Adeus, Molly Hopper! escrita por sayuri1468


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

para ouvir: https://www.youtube.com/watch?v=2t5bVaStR4w



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E se você tivesse apenas mais um dia? Apenas vinte e quatro horas para correr atrás daquilo que nunca pensou que fosse correr? O que fazer quando notamos, tarde demais, o peso que algo tem em nosso coração?


Alguns podem simplesmente dizer que é besteira tentar consertar, que não há tempo. Eles vão ficar sentados, lastimando até o último segundo, terem ignorado todo o tempo que tiveram. Já outros, podem tentar consertar o erro, e reparar o tempo perdido.Mesmo que isso, na verdade, pareça não fazer diferença, eles sabem que faz. Mesmo que vire apenas uma agradável história para se contar aos filhos ou aos netos, ou apenas uma lembrança que você manterá guardada para sempre. Nem que seja por apenas uma fração de segundos, a diferença será feita, se você tiver coragem o suficiente para reparar o que foi feito.

Coragem.

Fácil de ser proferida, muito mais fácil do que ser invadido por ela, e aproveitar, nem que seja por um instante, de sua força.

Quão desesperado devemos estar, para poder receber, nem que seja uma ínfima parte de todo o poder, que o sentimento de coragem nos dá.

Besteira. Estou apenas divagando para evitar a real pergunta de todo esse discurso: O que eu vou fazer a respeito?

Nesse momento, eu sou do grupo de pessoas que estão sentadas, lamentando ter ignorado o tempo, pois achei que o tinha de sobra!

Tempo.

Acabo de perceber que desperdicei seis horas das minhas vinte e quatro. Como reparar tudo em doze horas? Aliais, como reparar? Nesse momento, eu não sei o que posso fazer! Não sei nem se ainda sei como se anda! A poltrona, nesse instante, parece ser o lugar mais seguro e confortável do mundo.

Mais um minuto se passa, e eu amaldiçoo o relógio. Será que não pode permanecer parado enquanto eu penso?

Nesse instante, eu sei onde ela está e sei o que está fazendo. Eu consigo ter um vislumbre de sua figura arrumando a mala e empacotando tudo o que irá levar para a sua mudança. Eu consigo ver ela colocando Toby, tão gentilmente na gaiola de viagem. Consigo ouvir o tom carinhoso de sua voz, dizendo que tudo ficará bem. E aquele apartamento, quente e confortável, que muitas vezes usei como refúgio pessoal, agora totalmente vazio e frio.

Dois minutos se passaram. Eu sei que o tempo não vai parar por minha causa, sou eu que devo fazer algo por causa do tempo. Não há mais o que pensar! Eu não sei como reparar, mas sei que, assim como vislumbrei onde ela esta e o que ela está fazendo, vislumbrei o que eu também deveria estar fazendo.

Desço para rua, e enquanto termino de colocar o meu casaco apressadamente, aceno para o primeiro táxi que vejo, ainda segurando uma das minhas luvas com a boca. Eu entro e dou o endereço desejado. Eu já sei que, com essa corrida, perco vinte minutos. Não importa, afinal, ainda tenho doze horas. Apesar de eu dizer isso tentando me confortar, o pensamento só serviu para jogar a dura realidade no meu rosto. Eu só tenho doze horas.

Conforme o táxi se aproxima, eu vejo a luz de sua janela acesa. Eu sabia que ela estava em casa, mas mesmo assim, me sinto aliviado por ver aquela luz, que tantas vezes procurei, ainda acesa para me receber.

Eu bato na porta e recuo. Não sei o que fazer a partir daqui. Eu sabia que tinha que vir, mas não sei o que fazer agora.

A porta abre, e ela, de cabelos bagunçados, presos de qualquer jeito em um rabo de cavalo, aparece em minha frente. Não me lembro de um dia, ter a visto mais bonita do que agora.

- O que faz aqui?!

Ela está surpresa. Mas claro, por que não estaria?! Nem eu imaginava vir!

- Ajudar você com as caixas!

Ela sorriu e abriu caminho para eu entrar. Talvez eu devesse complementar e dizer que vim ajudar a desempacotar as caixas e arrumar tudo de volta no lugar. Mas eu sabia, que por mais que fosse essa a minha vontade, eu não seria capaz de fazer isso com ela.

Conversamos, rimos, comemos pizza, tudo isso enquanto colocávamos vinte e nove anos de lembranças dentro de caixas de papelão. Nove horas, só me restavam nove horas.

- Acho que terminamos!

