhou, envelhecendo pouco a pouco enquanto a menina continuava perfeita eternamente.

Abriu a porta do quarto para que a mãe a visse.

- Oh minha filha, tão perfeita, tão... oh querida. - disse assim que a viu puchando a filha para um abraço.

- Coraline, proximidade demais. - simplesmente disse antes que a mulher a abraçasse.

- Sinto muito querida, eu me esqueço. - respondeu ela envergonhada.

- Claro claro.

Encaminhou-se para o banheiro a fim de acabar logo com aquilo. Dessa vez ela não escaparia da festa de formatura. Não havia mais doenças para inventar, telhados para fugir nem nada do tipo, só... uma formatura infernal que a esperava. Não apenas por ser uma formatura. Mas pelas pessoas.

No colégio, o cheiro não a incomodava. Ela tinha auto controle. Mas na festa, isso seria um problema.

O ritmo horrível e acelerado da música no compasso de cada coração presente, o respiração falha e a pulsação do sangue quente correndo pelas veias protegidas apenas pela fina camada de pele. Tão fácil, tão tentador. Simplesmente não podia dizer não a todo esforço da mulher que cuidava de si, então ela iria. Iria para ser paraíso particular. Iria para a mais nova chacina de Hamar, na Noruega.

- Estou pronta Coraline. - avisou assim que terminou a maquiagem.

- Ótimo, vamos, o carro está na porta. - respondeu a mulher literalmente aos pulinhos de excitação.

Seu filho mais novo morrera antes de nascer e seu marido mal chegara a sair da França, Anna era tudo que ela tinha. E sempre teria. Sua eterna adolescente.

Dirigiu sem pressa ao campus da escola e estacionou na vaga mais afastada.

- Vai sozinha? - perguntou para a filha.

- Vou. E voltarei tarde, então não me busque. Voltarei sozinha e espero encontrá-la dormindo -respondeu a menina automáticamente - Obrigada pela carona, boa noite... mãe.

Saiu do carro rapidamente caminhando até a porta do salão, ao adentrálo, parou e olhou o local.

- Boa noite e bem vindos a última noite da sua vida... escolar. - E riu, com seus caninos a mostra para quem quisesse vê-los. Era o começo do fim na formatura infernal de Anna Chevalier.

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FIM !
Curtinha né? Mas tinha que ser, era a regra, enfim, espero que gostem.