— Acabou? — Tom perguntou, cansado e ofegante. Enquanto carregava Kimmie em seus braços, que continuava com o seu sorriso congelado no rosto para a foto. Essa era a pose final que eles tinham concordado, bem depois de negar umas trezentas vezes a foto do “beijo sexy e romântico”, com a desculpa esfarrapada de que o namoro deles ainda não tinha sido confirmado na mídia.

— Eu é que pergunto, esse vestido me aperta — Kimberly reclamou, puxando a parte de cima do traje mais para cima.

Ela usava um vestido tomara-que-caia num tom azul royal. Tinha um corpete bem justo e transpassado de cintura alta, combinado com uma saia solta e cheia de babados enormes que tocava o chão. O mais esquisito era que cabia perfeitamente na garota, como se fosse feito exatamente para ela.

Quando Phillip finalmente fez um sinal de “ok” para o casal, Tom se precipitou ao colocar Kimmie rapidamente no chão de novo, já alongando os braços e murmurando um “aleluia”.

— Não posso ser tão pesada assim — a morena revirou os olhos, rindo para ele.

— Não é você, é esse vestido enorme que provavelmente pesa uma tonelada.

Os dois riram discretamente, como se estivessem formando uma pequena piada interna. Mas logo Phil apareceu no meio deles, com um sorriso ainda mais largo.

— Hora de se trocarem — ele anunciou, animado. — tenho outro photoshoot marcado para daqui a meia hora...

Thomas concordou, obediente, já pegando sua mochila e se dirigindo ao provador atrás do fundo branco. Com isso, o fotógrafo se aproximou da garota em pulinhos.

— As fotos ficaram fabulosas! Garanto que ficarão ainda melhores na capa da revista...

— Capa? — Kim perguntou, embasbacada, já tirando as presilhas de seu penteado.

— Sim, ficaram tão boas... vocês vão arrasar!

A primeira coisa que Kimberly pensou foi em sua mãe. Ler revistas era a única coisa que ela fazia depois de sua aposentadoria. Lia de tudo: revistas de viagens, de notícias e, claro, de fofocas. Não haveria como Johanna não saber o que sua filha estava aprontando ultimamente. E isso fazia Kim se arrepiar dos pés a cabeça.

A Sra. Sheen não era tão velha assim, mas agia como se fosse, tinha aquele velho hábito de contar vantagem de seus filhos para quem quer que apareça em sua frente. O melhor comentado, era tipicamente o Kenneth — o mais velho —, ela sempre contava a história de como o garoto se tornou um advogado tão prestigiado. Também tinha a Kate, seis anos mais nova que Kimmie, e Johanna ainda conta sobre as notas maravilhosas da filha. Apesar de Kimberly ter notas muito boas também, as de Kateryn sempre foram impecáveis, por isso a filha do meio nunca teve muita coisa para ser falada sobre.

Bom, até agora. Sua mãe provavelmente faria questão de espalhar para toda a vizinhança o nome do pretendente de sua filha: Tom Madden.

— Que ótimo, e onde exatamente vai ser publicada a revista...? — ela indagou, curiosa. — Não deve ser uma edição nacionalmente conhecida né?

— Claro que sim — ele concordou animado, para o desespero da morena, enquanto arrumava seu material de fotografia — a people é publicada no país inteiro! Não se preocupe, você vai ter a fama que merece, meu bem.

A people? Claro que tinha que ser a revista favorita da Sra. Sheen, não é? Mas tudo bem, Kim tentou acalmar-se, ela provavelmente já deve saber, a essa altura.

— Não estou preocupada...

— Naturalmente — Phil riu, se aproximando dela e abaixando o tom de voz — e então?

— Então...? — a jovem repetiu, confusa.

— Você e Tommy. Como aconteceu? — ele perguntou baixinho, para que Tom nem Trent escutassem.

— Ah, é... uma longa história.

— Fala sério! Todas as garotas te idolatram agora, meu bem. Você conseguiu domar o bofe para um relacionamento sério? Me conta o seu segredo!

Kimberly riu, pois não sabia mais como reagir. Qual era o seu segredo? Provavelmente estar no momento certo, na hora certa. Foi pura sorte, ou azar, dependia do ponto de vista.

— Cochichando sobre mim? — Thomas apareceu atrás da namorada, já vestido, e passou um braço ao redor da cintura dela no vestido azul.

— Talvez — foi Phillip que respondeu, levantando uma sobrancelha só, num gesto desafiador. Mas logo se virou para Kimmie novamente — vai se trocar, meu bem.

Ela não hesitou, só concordou com a cabeça e se livrou dos braços de Tom para ir até o provador. Ainda imaginando o que sua mãe dirá ao descobrir a coisa toda.

