Seis meses... Fazia exatos seis meses que havia o perdido.

Será que a dor diminuíra de algum jeito? Não... Definitivamente não havia diminuído em nada. Muito menos a confusão que se fazia presente em sua alma.

― Luffy. Você deveria estar dormindo agora. Amanhã será mais um dia duro de treino. Tem que estar bem descansado.

― Eu sei... – Foi tudo o que o garoto sussurrou enquanto olhava fixamente as chamas da fogueira.

― Se sabe, então não acha que deveria estar fazendo exatamente isso? – Rayleigh sentou-se ao lado do pirata mais novo com um sorriso amigável. Um suspiro vindo de Luffy pôde ser ouvido pelo mais velho.

― Rayleigh, o que ainda me impede de ir atrás de Akainu agora mesmo? Porque eu juro que é tudo o que mais quero agora. – Ele permanecia observando o fogo queimando a lenha.

― Você sabe que não irá adiantar de muita coisa fazer isso. Talvez seja a consciência disso que te impeça. – Rayleigh sugeriu guiando seu olhar na mesma direção em que o de Luffy estava.

― Não. Não é isso, porque eu sei que provavelmente eu iria morrer se fizesse, mas ainda assim não me importo se for para fazer toda a raiva que sinto desaparecer. – Disse mais alto, sério. Então encolheu os joelhos, abraçando-os, ainda sem tirar os olhos do ponto que observava. – Não gosto de sentir raiva. – Voltou a sussurrar.

Rayleigh sorriu.

― Aí está seu motivo. – Ao ouvir aquela frase, Luffy encarara seu mestre confuso. Rayleigh sorriu mais uma vez, em seguida explicando. – O que te impede de ir atrás de Sakazuki é você mesmo, Luffy. Toda a raiva que você sente vai de encontro com todos os bons sentimentos que existem em você. Você é um garoto de personalidade pura, difícil de encontrar por aí. E é exatamente essas qualidades que te impedem de fazer algo que você, mesmo que inconscientemente, sabe que não te fará bem de qualquer forma. Vingança só gera vingança. – Luffy apenas permaneceu em silêncio, pensando nas palavras que acabara de ouvir.

Rayleigh tinha consciência do combate que existia dentro de seu pupilo. Era a escuridão provinda da perda de alguém especial contra a luz que existia em alguém muito especial.

Luffy tinha a incrível capacidade de trazer luz por onde passava. Ele se quer se importava com isso ou percebia, mas era exatamente o que fazia. E tudo o que acontecera em Marineford tentava apagar essa luz, deixando-a o mais fraca possível para conseguir tomar mais uma alma para si. No entanto, Rayleigh se tranquilizava tendo certeza de aquilo não iria acontecer; porque aqueles que um dia foram resgatados dessas mesmas trevas por essa mesma luz, eram exatamente quem agora o ajudavam, mesmo que distantes, a superar aquele momento e seguir em frente.

― E também... – Rayleigh continuara. – Não acho que seus companheiros gostariam de reencontrar um capitão completamente diferente do qual eles conhecem.

Ao ouvir as palavras do mais velho, Luffy o encarou.

― Você está certo! – Abriu seu grande sorriso característico, o que fez com que Rayleigh sorrisse também e se levantasse.

― Anda. Agora vá dormir! – Ele ordenou como um verdadeiro pai faria com o filho desobediente.

― Tá bom... Tá bom... Já to indo... – O garoto resmungou enquanto caminhava em direção ao canto que costumava usar de cama.

A raiva, a tristeza, a saudade, o sentimento de impotência e o desejo de vingança que o tomaram desde aquele episódio iam de frente à serenidade, à alegria contagiante, às boas lembranças de seus nakamas, à força de vontade e o coração não rancoroso que sempre habitara o jovem capitão pirata. Um verdadeiro conflito de sentimentos e vontades que muitas vezes o deixara inquieto por horas.

Contudo, ele não deixaria que isso lhe arrancasse sua essência iluminada. Tinha nakamas esperando por ele. Nakamas que, mesmo que agora estivessem longe, estavam dando todo o apoio possível para que seu capitão permanecesse de cabeça erguida e chegasse ao topo!