Tokyo (Klaroline) escrita por Jenniffer


Capítulo 1
Um dia, quem sabe, talvez...


Notas iniciais do capítulo

Feliz aniversário Erica.Da Ideia original só mantive o nome da fic. Sorry!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/565569/chapter/1

“I love you as certain dark things are to be loved, in secret, between the shadow and the soul.”

Era de noite, uma noite de inverno escura e apagada, a temperatura tinha baixado muito eu podia sentir sob meus pés pedaços de gelo se fundindo para formar uma fina película que eu destruía involuntariamente a cada passo. Eu conseguia seguir o volume da minha respiração nas nuvens de vapor que se formavam no ar enquanto caminhava. Eu devia ir para casa, mas eu não queria. Eu queria continuar andando até ficar exausta. Eu devia correr, isso faria com que eu me esgotasse mais rapidamente. Mas eu também não queria isso. Eu não tinha ânimo para isso. Eu queria vaguear apenas. Sem rumo. Afinal era assim que eu me sentia. Totalmente sem saber para onde ir, onde ficar. A culpa dentro de mim me mordia sem dó, deixando meu estômago embrulhado numa base constante que me fazia achar que ia vomitar a qualquer segundo. Eu cerrava meus punhos tão forte que podia sentir a pele penicando e ardendo cada vez que eu abria as mãos num gesto consciente de liberar a tensão.

Os pesadelos tinham começado à semanas. No início eu achei que eram apenas isso. Pesadelos. Mas conforme eles foram ficando mais frequentes e intensos eu percebi que não. Eram memórias querendo voltar. Memórias que me machucavam. Que me separavam do controle que eu tão orgulhosamente alegava ter sob mim mesma. Memórias que me separavam da minha dignidade.

Memórias de quando eu desliguei a minha humanidade. Eu acho. Eu não sei. E se for verdade eu não faço puta ideia do porquê que eu fiz isso. E isso estava me enlouquecendo.

É incrível como nós associamos a noite e o escuro, à ausência de vida. Agora vagueando sem direcção eu podia ouvir tantos sons diferentes, animais que eu não conseguia identificar e animais que eu conseguia. É incrível como enquanto humanos nos é incutido o medo do escuro, daquilo que não podemos ver, e como levamos essa aprendizagem para a vida. Eu sorri quando senti um lobo se aproximar. O seu andar calmo e compassado me deixou confusa, ele não ia me atacar, claro. Os animais tinham um instinto natural de fugir de criaturas como nós, ao contrário dos humanos eles não se deixavam enganar pela nossa forma, mas ele continuava vindo na minha direcção, sem de facto se aproximar o suficiente para que eu pudesse vê-lo se virasse para trás. Eu fiquei atenta à sua presença, afinal eu precisava me alimentar, eu sentia minha cabeça arder, minhas veias aparecendo e minhas presas dando sinais de vida inchando a minha gengiva. Mas eu estava lutando contra aquilo, eu não queria me alimentar. Não agora. Eu queria continuar consciente de tudo no meu corpo. Por alguma razão eu achava que o sangue era o que estava toldando minhas memórias me impedindo de lembrar, me mantendo segura longe daquilo que podia destruir a imagem que eu tinha de mim mesma.

De repente eu comecei a perceber as passadas rápidas, a respiração, ele continuava vindo na minha direcção, rápido, seguro, decidido, como se eu fosse a presa e não o predador, eu me virei de costas apenas para ver aquelas presas pulando no meu pescoço para me atacar como se eu fosse um animal. Eu não senti medo, o micro segundo que ele levou entre o salto e o meu pescoço foi o suficiente para que eu o afastasse com a mão. Eu fiquei olhando, encarando, e ele fazia o mesmo, como se estivesse me zuando, e quando um feixe de luz vindo do nada iluminou os seus olhos eu percebi. Ele voltou a sua forma normal enquanto ria de mim, completamente pelado.

Klaus.

Como se eu não tivesse problemas o suficiente.

