Remember Me - Extras escrita por mywriterside


Capítulo 4
IV. O pirata então encontra o tesouro!


Notas iniciais do capítulo

Extra número quatro, queridos. Espero que gostem :)



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Com as escolas paradas para o recesso de fim de ano, as crianças ficavam enfurnadas em casa o dia todo e isso trazia um certo tédio, as obrigando inventar coisas para passar o tempo. Como os filhos abençoados que eram, pedi à Shelby que viesse olhar eles naquele dia para que Rach e eu pudéssemos trabalhar em paz, sem maiores preocupações com duas crianças de 8 e 10 anos entediadas e com mente fértil para traquinagens.

Minha sogra chegou às sete e meia em nossa casa, animada demais para àquela hora da manhã e feliz por passar aquele dia com os netos. Rachel e eu tomávamos café e a convidamos para se juntar a nós.

— O que pretende fazer com eles durante o dia? — minha esposa perguntou antes de morder seu bagel.

— Eu trouxe algumas tintas e telas, estão no carro. Depois me ajude a tirar de lá, Finn?

— Claro. — respondi, distraído com o noticiário da TV.

— Vou ensiná-los a fazer um quadro de verdade, incentivar a criatividade e ainda fazendo uma atividade tranquila para deixá-los relaxados. — Shelby sorriu.

— Se conseguir que eles não sujem a casa inteira e eu entre mais tarde em um ateliê em tamanho gigante, terá feito um ótimo trabalho, mamãe.

— Deixa comigo.

Nos despedimos de minha sogra e fomos trabalhar. Eu realmente estava preocupado com o longo dia que aqueles três teriam presos em casa, e estava preocupado também em encontrar Shadow, nosso velho gato de nove anos, todo colorido ao invés do pelo branco que cobria seu corpo molenga e preguiçoso. Como todos os dias, deixei Rachel em seu trabalho e segui para o meu, tendo em mente a quantidade de projetos para assinar e dar meu veredito para a construção.

Depois de trocentas canecas de café, ajustes de cálculos em meu computador e análise de desenhos no projetor junto com minha equipe, eu já me encontrava cansado. Não via a hora da semana do Natal chegar para eu poder acordar tarde todos os dias e ter o dia para vegetar no sofá. As crianças reclamavam de ficar em casa nas férias e eu ansiava por isso como a minha vida. Eles tinham energia demais para o meu gosto.

Quando abri a porta de casa às cinco e dez da tarde, a primeira coisa que vi foi um corpinho passar correndo por mim. Não sei se foi apenas algo da minha cabeça, mas tive um vislumbre de ver o rosto de Bella de várias cores diferentes.

— Ei, por que está correndo? — fechei a porta e a vi virar o corredor ainda em alta velocidade.

— Estou fugindo da vovó. Não diga que me viu. — ela gritou por cima do ombro. Acho que sua voz alta fez todo o trabalho por mim.

Shelby apareceu segundos depois arfando e com uma feição nada amigável. Ela parou ao meu lado e pôs as mãos no quadril.

— Isabella Mary Hudson, volte aqui agora mesmo! — ela gritou.

Ouvimos uma risadinha baixa e vimos uma cabecinha aparecer com um sorriso travesso no rosto completamente sujo de tinta. Abri a boca em um perfeito “o” vendo o estado da minha filha: cabelos, roupas, braços e rosto, nada tinha escapado do colorido.

— O que aconteceu por aqui? — perguntei com medo da resposta.

— Eu os deixei pintando sozinhos e fui preparar um lanche. Quando voltei, a encontrei assim enquanto Nate pintava tranquilamente como se nada estivesse acontecendo.

— E cadê ele?

— Está lá na garagem, pintando.

— Ele está limpo pelo menos?

— Sim, só tem uns respingos fracos nos braços, eu tive o cuidado de trazer aventais. No entanto, parece que essa garotinha desistiu de usá-lo nesses últimos cinco minutos. — ela estreitou os olhos encarando Bella mortalmente.

