Liberdade de uma Deusa escrita por Saibotris, Ana Katz, Laurah Winchester, Gabriel Teixeira, Larissa Almeida, Thais Cabout


Capítulo 6
Anastácia


Notas iniciais do capítulo

Aqui, mais um capítulo :)
Desculpe pela demora :/



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17 de Agosto de 1637, Paris – França.

–Pinga, pinga. – repetia, enquanto encarava o espelho e tocava a adaga com a ponta dos dedos.

–Então, você finalmente matou Valentin...

–Acho que isso é meio óbvio. – disse, me aproximando do corpo imóvel de Valentin que estava jogado no chão.

–Isso é ótimo, Odilon ficará satisfeito com o seu trabalho, Kira.

–Eu sei que ele vai, mas só quando eu terminar minhas outras obrigações... – disse, voltando a encarar meu reflexo e o sangue que ainda pingava da adaga.

Meu cabelo ruivo levemente ondulado nas pontas estava solto, meu vestido de várias camadas era branco, e ainda estava manchado com o sangue do morto Valentin. As várias mechas brancas do meu cabelo estavam espalhadas, o que totalmente entregava a minha identidade, a identidade de uma assassina da irmandade branca.

–Devemos nos encontrar novamente em Veneza ou você quer ir diretamente falar com o mestre?

–Não deveria ser você aquele a avisar Odilon que eu completei o trabalho?

–Sim, mas acredito que ele gostaria de saber que Valentin finalmente foi morto pelas palavras daquela que o matou.

–Bom. – segurei a adaga no cabo. – De qualquer forma...você não vai chegar a sair desse quarto mesmo. Afinal, eu tenho que terminar o trabalho. – me virei lentamente. – Você é patético, Paul, admita. Você realmente acha que ia ficar tanto tempo como um de nós...

–Espera você não quer dizer que...

Antes que ele terminasse de falar, a adaga acertou sua testa, fazendo com que ele tombasse para trás. O sangue começou a se espalhar, juntando – se ao de Valentin.

–Humpf. Imbecil.

Me apoiei na cômoda que ficava embaixo do espelho e parei para observar o quarto em que estava. O quarto não tinha quase nada, somente uma cama de madeira, o espelho e a cômoda.

–Odilon tirou sua carta e a de Valentin já faz muito tempo. – disse, passando pelo corpo morto de Paul e jogando a carta de fundo vermelho com um homem morto por uma adaga na cabeça. – Paul está morto, o trabalho foi concluído.

20 de Setembro de 1637, Florença – Itália.

–Bem, se você está pronta vamos para a próxima rodada. – Odilon riu maleficamente embaralhando algumas cartas. – Aqui está.

De repente, quatro cartas de fundo branco voaram de sua mão e se arrumaram na mesa.

–Escolha uma.

A moça vagarosamente pegou uma das cartas e a entregou ao homem.

–Vejamos. – assim, as outras cartas magicamente sumiram da mesma. – Parece que o destino conspira contra o meu adversário novamente, no final das contas. Uma carta dupla da morte, essas nem são tão raras...

–Uma carta dupla da morte? O que significa? – perguntou a mulher desesperada.

–Significa que seu fim finalmente chegou, minha...cara. Hora de eu escolher como ele vai ser... – assim, o homem virou a carta onde haviam dois desenhos, um em cada metade. Um deles de uma pessoa enforcada, o outro de uma pessoa cheia de cordas em cima de uma espécie de ferro. – Enforcada ou em uma...linha de trem?

–Oh meu Deus.

–Eu normalmente não escolho o enforcada...mas o que seria uma linha de trem? – disse o homem, pouco se importando que a moça estava prestes a perder a vida.

–Eu faço qualquer coisa, mas não me leve, por favor!

–Você é uma pecadora, e uma pecadora deve morrer. Eu não estou fazendo isso porque sou mau, mas sim porque você nos traiu e quem nos trai deve jogar o jogo. E um traidor nunca ganha o jogo. – ele disse pausadamente.

–Mas por favor, me perdoe mestre! – ele só lhe deu um olhar seco.

–Um novo estilo sempre vale a pena. Então que seja a linha do trem: Mors pro victo haberetur adversarius. – disse, estendendo uma das mãos.

Em questão de segundos a mulher parecia estar vendo alguma luz se aproximar dela, e enquanto se chocava com algum tipo de visão a mulher ficou imóvel e morreu.

–Seja do futuro...seja do passado. Contando que o adversário morra não importa o jeito. Não é, Kira? Pode sair das sombras, o jogo já acabou.

–Mestre Odilon.