– Oi Caroline - ele disse com aquele sorriso meio rasgado de criança que foi pega fazendo alguma besteira para logo a seguir ficar sério e fechar a cara para voltar ser o Klaus que eu conhecia. Assim era melhor. Aquele sorriso era desestabilizador demais pra minha saúde mental. Ele riu de novo. Agora mais contidamente, mas eu consegui ver um sorriso se construindo e morrendo no canto da boca. Aquela boca que sempre me alterou. Porque ele tinha que ter uma boca tão beijável e porque eu tinha que ser tão susceptível? Eu suspirei pesado tentando tirar aquele pensamento da minha cabeça junto com o vapor que saía da minha boca. Ele se aproximou e eu fiquei parada, sentindo meu corpo pesado. Se eu olhasse para a boca. Queria beijar. E se eu olhasse para qualquer outro lugar, porra, ele estava pelado na minha frente. Concentra no escuro Caroline. Nas árvores. Em qualquer coisa, eu dizia a mim própria antes dele pegar no meu braço:

– Eu disse oi, Caroline - ele se aproximou mais do que eu achava seguro e beijou minha bochecha. Claro que aquela noite poderia ficar mais estranha. E tinha acabado de ficar.

– Oi Klaus. O que você está fazendo aqui? E onde estão as suas roupas? Porque você me seguiu? E porquê você tentou me assustar? O que você quer? - eu completei sem dar espaço a respiração entre as frases.

– Eu pensava que a idade dos porquês era aos 4 anos. Claramente eu estava errado, love.

Eu cruzei os braços tentando me manter calma e afastar aquela sensação de vulnerabilidade que eu sentia sempre que estava com ele.

– Não se preocupe. Eu não vou contar para ninguém. Será um segredo nosso. Eu prometo.

Eu não entendi o que ele quis dizer, mas o tom de gozo indicava que ele achava que estava me zuando.

– Do que você está falando Klaus? - eu perguntei, agora mais séria. Com a expressão composta, que estava totalmente em desacordo com a forma como eu realmente estava me sentindo.

– A forma como você se sente sobre mim. Eu não vou contar a ninguém. Embora eu ache que uma mão cheia de pessoas já tenha notado que você está apaixonada mas nunca admitirá porque você me odeia. Você vai ultrapassar isso um dia.

Ele me olhou sério. Eu fiz uma carranca de desafio e ele completou:

– Talvez, daqui a umas centenas de anos. Eu sou imortal de qualquer forma.

– SAI DA MINHA CABEÇA KLAUS. AGORA - eu gritei isso com todas as forças, como se ele estivesse me estuprando mentalmente. E ELE ESTAVA. Como ele estava na minha mente? Lendo os meus pensamentos? Como? Eu sabia que ele podia ler pensamentos e transferir os seus próprios, mas eu achava que era necessário um toque físico para que isso fosse possível.

– Essa é uma história para mais tarde love, quando nós estivermos num lugar quente, e eu estiver vestido. A não ser claro, que você faça questão de mim nu.

–Eu não vou a lugar nenhum com você, Klaus.

– Vai sim.

– NÃO VOU NÃO - eu gritei de novo fincando os pés no chão como prova da minha decisão.

– Para onde você estava indo, de qualquer forma Caroline?

– Eu não estava indo para lugar algum.

– Nesse caso já chegou. Vem comigo.

Ele se aproximou quando me viu dando um passo em retirada e puxou meu braço.

– Você quer respostas ou não? Você quer saber por que você não tem suas memórias?

Ele sabia. Ele sabia o que estava acontecendo! E era tão certo como a minha morte que ele estava envolvido até ás pontas dos cabelos nisso tudo. Eu o segui calada. E embora minha pressão arterial estivesse a 100/h, eu sabia que não era porque eu estava com medo. Eu não tinha medo dele. De uma forma distorcida e inexplicável, eu confiava nele.

....*….

Eu devia mostrar para ela logo a verdade e ver se ela conseguia lidar com a realidade. Se a memória de uma Caroline desfeita em pedaços sem quereres nem vontades não estivesse ainda tão viva na minha mente, era isso que eu faria. Mas estava. Eu ainda podia ouvir os gritos dela à noite. Eu ainda podia vê-la caminhando para o vazio dentro dos seus próprios pesadelos. Eu ainda podia vê-la passando dias a fio sem dizer uma única palavra voluntariamente. Caroline pode ser chata, insuportável, irritante e irascível, mas ela é cheia de vida, cheia de ideias, cheia do que dizer, mesmo que eu não queira ouvir. Ela sempre quer resolver os problemas do mundo, resolver os problemas de todos e promover a felicidade geral. Claro que a definição dela de felicidade e de como ou com quem alguém deve ser feliz é bem particular, e você tem que amá-la muito para conseguir aceitar isso sem bater nela. Mas é assim que ela é. Toda ela boas intenções. Toda ela honestidade. Hipocrisia também, às vezes, mas nada fora do humanamente aceitável. Vê-la como uma marionete dos próprios pesadelos me fez conhecer uma Caroline que eu não queria ver. Com quem eu não sabia lidar. Uma Caroline sem fôrma e sem forma. Perdida. Vazia. E o mais difícil foi saber que toda aquela situação foi minha culpa. Que eu tinha destruído a vida dela. Ela sempre disse que o meu amor ia destruí-la um dia. Ela sempre teve razão. Eu insisti. Paguei para ver. E o preço foi maior do que eu podia pagar. Eu perdi Caroline. E embora eu tenha colado os pedacinhos de volta, a escuridão dentro dela estava querendo voltar. E eu teria que consertar tudo de novo. Eu teria que continuar reconstruindo a barreira mental que separava a Caroline que eu conhecia daquela que eu gostaria de nunca ter visto na minha vida.