Eu tinha vontade de rir, minha filha parecia uma palhaça toda pintada, mas eu não podia porque tinha que dar o exemplo, e também porque Shelby estava a ponto de explodir ao meu lado. Fiz minha melhor cara de pai severo e cruzei os braços.

— Algo a dizer em seu favor, Isabella?

— Eu só estava brincando, Déda. E a vovó não disse nada sobre não poder pintar a si mesmo. — fez cara de inocente.

— E eu precisava dizer? — perguntou indignada.

— Você já é bem grandinha e sabe o que pode e o que não pode fazer. Isso pode te fazer mal, minha filha. Sem contar que sua mãe vai ter um ataque quando vir suas roupas.

— Desculpa, Déda. — abaixou a cabeça, culpada.

— Tudo bem, venha cá. — chamei e ela pôs as mãos atrás do corpo se aproximando devagar. A segurei pelos ombros e virei seu corpo para Shelby — Peça desculpas por ter desobedecido sua avó.

— Mas-

— Bella...

— Desculpa, vovó Shelby. Prometo não fazer isso de novo.

— Tudo bem, querida, está desculpada. Agora vamos tomar um banho e depois comer alguma coisa.

Ela segurou a mão que a avó estendia e elas foram para a escada.

— Rachel vai enlouquecer quando vir isso. — falei risonho.

— Eu vou levar essas roupas comigo e deixar na tinturaria, lá eles dão um jeito nessas manchas. Ela nem vai desconfiar. — Shelby piscou cúmplice e subiu com Bella.

O silêncio é inimigo da gente quando se tem filhos, porque silêncio em uma casa com crianças é sinal de que estão fazendo merda. Fui cauteloso até a garagem e observei a cabeleira loira do meu filho atrás da tela enquanto assobiava e passava o pincel melado na mesma.

— O que está fazendo? — disse do nada e o vi pular de susto.

— Ai, Déda. Quer me matar?

— Jamais, filho. O que você está fazendo?

— Pintando, duh.

Rolei os olhos.

— Isso eu to vendo, moleque. O que está pintando?

Ele deu de ombros.

— Acho que é algo abstrato, porque não consigo ver uma forma significativa.

Inclinei a cabeça olhando o quadro e realmente aquilo não parecia nada que eu já tenha visto. Ao seu lado, havia outro apoio de tela com uma acabada, a assinatura embaixo indicava que era de Bella, analisei a figura e vi o que parecia um chapéu de cowboy.

— Que belo chapéu sua irmã fez, não? Isso foi antes dela mergulhar em um pote de tinta?

Recebi o silêncio de meu filho e resolvi encará-lo esperando a resposta. Ele me olhava como se eu fosse esquisito.

— O que foi? — encolhi os ombros.

— Você é esquisito.

— Por que diz isso?

Ele olhou a tela da irmã e depois de volta pra mim, erguendo perfeitamente uma sobrancelha clara. Exatamente como a mãe dele fazia.

— Isso não é um chapéu de cowboy.

— Não?

— Déda, isso é uma cobra que engoliu um elefante. Está tão óbvio!

Olhei para meu filho como se ele fosse esquisito agora e depois para a pintura. Deus, que mente criativa!

— Parece um chapéu de cowboy.

— Não, não parece. Não está vendo?

Olhei de novo.

— Definitivamente isso parece um chapéu de cowboy!

Nate rolou os olhos.

— Os adultos não conseguem ver, isso comprova a teoria do livro.

— Que livro?

— ”O pequeno príncipe”. Nele diz que apenas as crianças conseguem ver aquilo que é óbvio. Os adultos somente veem um simples chapéu de cowboy, mas é muito mais que isso. É uma cobra que engoliu um elefante inteiro.

Nate explicava enquanto finalizava sua pintura, concentrado. Eu sorri com aquilo e com a teoria dele. Eu esperava que meus filhos vissem uma cobra que engoliu um elefante inteiro por muito tempo.

...

