Caminhando em Gelo Fino escrita por Ditto


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

De volta ao xablau... digo... história.



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Olheiras haviam se tornado uma constante, ainda assim, naquela manhã Naruto se surpreendeu com a profundidade das marcas escuras abaixo de seus olhos. Estava dormindo mal havia semanas, levava horas para conseguir pegar no sono e constantemente acordava de sonhos confusos e constrangedores para não adormecer novamente tão cedo. Naquela noite, entretanto, não conseguira pregar os olhos por sequer um segundo. Revirou-se na cama, tentou todas as posições possíveis, afundou o rosto no travesseiro, contou até seiscentos e alguma coisa, mas o sono não foi o suficiente para calar o rebuliço em sua cabeça.

Sai estava agindo normalmente. O garoto tinha tanta naturalidade ao conversar com ele que chegou a imaginar se o dia anterior não teria sido apenas outro sonho infeliz, mas a mensagem ainda estava em seu celular para servir de confirmação.

–Naruto, acabou a aula – ele disse lhe dando tapinhas no braço. O loiro ergueu a cabeça assustado – Você tá apagado há duas horas.

–Ah... - ele esfregou os olhos para tentar acordar – Nossa, tudo isso? Parece que eu dei só uma piscadinha.

Sai guardou o material do outro com agilidade enquanto ele se recuperava do cochilo e sugeriu que fossem comer alguma coisa, assim Naruto teria mais energia para continuar o dia.

–Você não dormiu nada? - perguntou ao trazer-lhe um copo de café com leite.

–Não tenho dormido muito bem – ele assoprou a bebida quente e tomou um gole – Acho que eu não tenho capacidade física de ficar estudando hoje.

–Tudo bem – disse Sai com seu sorriso típico – Hoje não teve nada de muito importante, tenho certeza que dá pra estudar outro dia.

Naruto não respondeu, apenas acenou com a cabeça tomando seu café em silêncio.

–Além do mais, - continuou – você já tá acompanhando a matéria tão bem, não tem necessidade de se forçar, ninguém rende com sono. Pra ser sincero, eu não esperava que você fosse mesmo cumprir de ir todos os dias na biblioteca. Já estamos no meio do semestre e, tirando aquela vez que você ficou doente e o dia que a gente se beijou, essa é a primeira vez que você não vai.

Meses não diminuíam o assombro que Naruto sentia toda vez que Sai demonstrava sua capacidade de agir com frieza e falar de qualquer assunto com naturalidade tal como se comentasse do tempo. Tomou o conteúdo do copo de uma vez e encarou Sai transtornado.

–Como você consegue agir como se nada tivesse acontecendo?

O garoto deu de ombros.

–Coisas estão sempre acontecendo.

Naruto sentiu certa inveja da destreza do amigo em lidar com qualquer situação, tudo o que conseguia fazer quando tentava agir com naturalidade em momentos de tensão era passar a impressão de que estava com dor de estômago.

–Bom, acho que eu vou ler um pouco – disse Sai por fim – Minha companhia está te incomodando.

–N-não! É claro que não! - Naruto arregalou os olhos encabulando-se com o comentário dolorosamente honesto.

–Não se preocupe! - confortou-o Sai com seu típico sorriso- Eu não estou ofendido, nem chateado, reparei isso desde manhã e compreendo perfeitamente. Não se culpe, eu só não quero que se sinta pressionado.

Dito isso, Sai acenou e saiu para a biblioteca. Naruto pôs os cotovelos sobre a mesa e apoiou o queixo nas mãos, injuriado consigo mesmo (e também um pouco com Sai por ser tão indiscreto com as palavras). Não ficou sozinho por muito tempo, logo Sasuke chegou no refeitório e, vendo-o sozinho, jogou-se na cadeira à sua frente onde, momentos antes, estava Sai.

–E aí? - o cumprimentou cruzando os braços sobre a mesa.

–Oi – respondeu Naruto com a voz meio sufocada enquanto endireitava-se na cadeira de repente.

–Por que essa cara de zumbi? Alguma coisa com o esquisitinho?

–Não – ele desviou o olhar para as mãos em seu colo – Eu não dormi muito bem, só isso. Não é nada com ele.

–Hm – Naruto teve certeza de que ele não engoliu a mentira – Você não geralmente tá com ele estudando a essa hora?