Ela disse empolgada e com os cabelos ainda mais bagunçados. Ela me agradeceu e sorriu, eu sorri de volta.

- Bem, acho melhor eu ir então!

Idiota. Como eu sou, estupidamente, idiota!

- Vou sentir sua falta, Sherlock!

Abrace-a! Beije-a! Diga que a ama! Qualquer coisa, mas faça alguma outra coisa, que não seja esse sorriso e esse aceno de cabeça! Faça algo, pelo amor de Deus!

- Eu continuarei aqui, Molly! Prometo não sair de Londres!

Idiota.

Mas para meu conforto, ela me abraçou. Nunca serei eternamente grato por ela ter feito isso. Apertei-a contra a mim, senti seu perfume e seus cabelos roçando em meu nariz. Não existia no mundo lugar mais confortável que aquele abraço ou que aquele cheiro. Em breve, meu refúgio estaria em outro país, em outro estado, em outra cidade, com novas pessoas. Eu a perderia. Perderia minha conselheira, minha amiga, minha parceira de laboratório. Perderia a única pessoa que via através de mim. Ela iria embora, e talvez eu nunca mais a visse de novo.

Foi naquele momento, que pela primeira vez em minha vida, eu senti pequenas gotas de água quente escorrendo pelo meu rosto. Eu estava chorando, e quando percebi isso, afundei ainda mais meu rosto nos cabelos dela.

Ela também me abraçou mais forte, e foi quando eu percebi que ela também chorava.

- Passe a noite aqui comigo! Podemos ir pro aeroporto juntos amanha!

Eu concordei, sem nem pensar a respeito. Eu ainda tinha oito horas e meia e, não importava como, iria passá-los com ela.

Senti seus lábios beijarem gentilmente uma das minhas bochechas. Aquela era a primeira vez que Molly beijava meu rosto. Naquele momento, eu não pensei, eu apenas a beijei nos lábios, onde eu também nunca a havia beijado antes.

Deitamos no sofá que estava envolto por um plástico, nos cobrimos e durante toda a noite, ela dormiu nos meus braços, e eu fiquei acordado, guardando cada detalhe daquele momento. Memorizando a expressão calma e feliz do rosto dela, enquanto ela dormia. Os cabelos caídos de lado, deixando o pescoço nu. Mas o que eu mais queria, era guardar a forma como ela se aninhava em mim durante a noite, e sorria, cada vez que achava um ponto confortável. Naquele momento, eu me achei a pessoa mais idiota do mundo. Eu podia ter tido isso todas as noites, desde que a conheci. Eu tinha apenas mais quatro horas com ela.

Ela acordou, e enquanto se arrumava, eu chamei o taxi e ajeitei as malas que ela levaria. Observei enquanto ela pegava a gaiola de Toby e carregava com cuidado, enquanto entrava no táxi. Até daquele gato eu sentiria falta. Ela me olhava sorrindo, como que dizendo que tudo ficaria bem. Mas eu sabia que não, ou pelo menos, eu sabia que eu não ficaria bem.

Duas horas.

Chegamos ao aeroporto rápido demais. Ajudei ela a fazer o check in e a levar Toby para a embarcação de animais. Tomamos um último café juntos e então, eu a acompanhei até a fila de entrada. Daquele ponto em diante, eu não poderia mais estar com ela. Rezei para que algo acontecesse. Para que uma chuva incessant começasse, uma tempestade de neve, uma dor de estomago no comandante, mas nada. Tudo ocorreu perfeitamente bem. Eu tinha cinco minutos.

E foi nesse momento, que uma ínfima parte de coragem se apossou do meu ser. Foi nesse momento, que eu, finalmente, deixei de ser um idiota.

- Molly, não vá!

Eu ouvi a minha voz dizer sozinha. Ela se virou para mim, tão assustada quanto eu estava.

- Molly, você não pode ir! Talvez você encontre um substituto pra mim, mas eu jamais encontrarei uma substituta pra você! Por favor, não vá! Eu te amo, eu não posso te perder!

Eu sabia que ela sentia o mesmo, então por que ela me olhava com aqueles olhos, cheios de piedade?

- Não posso, Sherlock!

Ela disse, enquanto a atendente a chamava. Ela me depositou um beijo nos lábios.

- Sinto muito!

E conforme ela andava pelo caminho que a levava até o avião, aquele caminho que eu não poderia entrar. Meu mundo desabava, e eu permaneci estático enquanto observava ela sumir pelo corredor.

Meu tempo havia se esgotado.


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