How I Met Your Mother escrita por Vitor Matheus


Capítulo 30
How I Met Your Dad [Bônus]




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Ponto de Vista — Ted Smythe-Pierce

Não sabia bem o que esperar de uma visita à enfermaria do colégio. Afinal, nunca fui parar lá em tantos — na verdade, só quinze — anos de vida. Mamãe Brittany sempre foi cautelosa não só comigo como também com a Lily, e sempre nos alertou para qualquer situação onde nos machucássemos.

Lê-se: ela contava umas teorias bem amedrontadoras do que aconteceria se nos puséssemos em perigo, e então cada metro quadrado era um medo ainda maior nas nossas mentes. E não, nem depois de ela ter desmistificado tudo o sentimento passou longe de mim. Talvez a Chatily tenha superado. Eu não.

Deus sabe como será a reação dela e de meu pai queridíssimo quando descobrirem que eu na verdade fui empurrado da escadaria do corredor por alguns valentões simplesmente porque um passarinho cheio da grana de tão verde que é abriu o bico e contou a eles que meu padrinho Rory Flanagan assumiu sua bissexualidade durante uma transmissão ao vivo via YouTube para os fãs de sua comédia stand-up. Nem sei mesmo por que eles vieram atrás de mim. O que a sexualidade do tio Rory interferiria na vida deles? A não ser que o pai de algum deles se envolvesse com o pacote humano entregue por irlandeses, não faria a mínima diferença.

Mas eu também não posso tirar minha parcela de culpa nisso. Quando eles vieram me afrontar, já antes dos últimos degraus que levavam ao andar térreo do prédio, eu ergui o dedo do meio para todos eles e mandei todos para a casa do Sr. Porreado do Cacete (muito obrigado, tio Sam, pelo palavreado chulo que me ensinaste sem o consentimento da família Smythe).

Aparentemente isso foi o estopim para me empurrarem de lá.

Lily estava provavelmente ainda no refeitório com Lola e sabe-se lá mais quem, então não tinha como ela me ajudar a ir para a enfermaria pela primeira vez em tantos anos como estudante.

Pensando bem, ela também não seria um bom apoio moral para o momento. Então deixa quieto.

Foi só quando finalmente me escorei na porta da sala referida que todas as dores começaram a chegar ao meu corpo. Meus braços doíam bastante como se tivessem sido surrados por duas marretas, bem como minhas pernas, que não conseguiam mais realizar sua função de sustentar o resto de meu organismo. Eu ofegava tanto que mal conseguia falar. De repente, levei minhas mãos à cabeça por impulso.

Merda.

Havia um corte em minha testa e mais um pouco de sangue na nuca.

Agora sim meus pais me matariam de verdade… mas não sem antes matar os agressores.

Tão repentinamente como a minha descoberta sangrenta, assim foi a voz da enfermeira ao ver meu estado físico.

— Garoto, o que foi que aconteceu contigo? — Suas mãos delicadamente jogaram meu braço direito por seus ombros, e ela mesma foi me carregando até a única maca que havia no consultório improvisado para os alunos. Urrei de dor quando dei o primeiro passo — Ai, desculpa, quebrei algum osso seu?

— Já… estava… quebrado — respondi, com muita dificuldade.

— Hunter, pelo amor de Jesus Cristinho de Nazaré! Corre aqui!

Não deu nem dez segundos e o referido Hunter apareceu no ambiente, e assim que ele me viu, largou os fones de ouvido numa cadeira ao lado e veio me ajudar a sentar na maca.

— O que houve com ele, mãe?

Com a vista já ficando um pouco turva por causa do ferimento na cabeça, forço meus olhos a encararem o crachá preso na blusa da enfermeira.

Emma Pillsbury.

— Ah, e você acha que eu sei? — A moça de cabelos ruivos respondeu praticamente gritando — Olha, pelo jeito a coisa foi séria aqui. Esse garoto provavelmente machucou demais os braços e o corte na testa evidencia bastante coisa. Você fica aqui, cuida dele e arranca qualquer informação sobre o que pode ter acontecido, está bem?

— E a senhora vai fazer o quê?

— Vou chamar a diretora Holiday. Ela saberá lidar com esse caso se for de agressão.

A moça quase cai dos saltos com sua corridinha gazela, mas não sem antes ser interrompida pelo filho.

— Mãe… não é melhor levar o nome dele à diretoria, pelo menos? Assim — e começou a fala irônica que eu adoro nas pessoas — é um pouco fundamental você dizer a ela quem foi a vítima para que os pais sejam informados e não fiquem feito loucos procurando por todo o país atrás do filhinho deles, né?