–To cansado demais hoje.

–Acho engraçado você ter começado a estudar tanto depois que esse cara entrou.

–É ano de vestibular – respondeu irritado com a malícia na voz do outro – Além do mais, eu tava muito mal em física, precisava de alguém pra me ajudar.

–Por que ele? Você nem conhecia ele até pouco tempo. Eu vou bem em física e estava aqui o tempo todo.

A colocação soou tão absurda que Naruto sequer conseguiu reagir de imediato, se perguntando se aquilo seria algum tipo de piada.

–Bom... As notas do Sai são mais altas que as suas – disse-lhe Naruto ainda confuso. A expressão de Sasuke endureceu tão instantaneamente que foi quase cômico – Você não tem se dedicado muito aos estudos ultimamente, na verdade você as vezes nem vai na aula. Aliás, Kakashi brigou com você hoje de novo por ter fugido ontem, não foi?

–Adultos gostam de ameaças – respondeu cortante, puxando um guardanapo sobre a mesa e rasgando-o distraidamente.

–Aonde você vai quando foge da escola?

–Não te interessa – a simplicidade e descaso em sua voz atingiu Naruto violentamente.

Sasuke poderia ter sido ríspido, rude, poderia ter se irritado com a pergunta e respondido com uma grosseria, deixando Naruto igualmente irritado. Mas ele não se incomodou, respondeu completamente indiferente e foi isso que causou no coração do outro um aperto desesperador. Não pôde evitar de se lembrar do que Sai havia dito, era clara a preocupação de Sasuke em disputar sua atenção com o outro, mas não demonstrava nenhum sinal real de afeição. Naruto não era irrelevante a ponto de servir somente para exaltar o ego alheio, e não era tão ingênuo a ponto de não se importar que o tratassem como tal.

–Sasuke, por que você voltou a falar comigo?

A pergunta claramente o pegou de surpresa. Ele ergueu os olhos para o outro e começou a torcer o papel em suas mãos, abriu a boca para dizer alguma coisa, mas tornou a fechá-la por um instante.

–Eu... Eu não... - Naruto não desviou o olhar rígido, aguardando uma resposta satisfatória – Não teve uma razão específica, eu só...

Torcia com tanta força o guardanapo que este começava a rasgar-se ao meio, nenhum dos dois ousava desviar o olhar. Para a frustração de Naruto e alívio de Sasuke, não houve tempo para pensar no final da frase, pois Sakura, sorridente e desavisada, sentou-se ao lado do loiro no intervalo das reticências.

–Olá! - cumprimentou-os alegre – Não te vi ontem o dia todo, Naruto, aonde você se meteu?

–Tava nos lugares de sempre, você que eu não achei – mentiu ainda sem tirar os olhos de Sasuke, mas este já havia largado o papel sobre a mesa, relaxado as feições e olhava para Sakura com simpatia.

–E você, Sasuke? Como vai?

–Na verdade, eu já vou indo, preciso falar com o professor Asuma sobre uma lição que ele passou – ele se levantou e ajeitou a camisa.

–Posso ir junto? - pediu Sakura esperançosa levantando-se também – Preciso falar com ele sobre uma coisa também.

Naruto suspirou cabisbaixo, antecipando a grosseria que Sasuke certamente responderia à garota, mas foi surpreendido por um simpático “claro!” e ergueu a cabeça incrédulo para ver os dois se afastando juntos. Frustrado, chateado e cansado, arrastou-se até seu quarto e, finalmente, adormeceu.

A noite estava clara e estrelada. Ainda ouvia-se vozes animadas, mesmo que poucas, quando Naruto acordou. A exaustão não havia o abandonado, o peso de tudo em seus ombros ainda estava lá, despertou sentindo-se mais cansado do que antes, ainda que não tão sonolento. Tateou em baixo do travesseiro para encontrar seu celular e checou as horas. Oito e meia, se corresse ainda teria tempo de jantar, o que lhe parecia ótimo, pois estava faminto.

Sai estava no refeitório, terminava de comer sozinho em uma mesa no canto. Escolheu seu prato e sentou-se ao lado dele.

–Descansou um pouco? - Naruto fez que sim com a cabeça – Se sente melhor?

Ponderou um pouco, botou um tanto de comida na boca, mastigou lentamente enquanto decidia a resposta e optou pela sinceridade.