O meu telefone tocou. Era Damon. Ele queria me avisar que Caroline tinha sumido. Que eles não sabiam onde ela estava e que depois dele, Elena e Stefan terem conversado sobre a última semana era hora de eu voltar. Porque era certo que as memórias dela estavam atormentando de novo. Eles se transformaram naquilo que eu chamo de grupo de controle. Eles me avisam sempre que Caroline está no limite. Sempre que ela está perto do precipício de novo. E eu venho. Dessa vez não foi necessário. Eu tinha vindo apenas para segui-la. Vê-la de longe. Eu sentia falta dela. E com tantos problemas em Nola, eu merecia um tempo só pra mim onde eu pudesse apenas ficar admirando Caroline, mesmo que de longe, nas sombras, como um maníaco perseguidor. Isso seria engraçado dito por ela, dito por mim era apenas ridículo. Um dia essa mulher vai me enlouquecer. Quando eu a vi na floresta eu soube instantaneamente que algo estava errado. A postura, a cabeça baixa, os pés arrastando no chão. Estava na hora de intervir. Eu disse a Damon que estava com ela e que me encontrasse no chalé dali a algumas horas para buscá-la e levá-la para casa, para perto dos amigos.

Eu não sabia se ela tinha ouvido a conversa ou não. Mas isso não importava. Era Caroline. Ela iria me afundar em perguntas em segundos.

Eu abri a porta e fui directo pro banheiro, deixando a sozinha, na companhia apenas de uma garrafa do seu vinho preferido.

....*….

Klaus não tinha me trazido a esse chalé por acaso. Ele tinha o meu vinho preferido. Os meus queijos preferidos. As minhas sobremesas preferidas. Ele tinha roupas minhas. Se eu estava revirando todos os armários da casa enquanto ele tomava banho? Claro que eu estava. E tudo indicava que eu tinha passado bastante tempo ali. Eu não lembrava de nada. Estava claro que Klaus tinha me feito esquecer tudo aquilo. E eu queria saber porquê. Eu deveria estar louca de raiva, querendo o sangue dele, no mínimo eu deveria estar me sentindo violenta em relação a tudo aquilo. Mas eu estava calma. Isso era estranho. Será que era a compulsão? Eu não conseguia lembrar quando foi a última vez que ingeri verbena por precaução. Então era possível que Klaus tivesse me hipnotizado para não pirar. Isso seria bem típico dele. Ele não tinha me hipnotizado pra esquecer aquele momento e me mandado para casa, então ele tinha um objectivo. Ele tinha algo em mente. E claramente, eu estava aberta a sugestões. Demasiado calma para o meu próprio bem-estar.

Ele saiu do banheiro. Vestido. Eu achei que ele viria pelado só para me provocar. Mas não. Ele veio vestido. E ele estava com um ar sério. Cansado. Condescendente, eu diria até, se eu tivesse feito algo de errado. Mas não. Eu não tinha feito nada ainda.

– Eu morei aqui não foi, Klaus? - eu perguntei ainda com uma calma que não era minha. E segurando meio copo de vinho precariamente.

– Sim - ele respondeu como quem responde a alguém se quer um copo de água.

– Eu morei aqui com você? - eu continuava calma mas um nozinho de desespero estava começando a se formar.

– Sim.

–Você pode parar de me dar essas respostas monossilábicas Klaus, você está me irritando!

Ele sorriu de leve.

– O que você quer saber Caroline? O que está te incomodando?

– Porque você apagou a minha memória? Porque eu não lembro dessa casa, dessas coisas, da gente? Porque eu não lembro de nada disso? Porque você tirou isso de mim?

