Pov. Binho

Minha felicidade era visível, passei o dia todo com bom humor e com um sorriso no rosto. O motivo? Ana. Eu pensei que nunca mais veria ninguém daquele orfanato, exceto Bia que foi adotada junto comigo. Ver ela mexeu comigo, eu lembrei de tudo que vivi naquele casarão quando era mais novo, isso foi há uns 4 anos atrás, já que fui adotado com 12 anos.

Não conseguia pensar em outra coisa durante a tarde, queria que o outro dia chegasse logo para eu vê-la de novo, já que o idiota aqui se esqueceu de pegar seu número de celular. Mas amanhã isso vai se resolver. Quero reencontrar todos os meus antigos amigos, vai ser tão bom, tão nostálgico. Quem será da minha época ainda não foi adotado?

Ai meu Deus, eu ainda nem contei para a Bia a novidade, ela vai ficar tão feliz quanto eu, já que a Ana sempre foi a sua protegida. Fui atrás dela pela casa inteira, mas não achava. Na verdade essa casa é tão grande, que é fácil não achar as pessoas ou as coisas. Só então me lembrei que ela com certeza estaria na varanda de seu quarto, que tinha a vista para o mar, seu ponto preferido da casa. Ainda não me conformo em ter ficado com o quarto com vista para o colégio, que fica praticamente na frente da minha casa...

– Bia? – Chamei ao entrar na varada.

– Oi Binho!

– Você não sabe da novidade!

– Se você não me contar vou continuar sem saber. – Bia sendo gentil, como sempre.

– Ta, eu falo. A Ana está estudando no colégio.

– Ana? – Ela perguntou sem saber se acreditava que era a Ana que estava pensando. – A, a Ana? – Perguntou novamente e eu concordei. – Como assim?

– Ela foi adotada e começou a estudar lá hoje. Na minha sala.

– Pera aí... Eu acho que esbarrei nela mais cedo. – Ela estava quase chorando.

– Sim, vocês se esbarraram. Ela disse isso.

– E como você que tem a coragem e ousadia de me contar isso só agora? – Brigou comigo.

– Eu esqueci, calma. Estava ocupado de mais pensando nisso...

– Iiih, já até sei... Garanto que os sentimentos de um jovem garoto de 12 aos voltou á tona, né?

– Como assim? – Perguntei.

– Ué, já se esqueceu que foi com ela que você perdeu seu bv? – Como me esqueceria?

– Ah, eu já tinha esquecido. – Menti.

– Sei... Mas e aí, quando nós vamos vê-la?

– Amanhã na aula. Eu esqueci de perguntar o número dela e essas coisas.

– Tinha que ser. Mais burro que você não existe.

– Cala a boca. – Zoei.

Pov. Bia

No meio de tanta confusão, nada melhor que uma notícia dessas para me alegrar. Digo isso porque estava ficando com um menino que se dizia apaixonado por mim, mas que na verdade estava dizendo isso para outras meninas ao mesmo tempo. Ninguém merece. Mas mudando de assunto, eu fiquei tão feliz e emocionada com a volta da Ana que quando o Binho me disse eu quase chorei, mas me segurei já que tenho uma reputação a zelar. A Ana sempre foi uma irmã mais nova para mim, nós éramos unha e carne, até o idiota do meu “pai” proibir eu e Binho de falarmos com o pessoal do orfanato.

Eu e meu pai não nos damos nada bem, ás vezes acho que ele preferia ter adotado só o Binho. Sorte que tenho a minha mãe, sem ela não aguentaria esse peso. Meu maior presente foi minha mãe, ela é amorosa, carinhosa... Tudo que sempre pedi. Já estava de noite e a ladainha começou.

– Suas notas estão excelentes filho, tenho certeza que você será igual a mim quando crescer. – Se ele soubesse que o Binho tira boas notas colando... – Pena que não posso dizer o mesmo da Bia, que ficou com nota vermelha em duas matérias.

– Química e Física pai! Ninguém vai bem essas matérias. – Respondi, um pouco irritada.

– Você deveria ir. Vou contratar professores particulares para você, acho que só isso para te ajudar. – De novo, não.

