A festa tinha acabado há algumas horas e eles haviam entrado na casa pela primeira vez como casados. Já estiveram ali um bilhão de vezes desde que haviam decidido casar, com um entra e sai infinito pintando, quebrando, construindo, carregando móveis e decorando, mas agora o fato dos dois poderem chamar aquele lugar de lar dava uma atmosfera completamente diferente.

O esposo foi o primeiro a entrar, acendendo a luz iluminando a sala de tamanho mediano e com móveis simples. Haviam decido juntos que não queriam uma coisa grandiosa demais, apesar das condições financeiras do clã Hyuuga e a disposição do líder em ajudar na nova vida da filha mais velha.

Ele passou a frente, abrindo um pouco mais a porta e dando passagem a Hinata. Esta, por sua vez, deu um sorriso cansado de agradecimento e entrou ansiando por começar a tirar toda aquela roupa e finalmente soltar os cabelos. Não sabia se era falta de hábito ou alguma outra coisa, mas sempre que os prendia por um tempo maior que o necessário para tomar um banho nas fontes termais, suas têmporas começavam a latejar. Tirou os sapatos com os próprios pés e caminhou até o sofá.

Sentou-se agradecendo mentalmente por poder descansar os pés, imaginando que nem todas as batalhas eram tão cansativas quando uma festa de casamento. Começava a soltar os cabelos quando se deu conta que Naruto, o seu Naruto, continuava parado, com as costas contra a porta fechada e um ar um tanto preocupado.

- O que aconteceu, Naruto-kun?

Ele piscou apressadamente e sorriu, levando uma das mãos para a cabeça.

- Nada. Só estou um pouco cansado – respondeu ainda sorrindo. – Não imaginava que festas de casamento eram tão cansativas.

Hinata também não. Lembrava-se de quando fora ao casamento de Kiba e vira tudo tão organizado (pelo menos tão organizado quando uma festa onde cães faziam parte dos convidados) e agradável. Viu Kiba passar a festa sorrindo ao lado da esposa, tirando fotos, apertando mãos, colocando ordem nos filhotes de Akamaru e ainda tendo um tempo para comer que ela não imaginava que o seu fosse tão ser tão complicado.

Talvez, ela supunha, isso se devia ao fato de ter muito mais gente em seu casamento, afinal, todos os de Konoha e muitos de outras vilas fizeram questão de estar no casamento do salvador do mundo ninja. De fato, foram tantas fotografias, tantas mãos apertadas e tantos presentes para agradecer que não tivera tempo de comer nada.

Comer.

Lembrou-se então, com a ajuda de um roncar de estômago, que não havia comido nada o dia todo. Relutante, pôs-se de pé novamente e se virou para o marido perguntando:

- Naruto-kun, eu não sei você, mas não consegui comer nada durante a festa. Estou com fome, quer algo para comer também?

Ele assentiu animadamente.

- Ah, com certeza. Mas... – ele se aproximou dela e disse colocando a mão sobre seus ombros – acho que você está mais cansada que eu. Se quiser posso preparar algo enquanto você troca de roupa.

Pensou um pouco na proposta, seriamente tentada a dizer que não se importaria em fazer, mas com aquele monte de panos em que estava envolvida era bem provável que acabasse pondo fogo na roupa. Sorriu e disse:

- Eu ficaria grata.

Um tanto sem jeito, Naruto lhe deu um beijo na testa e saiu em direção à cozinha, deixando a esposa livre para ir trocar de roupa. Ela soltou um suspiro e caminhou até o quarto, acendeu a luz e a primeira coisa que fez foi fechar a porta, afinal, havia um homem na casa também. Mesmo que Naruto agora fosse seu marido, não conseguia encarar com naturalidade a possibilidade de ele vê-la sem roupas. Só de imaginar isso sentia o rosto queimar e não precisava se olhar no espelho para saber que o rosto assumia um intenso tom de vermelho.

Lentamente, foi puxando o quimono de motivos florais ficando apenas com as roupas de baixo, enrolou-se em uma das toalhas que pegara no guarda roupa e caminhou até o banheiro. Seu coração batia audivelmente em suas costelas e a respiração começava a ficar um tanto pesada. Talvez fosse por conta do nervosismo, mas sentia uma necessidade urgente em tomar um banho e se acalmar, deixar aquela série de pensamentos ir embora e se convencer de que ela e Naruto agora eram casados, então não tinha o menor motivo para ter vergonha de se mostrar a ele. Além do mais, era isso que os casais faziam depois de casados, não era? Moravam na mesma casa, comiam da mesma comida, pagavam contas, formavam uma família com filhos e para ter filhos eles precisavam dormir juntos.

Mas aquilo era tão difícil.

Lembrava-se da noite anterior com as outras garotas, de como elas haviam sido descontraídas a falar sobre o casamento, a festa e a noite de núpcias, pelo menos Ino e Temari, pois ambas já haviam casado, Sakura ainda permanecia em uma relação indefinida com Sasuke e Tenten, bem, muitas pessoas diriam que ela estava em um namoro as escondidas com Lee, mas Hinata era uma das únicas pessoas que sabia o incontável número de vezes em que a kunoichi das armas se dirigira ao túmulo de Neji e a ainda mais incontável quantidade de lágrimas que ela derravama toda vez que ia lá.