–Minha querida. – disse, enquanto eu saia da escuridão. – Você demorou, já faz mais de um mês que eu a mandei para realizar a missão.

–Eu tive minhas razões...

–Acredito que Paul e Valentin estão mortos, certo?

–Exatamente, meu mestre. – disse, colocando a adaga na mesa, assim como os frascos que continham o sangue de meus alvos. – Como na carta.

–O jogo nunca erra. – ele deu um sorriso. – Mas, nada disso importa agora.

Enquanto conversávamos, Stephanie, a criada de Odilon, trazia água e comida e os colocava na mesa.

–Stephanie, deixe – nos.

–Mas senhor eu-

–Eu disse deixe – nos.

–Sim, senhor. – a moça foi na direção da porta.

–E não espione nossa conversa!

–É claro senhor. – ela saiu.

–Então, Kira. Sente – se.

Me sentei na frente de Odilon, encarando – o com olhos precisos. Ele podia ser meu mestre, mas como qualquer assassino experiente, eu não podia confiar em ninguém, e qualquer um podia perceber como Odilon era traiçoeiro. Ele nunca se mostrava de verdade, o único que podíamos ver era aquele ser encapuzado de queixo fino. Mas naquele dia tudo mudou...

–Eu tenho uma missão muito importante para você.

–Diga – me, mestre.

–Eu lhe observo a muito tempo, Kira, desde que você era pequena.

–Sim.

–Eu confio em você mais do que em qualquer um aqui e acredito que o tempo chegou.

–Mestre, você está me deixando confusa...

–Kira, abra bem os ouvidos e fique atenta. Me escute com toda a atenção que tem e por favor não me interrompa. – ele olhou para os lados. – Podemos começar?

–Sim...

–Existe pessoas, pessoas com dons especiais. Atualmente só existem cinco desses no nosso mundo. Essas pessoas são protegidas e tem olhos de cores especiais. O problema é que uma delas foi capturada pelo inimigo, demônios.

–Demônios?

–Sim. Muitos de meus assassinos estiveram os caçando por anos. E você matou vários de seus associados, como Valentin e Paul. O mesmo caso aconteceu com essa daqui que acabou de jogar o jogo. – falou, olhando para o corpo morto da mulher que já se encontrava no chão. - De alguma forma que eu não entendo, os demônios estão muito poderosos...acredito que tenha a ver com o Quinto, mas nada é certo. Em breve uma pessoa...a pessoa que deveria ter protegido a garota de olhos violetas, Callie, irá começar uma busca por mim. Você deve encontrá-la...mas digo que não será fácil.

–Qualquer alvo pode ser eliminado.

–Não, você não deve matá-la, e sim encontrá-la e trazê-la para mim.

–E qual seria o nome dessa pessoa?

–Scarlett. Você deverá usar de qualquer meio para chegar em Scarlett, porém há um certo detalhe.

–Diga.

–Espere até maio de 1639 para contatar a garota, onde a busca dela por mim começará. Enquanto você ainda não pode contatar a moça eu irei treinar você para usar seus poderes...e nesse tempo você também deve se proteger já que forças escuras cercam essa irmandade de olho em nós dois...

–Poderes? Que poderes? E...por que nós dois? Forças escuras?

–Você nunca se perguntou o porquê de seus olhos serem tão claros?

–Você está me dizendo que-

–Sim, assim como Callie você também é um dos cinco. Olhos brancos para o poder dos céus...

–Então quer dizer que eu tenho poderes...mas, o que isso tudo tem a ver com você?

–Calma, minha criança, ainda não chegou a hora. Simplesmente me escute, pois não temos muito tempo. Além de Scarlett, você também deve trazer a mim Garret

–Você não quer dizer aquele Garret...quer?

–Sim, Garret Alistair, ele é seu protetor. Eu sei que ele acha que está morta, mas você deve lhe contar a verdade. Ele será necessário...

–Mas eu não sei para onde-

–Espanha. Ele estará lá, o que é uma grande sorte pois acredito que tem muitas chances de Scarlett ir para lá também em 1639. Um bom plano é que você plante uma pista de mim lá para fazer com que ela tome este caminho.

–De que forças escuras você estava falando?

–Dos demônios. Por alguma razão eles estão caçando aqueles que tem olhos especiais como você. Eles faram de tudo para chegar aqui, para chegar em você. É por isso que irei treiná-la, se algo der errado antes de encontrar Scarlett, digo, se os demônios acharem você antes, peço que fuja daqui imediatamente e vá ao encontro de Garret, ele saberá o que fazer. Também é bom que você me ajude a descobrir o porquê dos demônios estarem tão poderosos, e se o Quinto realmente tem alguma relação com isso...