* * * * * *

— Quer um pouco? — Thomas empurrou o pacote de Doritos pelo banco até Kim.

A garota olhou o saco exalando gordura, e logo passou o olhar para os dedos de Tom, cheios de farelo.

— Não, obrigada — ela recusou, sentindo aquele cheiro horrível do salgadinho que lhe causava náuseas.

— Você que sabe — ele deu de ombros, provocando. — vai acabar feito aquelas suas coleguinhas modelos.

Kimberly revirou os olhos, pousando-os do lado de fora do vidro do carro. Ela via as pessoas passando despreocupadas pelas ruas de Nova Iorque, e observava algumas delas demoradamente, graças ao trânsito cansativo da cidade movimentada. Mas os seus devaneios foram interrompidos pelo celular vibrando na bolsa, ela o encontrou no fundo da mesma. E, claro, se tratava de uma chamada no FaceTime, da sua mãe, Kim respirou bem fundo e pensou seriamente em recusar.

— Quem é? — Thomas esticou o pescoço só para ver o nome “Johanna Sheen” no visor do celular, pedindo por uma chamada em vídeo. Desde que ela havia descoberto essa função no seu aparelho, nunca mais tinha ligado a moda antiga. Ela largava até mesmo suas incansáveis mensagens no grupo de suas amigas por uma longa chamada em vídeo.

— Minha mãe — a garota respondeu, ainda vendo sua foto refletindo na tela.

— Minha sogra! — Thomas disse, num tom divertido. Trenton, do outro lado do enorme veículo, riu para os dois.

Mas Kimberly respirou fundo novamente. Se sentia mal em recusá-la, mesmo sabendo do que se tratava a conversa. E ela não viu outra opção. Atendeu.

— Kimmie! — Johanna cumprimentou feliz, assim que a filha desbloqueou a chamada — Nunca mais deu notícias, não é?

— Oi, mãe...

— Como está você de volta nas passarelas? Está se divertindo? — perguntou, sem nenhuma preocupação. — Kate, venha falar com sua irmã!

Logo a caçula apareceu na tela também, com seus olhos minúsculos encarando a irmã combinando com um sorriso malicioso.

— Eu vi suas fotos com Thomas Madden na internet, Kim! — Kateryn exclamou do outro lado da linha — Me conta tudo. Vocês estão namorando mesmo? O que aconteceu? Como aconteceu?

— Katie, não era para ir diretamente ao assunto! Agora ela vai ficar chateada.

— Bom ver vocês também — Kimberly respondeu rindo fraco.

— Agora que Kateryn tocou no objetivo, escute — sua mãe sorriu orgulhosa para a filha, que arqueou as sobrancelhas — Tom Madden é um sonho, Kimmie, não o deixe na mão!

— Claro que ela não vai fazer isso, mãe — Kate constatou, como se fosse um absurdo — quem em sã consciência dispensa alguém como ele? — ela completou, sem esquecer-se de soltar um suspiro apaixonado no final.

Kim olhava para o lado constantemente, se certificando de que Tom não tentava bisbilhotar sua conversa. Ele estava muito ocupado saboreando seus salgadinhos, mas ainda assim escutava tudo, para o desespero da garota.

— Quem está aí? Candy? Gwen? — sua mãe perguntou, interessada ao vê-la desviando o olhar.

— Ai meu Deus, é ele? — Kate indagou, se levantando da cadeira que antes estava sentada.

Thomas parou de mastigar o Doritos para encarar a namorada. Ele não queria se intrometer nas conversas dela sem ser chamado de novo, já que ela tinha ficado bem irritada quando ele fez isso mais cedo.

A garota já estava bem cansada com essa reação das pessoas, porque realmente era muito cansativo. E, afinal, ela tinha outra opção? Só concordou com a cabeça, tanto para Tom, como para sua mãe e irmã. Virou o celular para o novo namorado, que acenou charmoso, mesmo com os dedos muito alaranjados.

E a próxima reação das duas foi igualmente previsível: histeria. Assim como a de Candy e Gwen. Assim como a do restante da população ao verem que a simples Kimberly Sheen está com o incrível Tom Madden. E era isso que a irritava mais. Não as piadinhas do ator, e muito menos os flashes para todo lado, era a surpresa embasbacada das pessoas. Como se ela não estivesse à altura dele, como se o destino de Tom fosse namorar uma estrela igualmente famosa, e essa relação atual deles fosse um crime ou algo do tipo. As pessoas perguntavam como ela conseguiu isso, como se fosse uma coisa de outro mundo. Bom, com as farsas à parte, o “relacionamento” deles era resumido em um garoto e uma garota que precisam estar juntos, e é isso o que importava.