– Na última vez que você fez isso o professor tentou abusar de mim, é isso que você quer?

– Esse sujeito já está preso, e agora vou contratar professores super qualificados. Não se preocupe.

Subi para o meu quarto com os olhos cheios de lágrimas, pois não suporto essa comparação entre eu e Binho. Fui até o meu banheiro, abri uma caixinha que estava lá e peguei uma lâmina. Minhas mãos começaram a tremer, não fazia isso há meses, queria ser forte, mas não conseguia. Fiquei ali pensando se me cortar novamente era o certo, até que ouço batidas na porta e guardo a lâmina rapidamente.

– Pode entrar. – Disse eu ao sair do banheiro.

– Não fique assim minha filha. Seu pai não sabe o que diz. – Minha mãe me abraçou e eu me senti tão protegida.

– Ta tudo bem. – Forcei um sorriso.

– Vêm! – Se sentou a cama e eu sentei em sua frete. – Alguma novidade?

– Até tem, mas você não pode contar pro papai.

– Iiih, o que você aprontou agora, dona Beatriz? – Brincou comigo.

– Nada. – Ri. – É que uma menina do orfanato começou a estudar lá na escola.

– Sério? Que coisa boa! Nunca achei certo seu pai proibir vocês de verem seus antigos amigos, mas eu não pude tirar sua autoridade.

– Eu sei disso, não se preocupe. Mas eu to tão feliz... A Ana sempre foi como uma irmã pra mim. Na verdade todos eram, mas ela sempre foi a melhor pessoa, em quem eu mais confiava.

– E eu quero conhecer ela! – Impôs.

– Pode deixar- Ri.

Pov. Ana

Acordei animada para o meu segundo dia de aula, já que encontraria o Binho e a Bia. Cheguei na escola já procurando os dois, mas alguém se meteu na minha frente impedindo que eu passasse.

– E aí ruiva! – Disse o menino de covinhas que eu nem lembro o nome.

– Ah... Oi!

– Como você está?

– Eu estou ótima, e você?

– Melhor agora. Vi que você estava procurando algo e pensei que fosse eu, por isso vim aqui para facilitar o seu trabalho. – Ri fraco.

– Na verdade era o...

– Ana! – Binho apareceu.

– Binho! – Corri para um abraço.

– Mas que intimidade é essa? – Disse o menino.

– A gente já se conhecia Thiago, mas demoramos um pouco pra perceber isso. – Ah, então o nome dele é Thiago.

– De onde?

– Do orfanato. – Binho respondeu. – Nós morávamos juntos.

– Então você também era órfã? – Me perguntou e eu concordei. – Olha, não sei se você sabe, mas eu tenho uma quedinha por órfãs, sabia? – Eu ri.

– É sério! – Disse enquanto eu ainda estava rindo e Binho revirou os olhos rindo também.

– Ana?! – Perguntou alguém atrás de mim. Virei e era a Bia.

– Bia! – Nos abraçamos apertado, sem me dar conta lágrimas escorriam em meus olhos. – Eu senti tanto a sua falta.

– Eu também Ana, muita falta. – Ela também estava chorando.

– Você está linda. – Eu disse ao nos separarmos do abraço.

– E você então? Nem parece mais a pirra de sempre. – Nós rimos.

Ficamos um tempo conversando sobre o passado, enquanto Thiago estava encostado na parede com cara de tédio. Logo a menina de cabelos enrolados chega e fica conversando com ele. Comecei a observar a cena.

– Ela é afim dele? – Perguntei e eles olharam para os dois, para saberem de quem eu estava falando.

– Sim, só que ele ainda não percebeu. – Respondeu a Rai.

– Porque a pergunta? Você se interessou nele? – Binho perguntou.

– Não, claro que não. – Ri fraco. – Mas desde ontem percebi que ela gosta dele.

– Ficou com ciúmes Binho? – Bia provocou.

– Que pergunta, é claro que não. Só que se ela estivesse interessada nele eu poderia ajudar... Apesar que nem precisaria, ele ta muito na sua mesmo.

Continua...