–Não – disse pensativo – Me sinto confuso, acuado, chateado e idiota. E completamente perdido, não faço ideia de como eu deveria lidar com tudo o que tá acontecendo.

Tendo já terminado de comer, Sai afastou seu prato e respirou fundo parecendo preocupado, mas de forma alguma surpreso em ouvir aquilo.

–É culpa minha, não é?

–É. Bom, não sei bem até que ponto é culpa sua, talvez seja muito, talvez você só tenha adiantado coisas que iam acontecer mais cedo ou mais tarde. O problema é justamente esse, eu não sei mais o que é paranoia e o que é real.

Sai o encarou pensativo, como se decidisse alguma coisa, as mãos cruzadas sobre a mesa.

–Termine de jantar primeiro – ele disse com um ar sério – Depois conversamos em algum lugar reservado, já que aquele blog tem informantes por toda parte, não quero te trazer mais problemas. O teu quarto, se não te incomoda, fica mais próximo que o meu.

Naruto concordou com um aceno e preocupou-se em devorar sua ceia. Conhecendo Sai, não era possível ter certeza do que esperar. O garoto poderia estar disposto a ouvi-lo e confortá-lo tanto quanto jogá-lo contra a parede e confrontá-lo.

Era curioso como Sai o fazia se sentir um estranho em seu próprio quarto. Ele foi se fazendo confortável e sentando na cama com familiaridade enquanto Naruto levou alguns segundos em pé, sem direção, até que puxou a cadeira da escrivaninha e sentou-se de frente para o outro.

–Eu conversei com a Sakura – anunciou Sai.

–Sobre...?

–Sobre uma série de coisas que você não me contaria de boa vontade.

–Quê? Que tipo de coisas? - exclamou franzindo o cenho.

–Bom, no blog dizia – ele claramente não se importou com a irritação de Naruto – que fazia anos que não, como era? Ah, sim, “rolava um lgbt”. Isso significa que havia acontecido alguma coisa antes e, se o dono ou dona do blog estuda aqui e nós somos do último ano, o que ela sabe, certamente que os outros alunos do nosso ano também sabem.

–Aonde você quer chegar com isso, Sai?

–A Sakura me contou que, quando vocês estavam na quinta série, descobriram que dois garotos do ensino médio estavam namorando – Naruto sabia bem a intenção dele, tinha desviado o olhar injuriado e cruzado os braços – Ela disse que a maioria dos alunos e até alguns professores foram bem agressivos, que não estavam economizando nas ofensas. Os dois tiveram que se mudar, não é? Deve ser complicado lidar com isso numa cidade de pequena. A Sakura disse que você ficou bastante abalado com essa hostilidade toda.

Ele pausou e esperou algum comentário, mas o loiro somente fungou.

–Mais interessante do que isso, ela também me contou que até a terceira série ninguém falava com você, só pra brigar ou provocar. Até que, ah, essa é a parte boa, o Sasuke resolveu ser seu amigo. Parece que ele era bem popular com as garotas já nessa época, apesar de já ser antissocial desde criança, não é? Aí a Sakura se aproximou de você pra tentar chegar nele, já que vocês dois eram colados, foi quando ela virou sua amiga e as pessoas começaram a falar contigo, é isso?

–É, é isso, Sai – disse rispidamente, aquilo era exatamente o que o garoto queria ouvir, uma argumentação completa para justificar toda a patologia por trás de suas inseguranças. Mas Naruto não precisava escutar toda aquela história, afinal ele era o protagonista e a conhecia melhor que ninguém – E agora o quê? Vai escrever minha biografia?

Sai riu.

–Você sabe o que eu acho.

–Sei. Eu sei bem que você acha que eu tenho pavor de sair do armário. Quer saber, Sai? Eu tenho mesmo – as palavras foram saindo de sua garganta com um crescente misto de frustração e alívio – O Kiba não fala comigo, tem gente que ainda me olha torto no corredor e já um mês que saiu no blog que a gente se beijou. Eu acho que talvez eu goste mesmo de meninos, às vezes eu acho que sim, as vezes eu me convenço que não... Mas eu não sei, Sai... Eu não sei o que eu sou, não sei o que eu sinto pelo Sasuke, não sei se isso é amor, eu não sei mais nada de mim mesmo! Cada vez que eu falo com ele eu só fico mais angustiado e mais confuso, isso tá me deixando completamente maluco! Eu não sei o que fazer, dá pra entender isso?