Algumas fotos que claramente eu pendurei me deixaram com saudades de algo que eu nem sabia que tinha tido. De algo que na minha cabeça nunca tinha existido. Nós parecíamos felizes nas fotos. Apaixonados. E talvez seja uma blasfémia o que eu vou dizer agora, mas nós parecíamos um casal normal, sendo que nenhum de nós foi alguma vez normal. Mas naquelas fotos, as nossas expressões indicavam que a gente encontrou o caminho em que podíamos estar juntos sem querer nos explodir a qualquer momento.

– Você quer lembrar de quando nós tirámos essas fotos Caroline?

Ele me pegou de surpresa. Eu não esperava um tour às minhas memórias perdidas. Mas sim, eu queria. Claro que eu queria! Eu queria saber tudo. Eu acenei que sim, respondendo silenciosamente à pergunta dele e engolindo em seco de ansiedade.

Ele se aproximou de mim e segurou a presilha do meu colar. Eu segurei a pedra com a mão para que não caísse e a minha expressão compôs uma questão por mim. E Klaus respondeu antes sequer que eu a verbalizasse.

– Dentro da pedra, tem uma mistura que bloqueia a sua mente.

– Se bloqueia a minha mente como você conseguiu me ler lá fora?

– Nós treinámos muito love. A nossa conexão é um pouco mais forte do que você imagina.

– Um pouco?

– Muito.

– Hum. Entendo. Quer dizer, na verdade não. Não vejo um mundo em que eu te permitisse na minha mente. Não mesmo.

– Aparentemente a sua mente era o único lugar que eu não tinha acesso. E em algum momento você quis ser completamente minha.

– Você me permitia ler a sua mente também?

– Você não tem a capacidade de ler mentes, Caroline.

– Mas eu vi a sua? Alguma vez?

– Sim. Você viu, algumas vezes.

– Então para quê o colar? Ele não serviu de muito! Você conseguiu me ler de qualquer forma.

– Sim, mas não com clareza. Eu consegui captar algumas coisas mas não tudo. E eu não posso te induzir com ele. Foi por isso que eu te dei. Assim você tinha controle do que eu podia ver. Claramente ele precisa ser substituído, mas não é como se algum outro híbrido original andasse te rondando para ver o que se passa na sua cabeça.

– Tudo bem - eu entreguei o colar na mão dele, e ele pousou em cima da mesa. Eu reparei numa vela gémea de uma que estava no meu quarto agora. Aquilo me fez sentir angustiada. Quanto tempo eu teria esquecido? Quantas coisas? Quantos momentos? E o mais importante, porquê?

Estava calor. Um vampiro pegando sol? Isso parecia muito errado. Além de despropositado. Mas era isso que Klaus estava fazendo. Se sentindo o dono da montanha com certeza. Nós estávamos no Sul da França. Klaus quis me afastar da cidade, Elijah tinha ficado em Nola com Hayley cuidando da cidade, tentando apaziguar a guerra interminável. Quando pensávamos que tínhamos conseguido um acordo, uma das facções sobrenaturais vinha com um novo ataque. Quando pensávamos que tínhamos vencido essa facção, apareciam mais, de todos os cantos do mundo. Era como se todos os vampiros, lobisomens e bruxas do mundo estivessem tirando a vez para decidir qual clã seguiria para Nola e seria o próximo a lutar pela supremacia da sua raça. Aparentemente, quando os conflitos se tornaram conhecidos, Nola se tornou o cerne da guerra. O centro de tudo. Quem mandasse em Nola mandava em tudo. Essa era regra agora. Claro que nunca nenhum dos clãs conseguiu vencer Elijah e Klaus embora tenham estado perto em algumas tentativas. As bruxas bolavam cada vez mais planos loucos para deixar Klaus vulnerável. Um dos planos incluía inclusive reverter a condição dele para mortal. Nenhum deles teve sucesso. Em todos os clãs havia sempre um traidor. Um covarde. E eram esses covardes, informantes, que temiam pela sua vida e faziam com que Klaus e Elijah estivessem sempre um passo à frente na guerra. Sempre preparados para o que estava por vir. Mas a guerra não era só contra eles. Era uns contra os outros também. Os conflitos eram tantos que às vezes eu me perdia, e não sabia mais quem era o inimigo. Por via das dúvidas, considerávamos todos inimigos. Inclusive os aliados. As bruxas tinham conjurado Mikael, o pai de Klaus, e ele estava na cidade. Ninguém o tinha visto ainda, e Klaus achou melhor me tirar da cidade. Eu sei que ele tenciona me deixar aqui. Mas ele não vai conseguir. Eu ando tomando verbena há semanas. Ele não vai me hipnotizar. Eu só vim porque eu achei que seria legal estar um pouco fora do núcleo da destruição. Estar um pouco com ele, a sós. Nós passávamos muito pouco tempo juntos. E isso era um preço que me custava pagar por essa guerra. Se dependesse de mim eu mandava explodir Nola e me mudava para Tokyo, mas para Klaus isso era impensável. E de alguma forma eu entendia. Ele estava defendendo o que ele considerava ser o seu lar. E nesse preciso momento o lar dele estava pegando fogo e ele estava do outro lado do mundo comigo. Não totalmente. Eu sabia que a mente dele estava trabalhando a todo vapor num plano para me deixar ali e voltar pra Nola.