Tirou o primo dos pensamentos com um sacudir de cabeça e voltou a focar no seu problema maior: como ter coragem de fazer amor com Naruto.

Lembrava-se de Temari dizer que não precisava se preocupar, que não era tão difícil assim e que iam saber o que fazer na hora. Ino fora mais além e disse que deixasse com Naruto que ele ia saber o que fazer, dissera também um monte de outras coisas cujas quais ela fazia questão de esquecer.

Saiu do banho e enrolou-se na toalha ao sentir o cheiro familiar de ramen. Seu estômago roncou e ela deu uma risadinha. Foi até o guarda roupa encontrando um dilema sobre o que vestir. Vasculhou as roupas trazidas alguns dias antes e só encontrava pares e mais pares de moletons, roupas de treino, quimonos, algumas roupas comuns e camisolas que costumava usar. Também havia as peças de roupas que ganhara das amigas, mas aquelas possivelmente estavam fora de cogitação. Apenas o fato de se imaginar usando aquelas peças de laços e cetim sedoso era constrangedor.

Achou tudo aquilo um tanto difícil de se vestir, afinal, se colocasse moletons ou alguma daquelas camisolas Naruto iria achar que ela não estava se importando com a noite que estaria por vir, mas se colocasse o que havia ganhado, talvez ele achasse que ela passara a festa toda pensando em arrastá-lo para casa e finalmente chegar aos “finalmentes”.

Decidiu por fim fazer uma combinação de tudo ali. Pegou uma camisola de tecido rosa e macio que lhe cobria os ombros, descia até um pouco acima dos joelhos e com decote discreto. Não colocou sutiã e pegou apenas a calcinha de um dos conjutos de lingerie menos reveladores que havia ganhado.

Respirando fundo, se olhou no espelho e viu que não estava tão ruim quanto imaginara. Saiu, então, do quarto e encontrou seu novo marido sentado no chão da sala, perto da mesinha de centro, onde havia duas tigelas fumegantes de ramen.

Ele ergueu os olhos e piscou um tanto espantado, antes de sorrir e uma leve coloração vermelha lhe subir as bochechas.

- Eu fiz ramen, desculpe, mas não sabia o que queria.

Hinata sorriu e sentou-se. Ambos comeram em silêncio pelo que pareceu ser muito tempo, com Naruto vez por outra sendo flagrado lançando olhares curiosos a ela. Quando o viu fazendo isso pela última vez, ele já havia acabado de comer e a aguardava.

Seu rosto queimou um pouco quando perguntou:

- Algum problema, Naruto-kun?

Ele balançou a cabeça e desviou o olhar.

- Nenhum, é só que... Bem, - respirou fundo – isso é um tanto constrangedor.

Hinata ergueu uma sobrancelha e engoliu mais um pouco de seu ramen. O rosto dele se cobriu de um vermelho que ela só havia visto quando ele lhe pedira em casamento. Ele riu, um riso nervoso.

- Eu nunca pensei que isso seria tão complicado, sabe. Eu achei que seria como nos livros do ero-sennin... Não que eu os tenha lido. Quero dizer – ele parou e colocou uma mão no queixo, respirou fundo e disse – Hinata, eu estou nervoso pra caramba, ttebayo. E isso é algo muito pessoal para se perguntar para qualquer um, além do mais, os amigos que eu tenho são um tanto, ahhh, bakas.

Lançou um olhar de esguelha para Hinata e viu que ela havia abaixado a cabeça e agora parecia extremamente concentrada em comer o resto de seu ramen.

- Hinata, olhe para mim.

Ela ergueu o rosto corado e o encarou.

- Sim, Naruto-kun.

- Eu tentei pensar em um monte de formas para tornar isso mais... fácil, – disse tirando a mão do queixo e colocando sobre as de Hinata – mas quando penso que hoje esse é um momento único e que, pela primeira vez, estou realmente preocupado por não saber o que fazer... – ele balançou a cabeça e abaixou o olhar, sem continuar a frase.

Subitamente, ela puxou as mãos das do marido fazendo com que ele a olhasse preocupado. Seu rosto estava uma mistura de seriedade com constrangimento quando levantou-se lentamente e disse:

- Na-Naruto-kun, eu- eu não sei o que fazer agora e muito menos como fazer sobre esta noite, mas o que sei é que confio plenamente em você e sei que nada vai ser mais significativo e importante para mim do que – seu rosto ficou escarlate – fazer amor com quem eu amo.

Naruto a olhou de baixo, surpreso e com uma pontinha de alívio dentro do peito. Mais uma vez ele sorriu e ficou de pé em um salto, deu a volta na e segurou as mãos da esposa.

- Hinata, – começou levando as mãos dela até os lábios e depositando ali um beijo demorado – eu já disse que amo você hoje?

Ela não respondeu com palavras, apenas sorriu enquanto ficava na pontinha dos pés e selava seus lábios ao do homem que amara desde o primeiro dia em que porá os olhos nele e que, com toda a certeza que havia em seu coração, amaria por todo o resto de sua vida.