Respirou fundo e esperou quem seria o seu entrevistador do dia. Estava preocupado com o fator visual que eles iriam apresentar a cada programa. Espero que não usem nenhuma foto comprometedora, ele pensava remexendo nos botões da camisa vermelha.

Kiba entrou exibindo seu famoso sorriso “Be Happy”. Sentou-se rapidamente e acenou para todos os presentes, em seguida cumprimentou Sasuke.

–É bom vê-lo nesta noite, Sasuke! Ainda bem que não desistiu! Ficamos preocupados que você desistisse depois de ver o que faríamos! – tudo o que ouviu foi um “Hm!” indiferente. Kiba encolheu os ombros e volteou-se para a câmera que Shino cuidava – Boa noite a todos os nossos telespectadores! Sejam todos bem-vindos ao Falando Abertamente de hoje! Eu guiarei o programa de hoje que será sobre... – ele investigou alguns de seus papéis e sorriu – “Quem é ela?”! Esse é o tema! Por favor, a foto produção.

E surgiu a imagem na tela atrás dos dois. Sasuke fitou a foto e exibiu um sorriso de canto de boca, ele se recordou de quando aquela foto foi retirada.

–Reconhece essa foto, Sasuke?

–Sim – ele falou nostálgico.

–Fale um pouco sobre a situação dessa foto.

–Bom... Primeiramente fui eu que tirei essa foto, eu tinha uns quinze anos de idade e estávamos voltando da escola, Shikamaru havia passado num supermercado e comprara algumas coisas... Eu os peguei de surpresa na hora dessa foto. Dá para ver a cara de irritação de Naruto e de Shikamaru, e a Hinata! – ele riu – Ela nem sabia o que fazer! Foi divertido.

–E por que você tirou essa foto? Dá para ver claramente que estão todos incomodados.

Sasuke riu folgadamente.

Quinze anos foi a idade na qual tudo se fizera claro.

Ele já sabia de muita coisa desde os seis anos, era um bom observador e não pode deixar de notar os olhos dela, as palavras engolidas na garganta esganiçada. Ele sempre viu os olhares irritadiços dela. A maioria das vezes seus olhos sorriam para ele, sorrir era pouco: gargalhavam para todos, isso é verdade, mas para ele, Sasuke, aqueles olhos tinham um ritmo, uma sonoridade, uma musicalidade, uma harmonia única, só para ele. Havia um riso só para ele, havia um sorriso só para ele, havia uma gargalhada só para ele, havia um sentimento só para ele, tudo nela tinha uma parte, um quarto da vida, para os outros e os outros terços é só dele.

Mas os olhos, os olhos eram só dele. Unicamente dele. Já sabia que os olhos dela o procuravam, Sasuke sempre foi muito procurado, mas aqueles olhos ousavam ultrapassar as barreiras de sua carrancuda cara e do seu natural mal humor. Ela lhe fazia rir. Aqueles olhares lhe faziam sorrir de vez em quando. Demorou a perceber que os seus próprios olhos, suas duas ônix que queimam quando estão irritadas, que já procuravam por os dela.

Não tinha como não perceber, não tinha como não ver, aliás, não tinha como ele não ver já que eram todos para ele.

Muitas garotas lhe gritavam amores, lhe desejavam ardentemente, lhe queriam muito, lhe davam olhares de graça a toda hora, mas só havia um par de olhos que ele particularmente queria cativar. Demorou nove anos para sentir, notar, entender, visualizar, constatar, afirmar, concretizar, garantir, enraizar as verdades de aquele olhar que lhe procuravam uma vez perdida na sua vida. Aqueles olhos foram embora depois dos dez anos, mas eles tinham contato, o que só deu mais tempero ao prato que se formava.

Sasuke afundou na poltrona e pensou tranquilamente sobre as pessoas na foto.

–Eu havia ganhado uma aposta... A primeira aposta que o Shikamaru perdeu quando o assunto é nota de prova... Ele sempre foi muito inteligente! Ele sabe disso, não preciso dizer – Sasuke suspirou, observando o rosto sorridente e envergonhado de Hinata – Hinata não tinha nada a ver com a aposta, mas saiu na foto porque sempre acompanhou a amiga... Sabe, Naruto ali. Eu quis registrar a minha vitória, só não contava com a cara de fúria daquela galega ali. Havíamos apostado que quem tirasse a nota mais baixa pagaria a sobremesa. Naruto desistiu na hora, antes mesmo de fazer a prova, no fim ficamos só eu e Shikamaru na aposta e eu ganhei. Por isso ele passou no supermercado.