–O Quinto?

–Sim, o Quinto. Existem várias versões da Lenda do Quinto Sol, mas todas elas têm algo em comum. Todas elas só falam sobre quatro deuses. Existe um quinto, que não foi narrado porque tomou um cainho escuro, e eu consigo sentir que ele está por trás do sequestro de Callie e os poderes crescidos dos demônios.

–Odilon...você ainda não me contou o que isso tem a ver com você...

–É a razão de Scarlett me procurar...você não deve contar a ninguém.

–Não contarei, mestre. Eu sou leal ao senhor, espero que saiba disso.

–Ótimo. – ele olhava para os lados esperando ver algum intruso.

–Então, qual é a razão? Por que ela procuraria o senhor?

–Por causa de minha verdadeira identidade. – Odilon tirou o capuz escarlate.

Assim que o capuz não cobria mais sua face pude ver um rosto pálido, com olhos claros e cabelo do mais branco existente. Orelhas pontudas como de elfos e uma leve cicatriz em um dos olhos. Seu rosto tinha aparência jovem, mas seus olhos pareciam daqueles que já haviam presenciado muitos séculos deste mundo.

–Eu não mostro o meu rosto para alguém desse mundo há muito tempo. Você não deve revelar nada sobre esse encontro...Anastácia.

–Como você sabe que-

–Que o seu nome verdadeiro é Anastácia, e não Kira? Nunca duvide do poder de um deus.

–Deus?

–Sim, eu também não uso meu nome verdadeiro, que é Oberon, deus dos céus, deus do ar. E por isso que estou protegendo você, porque diferente do que os outros deuses parecem estar fazendo, eu escolhi ficar no meio dos mortais. Mas não podemos perder mais tempo. – ele recolocou o capuz e me entregou um pergaminho. – Siga essas instruções e não falhe. Seu treinamento deve começar...

14 de Novembro de 1638, Florença – Itália.

Já fazia mais de um ano que o meu treinamento havia começado. A data estava chegando, só faltavam alguns meses para eu finalmente me encontrar com Scarlett. Ainda não havia encontrado Garret que por alguma razão parecia ter simplesmente sumido do mapa, mas Odilon...digo, Oberon, parecia certo de que ele ainda vivia, e quem sou eu para duvidar de um deus...

Meus poderes já estavam bem evoluídos e eu já conseguia usá-los, não perfeitamente, mas sabia fazer algumas coisas.

Alguma sombra desconhecida crescia próxima a irmandade, eu podia sentir no ar que algo estranho estava por perto.

Foi só depois de algum tempo que eu comecei a suspeitar de Oberon. Algo dele não estava certo. E foi nesse dia que eu decidi descobrir se aquele era mesmo o meu mestre.

–Mestre Odilon, o que acha de jogarmos o jogo?

–O jogo...mas quem perde morre. – ele respondeu.

–Mas você sabe como ele funciona, existe aquele jeito de os dois saírem ganhando...

–Então por que você quer jogar?

–Só para treinar...

–Se é assim que deseja...

Depois de muitas rodadas sem resultado, ele parecia estar certo de que aquilo não daria em nada, mas eu tinha um plano.

–Vamos, é a sua vez. Você tem certeza que quer continuar com isso?

–Sim, afinal, é a última rodada.

Nesse momento, da minha mão surgiu uma carta de fundo dourado, a carta máxima do jogo e muito rara.

–Eu ganhei, mas digamos que isso não era para ter acontecido.

–Como assim? O jogo parece ainda estar rodando.

–Veja. Esse é um jogo de confiança e verdade, e depende não só do que ocorre aqui, mas nas nossas vidas. É humanamente impossível driblar o jogo, se você trai na vida, trai aqui. É um jogo que consegue ver além de sua mente e usas mentiras. A mágica do jogo é essa: só vence aquele que é verdadeiro com o adversário. Odilon é um mestre na arte das cartas e ninguém nunca ganhou ele, já que ele é as regras. É impossível ganhar uma partida contra ele, no final ele sempre vence. Porém, eu já treinei com ele e ele me ensinou como ganhar. E assim, eu peguei a carta mais valiosa do jogo e posso determinar o seu final, o que não deveria acontecer já que eu não estou sendo verdadeira com você, eu deveria ter perdido. Um jogo normal entre nós dois deveria terminar em vitória para todos, no máximo vitória para você...mas não foi o que aconteceu. O que significa que você não é mestre Odilon, e sim um traidor! Exatamente como suspeitava!

Nesse momento, antes que o falso Odilon se levantasse para me atacar, eu levantei, apontando minha rapieira para sua garganta.