Havia se exaltado com o discurso, Sai ergueu as sobrancelhas e fez sinal para que se acalmasse. Sua respiração havia acelerado um pouco e o coração batia com força, procurou respirar fundo para normalizá-los.

–Eu entendo perfeitamente – assegurou Sai olhando em seus olhos com didática e controle, moveu-se um pouco para o lado e deu um tapinha na cama para que Naruto sentasse ali. O loiro levantou da cadeira e foi obediente sentar-se ao lado do outro, que tomou seu rosto nas mãos carinhosamente, mantendo em seus olhos negros sempre a mesma firmeza – Me escuta, Naruto, esses anos todos você se dedicou por ele, deu tudo de si, mas desde que eu cheguei aqui, eu só vi ele te magoar. O Sasuke só te faz mal, ele não gosta de você. Me dá uma chance de te provar que eu posso te fazer feliz.

Com uma pontada no coração, Naruto fraquejou e não pôde reagir quando Sai tomou seus lábios. Uma das mãos do garoto deslizou para sua nuca, o fazendo fechar os olhos e tentar se concentrar no calor da pele de Sai contra a sua. Ele foi beijando sua boca lenta e gentilmente, Naruto retribuiu logo, enfraquecido e desarmado como estava, era demasiado reconfortante aquele ato de afeto. Não só afeto, mas o alívio de provar novamente da sensação que sua mente tortuosamente vinha revisitando desde que a experimentara com o primeiro beijo.

Quando sentiu a língua de Sai passando por seus lábios e tocando a sua, Naruto recuou e se recompôs alarmado. Visualizou um flash de Sasuke em sua mente e lembrou-se da sensação do gosto de cigarro que havia imaginado dias antes.

–Não dá. Desculpa, eu não...

–Namora comigo – atropelou Sai com crescente intensidade no olhar – Eu te faço esquecer ele.

–Não! - Naruto arregalou os olhos boquiaberto – Não, Sai, eu não posso! Não é por ele, é por mim! Eu não consigo deixar as coisas do jeito que estão, botar uma pedra em tudo e ir em frente, não dá.

Sai deu um sôfrego suspiro, mirando o chão. Houve um momento de silêncio.

–É melhor você ir embora.

–Boa noite – ele não voltou a olhar para Naruto, levantou-se e deixou o quarto com a expressão completamente fechada, era difícil dizer se estava chateado ou furioso. Talvez ambos.

Naruto permaneceu imóvel por um tempo depois que Sai o deixou sozinho. Um esmagador sentimento de culpa foi crescendo em seu peito, havia beijado alguém que o amava sem retribuir sentimentos por pura carência apenas para rejeitá-lo segundos depois, mais uma vez havia sido com um garoto e ainda havia pensado em outra pessoa durante o beijo, também um garoto.

Com o coração pesado, Naruto chutou os sapatos de seus pés e deitou-se encolhido na cama. Não se deu ao trabalho de vestir o pijama ou apagar a luz. Se tivesse sorte, conseguiria dormir por uma hora ou duas naquela noite, mas sua sorte parecia estar em hiato. Não se atreveu a criar esperanças.

–-

–Você precisa dormir direito.

–Não diga, gênio!

–Eu tenho energético na geladeira, quer?

Apesar de nunca ter tomado energético antes, Naruto aceitou. Sasuke abriu o armário e puxou do micro-refrigerador duas latinhas compridas, atirando uma ao loiro e abrindo a outra. Ainda havia grande parte do trabalho de literatura a ser feito, então os dois se reuniram depois da aula novamente para tentar adiantá-lo.

–E por que você não foi hoje de novo estudar com o esquisitinho? - perguntou sentando-se ao seu lado no chão – Vocês não pareciam brigados.

Sai, como era de se esperar, estava agindo normalmente naquela manhã. Mesmo assim, Naruto sentia que havia um tom amargo de rancor em sua voz. Nenhum dos dois comentou nada sobre a noite anterior, aliás, mal se falaram, apesar de terem passado o dia juntos até o fim das aulas.