Os dois riram. Kiba soubera do acontecido através de Neji, primo de Hinata e colega de rua. Ele não podia deixar de rir, pois era raro alguém tirar nota mais alta que o super-gênio do Shikamaru. Mas tão logo se pôs sério porque ainda estava no ar. Ajeitou-se na cadeira e pigarreou. Sasuke fitou o rapaz com paciência. Esperava a próxima pergunta.

–Então... Nessa época vocês já tinham alguma coisa? – Kiba sorriu amarelamente. De alguma forma era preciso chegar ao assunto, mas aquela foi uma péssima entrada. Sasuke arqueou uma sobrancelha e tirou o sorriso, que até aquele segundo antecessor das palavras “tinham alguma coisa” ficara confortável no seu rosto de tirano. Oh droga, fiz errado.

–A quem você se refere? – retrucou Sasuke, desafiando o rapaz a falar abertamente sobre seu objetivo com aquela pergunta. Kiba agoniou-se na cadeira. Procurou ajuda nos olhares de seus colegas, que ficaram mais aturdidos que ele. Viu no rosto de Kakashi, atrás das câmeras, a permissão para mudar de tema. Era cedo demais para perguntar.

–Digo, vocês a turma, entende? Vocês já eram amigos? Você tinha muitos amigos? Porque pelas pesquisas que fizemos – Kiba fitou a câmera – Sasuke foi considerado, depois do garoto mais sexy da universidade, o mais “cara-fechada” e o mais solitário também – voltou seu olhar para o moreno – “O lobo solitário de Konoha”! Então?

Sasuke relaxou na cadeira. Era sobre isso que ele queria saber? Menos mal.

–Eu tenho amigos, não sou tão solitário assim, apenas gosto de ficar só pelos cantos. Só isso. Por exemplo, eu e Shikamaru somos parceiro de estudo, meio que os nerds da sala... A maioria anda comigo, quero dizer, eu ando com a maioria quando tem um happy hour, ou um programa a noite, algo do tipo. Reunimo-nos em grupões de estudo e tal... É uma galera muito boa de lidar, sem grandes besteiras.

Kiba sorriu. Adorava a seis horas da tarde. Todo mundo saia junto para ir a algum lugar esquecer todas as coisas que causavam angustia e sofrimento, no máximo, esquecer a vida e a universidade. Era o momento de ser feliz.

–Bom, pessoal, encerramos por aqui hoje! Espero que tenham gostado do programa e nos vemos na próxima vez, mais uma vez com Sasuke Uchiha respondendo as nossas perguntas! Boa noite a todos!

–Boa noite...

Sasuke acenou com indiferença enquanto Kiba acenava com emoção.

Alguns segundos eles ficaram olhando sorrindo para as câmeras, isto é, Kiba sorrindo enquanto Sasuke mantivera-se sério. E mais uma vez Shino gritou “Corta!”. Os dois se levantaram e se cumprimentaram. Era hora de sair dali porque a vida lhe chamava.

Soltou o ar devagar ao ver as horas no visor do celular. Sasuke andava de relógio, mas preferia ver o celular, pois na tela havia a foto dos dois trocando um carinhoso beijo apaixonado. Sorri sem notar. Ele se perguntava se ela o estaria esperando no lugar combinado, se ela estaria pensando nele agora. Parou a caminhada pela rampa de saída do Studio, um pensamento curioso lhe ocorreu: e se ela tivesse assistido ao programa? Talvez não. Coisas da televisão tinha muita pouca importância a ela. A conhecia bem: passeios durante a tarde, treinos pela madrugada, brincadeiras na chuva, andar de bicicleta na mata, correr descalça, vestir camisas masculinas, brincar com os vizinhos, isso era mais importante.

Ela era simples e natural, em resumo, “nada de mais”.

Bem o seu oposto. Ele pessoalmente não saia de casa sem seu celular, principalmente para ouvir música e tirar fotos dos dois. Sasuke gosta de guardar imagens dos dois. Nunca se sentiu tão envolvido por alguém, tivera sim namoradas, várias na frente dela, e sua amada sempre levara tudo na tranquilidade. Ele imaginava que ela sentiria ciúmes, que ficaria irritada, que o deixaria e isso seria prova da nutrição do amor por ele, mas ela nunca o rejeitou, aliás, ela era a que primeiro dava apoio para o casal.

Ela era às avessas da sua imaginação. As fotos mostravam exatamente isso. Vídeos amadores também comprovavam o quanto os dois eram diferentes, estranhos, oposto, iligáveis, mas incrivelmente intricados pelas imperfeições.

Era amor...