Observações noturnas escrita por Simone


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Aviso aos navegantes:
1) Esta história se trata de um tema meio pesado (pelo menos pra mim e para a grande maioria das pessoas). O shotacon nunca me interessou, mas como esta fanfic gira em torno do universo ficcional do game Ib, não quis escrever algo que fugisse do espaço temporal em que o mesmo se passa.
2) Há dois personagens que também não são meus nesta fanfic, mas não assinalei nas categorias para não estragar o mistério.
3) Comente! Ficarei super feliz com o teu review, seja ele positivo ou negativo :3



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Em uma ruela qualquer do subúrbio de Berlin, um jovem ascendia seu segundo cigarro desde que saíra para respirar. Não se afastara muito do pub em que estava, embora seus passos tivessem o levado longe o suficiente para que não ouvisse mais a música abafada que insistia em sair do lugar.

Não que a música fosse ruim...

O problema era aquele ambiente.

O pub em si era muito interessante, mas as pessoas que o frequentavam eram tão desprezíveis quando o julgamento do jovem sobre elas.

Aos poucos sua concentração passou a ser exclusiva daquele cigarro. Desde que o governo havia proibido seus cidadãos de fumarem dentro de locais fechados, sua vida tornou-se solitária em alguns momentos. O hábito de ter que sair para fumar tornou-se rotineiro e propiciou-lhe uma incrível oportunidade de conhecer a si mesmo. Dessa forma, os diálogos que tinha mentalmente com seu próprio eu começaram a distrair-lhe bem mais do que qualquer outra conversa que pudesse ter com outras pessoas.

Em sua última tragada, após sentir a fumaça preenchendo seu interior e deixá-lo logo em seguida, uma cena chamou sua atenção.

Dentre os poucos seres que cruzavam aquele lugar, dois conseguiram tirar a atenção do jovem fumante de seu cigarro.

Um garoto, aparentando seus vinte e poucos anos, dobrou a esquina em direção daquela ruela segurando firmemente a mão de uma criança. Os dois corriam rapidamente, embora a pequena de cabelos compridos parecesse não conseguir acompanhar os passos de seu companheiro. Não demorou muito para que ela tropeçasse em algum desnível da calçada e fizesse com que ambos caíssem.

- Não consigo mais... – Falou a garotinha com ar cansado e choroso. – Minhas pernas...

- Eu sei... Mas não podemos parar, você sabe. Se eles nos pegarem, será... Será nosso fim!

A garotinha começou a chorar instantaneamente. “Grande garoto”, pensou o espectador mais velho. “Ótima forma de tranquilizar uma criança...”.

Parecendo ler a mente do homem do outro lado da rua, o garoto ponderou sobre o que havia dito. Seu semblante tornou-se mais ameno ao se dirigir novamente à garota.

- Escute, suba nas minhas costas, está bem? Conseguiremos chegar a um local seguro e tudo estará acabado! – Sorriu singelamente.

E finalmente a dúvida fora plantada na cabeça do rapaz. Afinal, que poderiam um jovem e uma fedelha minúscula que mal saiu das fraldas fazer para estarem fugindo tarde da noite? Talvez roubado uma loja de brinquedos ou algum doce da Frau Hinz¹?

Mas o que se seguiu fez com que todas as suas dúvidas evaporassem como fumaça de cigarro no ar.

O garoto aproximou o rosto da pequena e a beijou com paixão. E tirando qualquer possibilidade de haver algo de descente naquela cena, a garotinha acompanhou o beijo de forma ainda mais apaixonada.

- Você confia em mim, Ib? – Sussurou o garoto, embora alto o suficiente para que o jovem aquém daquilo tudo pudesse ouvir.

- Sim, Garry! É claro que confio, eu... Eu te amo!

Os dois sorriram logo a seguir de modo cúmplice e seguiram sua corrida, com a diferença de agora a garota estar nos braços do rapaz. Correram até a próxima esquina e sumiram na escuridão da noite.

“...”

Aquilo, definitivamente, merecia outro cigarro.

Aquele garoto perdeu qualquer senso de normalidade! Onde ele estava com a cabeça?! Fugir com uma menor de idade – uma criança! – e ainda por cima... Beijá-la como se ela fosse... Como se ela fosse uma adulta! Como se ela entendesse de sentimentos, como se ela realmente soubesse o significado daquilo que havia pronunciado tão decididamente...

Ela disse que o amava.

E ele a amava também. Proferira isso de modo tão convicto... Amor...

Mas seus devaneios foram interrompidos pela segunda vez naquela noite ao perceber que da mesma esquina onde aquela loucura havia começado, surgiu um carro da polícia.

Com os faróis em luz alta, o carro passava lentamente pela ruela, parecendo procurar algo ou alguém. Não precisou de muito raciocínio para saber o que tanto queriam encontrar...

- Com licença, Herr²... – O policial parou o carro ao lado do jovem, que se sentiu obrigado a jogar o cigarro fora para se aproximar do carro.

- Ja³?

- O senhor, por algum acaso, viu a movimentação de um casal... – Um pigarro pode-se ouvir do banco de traz logo após o termo ser usado pelo policial. A dona do pigarro segurava o que parecia ser uma foto contra seu peito e olhava com ar de reprovação ao agente que acabara de cometer a gafe. – Ehr... Um garoto e uma criança por aqui?

- Um garoto e uma criança...? – “Muito bem, hora de fazer a coisa certa.”, pensou. – Não. Não vi.

- O senhor tem certeza? – Sobressaltou-se a mulher. – Olhe para esta foto, talvez o senhor os tenha visto, apenas não se recorda...

- Não, senhora. Desculpe. – Negou firmemente.

O policial suspirou cansado e deu a partida no carro, convencido do depoimento negativo do rapaz. O semblante da mulher tornou-se ainda mais apreensivo e o jovem viu a viatura fazer o retorno e alcançar a rua principal.

Sua mão foi em direção ao bolso da calça com a intenção de pegar mais um cigarro, mas para sua infelicidade encontrou-o vazio.

- Droga. – Praguejou. – É isso que eu ganho por ser bonzinho?

- Desde quando você merece esse adjetivo, Loki? – Um segundo rapaz se aproximou, alcançando-o um cigarro. – Que eu saiba, bonzinho é a designação perfeita para mim e não para você. – Concluiu risonho, vendo o mais novo dar de ombros.

Os dois continuaram na beira da ruela sem trocar uma palavra até terminarem seus cigarros. Loki ainda pensava no que havia acontecido e o beijo proibido daqueles dois, de certa forma, havia aquecido algo dentro de si.

Não que achasse aquele tipo de relacionamento normal... Mas o pouco que conseguiu ver fora o suficiente para não interferir naquela história.

- Vai entrar? – Indagou Thor, já se dirigindo ao pub.

Loki seguiu o outro para dentro do lugar sem responder. Sabia que lembraria milhões de vezes daquela cena e aquilo despertou uma animação fora do comum em seu íntimo. Sabia também que iria atrás daqueles dois para desvendar mais daquela história e talvez até os ajudasse com aquela loucura...

Afinal, ele era o deus do caos.

E nada mais caótico do que incentivar amores proibidos...


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Notas finais do capítulo


¹Loja de doces e salgados localizada em Santo Ângelo RS. Roubei o nome porque, além da dona ser de origem alemã e esta história se passar em Berlin, tem os melhores pastéis de queijo do mundo ♥

²Senhor, em alemão.

³Sim, em alemão.

Dann, é isso. Espero que tenha gostado dos personagens adicionais XD E claro, espero teu retorno ^^

Küssen



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