–Eu já melhorei bastante – disse analisando a latinha em sua mão. O líquido tinha cheiro doce e parecia um refrigerante normal – fazer logo esse trabalho é mais importante que ficar todo dia estudando as mesmas coisas.

–Tá tudo bem entre vocês, então?

–Tá – mentiu tomando um gole do energético – E você? Achei que a Sakura fosse insuportável.

–Até que ela não é tão ruim, sabe – havia uma exorbitante prepotência em sua voz que deu a Naruto uma sensação de que ele estava apenas provocando-o – Você falou tanto dela que eu pensei melhor, porque eu já namorei com ela, né, então deve ter algo de bom.

–Claro.

Sasuke desceu o resto de seu energético goela abaixo, puxou do bolso seu maço de cigarro e acendeu um, preenchendo o quarto com a fumaça.

–Dá pra parar com essa merda? - reclamou Naruto abanando dramaticamente e fazendo careta, seguido de um acesso forçado de tosse.

–Eu gosto de fumar depois de comer ou beber alguma coisa.

–Bom, mas eu tô aqui e eu não consigo respirar com essa nuvem de câncer na minha cara, então apaga isso!

–Me obrigue.

Os dois se fuzilaram com o olhar por um momento, então Naruto pousou sua lata no chão e rapidamente atirou-se em Sasuke. O garoto não esperava o ataque e mal teve tempo de reagir, caindo para trás. Naruto aproveitou a chance para subir em cima dele, passando uma perna de cada lado de seu corpo e arrancando o cigarro de sua mão.

–Meu deus! Qual é o seu problema?!- gritou Sasuke enquanto ele amassava a ponta acesa no chão com um sorriso triunfante.

–Ninguém mandou me provocar!

O sorriso não durou muito. Enquanto Naruto sempre fora preguiçoso e seus interesses esportivos se limitavam à poucas partidas de futebol ou vôlei por passatempo com os amigos, Sasuke tinha músculos bem definidos por uma razão. Agarrando seus pulsos e dando um impulso firme, o rapaz atirou Naruto para o lado e reverteu a situação em poucos segundos. O loiro se debateu um pouco e tentou resistir, mas a desvantagem era visível e Sasuke conseguiu imobilizá-lo no chão, segurando suas mãos na altura da cabeça.

–Você luta como uma menininha! Se não consegue segurar a barra, nem tenta!

–Você é um idiota! Parece que tudo o que você faz é pra me irritar!

–Idiota é você! O que raios você achou que tava fazendo? Se jogando em cima de mim que nem um...

Por um instante, ele fez um movimento involuntário com o quadril para ajeitar-se, fazendo com que Naruto se desse conta de que ele estava completamente deitado sobre seu corpo, com o rosto a meros centímetros do seu e o quadril encaixado por entre suas pernas. Sasuke pareceu ter reparado no mesmo, pois se calou. Naruto prendeu a respiração, ao mesmo tempo que aquela situação lhe deu súbita consciência de suas partes baixas e da presença de Sasuke ali, se não fosse capaz de abstrair-se novamente e controlar aquela sensação que começava a arder por todo o seu corpo, seria impossível que o outro não percebesse.

Os dois continuaram se encarando em silêncio, orgulhoso que era, Naruto recusava-se a desviar os olhos, ainda que estivesse desesperado por medo de que seu próprio corpo o traísse. Sasuke, por outro lado, parecia estar segurando um sorriso, que ameaçava despontar em seu rosto.

–Qual é a graça? - perguntou num fio de voz.

–Quer saber, eu... - Sasuke tinha um olhar afetuoso e um sorriso de lado, Naruto reparou que os olhos do garoto deslizaram para os seus lábios e resistiu à tentação de fazer o mesmo – Eu senti falta de brigar com você.

Naruto sentia uma onda de calor dominar seu corpo sob o peso do outro garoto, mas seu rosto, em especial, parecia arder em chamas até as orelhas, o coração acelerando sem parar. Estavam tão próximos que seus narizes estavam prestes a se tocar.

–Então por que você me mandou sumir da sua vida?

Sasuke despareceu de seu campo de visão tão rápido que pareceu ter sido catapultado para longe, Naruto ergueu-se sobre os cotovelos para encontrá-lo sentado encarando-o tão furioso quanto em choque.

Caralho, Naruto! - ele exclamou frustrado.

