Double face escrita por Nymeria Martell


Capítulo 10
Cap. 10: A canção


Notas iniciais do capítulo

"Nós dois nos sobressaltamos, uma terceira pessoa falara. Viramos em sua direção. Uma garota, toda de branco, cabelos dourados, olhos verdes... verdes."



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Lipe

Tem algo na minha perna! Sim, eu sinto... não, não sei o que é. Só sei que é frio, e úmido. Abra os olhos! Digo a mim mesmo, mas não consigo... estou cansado... não quero abrir... mas ao mesmo tempo, quero.

Uma brisa leve toca meu rosto, estou com tanto calor que acho agradável. Mas meu corpo dói, minhas costas doem, meu pescoço dói. Algo pinica meu pescoço. Que saco! Só quero ficar em paz... quero sossego.

Relaxo.

Esqueço a dor, esqueço a irritação em minha pele e a agua em minha perna. Ei! Agua... sim, é agua. Mas não quero olhar, quero descansar, quero paz.

Mas dessa vez não consigo evitar, vou levantar...por quê? Por que essa mudança repentina? Simples... gritos.

Gritos me acordam, pulo assustado.

Olho a volta, estou em uma praia, molhado e... de terno? O que é isso? Como vim parar aqui... vestido assim?

Gritos novamente. Uma garota.

Saio correndo em direção ao som. Mas a meio caminho avisto um espelho... um espelho muito lindo. Dourado e verde. Minha curiosidade é maior, não posso evitar, quero ver meu rosto, porque afinal... não sei quem sou.

Olho rapidamente meu reflexo. Cabelos negros e despenteados... nossa! Muito despenteados... despenteados pra caramba!

Ok. Cabelo legal − Hei! São despenteados... mas isso q os torna legais. Pele clara... não tanto. Boca sorridente e dentes bonitos − e daí? Me acho mesmo − sobrancelhas arquejadas, e olhos enormes e... verdes. Uma pontada surge em meu peito... verdes.

Resumindo. Acho que eu era − Era. Porque tenho o pressentimento de que estou morto... sei lá, só pode ser isso − um cara brincalhão, inteligente... ahn... bonito... e bem, adorava verde. Por quê tiro essa conclusão apenas por causa de uma pontada no peito? Bem na verdade, vejo agora que estou gamado nessa cor, é, é por causa das pedras incríveis que me chamam a atenção.

Gritos. Acordo de meu torpor sobre o passado.

Corro. Na verdade caminho, porque não é aqueles gritos tipo: Socorro!!! Acho que estou morrendo! Estava mais pra: Oh meu Deus! Uma barata!

Mulheres, vá entender.

Atravesso uma rocha, atrás vejo mais ao longe um morro que leva a um penhasco beira-mar. Mas um pouco mais próximo vejo uma garota. Uma lourinha magricela.

− qual seu problema? − obviamente pergunto isso porque não vejo o motivo do desespero dela.

Ela olha pra mim como se eu fosso o doidão daqui.

− se você não vê eu estou morta!

− e daí? − tá legal, eu podia ser mais simpático... mas pô! Não fui com a cara dela. Ela deveria ter sido uma daquelas garotas frescas mimadas pelos pais, com namorados fortões e amigas igualmente idiotas. Como sei disso? Pelo modo como é sua aparência. Loira, olhos azuis, magra, peitões, sem bunda, maquiagem perfeita, salto alto − sim, ela estava de salto! −, mini saia pink, regata muito degotada, e além do mais... ela tinha quê de patricinha, isso ela deixava claro.

− e daí?! Você parece estar aceitando numa boa que sua vida acabou! Como você...

− Hei! − interrompi-a − pera aí, eu não me lembro de absolutamente nada da minha vida, como vou sentir falta de alguma coisa? Você lembra se quer como morreu?

− acidente de carro.

− quê? Como... como você sabe?

Ela se abaixou e pegou um cigarro do chão.

− isso − dizia ela − é o que me fez lembrar, só fumo na presença de meu namorado... pra ele pensar que sou maneira... e a maior parte do tempo estamos passeando de carro... tem alguma outra maneira de morrer?

− de frio.

Nós dois nos sobressaltamos, uma terceira pessoa falara. Viramos em sua direção. Uma garota, toda de branco, cabelos dourados, olhos verdes... verdes.

Mas tinha algo de diferente nela... parecia farinha em seus cabelos... não! Farinha não... acho que era... neve!?

− foi desse jeito que você morreu? − perguntei logo de cara, ela não olhava para nós... mas sim para seus pés descalços. − quem é você?

− me chamo Josefa − disse a loirinha, não a louca da neve − obrigado por perguntar! − sarcasmo.

− não importa meu nome! − ela nega com a cabeça. − importa o que eu quero.