–Tente se mover e eu corto você até a morte! – ele se sentou novamente.

Com a rapieira levantei o capuz e vi o rosto do próprio Oberon.

–Como assim?

–Me parece que você estava enganada esse tempo todo.

–Não pode ser...Espere!

Rapidamente cortei o pescoço dele antes que se mexesse.

–Você não tem a marca que ele tem no pescoço!

–E eu estava achando que você não ia perceber. – murmurou. – Oberon lhe ensinou bem.

–Como você sabe que-

–Que ele é o deus Oberon? Digamos que somos pessoas próximas.

Nesse momento, o cabelo claro dele se tornou escuro, suas orelhas aumentaram, seus olhos claros tomaram uma tonalidade vermelha, como sangue, sua pele ficou azulada e na sua face a cicatriz tomou uma forma maior e horrenda.

–Digamos que esta seja a minha forma verdadeira...como eu esperei por esse dia querida... – ele se levantou.

–Não se mova! Eu ainda não finalizei o jogo e tenho a carta que determinará a sua morte em minhas mãos. – disse, mostrando a carta dourada.

–Tem?

De repente a carta sumiu da minha mão e foi parar na dele, e este a transformou em cinzas.

–Veja, como você mesmo disse, é humanamente impossível driblar o jogo, a não ser que Oberon lhe ensine as regras exatas. O bom é que eu sei essas regras...e eu não sou humano. Então eu ganho nas duas frentes. E...esse é um jogo que Oberon criou para jogar com mortais, humanos, escórias como você.

–Você não é humano? – eu ainda apontava a rapieira para ele, enquanto ele se movia na sala.

–Nunca fui e nunca serei. – ele afastou a espada de perto da pele. – Afaste esse metal de mim, ele realmente incomoda.

–Nunca. – voltei a espada para a posição original. – Você é um demônio. A elite do Quinto do qual Oberon me falou.

–Elite? Não minha elite está longe procurando outras coisas. Eu que vim para você e eu que irei te levar querida. Mas não há mais tempo para conversas. Venha comigo e eu não a machucarei.

–Você realmente acha que...

–Que você iria tão fácil?

De repente ele sumiu em uma sombra e voltou atrás de mim. Eu notei sua presença assim que tocou meu cabelo.

–Vindo ou não agora você está marcada. – uma das minhas mechas brancas se tornou imensa. – E eu saberei onde você está. Medidas de precaução, nunca se sabe quando algum infeliz tenta fugir.

–Você não vai me levar. Ego in ventum!

Assim, com um dos truques que Oberon havia me ensinado, fugi, parando em outro lugar...

19 de Abril de 1639 – Veneza, Itália.

Eu fiz exatamente como o mestre havia ordenado caso algo desse errado. Fugi e me escondi em Veneza, mas era só uma questão de tempo até eles me acharem novamente. Amanhã iria partir para a Espanha e esperar por Scarlett. Nesse tempo não houve nenhum sinal de Garret ou Oberon, minhas pesquisas não deram em nada.

A cada dia meu cabelo ficava cada vez mais claro. Não importava o que acontecia, se eu cortava ou não, mais mechas brancas cresciam no meio das ruivas. E pareciam crescer mais rápido quando eu tentava as tirar.

Mas agora deveria encontrar Scarlett, e com ela encontraria meu mestre e se possível, Garret.

27 de Maio de 1639 – Espanha

–Então são vocês que estão procurando Oberon? - o trio (uma mulher e dois homens) virou – se para mim. - Eu não sei quem são vocês dois, mas você deve ser Scarlett.

–Como você sabe que eu sou Scarlett?

–Meu mestre me mandou procurar por você...há muito tempo atrás. Você deve estar procurando por Oberon, estou certa?

–Sim...

–Eu acredito que ele possa nos ajudar, mas eu não sei onde ele foi parar...De alguma forma acho que os demônios estão com ele, só não sei como.

–Os demônios capturaram um deus?

–Eles estão mais poderosos que o normal. Alguma coisa não está certa. Mas antes que eu possa explicar qualquer coisa devemos encontrar um amigo meu, Garret. Acredito que ele esteja aqui na Espanha também e ele deve saber o que fazer. – já me virei pronta para começar a andar.

–Como sabemos que podemos confiar em você? – perguntou um dos homens.

–Não precisam confiar em mim, mas saibam que os demônios são meus inimigos e eu farei qualquer coisa para encontrar Oberon. – eles se entreolharam. – E se precisam de alguma prova, tem isso.

Levantei meu capuz e mostrei meus olhos, provando quem eu realmente era.

–Você é um dos cinco...

–Sim.


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