O garoto não conseguia decidir se deveria estar orgulhoso ou desapontado consigo mesmo por ter feito tal pergunta naquele segundo em particular. “Ele ia me beijar”, constatou encabulado enquanto sentava-se novamente e fazia esforço para demonstrar firmeza.

–Eu passei uma semana inteira te esperando. Eu nunca fiquei tão preocupado em toda a minha vida, porque eu sei muito bem como é não ter os pais, mas eu não fazia ideia de como seria perder – as palavras saíam tão facilmente de sua boca que retomou a postura com a força delas. Guardava aquilo tudo dentro de si por anos e já não havia espaço para hesitação ou arrependimento – Daí você voltou e... Meu coração tava quase explodindo de tanta angústia, mas você se trancou no seu quarto, se recusou a me deixar entrar! Eu pensei que tudo bem, que você só precisava de um tempo sozinho, mas no dia seguinte você disse... Barulhento, insuportável, patético...

–Eu sei o que eu disse.

–Então me explica o porquê! O que eu fiz de errado? O que mudou em uma semana, Sasuke?

–A gente virou amigo quando era criança, Naruto, sei lá! Eu mudei, a gente cresceu diferente!

–Então o que mudou esse ano? Por que você me defendeu do Takashi?

–Eu fiz sem pensar, eu... Quando eu vi, eu já estava lá no meio.

Naruto parou para respirar. Não se atrevia sequer a piscar, uma sobrecarga de dor havia lhe tomado conta e lavado com sucesso a tensão sexual do momento anterior. Sasuke tentava se mostrar firme, mas tinha um olhar acuado e uma sutil nota de insegurança na voz.

–E o Kiba no outro dia? - perguntou mais calmo.

Sasuke respirou forte pelo nariz e desviou o olhar.

–Você tava tão... - ele começou com exorbitante relutância. Mordeu os lábios, respirou fundo mais uma vez e voltou a encarar Naruto – Ah, que droga, você é sempre tão briguento, orgulhoso, mas daí ele falou um monte de merda e você travou... Isso não é você, eu não podia te deixar lá plantado com aquela cara de idiota!

Os dois desviaram os olhos para o chão e ficaram em silêncio. Por mais que Sasuke se recusasse a responder apropriadamente as perguntas, Naruto sentia que a última declaração continha um fundo hesitante de sinceridade e afeto. Por hora, aquilo lhe bastou.

–Só eu mesmo pra te salvar, também – ele adicionou já sem exaltação na voz – Seus amigos viraram as costas pra você, que nem aquele Kiba, e o esquisitinho só tá preocupado em te comer...

–Não é verdade – ignorou completamente o comentário constrangedor sobre Sai, ainda não tinha forças para lidar com o assunto – A Sakura se preocupou comigo e me deu apoio desde o primeiro momento.

–Ah, é claro. Sakura.

Naruto não pôde evitar de notar o sarcasmo em sua voz, mas não conseguiu confirmar por sua expressão, pois Sasuke havia se virado para a mochila às suas costas.

–Toma – disse atirando-lhe uma apostila com impaciência – Vamos terminar esse trabalho logo, a gente já perdeu tempo demais.


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Notas finais do capítulo

x a b l a u
HEUHEUHE brinks. Mas é, de agora em diante é bom preparar os kokoros.

GENTE, hoje eu fiquei quase 3 horas respondendo comentários (amo vocês, mds) e aproveitei pra responder uns que eu tinha visto acho que há uns dois dias atrás, quando eu tava relendo todos os comentários desde o primeiro cap (sério, eu amo muito vocês) e vi qUE EU NÃO TINHA RESPONDIDO, COMO ASSIM? Não pode, eu quero responder todo mundo, mesmo que seja só um singelo "to lendo", então se em algum momento eu postar um capítulo novo e ainda não tiver respondido o comentário de alguém, por favor, pode ir me xingar, me manda mensagem dizendo "ô sua cretina, responde meu comentário lá, poarr". Sério, pode cobrar.

Sobre a SS sumida: não tenho desculpas, sou mesmo um lixo e pãns, so sorry. Juro que ela ainda vai meter o xablau nessa bagaça, mas talvez ela se mantenha inofensiva por mais um tempinho. Enfim, tirando isso, o que vocês tão achando dessa bagaça? :3



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