Emma se virou, encarando Hunter com ceticismo e depois se tocando de que realmente era necessário saber o meu nome.

Agora fodeu. Se eu nem consigo falar ou ver direito, como essa bendita enfermeira vai descobrir o meu nome?

— Você consegue falar? — O garoto, que aparenta ter a mesma idade que eu, me encarou já perguntando isso.

CLARAMENTE EU NÃO CONSIGO, NÉ, BOCÓ!

Até pensei em gritar isso, mas aí eu lembrei que o pânico era tanto que nem gritar eu conseguia no momento. Então notei que seus olhos visaram os bolsos da minha calça e um segundo depois eu já estava sendo assaltado pelo projetinho de enfermeiro teen.

— Desbloqueia essa coisa e escreva seu nome. É importante — concordei com a cabeça, mesmo sabendo que um simples movimento a faria latejar mais e mais.

Dito e feito. Urrei mais uma vez como se não houvesse amanhã, mas criei forças nos dedos o suficiente para desbloquear o meu telefone, abrir o Bloco de Notas e digitar “Ted Smythe”, entregando o aparelho à Sra. Pillsbury.

— OK, vou correndo falar com a diretora. Cuida desse menino como se ele fosse a sua vida, Hunter, ou eu te mato como se estivesse matando seu pai novamente! — E com essas doces palavras de mãe preocupada, Emma deixou o recinto.

Ainda pude ouvi-la gritar “SAIAM DA FRENTE! EMERGÊNCIA DE SAÚDE! 911! BIPEM A DRA. CALLIE TORRES!” pelos corredores antes de sua voz sumir por lá.

Louca? Louca.

— Certo, eu preciso agora que você ignore o surto de minha mãe e deite-se nesta maca. Vai ser melhor para suas partes machucadas.

Suas mãos pousaram nos meus dois antebraços para me empurrar para baixo. E eu até poderia dizer que aquele contato físico deu umas agonias na pele e tal, mas tudo o que eu pude fazer no momento foi…

Gritar mais de dor.

Ô, beleza!

Só depois de muito esforço, alguns longos minutos e uns gritos que nem eu mesmo imaginaria que poderia dar — benditas cordas vocais! — finalmente me aconcheguei naquele colchão duro de escola pública que só os Estados Unidos da América fornecem ao sistema educacional do país.

O tão mencionado Hunter, então, pegou uma dessas lanterninhas que todo técnico de enfermagem tem — nunca lembrarei o nome dessas belezinhas — e fez o que tinha direito: checou meus olhos, minha boca (OPA, QUERIDO, SAI DAÍ) e por último o Curioso Caso da Testa Sangrenta.

— Sem querer te aterrorizar, mas eu terei de fazer uns pontos nessa sua cabeça se você quiser chegar ao hospital com vida.

— Merda — balbuciei, e isso o fez rir.

— Geralmente é a primeira coisa que vítimas de problemas assim dizem. Mas relaxe, a culpa não foi sua — o garoto de cabelos castanhos abriu um sorriso de lado.

Isso sim me deu um arrepio. OK, o que está havendo comigo?

— Como… como sabe? — Fiz um enorme esforço para falar, visto que até meu pescoço doía.

— Sei lá. Algo me diz que você não tem culpa no cartório — respondeu, virando-se para abrir uma gaveta ao meu lado direito — você ainda faz muita força para falar ou consegue fazer isso normalmente?

— Eu… não… sei — falei pausadamente, a fim de que entrasse ar o suficiente nos pulmões para que eu pudesse realizar duas funções simultaneamente: falar e me manter vivo.

— Então não se esforce. Aproveita também que esse procedimento nem vai doer muito e relaxe.

E sem mais nem menos, ele tacou um algodão cheio de algum líquido bem em cima do corte.

CLARO QUE EU GRITEI! O que mais você queria que eu fizesse? Sorrisse e começasse a cantar o refrão de Hymn For The Weekend?

Acho que não, hein!

— Certo, eu posso ter mentido um pouquinho. Essa parte dói — exibiu um sorriso amarelo, que me deixou com uma ponta de raiva naquela parte sentimental do cérebro.

— Cale… a… boca — repeti duas vezes, pra ver se ele entendia bem o que eu queria.

— Já percebeu que é você quem não pode falar aqui? — Encarou-me com seriedade. Sem mover a mão, estendi o dedo médio ali mesmo em cima da minha barriga, e ele viu o gesto obsceno — Isso não me ofende, Ted Smythe. Agora eu vou te contar uma história e você não vai me interromper até eu terminá-la.