− ah... é? Aposto que você não sabe seu nome... bem, vou te chamar de... A louca da neve. − estou socializando, me deixe!

− você sabe o seu? − diz ela, sem olhar pra cima, dando um sorriso maroto. Demorei de mais a responder... tá! Eu não sei meu nome! − vou te chamar de... − por um instante ela olhou pra mim... e pareceu surpresa... ficou encarando meus olhos de boca aberta. − Lipe? − mal a ouvi sussurrar.

− me parece familiar... − olho para ela desconfiado − hei! Eu te conhecia?

Ela continua me encarrando. De repente, do nada, ela começa a chorar... mas, um choro bom, de felicidade.

Parece que ela me conhece... não apenas conhece, mas temos... tínhamos, droga!... uma afinidade.

− Ah meu Deus! Lipe! − ela se atira sobre mim e me abraça... se eu a reconheço? Não. Absolutamente não. Ela parece mais aquela vizinha que passa na rua e agente se esquece o nome... só lembra do rosto.

− ok... − hesito − eu não faço ideia do que está acontecendo aqui. Quem é você? Quem sou eu? Quem somos nós?

Parece que dei um tapa na cara dela pelo jeito que ela me olha.

− você não sabe quem eu sou Lipe? − agora, seu choro é de tristeza.

Não queria magoa-la, ela, até, tem pinta de ser gente boa.

− desculpe... mas eu nem sei quem eu sou. Só que pelo modo como você me chama de Lipe... deduzo que meu nome seja Felipe.

Ela nega com a cabeça.

− não, na verdade, é Luiz Felipe. Sou Amanda, sua melhor amiga!

Ainda não me lembro, acho que estou com cara de idiota. Mas quem se importa? Estamos mortos mesmo.

− homens... são tão ignorantes − disse Josefa fazendo uma carreta − só você não se lembra de seu passado Lipe.

Amanda parece não aceitar. Vejo que ela tira seu colar e me entrega. Não tinha reparado nele até agora. Era uma corrente de prata, e o pingente, lindo, um coração de cristal. Ou seria diamante? Mas fora o fato de ser lindo, não significava nada.

Fiz que não com a cabeça, pra mostrar que eu não me lembrava e nem compreendia.

Amanda olhou pra cima. Soltou um suspiro e fungou.

− ok. Tudo bem... minha visão estava errada. Eu estou aqui, de branco e com a pele gelada. Você também, como eu havia visto.

− então... o que está errado? − perguntou Josefa.

Amanda olhou pra mim, e depois pra Josefa.

− o que está errado?

Afirmamos

− o que está diferente?

Afirmamos outra vez ­

− é, simplesmente, o fato de que não estamos de mãos dadas... e muito menos felizes.

− olha − interrompi-a − eu não quero te magoar, mas... fazer o que se eu não faço ideia de quem você é? A única coisa que me chama a atenção pra você é a cor dos teus olhos... porque os meus são iguais.

− é verdade... sua mãe tinha razão. Você é igual a seu pai! Tanto na aparência, quanto no caráter.

Não sei porque, mas, isso doeu. Talvez se eu me esforçar eu me lembre. Amanda. Amanda. Amanda. Amanda. Olhos verdes. Lindos olhos verdes. Amanda. Amanda. Pingente em formato de coração. Amanda. Amanda. Cabelos dourados. Amanda. Ok. Não está funcionando. Vou tentar outra abordagem. Garota irritante que me faz pensar em coisas absurdas e sem sentido, doida, porém legal e que me faz pensar em coisas absurdas. Opa! Algo me veio à cabeça. Uma menininha chorando num elevador, uma musiquinha triste e sonhadora.

−o barquinho se foi − comecei cantando − se foi pra nunca mais voltar.

Ela começou a prestar atenção.

− e dentro desse barquinho era meu amor que estava. E ele me deixou sozinho, apenas a olhar...

− e o meu coração... começou a se despedaçar, até que... no fim, nada mais restava. _ completou ela.

E juntos:

− apenas eu. Sozinho, longe do meu lar.

− Amanda. − sussurro. Agora tudo volta em minha mente... como uma avalanche. Mas é ela quem me recordo primeiro... porque a amo.

Ela chega próxima de mim. Puxo-a pela cintura. Ela coloca as mãos envolta de meu pescoço. Nossos corpos se encaixam perfeitamente. Nesse instante nada mais existe a não ser nós dois... que parecemos um só.

Nos beijamos.

Ela beija tão bem quanto antes, seu hálito é frio, porém tem gosto de hortelã.


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Notas finais do capítulo

Próximo cap.:"Minha mãe volta trazendo com sigo... CARAMBA! Não pode ser... Mas como? Será que foi tudo um delírio?
− Oi amor! Como você está? – Amanda vem em minha direção e me da um beijo... Sim... ela."



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