Eu sentei do lado dele expondo meu rosto ao sol. O que seria no mínimo fatal se eu não tivesse o meu anel.

– Eu já te disse que te amo hoje, Caroline?

– Não.

– Ok. Eu vou dizer, em algum momento.

Ele riu da minha cara e eu da dele. Ele parecia outra pessoa quando ria de verdade. Não aqueles sorrisinhos de lado, meio rasgados que foram feitos apenas para demonstrar a sua superioridade perante todos os mortais, mas aquele riso ali, o meu sorriso. Eu sabia que ele só ria assim pra mim, comigo. E eu me sentia orgulhosa de mim mesma quando tínhamos esses momentos. Klaus era uma das pessoas mais retalhadas que eu conhecia. Eu sabia que não podia curá-lo. Fazer dele o homem dos meus sonhos. Mas eu amava ele, e cada pedacinho que eu conseguia mudar era uma conquista. Eu não queria que ele deixasse de ser quem era, afinal, foi por ele que eu me apaixonei. Mas eu queria que ele visse a vida do meu jeito também. E às vezes eu conseguia. E eram momentos como aquele que eu queria conservar pra sempre. E que não terminassem nunca. Simplesmente, ele rindo de mim, para mim com o sol se pondo na montanha. Ele levantou e me beijou. Lento. Provocante. Abusado. Eu achava que com o tempo a tensão sexual entre a gente ia amansar, que íamos parar de querer nos devorar em qualquer lugar e em qualquer momento. Mas não. Já faziam 2 anos que nós estávamos juntos. E nada tinha mudado nesse sentido.

Caroline.

Oi.

Caroline.

O que foi?

Caroline, volta!

Klaus tinha que me tirar do transe justo na hora da nossa transa? Eu poderia ficar chateada se eu já não estivesse putissima da vida por saber que ele tinha apagado anos da minha vida. Da nossa vida.

– Como você foi capaz de apagar minha memória assim? Como? Porquê? Me explica. Eu quero tudo de volta Klaus. TUDO, VOCÊ OUVIU BEM?!

– Calma Caroline. Você só viu uma memória boa. Você esta sugestionada. Você não quer lembrar de tudo. E acima de tudo você não quer voltar para lá. Você não quer a nossa vida de volta!

– Por que não? Nós éramos felizes!

– Por um tempo, sim. Nós fomos. Mas em algum momento você começou a murchar. Você começou a perder a esperança de que a guerra ia acabar. De que algum dia eu pararia de lutar para me dedicar a nós. Em algum momento você deixou de acreditar que nós pudéssemos ser pra sempre.

– Você não tinha o direito de tirar isso de mim Klaus. É da minha vida que nós estamos falando aqui. É da minha eternidade. E eu escolho como eu quero passa-la.

– Depois que o Tyler e a sua mãe morreram, uma parte de você morreu junto. Você não conseguiu se recuperar. Você entrou em depressão e ficou se equilibrando no limiar de desligar a sua humanidade e voltar. Você não queria ser livre dos seus próprios julgamentos. Você não queria nada. Você não queria mais nada. Você tinha desistido. Você apenas queria ver o tempo passar. A guerra constante não ajudava. As mortes. As lutas. As traições. Você tinha perdido a esperança, e eu tinha perdido você. Eu não podia deixar que aquilo continuasse, então eu tirei suas memórias e te trouxe de volta para o lugar que você sempre considerou casa. Você não se opôs. Você ficou indiferente quando eu disse o que ia fazer. E isso só me deu a certeza de que o que eu estava fazendo era certo. O único problema é que a minha compulsão é falha. Eu consegui apagar a suas memórias, mas eu não consegui apagar tudo. Eu não sei em que momento exacto você se perdeu. Então os sentimentos continuam voltando, ciclicamente. Primeiro em forma de pesadelos, depois ansiedade, e depois a depressão. Apenas com a diferença de que agora você não sabe porque está assim. Eu já apaguei tudo que podia te causar dor, angústia, arrependimento. Eu já bloqueei tudo o que podia, eu não sei mais o que tirar de você para que você siga em frente e não volte a cair nessa espiral de escuridão. Eu não sei mais o que remover.