Eu odiava ter insônia. Rachel ressonava tranquilamente ao meu lado na cama e eu já havia revirado de um lado a outro sem conseguir dormir. Resolvi levantar e tomar um copo de leite para ver se o sono vinha, vesti meu robe por cima do pijama e desci as escadas calmamente. A casa estava completamente escura, ou deveria estar, porque eu conseguia ouvir vozes baixas vindo da sala de estar e uma pequena penumbra saía de lá. Andei sem fazer barulho sobre o assoalho e o que vi me fez travar no lugar.

Na grande TV de tela plana passava uma filmagem antiga, mais precisamente de quase nove anos atrás. Vi uma Rachel mais nova sentada no tapete do nosso antigo apartamento, ao lado de um bebê sorridente e babão que batia palminhas e mostrava os quatro dentinhos na boca escancarada. Eles estavam envoltos de várias embalagens coloridas de presente, enquanto Rachel tentava ajudá-lo a abrir.

Esse foi de quem, amor? — escutei a voz de um eu mais novo por trás da câmera que registrava aquele momento.
­

Foi do tio Artie. Vamos agradecer o tio Artie, Nate. Muito obrigado, tio Artie. — então ela balançou a mãozinha do bebê no ar acenando para a câmera.

Ela abriu mais alguns e dávamos risadas a cada presente que o bebê recebia. Sorri assistindo e lembrando perfeitamente daquele momento.

O que foi, amor? O que tá escrito? — eu perguntei no vídeo quando Rachel retirou das sacolas algumas blusinhas de bebê com frases engraçadas e riu alto. Os presentes da minha amiga latina — Posso fazer alguma ideia de quem foram os presentes.

Me distraí da TV quando Nate gargalhou alto sentado no sofá enquanto assistia àquele vídeo. Voltei a prestar atenção novamente, sem deixar que ele me visse. Um tempo depois o Finn mais novo apoiou a câmera no sofá ainda virada para o bebê.

Eu vou buscar o nosso presente, babe.

Tá, vai lá. E cuidado.

Senti nesse momento algo passar por minhas pernas e olhei para baixo, observando nosso gato se acariciar em minhas pernas e andar preguiçosamente até o sofá que Nate ocupava. Na tela, o Finn mais novo surgiu segurando um filhote, a versão mais nova do nosso grande Shadow. O bebê no vídeo ficou louco quando o viu e esqueceu completamente dos embrulhos coloridos. Eu achava fofo a forma que ele pronunciava o nome de gato, ele era um bebê encantador. Logo o vídeo terminou com a gostosa gargalhada do meu filho e vi Nate se abaixar e pegar Shadow no colo, acariciando seu pelo macio. Encostei o ombro na parede e cruzei os braços, sorrindo. Meu filho havia me descoberto. Nunca pensei que um dia ele fosse ter acesso ao que eu lhe escrevia há muito tempo, mas ao que parece, o pirata havia encontrado o tesouro.

Eu não falaria nada com ele agora. Esperaria ele vir até a mim, se viesse, e nós então conversaríamos sobre aquilo. A única coisa que eu podia fazer agora era imaginar as reações do meu filho mais velho ao saber como foram os seus tempos de Baby Bear.

Voltei ao quarto tentando não fazer barulho antes que meu filho também subisse. Deitei na cama devagar e acabei despertando Rachel, que tinha o sono bem leve.

— Onde estava? — perguntou sonolenta.

Sorri me deitando e a abraçando pela cintura antes de fechar os olhos.

— Fui fazer uma viagem ao passado.


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Notas finais do capítulo

Pra quem quiser entender melhor, vá até a fic "Remember Me" e leia o capítulo "Nate's First Birthday" :)

E uma dica que tenho a dar sobre esse capítulo: leiam O pequeno príncipe! É um livro maravilhoso que toda criança deve ler, e se vc já cresceu e não teve a oportunidade, leia mesmo assim! Eu li aos 16 anos e me apaixonei completamente ♥ O melhor livro que já li na vida!



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