Thalia andou até com passos divagares até a lápide onde estava o nome dele. Ela não apareceu no enterro, não teve forças para aquilo, sabia que desabaria se fosse, e todos entenderam. Agora, ali, sozinha, ela podia ficar em paz com ele.

Usava um vestido cinza que ia gradualmente escurecendo, fazendo com que onde ele tocava o chão fosse preto, mostrando os pés pálidos e sem sapatos a cada vez que ela andava. Seus cabelos negros e cumpridos, estavam bagunçados e balançavam com a brisa. Seus olhos, que uma vez foram azuis-elétricos, estavam um azul tão escuro que podia ser facilmente confundido com preto.

Ah, olhos negros, como o dele. Pensar nisso fazia o coração dela doer.

As lágrimas caiam silenciosamente pelo seu rosto, e em suas mãos ela levava um buquê de rosas negras, o mesmo que ele deu á ela em algum de seus encontros. Ela andava tão silenciosamente e sua aparência era tão deplorável que qualquer um que a visse andando pelo cemitério assim acharia que ela era algo sobrenatural.

E talvez fosse, ela não sabia mais.

Parou na frente da lápide dele. Era uma das maiores e mais luxuosas dali, mas é claro, ele era um di Ângelo, e merecia total conforto. Thalia olhou para a foto, que ela quem tinha tirado em uma das viagens deles á Italia. Ambos estavam tão felizes.

Thalia fechou os olhos e mais algumas lágrimas cairam, e surpreendentemente ela conseguiu sorrir. Não um sorriso falso como tinha dado nos últimos dias, sempre seguido de um "estou bem", aquele era um sorriso que só ele sabia tirar dela, um dos sorrisos mais sinceros de Thalia.

Estar ali fazia com que ela sentisse ele. Quase podia senti-lo abraçando-a e dizendo que protegeria ela. E ele protegeu como ninguém, só ela sabia o quanto ele tinha efeito sobre ela, como se tivesse construído uma bolha só para os dois, longe do resto do mundo. E assim que ele deu seu último suspiro, a bolha furou, deixando-a exposta e sozinha no mundo que ela tinha esquecido da existência.

Ela pensou então, que Nico estaria feliz onde estava. Ele estava com sua mãe e com sua irmã. E, apesar de toda a dor que Thalia estava sentindo, ela estava feliz por ele. Porque amar é isso não é? Ficar feliz pela outra pessoa, mesmo que ela não esteja com você.

Thalia deixou seu buquê na frente da foto dele. Tinha um cartão ali, desde o dia que ele lhe deu. "Rosas para a rosa mais linda que eu conheço", estava escrito na letra mais linda que Thalia já tinha visto, mesmo que ele odiasse sua caligrafia.

Do outro lado do cartão, agora escrito com a letra da garota, outra frase fora escrita recentemente. "E agora eu estou morrendo, como essas rosas". Thalia fechou os olhos de novo e sentiu a brisa mais uma vez.

- Me desculpe Nico. - Disse, agora com mais lágrimas caindo pelos seus olhos. - Não vou cumprir minha promessa a você, não consigo.

Ela se lembrou de um dia, que parecia estar tão distante, quase como um sonho, quando ela e Nico estavam no parque, deitados no pé de uma árvore, abraçados, e viram um casal bem velhinho passando, se olhando apaixonadamente. "Quero que fiquemos como eles." ela disse. Nico sorriu. "Seria bem legal, sentar-nos em uma sala, rodeados por filhos e netos, com a casa bem barulhenta!" Ele completou. Thalia riu, e Nico ficou sério de repente. "Mas, se eu morrer antes Thals, quero que siga sua vida. Você promete?" "Prometo".

Isso foi um pouco antes de Nico falar para Thalia sobre sua doença sem cura. Se Thalia soubesse a importância daquela promessa, nunca a teria feito. Ali, agora, Thalia sabia que era impossível cumpri-la.

Abriu os olhos e olhou a foto dele mais uma vez. Tirou a faca que tinha escondia no buquê e sorriu para ele.

- Obrigado por me amar, Nico. - Ela disse e atravessou a faca em seu coração, sentindo sua vida se esvair pouco a pouco, até que tudo ficou escuro e silencioso, e ela não sentia mais nada.