– Tyler e s t á m o r t o - eu sibilei baixinho aquela frase. Ele disse aquilo com a naturalidade de quem achava que eu lembrava disso. Mas eu não lembrava. E o torpor e as lágrimas no meu rosto denunciavam que eu tinha sido pega de surpresa. O meu coração ficou pequeninho dentro do meu peito. E eu chorei como uma criança. Ele tentou segurar os meus braços, mas eu comecei a gritar histericamente. Ele levantou as mãos. E se manteve afastado.

Um pedaço de um momento veio na minha mente. Ele tinha prometido. Ele tinha me traído. Era isso que eu não conseguia esquecer. Era isso que a compulsão não conseguia sobrepor. Eu tinha confiado nele, eu tinha amado ele. E ele tinha me traído.

Eu saio tropeçando em tudo e quando eu abri a porta Damon estava lá fora. Claro que ele estava ali. Quem além dele ajudaria Klaus num plano absurdo desses. De todos. Ele era o único que permitiria que Klaus fizesse isso comigo. Eu me perguntava se Elena sabia disso. E Stefan. Não. Stefan não sabia. Ele não permitiria. Não.

....*….

– Você acha que funcionou dessa vez?

– Eu acho que aos poucos eu vou conseguir apagar a culpa. Dessa vez ela não lembrou. Quer dizer, ela lembrou, mas de uma das memórias implantadas das outras vezes. Mesmo eu abrindo caminho para que ela lembrasse, ela não lembrou. Eu acho que ela não vai mais lembrar. Mas nós precisamos ficar atentos aos pesadelos. Eles são sempre o gatilho para a memória.

– Você acha que depois de tanto tempo, ela não conseguiria lidar com isso? Eu acho que ela é forte o suficiente.

– Eu prefiro não arriscar, Damon.

– Você não quer arriscar ou você não quer ter que cuidar dela Klaus? Me parece muito confortável para você deixá-la no escuro enquanto você segue a sua vida em Nola.

– Ela não pode saber, Damon. A culpa não é algo que Caroline saiba gerir. Ela nunca aguentaria saber que foi ela que matou o Tyler. Que ela arrancou o coração dele do peito. Se você visse o que eu vi você saberia disso.

– O que ela sabe, então?

– Ela sabe que nós vivemos juntos e éramos felizes até que eu matei Tyler e ela nunca me perdoou por isso.

– Se você está mexendo na memória dela, e está, por que não implantar que outra pessoa o matou? Ou que ele está vivo?

– E você acha que eu não tentei isso das outras vezes? Todas falharam. A única que colou aparentemente foi essa. Eu matei Tyler, no final das contas, ela sempre soube que isso aconteceria, talvez por isso essa memória tenha ficado ao contrário das outras.

– Pra que merda você tinha que ter ensinado a ela a resistir à compulsão? Nada disso estaria acontecendo.

– Eu queria que ela fosse forte. Que ninguém pudesse manipulá-la, nem mesmo eu.

– Você tem intenção de contar toda a verdade a ela algum dia?

– Sim. Talvez o dia em que ela conseguir me perdoar pelo que ela acha que eu fiz, ela esteja pronta para perdoar a si própria pelo que ela fez.

– E se isso demorar décadas? Séculos? E se nunca acontecer?

– Nunca é muito tempo. E eu vou estar esperando sempre. O tempo que for preciso.

Damon ergueu as mãos para céu e saiu indignado. Essa situação da Caroline nos tinha feito ficar mais próximos e ele torcia para que tudo desse certo. Mas ele não era uma pessoa muito paciente. Ele queria que tudo ficasse resolvido para ontem. Ele é impulsivo, inconsequente. Ele não entende que algumas feridas demoram mais que as outras para curar. E a ferida de Caroline era na alma. E se eu não podia resolver, eu esperaria. Até que ela estivesse pronta para voltar pra mim de novo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tokyo (Klaroline)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.