Revirei os olhos em sinal de reprovação, mas ele pareceu não se importar, já que continuou esfregando o algodão mergulhado em líquido ardente (argumento: naquela hora eu não estava em claras condições de lembrar o nome dessa coisa) na minha testa ferida.

— Eu tinha sete anos de idade quando meu pai me disse para sair pela vizinhança e fazer alguns amigos antes que eu me tornasse um solitário desgramado. E não, eu não estou narrando aquela música da banda Lukas Graham — obrigado por sanar minha dúvida, Hunter alguma coisa — então eu saí, né… passei o dia fora, conheci umas crianças bem legais no parquinho do bairro e tive o melhor dia da minha vida até então. Quando voltei para casa, já perto da noite, minha mãe estava nas escadarias da entrada, chorando as pitangas, e eu descobri que meu pai tinha me dito aquilo para eu não me despedir dele. Meus pais estavam se divorciando e esconderam a verdade de mim — ele pausou o procedimento, como se aquele fosse um campo perigoso da história — no fim do dia, minha mãe me colocou para dormir. Eu acordei na manhã seguinte com um policial me cutucando… ela havia se matado no banheiro.

— Não precisa continuar — eu disse devagarinho, ainda sentindo os efeitos da queda.

— Não finja que não está curioso, Ted Smythe.

— Por que me chama pelo nome todo?

— Porque não te conheço há tempo o bastante para te chamar só de Ted.

— Isso explica… ah, então continue.

— Na verdade, não há muito o que dizer agora — fechou os olhos e parecia que ele estava contando até três para retomar a história — fui parar num orfanato, passei uns dois anos por lá isolado e ninguém quis fazer amizade comigo até que a Emma me conheceu e me adotou. Desde então ela tem sido a minha única mãe, e a pessoa que mais me ajuda. Ela moveu céus e terra para que me a diretora me deixasse aqui como auxiliar na enfermaria nos horários vagos, só assim ficamos mais próximos por mais tempo.

— A Sra. Pillsbury é como uma heroína, então — comentei, quando me dei conta de que o pescoço já não doía mais como antes.

Claro que não doía tanto. Hunter simplesmente começou a fazer uma massagem na região e eu não tinha percebido antes. Ô, beleza…

Me sinto num SPA. Para feridos e vítimas de bullying.

— Mais heroína que a Mulher Maravilha, eu diria — o projeto de enfermeiro teen deixa escapar uma pequena lágrima do olho esquerdo — agora você deve estar se perguntando por que eu te contei essa história.

— Agora estou — abro um sorriso meio desajeitado.

Afinal, não é todo dia que outro garoto de 15 anos vem e cuida de suas feridas e tensões depois de uma sessão de bullying barato numa escola pública americana, não é mesmo? Claro que eu me senti envergonhado por deixá-lo colocar uns pontos na minha testa e massagear meu pescoço. Um médico poderia ter feito todas essas coisas. Mas aí está o ponto: eu não estava me sentindo incomodado. Na verdade, eu até que estava gostando de receber todos esses cuidados de alguém que não era minha mãe.

E OK, 2032 é aquele ano bem avançado onde os gays já são muito bem aceitos por pelo menos metade da população mundial — e o Oriente Médio que se cuide — mas a questão aqui não é a aceitação. A questão aqui é: o que diabos está acontecendo comigo? Por que de repente eu comecei a ver esse cara com outros olhos? E por que tudo tão rápido? Tipo, não faz nem uma hora que eu vi Hunter pela primeira vez e já tive milhões de pensamentos acerca dele! É como se o Furacão Catrina estivesse passando aqui pela minha cabeça neste exato momento.

— No que está pensando? — Sua voz tirou-me do transe mental momentâneo.

— Em como sinto que te conheço há anos com apenas meia hora de conversa… e no porquê de você ter contado tudo isso pra mim.

— Sei lá, eu só… — o garoto limpou as mãos numa toalha de mão próxima, mas sem desgrudar seu campo de visão do meu corpo todo ferido — senti a mesma coisa que você… como se te conhecesse há anos e pudesse e contar o que quisesse.

— Como se dá o nome desse sentimento? — Falei, quase tremendo nas bases pelo simples fato de que ele voltou a se aproximar de mim, dessa vez com seus dedos, que se movimentam em meus braços à procura de uma fratura ou algo do tipo.

