Meu Pequeno Conto escrita por Secret


Capítulo 1
O Conto


Notas iniciais do capítulo

tive a ideia na aula e resolvi escrever, espero que goste.



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Era uma vez um pequeno e colorido sonho, nesta noite em especial, é o sonho de uma garotinha. Belas flores de delicados aromas dominam o ambiente, dividindo o espaço com um belo bosque e suaves curvas no relevo.

Uma pequena figura aparece em meio às flores. Uma menina de traços delicados, cabelos castanhos e lisos e um belo pijama cor-de-rosa, ela olha para os lados confusa e caminha descalça:

—Onde estou?—Pensou alto, quando avista a bela paisagem sua expressão confusa é substituída por um sorriso—Oba flores! Que lindas!

Ela senta-se e começa a recolher as flores, formando um belo buquê. De repente percebe um movimento no bosque e , curiosa, corre em sua direção:

—Tem alguém aí?—Grita animada—Apareça, não tenha medo!

Quando chega no bosque um garoto pula em sua direção, loiro, alto, olhos azuis, aparentava ser 3 ou 4 anos mais velho que ela. Pareceria normal se não fosse por longas orelhas brancas de coelho e um felpudo rabo da mesma cor:

—Quem é você?—A garota o examina curiosa—Você é engraçado!

—Obrigado, eu acho.—Ele ri—Mas acho que meu nome não é importante garota.

—Tudo bem, meu nome é...—Ele coloca o indicador em seus lábios, calando-a.

—Não precisa dizer—Ele sorri amável—Prefiro não saber.

—Por que você tem essas orelhas tããão longas? E onde estamos?—Pergunta com curiosidade infantil e olhos brilhando.

—Parece que eu sou parte coelho—riu sem graça tocando suas orelhas—E isso? Bem, isso é um ...sonho!—Sorri forçado.

—Um sonho? que legal! Por isso tudo aqui é tão bonito!—Olha em volta admirada—Podemos explorar?

—Claro que podemos, afinal, esse é seu sonho.

Ela sorriu satisfeita e fez menção de correr, mas lembrou-se de uma coisa e parou:

—Por que você não apareceu quando eu chamei? Estava com medo?—Perguntou rindo.

—Não—Sorriu—Pelo menos não de você—Tocou seu nariz com o indicador—Nunca teria medo de uma garotinha tão adorável e curiosa, agora venha! Esqueça isso e vamos explorar!

Ela segurou seu braço e o puxou animada, cada vez mais para dentro do bosque, até que parou bruscamente. O garoto-coelho perdeu o equilíbrio com a parada repentina, mas recuperou-o a tempo de não cair:

—Por que parou?—Então percebeu que ela olhava maravilhada para uma fruta de casca dourada no topo da árvore—Você quer?

—Sim, por favor!—Ela começou a saltitar de alegria—Parece deliciosa!

Como se esperasse sua deixa, a fruta caiu diretamente nas mãos do loiro, que entregou-a à garota:

—Aproveite!

—Deliciosa!—Exclamou após a primeira mordida.

A fruta era dourada por fora e possuía um tom azul celeste por dentro, além de um gosto adocicado e suave, como morder uma nuvem com um toque de mel, porém com uma casca crocante:

—Você quer uma? Tem um monte ali!—Ela apontou para outra árvore mais baixa.

—Não, obrigado—Sorriu—O que acha de um piquenique? Conheço o lugar perfeito.

—Claro, vamos!

Ela seguiu-o até as margens de um largo rio. Suas águas eram calmas e límpidas, era possível ver diversos peixes coloridos nadando em meio à correnteza:

—Que lugar lindo! Obrigada por me trazer aqui!

—Tudo bem—Forçou um sorriso—Que tal nos sentarmos às margens do rio?

Ela apenas riu amável e sentou-se, ficaram um de frente para o outro, apenas se olhando. Até que o garoto quebrou o silêncio:

—É uma pena que teremos que nos separar, sentirei sua falta.—Ele tocou gentilmente seu rosto e sorriu triste.

—Também sentirei saudades. É porque eu tenho que acordar, não é?

—Na verdade não—Sua expressão tornou-se sombria—Desculpe.

—Não há motivos para desculpas.—Ela sorri e admira novamente a paisagem, assusta-se com o que vê.

As flores outrora belas agora estavam murchas e sem cor, o bosque contava com árvores secas e frutos repugnantes de um verde doentio. A menina sente um gosto amargo em sua boca ao ver isso, mas esquece ao olhar para o rio.

Seu reflexo estava pálido como um cadáver, com olhos mortos e fixos, sem brilho algum, seu cabelo quebrado e mal tratado, mas o que mais chamava atenção eram as linhas de sangue escorrendo de seus olhos. O reflexo de seu companheiro estava mais chocante. Os cabelos loiros manchados de sangue, as orelhas e rabo completamente negros, os braços e pernas presos por pesadas correntes de ferro. Além disso o belo rio agora mostrava-se feito de sangue, um vermelho forte o bastante para dar dor de cabeça e um cheiro enjoativo confirmavam isso. Os adoráveis peixes não passavam de almas em dor eterna:

—Claro que há motivos para desculpas—Diz com pesar e a empurra para o rio.—Adeus.

