Dizer que eu estava preparada seria mentira. O frio se instalava em minha barriga e minhas mãos suavam.

Calma Karina, você consegue. Você sabe o que fazer, não tem motivos pra ficar tão nervosa.

Eu repetia como se fosse um mantra enquanto respirava e bebia mais um gole de água.

Seria engraçado se não fosse trágico, o fato de eu ter me preparado durante todo um ano — eu diria até uma vida — para esse momento e na hora me sentir tão insegura.

Logo eu, a garota mais durona que conheço?

Ri das minhas próprias palavras.

Quem me conhece sabe que não sou durona nem aqui nem na China. Sou durona só no tatame. Na vida eu tento, mas as vezes tropeço na arte de não desmoronar com os problemas.

Mas enfim...

Chega de drama Karina Duarte. Começa logo a fazer essa prova e mostra do que você é capaz. É só mais um dos muitos exames que você já fez e se saiu bem.

Quando peguei a caneta para iniciar a primeira questão, eis que escuto alguém abrindo um incrivelmente-ensurdecedor-irritante-barulhento pacote de biscoitos.

Olho por entre os cílios para ver de onde vinha aquele maldito som.

Não me surpreendi ao me deparar com o garoto estabanado que me derrubou faz nem 10 minutos.

Eu estava na porta da sala, checando se seu número era o mesmo do papel em minhas mãos, quando fui atropelada pelo louco, todo atrapalhado.

— Que isso moleque! Não olha por onde anda não!?— já comecei o barraco, me levantando, porém tentando não perder o controle. Tinha prometido ao seu Gael que iria controlar mais meu lado agressivo e além disso sou uma atleta, não posso sair por aí batendo em todo mundo fora da academia, fora do tatame mais especificamente.

Respirei fundo enquanto o garoto tentava me ajudar e perguntava incessantemente se tinha me machucado.

— Olha, desculpa mesmo. Você tá bem? É que eu achei que já tinham fechado as portas, vim correndo e não vi quem estava pela minha frente. Desculpa! Desculpa! Você tá bem mesmo? Quer que te leve pro hospital?

— Claro que não seu doido.— tive que rir, que garoto louco.— Tô bem, foi só um esbarrão.

Dei um passo para entrar na sala e ele me deteve. Tava querendo me irritar mesmo.

— Sou Pedro.— se apresentou com um sorriso que me fez perder o ar e qualquer raiva do momento.— Você saberia me dizer qual é a sala 9?

Eu devia estar com uma cara de boba olhando pra ele, porque o louco perguntou de novo.

— Hein... a sala 9, sabe onde fica? Eu não conheço nada por aqui.

— É essa daqui mesmo.

— Ah que legal, vamos fazer a prova na mesma sala.

Tratei de entrar e ir me sentar, sem nem olhar muito pra ele. Por mais louco que fosse, de algum jeito estranho me atraiu.

FOCO KARINA! Que papo é esse de que um garoto que você nunca viu te atraiu? Sai dessa!

Ele percebeu meu olhar e deu aquele sorriso estonteante de novo.

Voltei à minha prova rápido e foquei naquilo que vim aqui fazer.