— Não sei… com o tempo a gente descobre. Mas por enquanto, isso é interessante — suas mãos, então, se afastam de mim — pronto, acabei meu serviço básico. Agora é só esperar a minha mãe voltar da diretoria para maiores procedimentos.

— Obrigado pela ajuda, Hunter.

— Lynch.

— Quê?

— Emma pode ter me adotado, mas eu ainda tenho meu sobrenome de nascimento. Sou Hunter Lynch Pillsbury. Pra esse jogo de nomes não ficar injusto.

— Acho que agora estamos quites. Sou Ted Smythe-Pierce — e estendo a mão direita, com muita dificuldade.

Antes que eu consiga erguer o braço, Hunter prontamente já traz a sua mão para a minha, e por mais que o cumprimento doa um pouco nos meus ossos machucados pra cacete, eu não consigo mais largar do seu toque.

— Prazer em te conhecer, Ted.

— O prazer é meu.

Ponto de Vista — Narrador

— E isso, Nate, foi como eu conheci seu pai.

Ted finalmente concluiu sua história, depois de quase um mês se reunindo com o marido e o filho no quarto deste último todas as noites a fim de falar mais um pouco sobre a trajetória pré-Hunted, como a tia coruja Lily costumava chamar o casal em questão.

— Finalmente, hein — o mais novo bateu palmas ironicamente — um final bem diferente do comum para uma história de amor, não acham? Afinal, vocês já se conheceram na parte da saúde e da doença e tal…

— Verdade — Hunter riu, pondo os cotovelos sobre suas coxas — Nathan, você está falando exatamente como seu pai descreve os roteiros dele. É genética ou vocês aprenderam um com o outro essa técnica?

— Definitivamente não foi genética, já que eu não pedi por isso — o filho dos dois ergueu as mãos como se retirasse a culpa de seus ombros — a culpa é do papai Ted, então!

— Ué, mas quem foi que veio atrás de mim perguntar o que tanto eu faço naquele escritório mesmo, hein? Ah, já sei! Você, Nate — apontou para o adolescente — então quem veio atrás dessa técnica foi você mesmo. Simples como a Oi!

Os três riram do comentário, pensando consigo mesmos como podiam ser tão idiotas quando estavam juntos, sendo que aquela era para ser uma séria relação entre pais e filhos. Mas Nate sabia a resposta dessa indagação. E assim como a Oi, também era simples.

Nem todos os momentos precisam ser sérios em família. Algumas vezes, eles podem ser amigos melhores que aqueles que você encontra na faculdade ou numa Starbucks próxima. E algumas vezes eles podem ser duros com você. Mas obviamente haverão aqueles momentos que compensarão essas broncas, como naquele dia em que Nathan e seus dois pais foram ao McDonald’s encher a barriga de besteiras sem medo de irem ao hospital no dia seguinte.

Porque eles eram família. Havia amor entre eles. E o que eles faziam juntos ou deixavam de fazer, era algo que só importava a eles e a mais ninguém. Talvez por isso a sociedade estivesse mais pacífica na década de 2050: se deram conta de que a única vida da qual deve-se tomar conta é a própria.


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Notas finais do capítulo

Então, gente, eu preferi me manifestar somente nas notas finais pra me despedir de vocês. Este foi um bônus que eu preparei pra finalizar HIMYM e fechar a ponta solta deixada naquele epílogo, ou seja, agora vocês sabem como Ted conheceu Hunter e passou a tradição de contar a história pro filho, Nathan ;) Espero que tenham gostado e deixem seus comentários de despedida aqui embaixo. Se quiserem também, favoritem a história ou até mesmo deixem uma recomendação.
Credo, pareci um youtuber falando agora *risos*
Quero que saibam que eu amei escrever essa adaptação da tão famosa série para o mundo de Glee. Foram 30 episódios lindos, maravilhosos e destruidores de forninhos que ficarão marcados na minha mente até o dia em que eu me deitar na cama e nunca mais sair. (E espero que este dia esteja bem longe, claro) Me lembrarei também de cada pessoa que passou por aqui e deixou uma review na história, seja surtando, seja criticando, seja dizendo que tinha amado o episódio em questão. Lembrarei de tudo e de todos. Obrigado por fazerem esta fanfic se estender por tanto tempo e por terem tanta paciência! *eu e meus famosíssimos atrasos*
Eu continuo escrevendo, viu? Tenho duas histórias no ar; uma cuja segunda temporada será postada no fim do ano e outra que está sendo atualizada regularmente. Visitem meu perfil para conferi-las, okay? Okay.
Goodbye, gente. It was an honor.



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