Essas são as últimas palavras que ouve antes que o rio a engula. No início sentiu uma forte dor em todo seu corpo, depois não sentiu mais nada. Abriu os olhos e encontrou nada além da escuridão. Apesar de não ver, sentia que não estava sozinha, uma aura de sofrimento envolvia o lugar. Tudo que ouvia eram gemidos e choro baixos, talvez alguns lamentos murmurados, não tinha certeza.

Não via nada e tudo que ouvia era desespero. Ela se encolheu e abraçou as próprias pernas buscando algum conforto, mas descobriu que não sentia nada,como se tivesse perdido o próprio tato. Lembrou-se de sua mamãe, seu papai, seus amigos, sua vida! E chorou, chorou em desespero. Descobriu da pior forma possível que chorar doía! Mesmo não podendo ver, sabia que chorava sangue. Seu próprio sangue. Sem controle . Sem conseguir parar. Apenas dor.

Enquanto isso o garoto-coelho observava o rio com um ar melancólico. Quantas almas já havia condenado ao sofrimento? Quantas pessoas dormiram e nunca mais acordaram? Por culpa dele!

Aquele "sonho" tornou-se seu pesadelo pessoal. Insaciável e cruel, sempre esperando novas vítimas. Crianças, jovens, garotos, garotas...Não havia um padrão certo, apenas uma coisa em comum: a pureza. O sonho só aceitava sangue puro, sangue de inocentes! E era essa energia vital que o abastecia. Eternamente.

Pensando nisso o garoto chorou. Lágrimas puras. Talvez fosse o único ali que não chorasse o próprio sangue, e de certa forma invejava os condenados, mesmo com toda a dor e sofrimento. Ele trocaria de lugar com aquelas almas de bom grado, mas sabia que o sonho não permitiria. Seu castigo era bem pior. Ser seu fiel servo eternamente.

Ele realmente merecia tal castigo? Por que ter uma punição tão severa? Por que ter que fazer o trabalho sujo? Atrair as vítimas com doçura e sorrisos falsos? Por que ele? Eram coisas que passavam frequentemente por sua cabeça.

Lembrou-se do início daquele pesadelo. Quando ainda dizia seu nome. Quando ainda perguntava os nomes de suas vítimas...Mas logo aprendeu que aquilo só piorava as coisas. Ainda tinha pesadelos com cada nome e alma que condenou. "Que ironia" pensou com amargura "tenho que dormir e ter pesadelos dentro do próprio pesadelo".

Talvez isso fosse parte do castigo, ter que reviver seus piores momentos sempre que fechava os olhos. Lembranças nada agradáveis tomavam sua mente. Desde a primeira alma que condenou até seus momentos de vida, em que conheceu o "sonho".

Então de repente ele parou de chorar. Lembrou do que realmente havia acontecido. Lembrou seu acordo e sua sentença de punição. Lembrou o verdadeiro motivo de estar ali. Lembrou, com pesar, que se pudesse voltar no tempo, não mudaria nada. Lembrou que ele mesmo escolhera seu destino e por isso devia aceitá-lo.

Não teve mais tempo de refletir sobre sua vida, se é que se pode chamar isso de vida. O sonho começou a tremer e mudar. Agora a paisagem era de uma vila montanhosa feita de doces. Neve de chantilly caia em árvores de pirulito e um rio de calda atravessava as montanhas.

Ele olhou seu reflexo, um garoto loiro com um chapéu de cozinheiro e avental. Em suas mãos uma panela de brigadeiro ainda quente. Observou o rio de chocolate e sorriu com amargura, já sabia até onde conduzir sua próxima vítima.

Há alguns metros de distância viu um garoto de cabelos pretos cacheados. Provavelmente um pré-adolescente. Ele respirou fundo e abriu o melhor sorriso que conseguiu, afinal, devia dar as boas vindas ao novo convidado.

Assim o ciclo se repetiria. O sonho se adaptando à sua nova "visita". O loiro enganando-o e conduzindo-o para a morte, como um bom servo. A expressão surpresa da vítima ao perceber a traição tarde demais. A dor e arrependimento que nunca diminuem. As lembranças amargas que nunca se vão. Mas fora ele que escolheu isso para si próprio, agora não devia reclamar. Afinal, como já sabia, o sanguinário sonho nunca estaria satisfeito, e seu contrato nunca teria fim.

Essa foi a minha historinha. Espero que tenha gostado. Adeus e desejo-lhe bons sonhos, nunca se sabe se serão os últimos.


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Notas finais do capítulo

...acho que é isso, eu gostei bastante, espero que você também. Se quiser comentar fico feliz, mas entendo se não. Até a próxima história.



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